terça-feira, 19 de maio de 2009

Memórias do vigésimo



Hoje é o dia do meu 20º aniversário e não tenho entusiasmo para comemorá-lo. Vem-me a mente umas reflexões e umas conclusões pessimistas. Eu acredito que eu tenho evoluído, tenho ficado melhor a cada ano, principalmente nos últimos dois anos. Motivos para comemorar eu tenho, só não tenho entusiasmo.

Quando completei os 18 anos de vida decidi viver bem com a minha sexualidade. Naquele dia só não imaginei que em tão pouco tempo, dois anos que se completam no dia de hoje, estaria onde estou, principalmente sendo assumido para as pessoas mais importantes, entre elas os meus pais.
Por um lado eu ganhei, por outro perdi e perdi justamente o que eu não queria perder, os tantos amigos que tive no passado. Não, ninguém se afastou de mim por causa da minha sexualidade, sequer sabem dela. Eles podem desconfiar, mas não saber. O que aconteceu é que não vou mais aos lugares que encontrava os amigos, principalmente o colégio e a Igreja.

Não vou mais a Igreja, o lugar que mais me proporcionou amigos, momentos e boas experiências. Não vou mais a Igreja porque não gosto dos fariseus embriagados em seu conservadorismo, em suas teorias a respeito da existência de uma força superiora, um deus, que não consigo acreditar. Não me faz sentido aquilo, nem mesmo as músicas que até hoje liberam em mim os hormônios do prazer. Além disso, o grupo de jovens não será o mesmo, não terá as mesmas pessoas. No fundo, me sinto um estranho, algo externo e estranho ao ambiente de uma Igreja.

Quanto ao colégio, a esse nunca mais voltarei como estudante e nem como adolescente. Aqueles tempos foram outros, também com suas pessoas, sua nostalgia, essência.

Na universidade tudo é diferente, não conheço todo espaço da instituição que é enorme. As pessoas são isoladas, como já disse outra vez, em seus prédios, ciências, leituras. É meio estranho. Tenho amigos por lá, poucos e proporcionalmente não tanto quanto no ensino médio. Além disso, as amizades não têm aquela passionalidade adolescente, são muito formais e não sei até que ponto vão, tanto é que não confesso minha sexualidade a elas.

Há dois anos, no dia do meu aniversário já teria recebido várias ligações e teria muitos para convidar para um rodízio na pizzaria, hoje é diferente. Talvez não fosse assim se nesse tempo todo que se passou, que me distanciei aos poucos das pessoas, pensasse em cultivar as muitas amizades que tive tendo em mente que tudo que vou me distanciando, vai aos poucos, ficando menor.

Conforta saber que eu não tenho nunca houve atritos com alguém e eu, as amizades sempre foram cordiais. Conforta saber que hoje sobrou as que eu sempre achei melhor. Mas mesmo assim gostava daqueles dias em que as rodinhas de violão, os DVD’s na casa de alguém depois da aula, os almoços de domingo, as caravanas levantavam minha autoestima e fazia eu pensar que não estava passando em branco na vida de ninguém.

Talvez eu peque muito idealizando, idealizando como as coisas deveriam ser para me agradar. É bem verdade que nunca estou satisfeito, existem sempre algo que para mim deve melhorar e não que eu seja infeliz, não me considero infeliz, irei ficar muito incomodado.

Posso concluir usando de umas das mais belas músicas do Lenine, que explica bem o que sinto e o que quero...

“Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa”

sábado, 16 de maio de 2009

Uma crítica que pretende anarquista

Ser homossexual não afirma nada além do fato de gostar de pessoas do mesmo sexo, todo o resto são adereços que podem ou não existir e que dependem do individuo. Mas estamos secularmente acostumados a um modelo positivista, que visa explicar a tudo e todos usando leis gerais tiradas a partir de pequenas partes.

Mesmo assim, ninguém por ser homossexual vai ser passivo, efeminado, gostará de divas ou utilizará e se portará espalhafatosamente. Muito menos tem o involuntário papel messiânico de sair às ruas gritando aos quatro cantos sua sexualidade intolerada socialmente e querer a partir disso uma transformação social, política, ou às vezes simplesmente carnaval.

Além disso, quando se vive em uma sociedade heteronormativa é legitimo que muitas pessoas homossexuais escolham viver escondidas, inclusive de suas famílias e amigos, abrindo seus armários para poucas pessoas. Porém, o que falta em muitos armariados é questionar a si mesmos, seus valores, seus padrões antes de se pensarem dignos de acusar algum grupo, muitas vezes semelhantes a si.

Outro dia, quem se dizia contra pessoas taxativas, criou pela N vez um tópico com uma visão determinista, além de pessimista, a respeito da homossexualidade, taxando o mundo homossexual de fútil. Na comunidade surgiu um debate extenso. Muitos concordaram com o autor do tópico, mas a maioria, pelo menos de quem postou, felizmente discordou das taxações e perseguições a um perfil de homossexual, o dos efeminados freqüentadores de baladas, fãs de Mariah Carey e super produzidos.

O que falta aos homossexuais armariados é a percepção de que as mesmas condutas morais que eles usam para discriminar efeminados são as mesmas que a sociedade e as religiões, que insistem em professar, usam para condenar simplesmente pelo fato de serem homossexuais os armariados. O que não pode ignorar também a mudança que esse perfil de homossexual, organizados em seus ativismo conseguiram para mudar para melhor nosso mundo.

Se sentir atraído por efeminados sexualmente ninguém é obrigado, mas respeitá-los enxergando-os no mesmo patamar de importância e dignidade humana que nós é necessário. Até mesmo porque mundo gay é uma concepção heteronormativa e ignorante a respeito da diversidade sexual além de limitada e taxativa. Sem contar que mundo gay é feito pelos gays. Se habitasse no imaginário coletivo de que os homossexuais são sempre discretos, a concepção de mundo gay também mudaria.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nem tudo precisa de título.


Ah! Que vontade de escrever conforme me vem às coisas na cabeça sem me preocupar com a linearidade e com os meus objetivos. Sei lá, falar o que eu tenho pensado nesses dias, mesmo que não tenha pensado muito em mim. Mas tenho que exercitar o pensamento linear e adestrado. Assim também como é interessante falar de mim, pois é o que eu tenho propriedade para bem dizer. Então...

Então que eu falei da última vez das paixões de adolescência, mas essas paixões se foram junto com os medos e as incompreensões que me acompanhavam naquele período da vida. Nunca mais me apaixonei. Bem, não chamo os processos similares a esse de agora de paixão, ainda não.

Que inconclusivo estou.

Lá existem outros que são bonitos também, são de encher os olhos e fazer brotar em mim uma certa carência. Lógico, também imagino-os em diversas situações, de uma simples conversa a respeito do conteúdo, sendo que fico muito feliz quando uma dessa se torna real, até um beijo. Bom que já dá para definir agora quem também é colorido conforme vou lapidando o radar.

Imagino também como deve ser seus abraços, as sensações que passam através do tato vindas de seus corpos. Ok, eu confesso, também os imagino nus, e não me recordo, talvez mais que isso. Tenho a mania de olhar para os dedos para deduzir o tamanho. Claro, contextualizo o tamanho e o formato dos dedos com o biótipo e não me perguntem como, eu costumo acertar o tamanho.

Mas deixo os pensamentos libidinosos para depois. Eu penso muito em todos de lá, mas entre todos alguém se destaca e nesse alguém, que sabe lá o porquê, eu penso mais.

Diferente das paixões de adolescente eu não fico me sentindo ridículo, e não fico pensando tanto assim, não imagino tanto as hipotéticas situações, não fico constrangido assim. Pelo menos por enquanto não. Agora é diferente, sei lá, é muito bom e frustrante também. Ai que porra! Camões! Camões! Camões!

Mas eu não estou apaixonado, mas se continuar irei ficar, pois é um processo isso tudo.

Gosto das tardes de terça e de quinta feiras, só não gosto da disciplina da quinta, mas gosto da turma. São os dias em que o vejo. Saco, cinco metros é muita coisa, melhor é claro que se fosse do outro lado da sala. Porém, mesmo que fosse um metro apenas, na carteira ao lado ainda ficaria distante. A timidez, a cara de pau que não possuo para chegar e puxar conversa torna qualquer distância uma unidade astronômica (distância média da Terra em relação ao Sol).

O gaydar, em estágio beta e que insisto em por para funcionar, o gaydar que não é capaz de me dar resposta alguma. Agora ele ficou um individuo assexuado.

Mas a cada vez que eu o olho fico feliz, me sinto saciado de alguma coisa e fico carente também, querendo algo que não tenho e que sinto falta, ou melhor, nunca tive. Sinto um leve constrangimento pelo medo de que alguém perceba que eu o olho. E olho mesmo, olho com gosto, vou escaneando até a forma como gesticula, o sorriso, o espírito humilde e adocicado, vários signos que se encontro em outra pessoa me lembra ele.

Quando a aula acaba sempre olho para trás. Olho sempre para trás, sempre que algo para mim não terminou, algo que precisa ser resolvido. Fico melancólico e é frio, mas essa é a perspectiva enquanto não tomar iniciativa de ir em busca da realização dos meus desejos.

Último devaneio

DIRIGIR é uma falsa sensação de liberdade. Na pista da direita não se anda com regularidade, sempre haverá alguém andando, saindo, balizando. Na central sempre haverá alguém mais lento que eu e na da esquerda, quando eu pensar que estou rápido, haverá alguém mais rápido que eu chegando por trás e querendo passar. Deixo passar indo para pista central e sendo atravancado pela lesma da frente.

Sem contar que sempre que estiver andando em velocidade cruzeiro, com quinta marcha a 60Km/h na via arterial ou 80 Km/h na via expressa, haverá algo, não importa o que, um semáforo, uma rótula, uma anta, uma plaquinha de “Os transtornos passam e os benefícios ficam” para estreitar a pista, com eles a velocidade e redobrar a atenção.

Pois é, o período pós autoescola já passou, acabou um pouco antes do primeiro ano da provisória vencer.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Monte Castelo

A primeira vez que eu me apaixonei foi aos quatorze e anos e eu estava começando o 1º ano do Ensino Médio. A professora de Literatura deu como conteúdo a turma o 11º Soneto do poeta português Luís de Camões. Para mim aquilo foi muito didático, pois daqueles 40 estudantes, provavelmente só eu que estava sentindo na pele - no estomago, no coração, nas pernas, nas mãos e o que quisesse considerar - o que Camões sentia quando escreveu o seu soneto e a professora em vão explicava aos seus discentes. Emoção é emoção, razão é razão, logo não existe razão explicando a emoção, então o que a querida professora fazia ali era em vão. Só quem se apaixonou ou estava apaixonado entendia aquilo.

Mas quando me apaixonei as coisas não foram agradáveis, muito antes pelo contrário. Eu estava apaixonado por um rapaz, que morava em uma quadra próxima a da minha casa. Estar apaixonado por ele era de tirar o sono, não só porque ele é bonito, hoje mais bonito ainda do que naquela época, porque eu afirmava a mim uma heterossexualidade que só eu bem sei que nunca existiu e então nutrir algo pelo menino em questão é contraditório.

Ficar apaixonado foi a coisa mais confusa que aconteceu no meu mundo. Na época eu ficava pensando no rapaz o tempo todo, imaginava situações, gerava motivos para ir a algum lugar que eu tivesse que passar pela porta de sua casa, onde ele geralmente nos finais de tardes sentava com seus amigos para conversar. Até sozinho em casa ou com alguém, em algum lugar, me comportava como se ele, que até hoje nem me conhece a não ser de vista, fosse chegar e reparar o que eu faço.

Nas situações que eu imaginava eu estava fazendo algo que pudesse impressioná-lo e o tipo de relação que tínhamos era no máximo amizade, mas meu corpo, minhas emoções queriam outras coisas que minha razão rejeitava. Às vezes eu me sentia bem com aquilo, outras não, me sentia culpado, amoral e até inferior por saber que o que eu sentia não era o que eu pensava.

Na situação, que era de conflito, comecei então a fantasiar que realmente eu gostava dele, mas era só dar um tempo ao tempo, aquilo tudo ia passar e eu iria me ver novamente como heterossexual que sempre pensei que fosse, casado, com uma linda família de comercial de margarina. Passou, mas fácil não foi e nem virei o tal heterossexual que pensei que fosse, continuava o mesmo viado de sempre.

Outra vez que eu me apaixonei, ouve um período da minha vida que passei a freqüentar um órgão estadual onde no protocolo trabalhava um homem, que por ter me dado conta de que estava também apaixonado por ele passei a odia-lo. Não gostava de encontrá-lo, não gostava porque o que eu sentia era justamente o contrário, alegria. Dá para entender? Não sei. Além de odiar e amar, me encontrar com o sujeito era constrangedor, me sentia ridículo porque quando estamos apaixonados, queremos impressionar a flor roxa que nasce no coração do trouxa, que sou eu.

Com o tempo a paixão foi passando e nunca mais me apaixonei, pelo menos por heterossexual, ou aparentemente heterossexual. Ainda bem e isso tem explicação, o que eu penso ser explicação.

Finalmente eu comecei a não ter mais medo de mim mesmo, questionei o que eu acreditava e o que eu sentia. Comecei a questionar não tudo, mas muita coisa. Foi daí que afastei da religião, daí que comecei a tolerar, aceitar foi um pouco mais tarde, que eu sou homossexual e tentar acomodar a melhor forma para se viver com essa condição. Fez parte da minha autoaceitação as indagações e os desprezos aos valores religiosos, pilares do meu período de inaceitação.

Sobre se apaixonar, há tempos não me sinto apaixonado e finalmente quando isso acontecer não será mais tão ruim, aliás, será bom, talvez, não sei. Não vou precisar mentir nem para mim e nem para quem eu confio sobre o que eu estou sentindo, pois penso que serei inteligente emocionalmente para não mais se apaixonar por quem for heterosseuxal. Bom também que com esse tal de gaydar dá para saber com certa segurança quem é colorido como eu, e então dar sinal verde ao coração.

Agora o meu objetivo é ter alguém para abraçar agora. Prontofaleibeijomeliga.

(Mystica, eu te amo)

11° Soneto de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A vontade de escrever continua.

Continuo com vontade de escrever, só não sei bem o quê falar. Bem, estou bem entediado, apesar que antes de ontem tive uma boa notícia. Não é todo dias que se ganha uma promoção nacional. Ruim é que fiz planos antes da hora sobre meu prêmio e agora viverei 30 dias esperando para fazer usofruto do que me deram. 

Aquele clima de decadência ainda existe, agora não estou mais me sentindo velho ou subaproveitado. Me sinto decadente porque estava olhando o meu circulo de socialização, os amigos meus remanescentes da Igreja e do colégio com os quais tenho um contato mais constante são poucos. 

Perdi muito em ter saído da Igreja, do grupo de jovens, mesmo que aquele discurso digno de fariseus dos falsos humildes me fazia mal, mesmo que hoje tenha eu chegado a um estado materialista e a fé em algo divino não me faz sentido. Não faz sentido e nem existe a mínima emoção em mim capaz de me convencer, a razão, do contrário. Também não sinto estimulado a voltar para lá, mesmo que seja só pela socialização, acho que aqueles tempos tiveram o sua nostalgia, como é provavel que eu pense que esse dia de hoje eu fosse feliz em um futuro próximo.

Também, a universidade muda os nossos vínculos sociais, o círculo de amizades, que no Ensino Médio incluía quase que a turma toda, agora se limita a alguns com quem sempre faço trabalhos e tenho a oportunidades de visitar suas casas ou eles frequentarem a minha. As pessoas são isoladas, cada um em seus prédios, em seus institutos com suas ciências, pesquisas e literaturas, quando leem. 

Enfim, me rege a esperança de que isso uma dia vai passar e que de mim depende fazer tudo dar certo. 

Hoje andei muito a pé, isso me faz sentir melhor, não só por saber que queimo as gorduras que tanto odeio, mesmo que me digam que não sou gordo, mas também pela sensação de poder, de movimento, de força, de mudança que as pernas são capazes de prover. Inclusive aquela dor nos musculos me dá um certo prazer... e pernas peludinhas torneadas também, depois posto para vocês uma foto de minhas pernas.

Agora vou lá, vou sair com uma das pessoas que mais amo no mundo, minha amiga M. Isso me leva acreditar, e consola de certa forma, que dos amigos mantenho contato com os que mais gosto pelo menos. Irei com ela a um point cult de Goiânia, frequentado por gente do babado, por jovens, universitários. Irei tomar alguma coisa, étilica, em uma mesa de bar. Aproveitarei para ver como Gonzaguinha estava certo, a dona birita levanta a moral de quem está na pior, ou nem tanto como é o meu caso. 

Daí vou sugerir a quem é que possa me ver do que eu gosto. Meu gaydar tem muito o que melhorar, já mostra sutis melhoras, mas isso não quer dizer que eu não posso usar o gaydar alheio, permitindo a eles que me detectem e saibam que eu estou, digamos, com o coração disponível.

terça-feira, 21 de abril de 2009

No final tudo da certo, se não deu certo é porque não chegou ao final

Gosto da maior parte das coisas que escrevo nesse blog. As coisas que eu gosto mais são as que eu dou minhas idéias falando a partir das minhas experiências. As postagens que eu fico de frente a mim mesmo pensando sobre mim, sobre o que comigo aconteceu, o que eu desejo e como resultado eu organizo e estabeleço uma idéia que publico aqui.

E as coisas que não gosto são as postagens como esta que você está lendo agora, as postagens que satisfazem apenas ao meu desejo de escrever algo que será lido por alguém que se disponha. As postagens que quem lê e nem o autor sabe aonde quer chegar, ou melhor, o autor sabe, ele quer escrever algo e publicar já que ele tem essa possibilidade. Será a maldita inclusão digital? Ignoro.

Pois é, estou com vontade de escrever agora e estou escrevendo então. Mas para onde posso levar esse meu discurso até agora metalingüístico? Sei lá, talvez possa dizer que meu Word 2007 não tem corretor ortográfico atualizado e ignora o meu desejo de não acentuar os ditongos abertos e de não colocar trema em lugar algum.

Será mais justo quem sabe eu escrever algo sobre minha sexualidade, sobre minhas experiências, sobre o que eu penso do Amor e dos poemas que criam para o Amor, o que seria uma inspiração vinda do blog do meu amigo, o que eu chamo de melhor amigo com uma enorme devoção, pois quem vem aqui tem esse desejo.

Falando no melhor amigo, hoje fui a casa dele. Passou um bom tempo desde que me abri sobre minha sexualidade para ele e eu fosse a sua casa e conversássemos com mais tranqüilidade sobre nossas banalidades. Saí deprimido da situação, mesmo que ele tenha me tratado super bem e com naturalidade. Falamos de sexualidade, da minha inclusive, sem dar nome aos bois na presença da mãe dele fazendo com que meus dizeres sobre o colega de mestrado dela, homossexual, fossem uma sugestão da minha sexualidade. Por ser apenas uma discreta sugestão ela não deve ter percebido o que eu quis dizer ali.

Mas deprimido? 

Está bem, confesso que eu gosto do que dizem do meu blog, que gosto quando dizem que eu escrevo bem, embora eu seja cético a respeito disso. E por gostar de quando falam do meu blog e de como escrevo fiquei frustrado, não no sentido dramático da palavra, por tudo o que ouvi do meu amigo sobre essa página foi que ele lera somente “naquele dia” que eu mandei o link para ele. Mas não foi isso o que me deprimiu.

Daqui menos de um mês completo meu 20º outono de vida, agora me expressei de forma similar ao estereótipo de homossexual, e olhando para o irmãozinho do meu amigo, que não deve ter nem 10% da minha idade, me senti velho. Não que eu seja velho, mas o que sinto em mim é que são quase 20 anos e o que eu consigo dizer sobre esses anos é o que eu queria ter feito ou estar fazendo e não fiz ou faço. Em outras palavras, eu não aproveito bem a minha vida. Fica mais assustador saber que a cada suspiro meu, a cada inspiração e expiração, o oxigênio vai oxidando minhas células e DNA, reforçando a minha certeza de que um dia, hoje ou daqui muito tempo, a única vida que tenho certeza que viverei acabará.

Tenho medo da morte? Não, tenho medo de não aproveitar a vida como eu acho que posso e deveria antes que a morte chegue, por isso não quero morrer tão cedo. Como diz a propaganda da Visa, que reposto aqui, as pessoas vivem colecionando Não sendo a vida é agora e eu não estou alheio a mensagem da propaganda. Então, o que me deprime é não aproveitar as chances que eu sei que tenho colecionando nãos. 

Voltando a um discurso metalingüístico, eu posso me tranqüilizar agora porque aos 20 anos a vida está começando, quando se pressupõe que para um cidadão goiano do sexo masculino a expectativa de vida é de 72 anos, e terei muito para viver e aprender. Assim como não sei o que fazer da vida agora, minutos atrás, com um humor bem diferente desse meu otimista de agora, não sabia o que fazer dessa postagem, que agora penso ser uma das melhores que fiz. 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Da grande amiga

Não me sinto a vontade para falar da minha sexualidade com meus pais. Meu pai não toca no assunto, não sei se é porque também não agrada a ele, se é porque para ele tanto faz, afinal ele pressupõe que eu sei me cuidar, não sei se é a mistura dos dois ou se não é nada disso que eu estou pensando. Minha mãe não toca no assunto porque eu não deixo. Eu não deixo porque me irrita a forma que minha mãe escolhe para falar do assunto que para mim de certa forma é constrangedor. 

No entanto com a presença da minha amiga, aquela que esteve aqui em casa ajudando a segurar a barra quando me assumi, a situação é um pouco diferente. Quando ela está aqui me sinto a vontade para falar sobre minha sexualidade. Percebi isso porque na hora em que estávamos conversando na sala agora a pouco revelei com bom humor, bom pelo menos para mim e para minha amiga, o que fiz na viagem de páscoa.

Meu pai ouvia as coisas e nada comentava, comentava muito pouco. Deve ser o que falo, para ele não deve fazer diferença ou ele prefere ficar calado, acredito mais na primeira possibilidade. Minha mãe tentava entender meus risos, os termos complicados que o filho prolixo – palavrinha nova que aprendi hoje no boteco – com sua amiga, igualmente prolixa, falavam e não deixar as coisas piores do que eram, para ela.

Na páscoa viajamos para a casa dos meus avós no interior, a família estava toda lá. Essa viagem foi a primeira vez que eu vi meus avós desde quando eu me assumi e eles vieram para convencer que as coisas não era como pareciam ser, para a minha mãe. Não demora tanto tempo assim para vê-los, mas demorou. Os velhinhos, que eu amo muito, me trataram como sempre, muito bem, e não tocaram hora alguma no assunto da sexualidade, como se quisessem dar a entender que não sabem de mim. Eu achei o comportamento deles muito natural e melhor impossível.

Na primeira noite ali na casa dos meus avós eu fui a lan house ver um amigo que conheci aqui na internet. Menino carinhoso, mesma idade que eu, estudante universitário também, assumido para algumas pessoas e uma mãe problemática no que tange a sexualidade dele. Algo semelhante a minha. Fiquei ali na lan house conversando com ele, eu estava demorando chegar e minha mãe liga perguntando onde estou. NA LAN HOUSE SINHÁ. 

A revelação que eu fiz hoje aos meus pais foi essa, a de que eu não estava simplesmente na lan house, sequer sentei em um computador de lá, e sim que estava na lan house com um novo amigo, tão gay e tão acuado, ou até mais, que eu. Minha mãe ficou num misto de curiosidade e constrangimento querendo saber mais, porém sem ter coragem para perguntar. 

Só não falei para minha mãe que depois o meu amigo fechou a lan house e rolou sarro e ejaculações. Isso ela e nem ninguém ali precisam saber e não tenho vontade de contar.

What Can I Do, ouvi hoje na hora de dar risadas.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Escrevendo Cartas e dobrando Tsurus


Gostei desse Rufus WainWright - e ele é homo também.

Eu gosto de escrever e receber cartas, apesar de que elas custam árvores, ou nem tanto se o papel for reciclado. As cartas são mais elegantes e simpáticas do que e-mails, torpedos SMS. Pena serem mais lentas. Nos filmes acho muito bonto ver as pessoas escrevendo ou lendo cartas, mais bonito ainda se as cartas forem redigidas a mão ou lidas mentalmente imaginando a voz de quem escreve. 

Apesar de gostar de cartas, escrevi pouco, nunca tive muitas pessoas para escrever e elas nunca deram muita moral, pelo menos o tanto que eu achava que devessem dar, para as minhas cartas. Uma vez assistia a Tv Cultura, bons tempos que passava X Tudo onde a Fernanda Souza entrevistava algumas crianças que correspondiam com crianças de vários estados. Sempre quis conversar com alguém via cartas. Propus na escola a mesma idéia que vi na TV, as professores gostaram, mas o projeto nunca chegou as vias de fato.

Existe a internet que me proporcionou algumas cartas, seja para mandar, seja para receber. Sim, cartas! Cartas na internet movida a horas no MSN, emails, recados via Orkut e por aí vai. 

Houve uma vez que a quantidade de cartas recebidas dos meus amigos, homens, incomodou o machismo e o patriarcalismo... da minha mãe. Nesse dia recebi uma carta do Mário, quem eu chamo de amigo mesmo sem conhecer pessoalmente. 

Minha mãe me disse que não queria que eu escrevesse e nem recebesse cartas de homens, que isso pegava mal, que eu deveria escrever para mulheres. Eu estava de saco cheio de mentir, omitir, já que para eu não poder falar a verdade já é uma opressão a minha liberdade de ser. Resultado, minha mãe se frustrou com a notícia que eu dei a ela. Teria se frustrado menos se preocupasse menos com os outros, se não ficasse querendo regular, mas deixa. 

Mesmo assim as cartas não perdem o encanto. Tudo tem valor para mim e de tudo gosto. O selo utilizado, o carimbo da agência de correio em que foi postado, a folha de caderno, os erros rabiscados pela caneta, o estilo narrativo do escritor. Gosto também das coisas inusitadas que podemos mandar. Eu sei! Cartões postais não são inusitados, mas são interessantes também, mais ainda quando nem em envelopes são colocados, apenas a foto de um lado, do outro as palavras do remetente, o meu endereço, o selo e o carimbo dos Correios.

Falando em coisas inusitadas... uma vez mandei um linda flor de ipê de agosto para Mário. O Mário me mandou em outra vez um folder publicitário de um shopping da sua cidade. O que eu faço com um folder de shopping que nem conheço? Dobrei até virar um pássaro Tsuru, fotografei, exibi alguns dias pelo MSN e nada falei a ele e nem a ninguém. Ele gostou da surpresa e da quebra de expectativa.

Pássaros Tsurus! Dizem que eram pássaros que acompanhavam os eremitas em suas meditações nos altos das montanhas. Por sua vez, os eremitas acreditavam que os Tsurus viviam até 1.000 anos. Os japoneses se presenteiam com Tsurus desejando paz, sabedoria e longevidade. A lenda diz também que quem fizer 1.000 pássaros terá um desejo realizado.


Enviei um Tsuru para o Funny e depois de algum tempo ele me escreve e me manda um Tsuru também, verde – minha cor predileta. O Funny até então não sabia fazer Tsurus e fiquei feliz por ele ter aprendido e depois dobrado um para mim. Então, a carta dele, simples, mas fez aquela lagrimazinha. Fiquei feliz e com vontade de chorar mesmo assim, eu que sou tão razão. Não que eu seja ponderado.

Bom, é isso.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Eu estou fora do armário?

Não sei responder essa pergunta, pois não sei definir o que é armário e então fica complicado responder sobre algo que eu não tenho uma ideia, ou várias delas, formada. Mas, vou tentar seguir um pensamento linear e tentar responder a pergunta.

 

Ser homossexual, a minha condição sexual, é algo inaceito socialmente pela maioria das pessoas, tanto é que encontramos nelas muita hostilidade contra as pessoas que estão nessa condição. Por não ser aceito, muitas pessoas optam por esconder a sexualidade.

 

Em um primeiro momento, as pessoas escondem a sexualidade de si mesmo, a pior fase dado aos sentimentos de culpa, frustração, medo e as ilusões que redundam em mais culpa, frustrações e medos. Essas pessoas talvez sejam o que muitos chamam de enrústidos, não reconhecem e não aceitam a si próprias, muito menos os outros homossexuais.

 

No segundo momento, as pessoas aceitam a si mesmas, mas decidem não compartilhar isso com ninguém e resolvem viver discretamente. Acho que são essas pessoas as que estão no armário. Porém daí surge uma confusão, estar no armário quer dizer que ninguém sabe da sexualidade do indivíduo, mas e quando ele começa a se abrir para o terapeuta, para algum amigo virtual, procura também um outro “não assumido” nesses batepapos e redes de socialização para juntos permitirem viver o que as emoções e razões podem proporcionar através do corpo com a pessoa do mesmo sexo?

 

Assumir a sexualidade em uma sociedade intolerante, apesar das exceções ou da intensidade da intolerância, não é algo confortável para muitos e a mim, que não sou diferente, não é interessante. No entanto guardar essa sexualidade para si próprio também não é agradável e faz mal. Vejo que é uma escolha entre o ruim e o pior. Com isso notamos que no nosso caso pode existir um amigo para o qual resolvemos contar e dele conseguirmos apoio, o que é tudo de bom. Mas quando isso acontece continua-se no armário?

 

Depois desse amigo, vemos que temos mais uns dois que podem saber e contamos, eles também nos apóia, e aparece pessoas importantes também, como os pais e os avós, contamos e eles nos apóiam. Seja terapeuta, amigo ou familiar, quando contamos a sexualidade peço segredo, pois não é bom que todos saibam, ninguém quer sentir preconceitos e sou orgulhoso, não quero nem mesmo ouvir dizer que disseram mal de mim pelas costas.  Mas mesmo assim, quando isso acontece continua-se no armário? Mas por quê?

 

Estou em uma fase em que todas as pessoas que eu acho importantes para mim sabem da minha sexualidade e o mais importante, elas aceitam, algumas não tão bem como é o caso da minha mãe, mas deixa para lá. Nessa situação que me vejo encontro uma autoconfiança e confiança nas pessoas importantes muito grande, a autoestima fica elevada, afinal agora não preciso mentir, omitir e sei com quem posso confiar, independente da minha sexualidade.

 

Acontece que agora também, conforme for o perfil da pessoa, caso ela perguntem a mim a minha sexualidade não será bem o caso de dizer, mas será o de não mentir, de sugerir já que vejo que dela não surge nenhum preconceito. Ainda não foi o caso disso acontecer, mas embora eu tenha um pequeno receio, sei que provavelmente tomarei essa atitude.

 

De modo geral não sou assumido. A quantidade de pessoas com quem me relaciono diariamente e que me conhecem em vista da quantidade de pessoas que sabem de mim são poucas, são apenas as mais importantes ou aquelas, que constituem um grupo muito pequeno, que a minha sexualidade, como a de qualquer outro, para elas não importa. Também não quero e não devo sair dizendo a quem perguntar a minha sexualidade, isso não é da conta delas, perguntar não quer dizer que elas mereçam ouvir.

 

Talvez seja melhor eu deixar a sina de usar rótulos para definir as pessoas e dar moral aos tipos que surgem por aí que utilizam deles, mesmo que na própria comunidade do armário, onde sinto em alguns um “naziarmarismo”. Naziarmarismo? A purificação dos armariados, só pode entrar quem está no armário, sendo que a ideia de armário é vaga e indefinida e como quem que parece estar fora do armário consistisse num perigo aos demais, não importa o histórico, o caráter da pessoa e as relações que ela cultivou ali.  Impressiona como as pessoas promovem o preconceito do qual são vítimas e nem se tocam.

domingo, 22 de março de 2009

Do melhor amigo



Abrindo a porta do armário:

O meu melhor amigo é o R e a mãe dele, V, é muito amiga minha, aliás, é uma das minhas segundas mães. A mãe dele havia pegado a minha máquina fotográfica emprestada e depois fui buscá-la na casa deles. Em casa estava apenas meu amigo, e o irmão dele – um bebê – que dormia, e pensei em ir embora. É incrível, por mais intimo que eu seja naquela casa ainda me sinto um tanto quanto tímido. 

Disse a ele que iria embora, pois em casa o clima está meio tenso, trevoso como eu diria meses atrás. Ele quis saber o por quê e eu disse que não era nada. Mas ele insistiu para saber e ficamos ali naquele “fala” da parte dele e “não falo” da minha parte, um lenga-lenga tedioso. Ele disse que com ele eu poderia contar e então acionei o modo EXPLODA e comecei a falar para ele algo que sabemos bem. 

Disse a ele que existem coisas que não escolhemos, mas que precisamos seguir, até mesmo porque depende nossa felicidade disso, e que algumas pessoas como a minha mãe complicam. Ele é sagaz e inteligente, logo entendeu ou começou a fazer ideia do que eu estava falando e já perguntou como vai a minha relação com meu pai. Disse que com meu pai as coisas vão bem, ele não se preocupa com isso, ele continua o mesmo comigo. Isso o deixou surpreso, principalmente porque ele imaginava meu pai conservador, o que não é bem assim, muito antes, pelo contrário.

A conversa fluiu e ele disse algumas coisas que eu sei, entendo e que tenho dificuldade de incorporar na prática relacionada a mim e à minha mãe, mas que é importante repetir. Disse outras coisas, que eu não sou um bicha, fez as críticas as depravadas e eu disse a ele que não tenho interesse de fazer da homossexualidade o meu cartão de visita. Nisso concordamos bem. Disse também que pensei em nunca falar a ele sobre a sexualidade, já que ouvia da parte dele algumas piadas homofóbicas (?) e ele replicou dizendo que são brincadeiras. Me convenci disso. 

Falamos sobre muito mais coisas a respeito disso, dos tipos da universidade, dos grupos ativistas e tudo. Relevante contar é que eu agradeci a ele, afinal de contas tive medo que para ele uma amizade que existe desde muito cedo, talvez desde os três anos, não valesse nada para dois caras de 19. Fiquei feliz, não que a semana tenha sido ruim, foi ótima aliás, mas contar com apoio do meu melhor amigo valeu por todos os dias.

Sobre o meu melhor amigo:

Não sei precisar bem a idade, mas talvez seja aos três anos que eu o vi pela primeira vez e posteriormente começamos nossa amizade. O bairro ainda era novo, não existiam muitas casas, fomos um dos primeiros a nos mudar para cá, ele e sua família veio logo em seguida. Eu passava com minha mãe na frente da casa dele, lembro que sua mãe varria a rampa e cumprimentou a minha, embora ainda não fossem amigas. Ele segurava uma bola e estava sentado na escada e disse um alegre “Oi”. Talvez ele nem lembre disso, acho que não.

Não sei precisar o tempo, quando criança não tinha noção espaço-temporal eficiente, mas sei que foi pouco para nossos pais serem amigos e eu me aproximar dele e da irmã dele, pela qual também nutro muito carinho. Logo de cara dá para falar que o R é o meu melhor amigo há muito tempo. Se é recíproco da parte dele não sei e nem me preocupo em saber. Desde meus três anos será? Não sei! Mas sabemos o peso que um amigo de longa data tem em nossas vidas, nas experiências, nos momentos importantes da vida, ainda mais se ele for considerado pela gente o melhor amigo.

O melhor amigo, para quem preza as amizades e as pessoas que vivem ao redor, é certamente uma das pessoas mais importantes para a vida desse indivíduo. É interessante compartilhar coisas de nossas vidas com o melhor amigo e poder ficar a vontade para não esconder a sexualidade, se formos homossexual, não é diferente. 

Quem acompanha o blog há um bom tempo, sabe que por um período pensei viver minha verdadeira sexualidade escondido de todos aqueles que me subentendiam heterossexual. Com a evolução e as mudanças no meu ponto de vista a respeito da homossexualidade e das pessoas a minha a volta, ficou claro também que passou a existir algumas pessoas para as quais passei a tratar como sendo interessante o conciência delas a respeito da minha condição. Essas pessoas são alguns amigos do colégio, meus pais – sendo que a tranqüilidade da minha relação com minha mãe seja frágil, e o meu melhor amigo, assim como a mãe dele.