sexta-feira, 24 de abril de 2009

A vontade de escrever continua.

Continuo com vontade de escrever, só não sei bem o quê falar. Bem, estou bem entediado, apesar que antes de ontem tive uma boa notícia. Não é todo dias que se ganha uma promoção nacional. Ruim é que fiz planos antes da hora sobre meu prêmio e agora viverei 30 dias esperando para fazer usofruto do que me deram. 

Aquele clima de decadência ainda existe, agora não estou mais me sentindo velho ou subaproveitado. Me sinto decadente porque estava olhando o meu circulo de socialização, os amigos meus remanescentes da Igreja e do colégio com os quais tenho um contato mais constante são poucos. 

Perdi muito em ter saído da Igreja, do grupo de jovens, mesmo que aquele discurso digno de fariseus dos falsos humildes me fazia mal, mesmo que hoje tenha eu chegado a um estado materialista e a fé em algo divino não me faz sentido. Não faz sentido e nem existe a mínima emoção em mim capaz de me convencer, a razão, do contrário. Também não sinto estimulado a voltar para lá, mesmo que seja só pela socialização, acho que aqueles tempos tiveram o sua nostalgia, como é provavel que eu pense que esse dia de hoje eu fosse feliz em um futuro próximo.

Também, a universidade muda os nossos vínculos sociais, o círculo de amizades, que no Ensino Médio incluía quase que a turma toda, agora se limita a alguns com quem sempre faço trabalhos e tenho a oportunidades de visitar suas casas ou eles frequentarem a minha. As pessoas são isoladas, cada um em seus prédios, em seus institutos com suas ciências, pesquisas e literaturas, quando leem. 

Enfim, me rege a esperança de que isso uma dia vai passar e que de mim depende fazer tudo dar certo. 

Hoje andei muito a pé, isso me faz sentir melhor, não só por saber que queimo as gorduras que tanto odeio, mesmo que me digam que não sou gordo, mas também pela sensação de poder, de movimento, de força, de mudança que as pernas são capazes de prover. Inclusive aquela dor nos musculos me dá um certo prazer... e pernas peludinhas torneadas também, depois posto para vocês uma foto de minhas pernas.

Agora vou lá, vou sair com uma das pessoas que mais amo no mundo, minha amiga M. Isso me leva acreditar, e consola de certa forma, que dos amigos mantenho contato com os que mais gosto pelo menos. Irei com ela a um point cult de Goiânia, frequentado por gente do babado, por jovens, universitários. Irei tomar alguma coisa, étilica, em uma mesa de bar. Aproveitarei para ver como Gonzaguinha estava certo, a dona birita levanta a moral de quem está na pior, ou nem tanto como é o meu caso. 

Daí vou sugerir a quem é que possa me ver do que eu gosto. Meu gaydar tem muito o que melhorar, já mostra sutis melhoras, mas isso não quer dizer que eu não posso usar o gaydar alheio, permitindo a eles que me detectem e saibam que eu estou, digamos, com o coração disponível.

terça-feira, 21 de abril de 2009

No final tudo da certo, se não deu certo é porque não chegou ao final

Gosto da maior parte das coisas que escrevo nesse blog. As coisas que eu gosto mais são as que eu dou minhas idéias falando a partir das minhas experiências. As postagens que eu fico de frente a mim mesmo pensando sobre mim, sobre o que comigo aconteceu, o que eu desejo e como resultado eu organizo e estabeleço uma idéia que publico aqui.

E as coisas que não gosto são as postagens como esta que você está lendo agora, as postagens que satisfazem apenas ao meu desejo de escrever algo que será lido por alguém que se disponha. As postagens que quem lê e nem o autor sabe aonde quer chegar, ou melhor, o autor sabe, ele quer escrever algo e publicar já que ele tem essa possibilidade. Será a maldita inclusão digital? Ignoro.

Pois é, estou com vontade de escrever agora e estou escrevendo então. Mas para onde posso levar esse meu discurso até agora metalingüístico? Sei lá, talvez possa dizer que meu Word 2007 não tem corretor ortográfico atualizado e ignora o meu desejo de não acentuar os ditongos abertos e de não colocar trema em lugar algum.

Será mais justo quem sabe eu escrever algo sobre minha sexualidade, sobre minhas experiências, sobre o que eu penso do Amor e dos poemas que criam para o Amor, o que seria uma inspiração vinda do blog do meu amigo, o que eu chamo de melhor amigo com uma enorme devoção, pois quem vem aqui tem esse desejo.

Falando no melhor amigo, hoje fui a casa dele. Passou um bom tempo desde que me abri sobre minha sexualidade para ele e eu fosse a sua casa e conversássemos com mais tranqüilidade sobre nossas banalidades. Saí deprimido da situação, mesmo que ele tenha me tratado super bem e com naturalidade. Falamos de sexualidade, da minha inclusive, sem dar nome aos bois na presença da mãe dele fazendo com que meus dizeres sobre o colega de mestrado dela, homossexual, fossem uma sugestão da minha sexualidade. Por ser apenas uma discreta sugestão ela não deve ter percebido o que eu quis dizer ali.

Mas deprimido? 

Está bem, confesso que eu gosto do que dizem do meu blog, que gosto quando dizem que eu escrevo bem, embora eu seja cético a respeito disso. E por gostar de quando falam do meu blog e de como escrevo fiquei frustrado, não no sentido dramático da palavra, por tudo o que ouvi do meu amigo sobre essa página foi que ele lera somente “naquele dia” que eu mandei o link para ele. Mas não foi isso o que me deprimiu.

Daqui menos de um mês completo meu 20º outono de vida, agora me expressei de forma similar ao estereótipo de homossexual, e olhando para o irmãozinho do meu amigo, que não deve ter nem 10% da minha idade, me senti velho. Não que eu seja velho, mas o que sinto em mim é que são quase 20 anos e o que eu consigo dizer sobre esses anos é o que eu queria ter feito ou estar fazendo e não fiz ou faço. Em outras palavras, eu não aproveito bem a minha vida. Fica mais assustador saber que a cada suspiro meu, a cada inspiração e expiração, o oxigênio vai oxidando minhas células e DNA, reforçando a minha certeza de que um dia, hoje ou daqui muito tempo, a única vida que tenho certeza que viverei acabará.

Tenho medo da morte? Não, tenho medo de não aproveitar a vida como eu acho que posso e deveria antes que a morte chegue, por isso não quero morrer tão cedo. Como diz a propaganda da Visa, que reposto aqui, as pessoas vivem colecionando Não sendo a vida é agora e eu não estou alheio a mensagem da propaganda. Então, o que me deprime é não aproveitar as chances que eu sei que tenho colecionando nãos. 

Voltando a um discurso metalingüístico, eu posso me tranqüilizar agora porque aos 20 anos a vida está começando, quando se pressupõe que para um cidadão goiano do sexo masculino a expectativa de vida é de 72 anos, e terei muito para viver e aprender. Assim como não sei o que fazer da vida agora, minutos atrás, com um humor bem diferente desse meu otimista de agora, não sabia o que fazer dessa postagem, que agora penso ser uma das melhores que fiz. 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Da grande amiga

Não me sinto a vontade para falar da minha sexualidade com meus pais. Meu pai não toca no assunto, não sei se é porque também não agrada a ele, se é porque para ele tanto faz, afinal ele pressupõe que eu sei me cuidar, não sei se é a mistura dos dois ou se não é nada disso que eu estou pensando. Minha mãe não toca no assunto porque eu não deixo. Eu não deixo porque me irrita a forma que minha mãe escolhe para falar do assunto que para mim de certa forma é constrangedor. 

No entanto com a presença da minha amiga, aquela que esteve aqui em casa ajudando a segurar a barra quando me assumi, a situação é um pouco diferente. Quando ela está aqui me sinto a vontade para falar sobre minha sexualidade. Percebi isso porque na hora em que estávamos conversando na sala agora a pouco revelei com bom humor, bom pelo menos para mim e para minha amiga, o que fiz na viagem de páscoa.

Meu pai ouvia as coisas e nada comentava, comentava muito pouco. Deve ser o que falo, para ele não deve fazer diferença ou ele prefere ficar calado, acredito mais na primeira possibilidade. Minha mãe tentava entender meus risos, os termos complicados que o filho prolixo – palavrinha nova que aprendi hoje no boteco – com sua amiga, igualmente prolixa, falavam e não deixar as coisas piores do que eram, para ela.

Na páscoa viajamos para a casa dos meus avós no interior, a família estava toda lá. Essa viagem foi a primeira vez que eu vi meus avós desde quando eu me assumi e eles vieram para convencer que as coisas não era como pareciam ser, para a minha mãe. Não demora tanto tempo assim para vê-los, mas demorou. Os velhinhos, que eu amo muito, me trataram como sempre, muito bem, e não tocaram hora alguma no assunto da sexualidade, como se quisessem dar a entender que não sabem de mim. Eu achei o comportamento deles muito natural e melhor impossível.

Na primeira noite ali na casa dos meus avós eu fui a lan house ver um amigo que conheci aqui na internet. Menino carinhoso, mesma idade que eu, estudante universitário também, assumido para algumas pessoas e uma mãe problemática no que tange a sexualidade dele. Algo semelhante a minha. Fiquei ali na lan house conversando com ele, eu estava demorando chegar e minha mãe liga perguntando onde estou. NA LAN HOUSE SINHÁ. 

A revelação que eu fiz hoje aos meus pais foi essa, a de que eu não estava simplesmente na lan house, sequer sentei em um computador de lá, e sim que estava na lan house com um novo amigo, tão gay e tão acuado, ou até mais, que eu. Minha mãe ficou num misto de curiosidade e constrangimento querendo saber mais, porém sem ter coragem para perguntar. 

Só não falei para minha mãe que depois o meu amigo fechou a lan house e rolou sarro e ejaculações. Isso ela e nem ninguém ali precisam saber e não tenho vontade de contar.

What Can I Do, ouvi hoje na hora de dar risadas.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Escrevendo Cartas e dobrando Tsurus


Gostei desse Rufus WainWright - e ele é homo também.

Eu gosto de escrever e receber cartas, apesar de que elas custam árvores, ou nem tanto se o papel for reciclado. As cartas são mais elegantes e simpáticas do que e-mails, torpedos SMS. Pena serem mais lentas. Nos filmes acho muito bonto ver as pessoas escrevendo ou lendo cartas, mais bonito ainda se as cartas forem redigidas a mão ou lidas mentalmente imaginando a voz de quem escreve. 

Apesar de gostar de cartas, escrevi pouco, nunca tive muitas pessoas para escrever e elas nunca deram muita moral, pelo menos o tanto que eu achava que devessem dar, para as minhas cartas. Uma vez assistia a Tv Cultura, bons tempos que passava X Tudo onde a Fernanda Souza entrevistava algumas crianças que correspondiam com crianças de vários estados. Sempre quis conversar com alguém via cartas. Propus na escola a mesma idéia que vi na TV, as professores gostaram, mas o projeto nunca chegou as vias de fato.

Existe a internet que me proporcionou algumas cartas, seja para mandar, seja para receber. Sim, cartas! Cartas na internet movida a horas no MSN, emails, recados via Orkut e por aí vai. 

Houve uma vez que a quantidade de cartas recebidas dos meus amigos, homens, incomodou o machismo e o patriarcalismo... da minha mãe. Nesse dia recebi uma carta do Mário, quem eu chamo de amigo mesmo sem conhecer pessoalmente. 

Minha mãe me disse que não queria que eu escrevesse e nem recebesse cartas de homens, que isso pegava mal, que eu deveria escrever para mulheres. Eu estava de saco cheio de mentir, omitir, já que para eu não poder falar a verdade já é uma opressão a minha liberdade de ser. Resultado, minha mãe se frustrou com a notícia que eu dei a ela. Teria se frustrado menos se preocupasse menos com os outros, se não ficasse querendo regular, mas deixa. 

Mesmo assim as cartas não perdem o encanto. Tudo tem valor para mim e de tudo gosto. O selo utilizado, o carimbo da agência de correio em que foi postado, a folha de caderno, os erros rabiscados pela caneta, o estilo narrativo do escritor. Gosto também das coisas inusitadas que podemos mandar. Eu sei! Cartões postais não são inusitados, mas são interessantes também, mais ainda quando nem em envelopes são colocados, apenas a foto de um lado, do outro as palavras do remetente, o meu endereço, o selo e o carimbo dos Correios.

Falando em coisas inusitadas... uma vez mandei um linda flor de ipê de agosto para Mário. O Mário me mandou em outra vez um folder publicitário de um shopping da sua cidade. O que eu faço com um folder de shopping que nem conheço? Dobrei até virar um pássaro Tsuru, fotografei, exibi alguns dias pelo MSN e nada falei a ele e nem a ninguém. Ele gostou da surpresa e da quebra de expectativa.

Pássaros Tsurus! Dizem que eram pássaros que acompanhavam os eremitas em suas meditações nos altos das montanhas. Por sua vez, os eremitas acreditavam que os Tsurus viviam até 1.000 anos. Os japoneses se presenteiam com Tsurus desejando paz, sabedoria e longevidade. A lenda diz também que quem fizer 1.000 pássaros terá um desejo realizado.


Enviei um Tsuru para o Funny e depois de algum tempo ele me escreve e me manda um Tsuru também, verde – minha cor predileta. O Funny até então não sabia fazer Tsurus e fiquei feliz por ele ter aprendido e depois dobrado um para mim. Então, a carta dele, simples, mas fez aquela lagrimazinha. Fiquei feliz e com vontade de chorar mesmo assim, eu que sou tão razão. Não que eu seja ponderado.

Bom, é isso.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Eu estou fora do armário?

Não sei responder essa pergunta, pois não sei definir o que é armário e então fica complicado responder sobre algo que eu não tenho uma ideia, ou várias delas, formada. Mas, vou tentar seguir um pensamento linear e tentar responder a pergunta.

 

Ser homossexual, a minha condição sexual, é algo inaceito socialmente pela maioria das pessoas, tanto é que encontramos nelas muita hostilidade contra as pessoas que estão nessa condição. Por não ser aceito, muitas pessoas optam por esconder a sexualidade.

 

Em um primeiro momento, as pessoas escondem a sexualidade de si mesmo, a pior fase dado aos sentimentos de culpa, frustração, medo e as ilusões que redundam em mais culpa, frustrações e medos. Essas pessoas talvez sejam o que muitos chamam de enrústidos, não reconhecem e não aceitam a si próprias, muito menos os outros homossexuais.

 

No segundo momento, as pessoas aceitam a si mesmas, mas decidem não compartilhar isso com ninguém e resolvem viver discretamente. Acho que são essas pessoas as que estão no armário. Porém daí surge uma confusão, estar no armário quer dizer que ninguém sabe da sexualidade do indivíduo, mas e quando ele começa a se abrir para o terapeuta, para algum amigo virtual, procura também um outro “não assumido” nesses batepapos e redes de socialização para juntos permitirem viver o que as emoções e razões podem proporcionar através do corpo com a pessoa do mesmo sexo?

 

Assumir a sexualidade em uma sociedade intolerante, apesar das exceções ou da intensidade da intolerância, não é algo confortável para muitos e a mim, que não sou diferente, não é interessante. No entanto guardar essa sexualidade para si próprio também não é agradável e faz mal. Vejo que é uma escolha entre o ruim e o pior. Com isso notamos que no nosso caso pode existir um amigo para o qual resolvemos contar e dele conseguirmos apoio, o que é tudo de bom. Mas quando isso acontece continua-se no armário?

 

Depois desse amigo, vemos que temos mais uns dois que podem saber e contamos, eles também nos apóia, e aparece pessoas importantes também, como os pais e os avós, contamos e eles nos apóiam. Seja terapeuta, amigo ou familiar, quando contamos a sexualidade peço segredo, pois não é bom que todos saibam, ninguém quer sentir preconceitos e sou orgulhoso, não quero nem mesmo ouvir dizer que disseram mal de mim pelas costas.  Mas mesmo assim, quando isso acontece continua-se no armário? Mas por quê?

 

Estou em uma fase em que todas as pessoas que eu acho importantes para mim sabem da minha sexualidade e o mais importante, elas aceitam, algumas não tão bem como é o caso da minha mãe, mas deixa para lá. Nessa situação que me vejo encontro uma autoconfiança e confiança nas pessoas importantes muito grande, a autoestima fica elevada, afinal agora não preciso mentir, omitir e sei com quem posso confiar, independente da minha sexualidade.

 

Acontece que agora também, conforme for o perfil da pessoa, caso ela perguntem a mim a minha sexualidade não será bem o caso de dizer, mas será o de não mentir, de sugerir já que vejo que dela não surge nenhum preconceito. Ainda não foi o caso disso acontecer, mas embora eu tenha um pequeno receio, sei que provavelmente tomarei essa atitude.

 

De modo geral não sou assumido. A quantidade de pessoas com quem me relaciono diariamente e que me conhecem em vista da quantidade de pessoas que sabem de mim são poucas, são apenas as mais importantes ou aquelas, que constituem um grupo muito pequeno, que a minha sexualidade, como a de qualquer outro, para elas não importa. Também não quero e não devo sair dizendo a quem perguntar a minha sexualidade, isso não é da conta delas, perguntar não quer dizer que elas mereçam ouvir.

 

Talvez seja melhor eu deixar a sina de usar rótulos para definir as pessoas e dar moral aos tipos que surgem por aí que utilizam deles, mesmo que na própria comunidade do armário, onde sinto em alguns um “naziarmarismo”. Naziarmarismo? A purificação dos armariados, só pode entrar quem está no armário, sendo que a ideia de armário é vaga e indefinida e como quem que parece estar fora do armário consistisse num perigo aos demais, não importa o histórico, o caráter da pessoa e as relações que ela cultivou ali.  Impressiona como as pessoas promovem o preconceito do qual são vítimas e nem se tocam.

domingo, 22 de março de 2009

Do melhor amigo



Abrindo a porta do armário:

O meu melhor amigo é o R e a mãe dele, V, é muito amiga minha, aliás, é uma das minhas segundas mães. A mãe dele havia pegado a minha máquina fotográfica emprestada e depois fui buscá-la na casa deles. Em casa estava apenas meu amigo, e o irmão dele – um bebê – que dormia, e pensei em ir embora. É incrível, por mais intimo que eu seja naquela casa ainda me sinto um tanto quanto tímido. 

Disse a ele que iria embora, pois em casa o clima está meio tenso, trevoso como eu diria meses atrás. Ele quis saber o por quê e eu disse que não era nada. Mas ele insistiu para saber e ficamos ali naquele “fala” da parte dele e “não falo” da minha parte, um lenga-lenga tedioso. Ele disse que com ele eu poderia contar e então acionei o modo EXPLODA e comecei a falar para ele algo que sabemos bem. 

Disse a ele que existem coisas que não escolhemos, mas que precisamos seguir, até mesmo porque depende nossa felicidade disso, e que algumas pessoas como a minha mãe complicam. Ele é sagaz e inteligente, logo entendeu ou começou a fazer ideia do que eu estava falando e já perguntou como vai a minha relação com meu pai. Disse que com meu pai as coisas vão bem, ele não se preocupa com isso, ele continua o mesmo comigo. Isso o deixou surpreso, principalmente porque ele imaginava meu pai conservador, o que não é bem assim, muito antes, pelo contrário.

A conversa fluiu e ele disse algumas coisas que eu sei, entendo e que tenho dificuldade de incorporar na prática relacionada a mim e à minha mãe, mas que é importante repetir. Disse outras coisas, que eu não sou um bicha, fez as críticas as depravadas e eu disse a ele que não tenho interesse de fazer da homossexualidade o meu cartão de visita. Nisso concordamos bem. Disse também que pensei em nunca falar a ele sobre a sexualidade, já que ouvia da parte dele algumas piadas homofóbicas (?) e ele replicou dizendo que são brincadeiras. Me convenci disso. 

Falamos sobre muito mais coisas a respeito disso, dos tipos da universidade, dos grupos ativistas e tudo. Relevante contar é que eu agradeci a ele, afinal de contas tive medo que para ele uma amizade que existe desde muito cedo, talvez desde os três anos, não valesse nada para dois caras de 19. Fiquei feliz, não que a semana tenha sido ruim, foi ótima aliás, mas contar com apoio do meu melhor amigo valeu por todos os dias.

Sobre o meu melhor amigo:

Não sei precisar bem a idade, mas talvez seja aos três anos que eu o vi pela primeira vez e posteriormente começamos nossa amizade. O bairro ainda era novo, não existiam muitas casas, fomos um dos primeiros a nos mudar para cá, ele e sua família veio logo em seguida. Eu passava com minha mãe na frente da casa dele, lembro que sua mãe varria a rampa e cumprimentou a minha, embora ainda não fossem amigas. Ele segurava uma bola e estava sentado na escada e disse um alegre “Oi”. Talvez ele nem lembre disso, acho que não.

Não sei precisar o tempo, quando criança não tinha noção espaço-temporal eficiente, mas sei que foi pouco para nossos pais serem amigos e eu me aproximar dele e da irmã dele, pela qual também nutro muito carinho. Logo de cara dá para falar que o R é o meu melhor amigo há muito tempo. Se é recíproco da parte dele não sei e nem me preocupo em saber. Desde meus três anos será? Não sei! Mas sabemos o peso que um amigo de longa data tem em nossas vidas, nas experiências, nos momentos importantes da vida, ainda mais se ele for considerado pela gente o melhor amigo.

O melhor amigo, para quem preza as amizades e as pessoas que vivem ao redor, é certamente uma das pessoas mais importantes para a vida desse indivíduo. É interessante compartilhar coisas de nossas vidas com o melhor amigo e poder ficar a vontade para não esconder a sexualidade, se formos homossexual, não é diferente. 

Quem acompanha o blog há um bom tempo, sabe que por um período pensei viver minha verdadeira sexualidade escondido de todos aqueles que me subentendiam heterossexual. Com a evolução e as mudanças no meu ponto de vista a respeito da homossexualidade e das pessoas a minha a volta, ficou claro também que passou a existir algumas pessoas para as quais passei a tratar como sendo interessante o conciência delas a respeito da minha condição. Essas pessoas são alguns amigos do colégio, meus pais – sendo que a tranqüilidade da minha relação com minha mãe seja frágil, e o meu melhor amigo, assim como a mãe dele.

domingo, 15 de março de 2009

As teorias


Diz a tese que o homem que tiver o dedo indicador maior que o anular, provavelmente será homossexual, e caso tenha o dedo anular maior que o indicador, provavelmente ele será heterossexual. A primeira vez que ouvi sobre essa teoria foi no Fantástico, em seguida na internet em ocasiões diversas. 

No meu caso a teoria se aplica, conforme a foto, tenho o dedo indicador maior que o anelar, o que sugere que eu seja homossexual. A teoria sugere e eu confirmo conhecendo a mim tão bem, sou homossexual.

Ao dizer sobre essa teoria, a da relação do tamanho dos dedos, vi que não é bem assim. Muitos tinham o dedo indicador maior que o anular, indicativo de homossexualidade. Outros, compondo um número bem relevante, que não sei precisar se chegavam a ser maioria ou minoria possuíam o dedo anular maior do que o indicador, indicativo de heterossexualidade, no entanto eles foram categóricos ao dizerem que eram homossexuais já que eles não tinham a menor dúvida quanto a isso.

É uma teoria, a ciência se pauta pela repetição do processo, observação do tamanho dos dedos e a relação com a sexualidade do indivíduo, e obtenção do mesmo resultado sempre para ter segurança sobre suas afirmações. Porém não é isso o que acontece, existem muitas excessões e havendo excessões jamais poderá tornar uma lei essa teoria. Lembro do bom senso do cientista que faz estudos sobre ela, ele disse que a teoria é essa, mas existe muitas questões serem resolvidas e saber se ela é válida ou não.

O que a teoria diz sobre as meninas não sei, só lembro que o dedo indicador maior que o anular, homossexual, é o padrão comum entre as mulheres, que pressupõe serem heterossexuais.

Bom, o que eu quero é que quem ler essa postagem diga como a teoria se aplica a você, dizendo quem é maior que quem e a sua condição sexual. Até a próxima, aqui no Mundo de Beakman.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Você é o meu balão


Quando criança, eu ia a muitas festas infantis. Nelas brincava-se muito, comia-se muito brigadeiros, salgados, sempre rolava o "Com quem será" depois de cantar parabéns. Enfim, eram divertidas as festas e eu gostava muito do final, quando os festeiros pegavam os balões que adornavam e distribuiam as crianças. As festas eram geralmente a noite e eu chegava em casa em um horário que eu costumava estar dormir, então chegava muito cansado e deixava para curtir meus balões no outro dia.

Os balões para mim sempre foram mais do que objetos feitos de um elástico latex com perfume peculiar. Foram para mim a continuidade da diversão em casa, recolhido comigo mesmo na minha infância solitária, sem irmãos e com a presença de amigos talvez menor do que em comparação a média. E dos balões posso dizer que eles não foram apenas balões no meu universo infantil. Nunca atribuí a eles nomes, mas atribuí a eles personalidades, nada mais reflexo da minha própria.

Me encatava nos balões o colorido, pareciam sempre estar sorrindo, a leveza, a flutuação. No fim acabava eu criando um certo laço afetivo com eles e com eles eu tive um pouco da sensação de se perder algo querido, seja repentinamente - estouro - com a falta de cuidado de uma criança, seja ao longo dos dias em que eles iam murchando, perdendo a leveza e as cores vivas e brilhantes passando para umas densas e opacas.

Mas então, eu só sei que apesar de tudo que não seja interessante, ainda assim muito eu gosto de balões e que você é o meu balão.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Amanhã ou Depois.



Na minha relação com a minha mãe muitas coisas são complicadas. Tenho notado que ao longo dos anos a nossa relação que era muito afetiva por parte de nós dois foi se acabando. As manifestações de carinho acontecem apenas por parte dela e mesmo que ela seja carinhosa eu ainda me sinto incomodado. Talvez tenha acontecido em função da definição da minha personalidade que é muito diferente da dela. Não gosto disso e acho que sou muito injusto com a minha mãe.

 

Por um tempo fantasiei que as coisas entre nós dois poderiam melhorar caso ela soubesse da verdade sobre minha sexualidade. Muitas mentiras e omissões que eu fazia a respeito de mim tendo a sexualidade iriam desaparecer e eu ficaria mais tranquilo, mais sereno. Fiquei mais tranquilo sim e também mais sereno, mas não atingi o objetivo que quis. Continuo agressivo, no entanto agora é diferente.

 

Certamente fico irritado pela forma como minha mãe age diante da situação. É degradante a forma degenerativa como minha mãe conduz a situação sobre a minha sexualidade. Sem sombras de dúvida ela gosta de mim, mas a felicidade dela está em me ver heterossexual, o que é impossível. Ela não sabe, ela é inocente quanto a isso, ingênua, mas ela me magoa muito quando deseja e reza ao Deus dela para que isso aconteça.

 

Abstenho-me de fazer muita coisa que eu imaginei que poderia fazer, e posso fazer, quando tivesse saído do armário. São degradantes as perguntas, a comotion (leia-se choro e chantagem sentimental) que minha mãe faz quando eu saio de casa. É uma sabatina pautada em dúvidas sem nexo, expressa com termos degradantes por parte dela ou tom de voz alto e expressões agressivas que preciso fazer para sair de casa sozinho.

 

Não importa o que se diga e o que se faça por agora, minha mãe acha que sempre vou fazer “safadagem” com alguma bicha (homossexual depravada e que todos percebem a sexualidade) doente que vai me deixar doente também, preferencialmente com AIDS como se fosse essa doença exclusiva aos e a todos homossexuais. E como se não bastasse, ao final me deixar falado, pesadelo para ela. Agora minha mãe deu para escolher até com quem, mesmo que heterossexual, posso assistir filmes que vão ter como temáticas a homossexualidade. Ela tem pavor que eu conte para pessoas como o meu melhor amigo e a mãe dele, que fecharão um ciclo de pessoas para quais acho conveniente contar.

 

Em função das atitudes da minha mãe e do meu comodismo em enfrentá-las eu fico em casa. Recuso muitos convites de pessoas daqui de Goiânia que poderiam terminar em amizades ou até em uma relação, se for para ser, por causa disso.

 

***

 

Falar de si mesmo é importante, pois é ouvimos opiniões sobre nós pautadas no que não percebemos. Também ajuda escrever para os outros tendo a própria vida como base da argumentação. É assim que olhamos para nós mesmos e entendemos melhor como comportamos, pensamos, sentimos, enfim.  Faço isso aqui no blog e faço isso na comunidade do Armário.

 

Na comunidade do Armário falei sobre minha relação com minha mãe, os amigos de lá foram certeiros com os conselhos, me disseram tudo o que eu sabia de certa forma, só não tinha me dado conta que servia para mim e que preciso muito usar. Agora falta por em prática, entender que eu não posso exigir da minha mãe o que ela não consegue. Eu sou o responsável por ter saído do meu armário, diante das pressões prós e contras, e sou também o responsável pelo o que vier agora tendo essa saída como pano de fundo.  

 

Cabe a eu agir da melhor maneira possível para melhorar a situação com a minha mãe.

 

Na última noite não fiquei até o horário de costume na internet, estava achando aquilo um tédio e morrendo de vontade de me ver ocupado novamente com minha faculdade. Assisti quatro finais de jornais, tentei dormir. O sono não veio e chegou o momento em que liguei meu mp4 que carreguei só com músicas acústicas.

 

Nisso tocou Amanhã ou Depois da banda gaúcha Nenhum de Nós. Rolou algumas lágrimas ao ouvi-la, pois a música fala bem da minha relação com a minha mãe com uma rica fidelidade. Amanhã ou Depois será a trilha sonora doravante da minha relação com minha mãe. Adoro as metáforas e os seus compositores, ainda mais em boas melodias.

Amanhã ou Depois


Deixamos pra depois uma conversa amiga
Que fosse para o bem, que fosse uma saí da
Deixamos pra depois a troca de carinho
Deixamos que a rotina fosse nosso caminho
Deixamos pra depois a busca de abrigo
Deixamos de nos ver fazendo algum sentido

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
For nunca mais... nunca mais

Deixamos de sentir o que a gente sentia
Que trazia cor ao nosso dia a dia
Deixamos de dizer o que a gente dizia
Deixamos de levar em conta a alegria
Deixamos escapar por entre nossos dedos
A chance de manter unidas as nossas vidas

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
For nunca mais... nunca mais


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Mais outro sobre a matriarca

Me irrita as pessoas que não tem nada para dizer e falam besteira.

Assim com a minha mãe não vê na dela, eu não vejo a menor graça na minha vida. Sou pobre, estudo para me formar no que não vai me trazer felicidade, o meu corpo não é o que eu quero, como se não bastasse preciso de uma cirurgia que não sai tão cedo. Carnaval para mim consiste em ficar com meus pais, que ruminam diante da TV, e sentado feito um zumbi na frente desse computador.

É muito, mas muito cedo para eu dizer que vim ao mundo e perdi a viagem. Ainda tenho tempo e não chegou as vezes em que eu vou explorar todas as chances que eu tiver e assim me achar melhor ao Sol. Minha mãe coitada, é diferente, não está velha, mas do jeito que ela escolheu as coisas ela envelhece rápido. Isso me faz sentir dó dela e ainda mais raiva.

Ela só não tem coragem de dizer porque me ama, porém a verdade é que ela me acha um vagabundo. Com 19 anos eu só estudo. Ela dá graças a Deus por eu estudar, mas ela tem mais vontade que eu trabalhe do que estude. Ela tem raiva de muita coisa, raiva d’eu não falar de mulher mesmo que eu não fale de homem. Ela tem raiva de mim, e dela também, porque a pobre egoísta que ela é sem saber acabou transferindo a mim a maior parte dos planos da vida dela, acou se limitando. Ela tem raiva porque eu não acredito em Deus e não vejo a menor necessidade disso. Ela tem raiva de mim porque eu não acho bom senso nela, nem nas coisas que a minha avó ensinou a ela e a coitada pensa que eu tenho que seguir. Ela tem raiva porque eu não tenho raiva da família do meu pai. Ela tem raiva porque eu nada me interesso saber sobre o que os vizinhos fazem da vida deles ou o que foi manchete nos jornais sangrentos.

E eu não tenho raiva? Lógico que tenho, tenho raiva dela ter raiva e não saber do que tem raiva. Tenho raiva dela ser assim. Tenho raiva porque isso me afeta e tenho raiva das probabilidades que faz mãe e filho duas pessoas com trato em relação as situações tão diferentes. Não tenho raiva dela, mas sim das coisas que ela faz ou pensa. Tenho raiva dos elogios feitos a mim devido a vontade de que algo diferente aconteça.

Não quero ficar nessa por muito tempo. Eu quero ser livre, quero a sair daqui assim que puder. Ela vai sofrer, eu também, eu gosto dela e com a distância que verei que gosto dela de verdade e irei me arrepender e só não vou admitir por causa do meu orgulho. Mas confesso, a vontade de realmente testar a existência dessa felicidade é imensa. Assim também como sair de casa para fazer ela chorar. 

Desculpa minha mãe se eu não o que você quis e me desculpa também se na razão eu te entendo e o meu amor é apenas latente e nada saliente. 

O que me anima é saber que um dia as coisas vão mudar, pois tem que mudar, inclusive o regime de chuvas, quanta raiva eu sinto desses dias quentes semelhantes a agosto. Nem os típicos musgos dessa estação tem nos meus muros.