domingo, 6 de janeiro de 2008

Desfragmentando...

Ah! como que eu queria que as coisas por mais agradáveis que tenham sido fossem diferentes. Poderiam ser mais enérgicas a ponto de me assustar.

O domingo amanheceu, eram 05h30min no relógio do vídeo cassete que só está no meu quarto porque é um aparelho obsoleto. Na verdade eram 06h30min. Eu estou com uma preguiça há um pouco mais de um ano. Por causa dela não consigo fazer coisas ridiculamente simples. Acertar o relógio do vídeo cassete para o horário de verão é uma delas. E são essas coisas que fica me deprimindo e vão se tornando grandes e insuportáveis. Um tropeção e me lembro de um cara...

Indo para a Universidade eu não parava de encarar ele, que não era assim um Brastemp. Mas não sei por que, ele mexeu comigo de tal forma que, por mais que eu tentasse não fazer, eu olhava para ele todo o tempo. Eu olhava pra fora do ônibus, tentava capturar os pensamentos que sempre tenho e que só ouço na solidão introspectiva que tenho no ônibus lotado. Porém, não raro, eu me pegava encarando ele, e não era só olhar para o rosto dele. Olhava para tudo, para o Fila que calçava, o relógio que se não fosse vagabundo seria um Casio. Para a calça, a camiseta preta, apenas preta, muito semelhante a que eu tenho. As mãos morenas, o cabelo liso e baixo. O olhar amigável e safado que não deveria ter mais do que 25 anos.

Lá na metade da viagem ele percebeu que eu olhava toda hora para ele, na verdade eu o contemplava. Ele começou a dar risos, hora eram risadas. Mas não sabia se era de fato para mim. Fiquei quieto, olhei, mais algumas vezes, mas bem menos. Ele desceu dois pontos antes, três pontos antes de mim que desço dentro do campus. Noutro dia eu pensei bem, ele tinha me correspondido. Sabia que ele estudava ou trabalhava na universidade. Eu já tinha visto ele algumas vezes por lá. E tinha mais certeza que ele morava ali perto. Mas ir atrás dele é o que eu não tinha vontade de alguma. Tampouco fazer sexo com ele.

Eu minto algumas vezes, pequenas mentiras que eu solto por não lembrar a resposta ou simplesmente ter preguiça de falar a verdade, seja por ela ser algo que vai me consumir muita saliva, ou seja, por usar muitos dos meus neurônios. Mas não minto por maldade, é uma seqüela, um vício que tenho vergonha de dizer aqui, mas que falo. Vem dos tempos de criança quando mentia para me defender. Mentir, eu menti o mesmo tanto que todas as crianças mentiram, e, em doses "saudáveis". As mentiras que conto são pequenas.

Minha mãe chega para me contar uma fofoca, que sinceramente é algo que eu não gosto nenhum pouco. Ela pergunta: "Lembra da fulana?". Eu lembro, mas de tanta preguiça para simples coisas eu respondo que não, mas lembro. E também não sei quem é também, tem hora que minha mãe é tão genérica com as coisas, e não quero perguntar e não quero saber do resto da história. Acaba sendo pior, minha mãe vai me torrar os ouvidos contando quem é a pessoa, me mandando recordar de coisas que não tenho a menor vontade.

São esses detalhes inúteis, essa preguiça mórbida para me atentar a detalhes e resolver coisas simplíssimas que me provoca boa parte de estresse. Bem mas não é sobre isto que quero falar. É sobre a viagem, na verdade sobre a letargia.

Viajei para a cidade dos meus avôs. A noite de Natal e de Ano Novo foram semelhantes. Exceto o fato que na primeira eu não estava muito gripado. Na verdade, no Natal não estava nenhum pouco gripado. Fiquei até meia noite e meia com a família. Desejei esses clichês que todo mundo deseja a todo mundo. Mesmo existindo o fato de eu não acreditar na sinceridade de todo mundo e para muitos eu não estar sendo sincero. Sou indiferente, havendo em mim somente solidariedade e respeito à pessoa. Sai com a trupe para o centro da cidade, de 27.000 habitantes. Então pensem como é esse centro.

Eu já tinha bebido um pouco nas duas noites, lá desci a cara sem medo. Entreguei a cam a não sei quem. Era de confiança. O lugar era escuro, abafado por mais que o ar condicionado tivesse a mil. Luzes coloridas circulavam e cortavam o ambiente em três dimensões. Flashes faziam tudo aqui ficar em câmera lenta. Meu corpo estava dançando uma música que não se canta e que não acabava mesmo sendo diferente do jeito de quando começo. A batida era a mesma, não mudava. Ouve uma hora que eu não sentia e não ouvia mais nada. O álcool já tinha me subido a cabeça. Estava muito bom. Não queria mais saber das minhas frustrações. Pouco me importava se eu era O GAY DO ARMÁRIO e que se desse bandeira ali, naquela província, naquele cu que só tem meio de tão grande. Seria o fim da minha vida. Mas eu não ia dar bandeira. Eu estava pouco me importando com as pessoas. Eu estava letárgico a tudo.

Só lembro-me de ter acordado com barulho de panelas caindo, isto na manhã do natal, eu na casa da minha avó. Uma depressão e um medo inexplicável tomaram conta de mim. Eita! vontade desmotivada de chorar que me deu. Segurei-me. Na outra noite lembro-me de voltar pra casa da velhinha arrependido. Gripado, querendo as mesmas sensações de antes, de tão mal que fiquei pensei que teria que de ir embora no SAMU, na única ambulância do serviço na cidade. Orgulho daquela gente. Ainda bem que ninguém percebeu os meus espamos.

Agora tenho medo. Apesar da gripe do Ano Novo, as sensações que eu tenho com o álcool foram boas. Mas vou me controlar, conheço muitos que foram consumidos por ele.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Não consigo odiar ninguém

Esse novo acústico dos Engenheiros do Hawaii é lindo. Mas essa música é a mais linda
...

...

Não quero seduzir teu coração turista
Não quero te vender o meu ponto de vista
Eu tive um sonho e há muito não sonhava
Lembranças do futuro que a gente imaginava
Nem sempre foi assim, outro mundo é possível
Pode até ser o fim mas será que é inevitável

Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só por que não consigo odiar ninguém
Do goleiro ao centroavante
Do juiz ao presidente
Eu não consigo odiar ninguém

O tempo parou feito fotografia
Amarelou tudo que não se movia
O tempo passou, claro que passaria
Como passam as vontades que voltam no outro dia

Não vá dizer que eu estou ficando louco
Só por que não consigo odiar ninguém
Do goleiro ao centroavante
Do juiz ao presidente
Eu não consigo odiar ninguém

Eu tive um sonho, o mesmo do outro dia
Lembranças do futuro que a gente merecia

sábado, 15 de dezembro de 2007

A Lixeira.

Eu confesso, eu estou no armário, tenho medo de sair daqui e ir pra geladeira como alguns ai dizem. E na verdade eu gostava daquele homem. Mas para não me deixar gostar dele eu resolvi odia-lo, até que consegui, mas os meus desejos eram outros e a verdade nunca saiu do meu coração. Hoje passou, o ódio e a paixão também.

Reduzo lentamente, desço da 3ª para a 1ª marcha. Esterço para direita levemente, metade do carro sobe, pela breve rampa, em cima da calçada. Esterço para esquerda e alinho o resto. Opa! Mais um pouquinho dá! Mais um pouco... freia. Putz!!! Droga derrubou a lixeira.

As lixeiras ficam em nossas calçadas. Geralmente possuem 1,20m de altura por uns 50 cm de largura e comprimento. Mesmo assim não as enxergamos. Nem o desastrado escritor do blog e nem você. Não damos a mínima importância para elas. Não existe Arquitetura & Construção ou Casa & Jardim com sugestões e nem com as tendências mundiais de lixeiras de calçada. Vizinhos não se preocupam se a lixeira do outro é mais bonita, se for não é porque o dono foi mais caprichoso, mas sim por mero acaso. Ninguém tem empenho pela beleza da lixeira. Uma ser mais bonita que a outra é acidente.

Então entendemos porque acidentes como o de hoje acontece. Não é pelo motorista ser barbeiro, mas sim por ele, por cultura, não enxergar a lixeira. Afinal, as pessoas não se importam com as lixeiras. Tanto é que se preocuparam mais com o pára-choque do carro. Eu me preocupei mais, com quanto será gasto pra cobrir o arranhão. Acho que micro pintura resolve, ainda bem, mais ainda bem porque o pára-choque não quebrou. A lixeira ficou quebrada, mas uma hora depois, quando fui tirar o carro da calçada, com cuidado para bater em mais nada; lá estava ela amarrada por arames e pedaços de paus.

Não havia nela sinal de sofrimento. Ela se contenta em ser ignorada, em não ser vista por ninguém, exceto pelos garis que também não são vistos. A lixeira é conformada por ficar ali, sempre parada, sempre na mesma posição, sempre regada pelos cães que demarcam território, no sereno, debaixo do sol infernal, da chuva gélida.

O dono da lixeira só se preocuparia se ela não estivesse mais ali para ser ignorada. Pois sem lixeira ele não pode ignorar os seus lixos composto de usura, segredos, consumismo, futilidades, ignorâncias. Aí sim, eu teria problemas.

Para as pessoas, quem não é hetero é uma lixeira. A lixeira se resume a ser o local pra jogar o lixo fora. E um homossexual a um sujeito que dá a bunda. Mas eu não sou uma lixeira. Quero mais ser o pára-choque.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Carregando...

Esta não é a primeira vez que tento fazer um blog. É a quinta se não estou com as contas erradas. Antes, não levei os outros blogs adiante porque eu tinha apenas a vontade de tê-los. O que escrever não fazia a menor idéia. Tanto é que acabei falando da vaca verde e dos seus fãs provincianos que pintaram a cidade, provinciana também, na cor de seu ídolo. Agora creio saber o que dizer, assim sendo então, um blog de conteúdo. Vamos lá então.


Eu não leio o tanto que tenho vontade de ler, por que é difícil de encontrar um livro que seja suficientemente interessante para eu chegar até o fim de sua história, mas recentemente li um livro até famoso, o Admirável Mundo Novo do inglês Aldous Huxley. A obra é uma ficção onde o protagonista da história, Bernard Marx, é um sujeito que tem tudo o que acharam necessário. Porém, Bernard era insatisfeito com tudo. Como diria Raul, Bernard se perguntava "e daí?" depois que se olhava no espelho e se sentia um grandessíssimo idiota, humano, ridículo, limitado que só usa dez por cento da cabeça animal. Por isso me identifiquei com Bernard, com Raul também, e uso o nome dele como meu pseudônimo.


Eu tenho 18 anos, muitos dizem que estou no começo da vida e tenho muita coisa por viver. Pode até ser, e tomara mesmo, mas fato é que nesse tempo todo que já vivi me senti desperdiçado. Acho que não fiz nada a mim que no final eu pudesse realmente dizer a mim mesmo "valeu a pena". Também acho que não fiz nada ao mundo, mas creio que ele não tem feito muito por mim, e quem sabe por assim ser não merece que eu faça algo a ele. Eu tenho uma grande mágoa com o mundo. Eu sou filho único, meus pais nunca se preocuparam em saber o que eu tanto desenhava, nunca disseram que estava bonito. Não me deixaram ir a rua brincar com as outras crianças, tive que ficar dentro de casa vendo teve. Não gostavam muito de quando ocupados, mesmo com as mais fúteis das futilidades, de me dar ouvidos. Sempre me mandava ir ver televisão. Felizmente eu fui persuadido na grande maioria das vezes pela Tv Cultura. Imaginem só eu vendo Dragon Ball?


Na escola, nos primeiros anos não tive muitos colegas. Nem um de ficar conversando o tempo todo, de sermos unha e carne, de sentar sempre perto. As pessoas riam de mim, caçoavam de mim, faziam piadinhas de mim. Faziam isso com todo mundo, mas eu aceitei a opressão. Assim fiquei com um complexo de insegurança e de me fazer ser aceito pelas pessoas. Precisava disputar e conquistar a atenção e a devoção delas. Tudo isto para não me sentir sozinho. Acho que ninguém melhor do que eu sabe o que é ficar sozinho e/ou se sentir entediado. Creio que por ser filho único.


Para isso, fui criando uma fachada para atrair das pessoas estima e atenção. Não deu certo, nem sempre deu certo. Comecei a desenvolver um complexo tosco de ser vitima, fui chorão e fraco. Tanto emocionalmente quanto no critério físico. Apanhei muito na escola. Por medo de levar esporro dos alunos mais fortes, risadas das meninas por eu ser um besta, um bobão, para as professoras não debocharem de mim por eu nunca ter conseguido uma boa caligrafia, pela minha letra ser sempre a mais feia. Não bastava ser legível, quem deveria me amparar me criticou, me deu insegurança por uma coisa que nem para mim e nem para as outras pessoas faz tanta diferença. Também tinha medo por nunca ter entendido qual a vantagem de escrever tudo colorido. Para as pessoas sempre conversarem comigo fui desenvolvendo o complexo de me achar mais inteligente do que todo mundo, exceto a professora. Assim iria ter o ego massageado, seria melhor do que todo mundo por me sentir assim. Na maior parte do tempo até dava certo.

No entanto, o que fiz para mim e para as outras pessoas foi um arranha céu bonito, alto, imponente e digno de vários elogios. Mas não possuía alicerces, fortes fundações. Cada piada, sobre tudo com minha problemática sexualidade, implodia várias pilastras. Cair acho que nunca caí, nem sei que evento poderia figurar como uma queda desse edifício, mas ficava muito abalado. O que fiz foi usar muita tinta para tampar as trincas da fachada e ignorar os problemas na estrutura, nos alicerces, na parte interna do edifício. Somos idiotas por ser assim, somos bestas, bobos, bobões. Clodovil, olha só de quem fui lembrar, falaria também que somos feios por ser assim. Diga-me alguma coisa que é pensando na suspensão e no boa realmente pelo o que ela é por fora. Os carros são projetados de dentro para fora, motor, os cereais e leguminosas são bons não pelas suas espigas e vargens, mas sim pelo valor nutritivo e sabor de suas sementes. Os grandes edifícios são construídos de dentro para fora, pelos alicerces.


Desisti desse edifício, desisti de ser grande e imponente para as pessoas. Edifícios são complexos, sistemáticos, caros e difíceis de serem mantidos. Gosto mais das casas, simples, fáceis, tudo se resolve com facilidade, possuem tudo o que é essencial e não tem o condomínio. Nas casas só pagamos por aquilo que usamos, aquilo que queremos para nós e não o que os outros querem. É isso que tenho tentado ser. Até o ano passado eu era heterossexual, até a metade desse ano comecei a teclar com alguns homens, saí com três dizendo ser bissexual. Semana passada disse para minha psicóloga que sou gay. Ela não acha a palavra gay ideal por está carregada pejorativamente, também penso assim, e acho que não gosto muito da palavra. Estou satisfeito por finalmente não mentir mais para mim. Se me desfiz do arranha-céu e estou construindo uma casa, ao decidir ser sincero, vendo o que eu sinto de verdade e optar por esse sentimento, foi o mesmo que escolher se vou querer uma piscina no meu refúgio ou um painel com uma piscina pintada.