sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

1º Dia pós saída

Ontem eu fiquei enquanto dei na internet, quis me distrair com o mundo virtual enquanto desse. O meu desejo foi não ficar sozinho comigo mesmo e em silêncio. Mas chegou o instante que não deu, precisava ir dormir o sono que era tímido. Deitei-me, liguei a TV e passava um filme chato desses noturnos. Desliguei, sentia calor e não parava de transpirar. Para quebrar o clima de velório uma mensagem muito carinhosa do Thor. Uma parede separa o meu quarto do quarto dos meus pais e ouvia os ruídos da minha mãe suspirando. Não me importei com isso, ainda não me arrependi de ter contado e a reação do meu pai é o que mais me faz sentir que valeu a pena.

 

Fiquei assim, também como minha mãe, rolando de um lado para outro, porém não chorava, me sentia aliviado e mais livre, desagradável era o clima psicológico imposto pela minha mãe. Eu ficava apenas usando a razão para enfrentar as emoções e as falas infelizes da minha mãe, que passa pelo seu processo e não cabe a mim mais nada a não ser ter paciência e nenhuma magoa.

 

Pela manhã, bem cedo, ouvia a minha chorar intensamente, ficava resgatando o passado, dizia ao meu pai a criança que eu era na infância, do meu “bilauzinho”. Meu pai dizia a ela que nada disso mudou, eu sempre fui o mesmo e para ser o que sou o corpo não tem nada a ver. E minha mãe falando do que as pessoas vão pensar, do neto que ela não vai ter, ou seja, que exploda a mim e a minha felicidade, o importante é o que a minha mãe quer. Meu pai não falou nada a não ser para ela se apressar e ir para o serviço. Antes de sair ela veio no meu quarto e ascendeu a luz e me olhou por alguns segundos. Fiz questão de demonstrar que eu estava acordado e que ouvi aquilo, ela se sentiu envergonhada e saiu, sei lá.

 

Após meus pais saírem fiquei um bom tempo sem dormir, pensando em tudo novamente, pensando, repensando a mesma coisa. De cansado mentalmente dormir, meu sono foi leve, qualquer coisa era suficiente para me acordar. Resolvi sair da cama, berço de agonia, as 09:30HS. Liguei o computador olhei o blog, a comunidade do Estou no Armário e Daí. Ninguém no MSN, nenhum e-mail interessante, sem notas no sistema, desliguei o PC e fui ver TV, mas me sentia solitário e queria ficar sozinho.

 

Por volta das 12:00HS eu novamente entrei na web, poucas pessoas on line, mas foi para mim uma ótima companhia a do Leo, novato na comunidade, rapaz bonito, da mesma idade que eu, atencioso e inteligente. Fiquei por ali um bom tempo, sair, almocei, limpei a louça, tomei banho e ao sair a mãe da minha amiga chegou querendo falar com minha mãe. Eu já sabia que ela sabia, autorizei a Mah falar. Ela foi receptiva, carinhosa, compreensiva, fez comigo o que a minha mãe não fez. Ela notou que eu já estava de saída e foi caminhando também para o portão, foi dizendo que é para que eu tenha calma com a minha mãe por mais que eu esteja errado. Ao virar a esquina a minha mãe vinha lá, semblante não agradável. Vou usar pseudônimos para os diálogos:

- Está boa Solange?

- Não estou não Tereza (choro e constrangimento).

- Vou voltar para abrir o portão para vocês. Eu disse.

E nisso a minha mãe começa a repetir as mesmas que dizia para o meu pai, só não a esperava dizer que preferia chorar em cima do meu cadáver do que eu seja homossexual. Calma, muita calma eu pensei. E disse que estava indo. Queria sair logo. Na metade do caminho até o ponto de ônibus e dentro dele, eu sentia um frio na barriga, raiva, vergonha, me senti uma pessoa ruim. Sei lá, parece que a minha prefere que eu seja um Lindenberg ao que eu sou, um Daniel Cravinhos, ou um moleque bem vestido que vi outro dia roubando um boné de um senhor. Certamente meu coração batia mais do que 70 vezes por minuto, não sei quanto, mas batia muito mais.

 

Mesmo que em meio a multidão me sentia só. Queria, quero, ter a companhia a todo o momento de alguém em quem eu possa confiar e segurar a minha mão. Mas num pensamento bem judaico-cristão é através das pedras que se chega a redenção, o jeito é enfrentar a situação sozinho e num momento me vejo otimista, começo a acreditar que tudo vai ficar bem. É só dar tempo ao tempo, quero tanto que esse dia seja na verdade um dia qualquer daqui um mês. Quero sair logo dessa situação, por mais que eu pense que as coisas vão ficar bem.

 

Cheguei em casa, ainda bem que a Tereza, mãe da Mah estava aqui, falava de trivialidade de pessoas da idade e do perfil delas e outra hora começavam a falar de mim. Minha mãe começou a citar a história de uma moça lésbica que conheceu quando ainda grávida de mim. Dizia a mãe da minha amiga que a moça foi rejeitada pela família, do envolvimento com drogas e que ela e meu pai apoiaram essa moça, só não sei porque ela repete a coisa para mim.

 

No fundo acho desagradável relembrar e escrever, porque é sofrer duas vezes, mas a minha mãe disse a mãe da minha mãe coisas que ninguém nunca disse para mim, coisas não agradáveis. Ela com medo das pessoas me humilharem e constranger e no entanto, ela quem faz por isso. Não consigo parar de pensar nisso. A mãe da minha amiga foi embora, disse coisas boas para mim, minha mãe chorou, me abraçou, me senti desconfortável e senti de repulsa de abraçá-la quando disse que Deus é maior e para ele nada é impossível. Não precisa explicar não é?

 

Os minutos seguintes foram ruins, minha mãe fazia coisas em casa suspirando e eu freneticamente trocando de canal. O clima só se quebrou quando o meu pai chegou. Tudo bem então... cá estou na web a postar como o meu dia foi até o instante momento.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Saindo do Armário.

Hoje, 08 de janeiro de 2009, é uma data que não vou esquecer, ela é um divisor de águas em minha vida. O dia em que finalmente eu parei de mentir para os meus pais sobre o que eu gosto afinal de contas. A coisa foi assim...

 

No meu quarto eu assistia um DVD no computador, ouvi a minha mãe pegando uma carta na caixa de correio. Depois de minutos ela aparece no meu quarto dizendo que não é para eu receber cartas de homens. Eu peguei a carta, coloquei em cima da cama e continuei a assistir o filme, ela sentou-se na cama como se estivesse esperando eu falar algo. O filme acabou e eu olhei para ela que começou a dizer:

 

- Que filme é este?

- Um que eu peguei na CARA para ver e eu escrevo para quem eu quiser!

- Eu não quero que você troque cartas com homens, isso é feio, você tem que escrever para mulher!

- Já que a senhora faz tanta questão assim de saber, eu sou gay!

- Não, você está mentindo, fala que é mentira! (choro)

- É verdade, eu sou gay e o tanto que você chorar eu já chorei.

- Não pode ser, porque você faz uma coisa dessa comigo?

- O tanto que você tiver sofrido eu sofri, não posso mudar, eu sou assim, está na minha pele, no meu sangue. Já sofri muito, eu me aceitei, já fiquei muitas noites chorando.

- Eu criei um homem perfeito, você tem um penis!

- E não precisa ter vagina para gostar de homens, e eu gosto de homens!

- Você já ficou com homens?

- Já.

- Quantas vezes?

- Uma (menti).

- De onde?

- UFG (menti).

- Você nunca ficou com mulheres?

- Nunca e nem tenho vontade.

- Você precisa ficar com uma mulher para ter certeza como é gostoso.

Vontade de perguntar se ela já ficou com uma para poder falar.

- A única coisa que eu tenho certeza é que eu gosto de homens e tenho nojo de mulher, até de beijar na boca eu tenho nojo.

- E você já beijou na boca de homem?

- É lógico...

- Quem foi?

- Esse rapaz lá da UFG (não só dele, mas de muitos outros).

E aí foi passando, passando, ela falando as típicas coisas de uma pessoa com muito preconceito dela e eu rejeitando, fazendo argumentos. Embora não pareça, eu fui amigável com a minha mãe. Entendo que ela é fruto do que meus avós passaram para ela, é uma vítima de certa forma do patriarcalismo, do machismo, das mentiras vendidas como verdades pela religião, do senso comum. Sei que ela tem o processo dela, o tempo dela e fui respeitando isso.

 

Então finalmente ela saiu do meu quarto, eu peguei minha toalha, tranquei a porta do banheiro, tomei banho, vesti roupa com meu quarto trancado também e sai para devolver o filme. Na volta passei na casa de minha amiga, contei para ela, ela disse que viria comigo. E veio, ela é um anjo. Eu amo ela demais.

 

Chegando aqui, estava minha mãe em um sofá chorosa e meu pai em outro, tranquilamente deitado. A Mah, minha amiga, se sentou ao lado dela. Eu disse:

- Meu pai já sabe? (se não sabe vai ficar sabendo agora)

- Sei!

- Ótimo!

Minha mãe entra em choro profundo e a Mah, como um anjo vai repetindo tudo aquilo que eu disse, mas com uma candura, um afeto, uma proximidade muito maior do que a que eu tenho para com minha mãe. Papo vai, papo vem. Meu pai diz que eu não enganava ele, que já havia comentado sobre minha sexualidade com minha mãe, ela ficou irritada com esse comentários. Minha mãe ficava falando de sujeitos que eram apontados, chacotas, do que será de mim. Eu, meu pai e a Mah dizendo que ninguém precisa ficar sabendo.

 

Mas, resumindo a história dá para saber que é com a minha mãe que vou ter paciência. Ela se preocupa muito com o que os outros pensam, na hora de formular qualquer pensamento ela usa os exemplos sempre mal sucedido dos outros e insiste para que eu tente mudar, o que não vou fazer porque já tentei isso antes e não deu certo.

 

Como eu me sinto, aliviado, o meu pai respondeu a todas minhas expectativas. Me respeitou, me elogiou, disse que tem orgulho de mim, citou o exemplo dos amigos que ele tinha na adolescência, da barra que eles enfrentaram. Eu disse que desde sempre senti mais confiança no meu pai.  Bom, estou aliviado, é isso, não preciso mais mentir e nem omitir. Feliz com a reação do meu pai e muito calmo para levar a minha mãe. Estou tão tranqüilo que eu estou preocupado com outras coisas, um emprego, ainda mais em tempos que dada a crise financeira, o meu pai está com o dele ameaçado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ao sabor do vento...

Foi o último dia do ano, viajei com meus pais durante a tarde. A cidade dos meus avós como sempre estava mais quente do que aqui. Eu já pressentia que os meus próximos dias seriam um tédio, no entanto menos melancólicos do que em casa e com meu esforço para que as coisas não fossem piores do que elas seriam.

 

Ao chegar, cumprimentar, com beijos e abraços a crianças menores, chegando a segura-las no meu colo. Entrei, estava inclusive quem eu não esperava na varanda. Cumprimentei a todos com apertos de mãos, abraços, alguns com beijos e pedidos de benção, um ritual que acho maçante e desnecessário, mas preciso para que não reparassem a minha “grosseria”.

 

Fazia muito calor, eu transpirava sem parar, estava com uma roupa pesada. Uma grande nuvem cobriu o céu que se via dali e choveu em fortes gotas, com trovejos durante minutos. O suficiente para acabar com o calor. Meu ânimo foi melhorando e nisso minha prima chega acompanhada pelo seu marido e pelo pirralho do seu filho. Mas foi o quarto elemento que me chamou a atenção, o seu cunhado.

 

Rapaz branco com aproximadamente 1,80 m, corpo magro, definido, veias saltadas, olhos castanhos. Já tinha visto ele outras vezes, umas duas sendo uma na minha casa, porém nunca dei muita atenção para ele. Ele me cumprimentou assim como todos os desconhecidos ou pouco conhecidos que ali estava. Sua mão era grande, forte, ligeiramente áspera, deve ser o custo por aquele corpo torneado.

 

Conversava com as pessoas, mas olhava para ele instantaneamente, notava que ele brincava inclusive com o pirralho do filho da minha prima. Aquelas brincadeiras nas quais ele mede força com o menino, imobilizando puxando-o pelos pés. Ele olhou para mim umas duas vezes, mas nada demais. A principio ele é heterossexual, mas certeza eu não tenho, vai saber, ele poder ser um armariado também.

 

Mas ele não ficou muito tempo, estava na casa dos meus avós de passagem, não deu para empreender uma relação mais próximas a não ser os diplomáticos apertos de mão da chegada e da saída. Aquela aparição, aquela disponibilidade no meu alcance de vista foi o suficiente para provocar em mim uma série de coisas. Fiquei melancólico, me sentia ridículo e tosco por causa da presença dele, um anseio de impressioná-lo de alguma forma, enfim.

 

Na noite do dia seguinte, estava sozinho. Ninguém para me chamar para balada, cada um cuidando de suas vidas, os mais velhos jogavam compulsivamente Douradinha, Douradão, Truco, entre outras modalidades do baralho. Meu tio roncava de tão profundo o sono que o especial do Renato Aragão na TV provocava. Fui para cama, ouvia música, o tédio ficou ainda pior quando a minha bateria acabou. Tenho uma impressão de que a bateria desse aparelho eletrônico não dura o suficiente.

 

Mas o clima não se resumiu a isso. Estava entediado, solitário em meio a tantas pessoas, a noite estava quente e eu transpirava um pouco. Mas o mais irritante era os meus pensamentos, eles se alternavam entre pensar em homens que eu nunca vi, não conhece, mas que passo o tempo a imaginar, desejar e o cunhado da prima, na idealização de circunstâncias com ele, das mais banais até as mais carnais. Sentia algo na barriga, na garganta, mente transbordada e já estressada em tanto pensar nas mesmas coisas. Não queria ficar ali trancafiado imaginando.

 

Levantei-me, coloquei o mp4 para carregar, peguei carteira, desliguei o celular. Sai passando diante das pessoas para que elas me vissem e perguntasse aonde eu iria para que de forma ríspida eu respondesse que não sei, embora se elas não me perguntassem ainda sairia no lucro. Odeio ser interrogado, sabatinado sobre onde vou.

 

Sexta feira e rua vazia, olho para o céu com poucas nuvens e muito mais estrelado do que o da capital. Caminhando lentamente o corpo vai se refrescando mesmo com a atividade física. Algumas pessoas na rua me deixam menos a vontade com minha introspecção, mas sigo em frente. Os agroboys vão passando em suas picapes equipadas com potentes equipamentos de sons, ouvindo com qualidade prejudicada seus estilos populares tão rejeitados pelos que se denominam cultos.

 

Agroboy, sei de um que está na mesma condição e carência que eu, mas que está muito longe de mim. Tinha vontade de que alguém com seu perfil passasse por ali em uma semovente com diesel intercooler e começasse a conversar comigo e sei lá como, tudo aquilo acabasse em algo bem carnal, luxuriante e claro, bem discreto e seguro. Outrora imagino o cunhado da prima como um desses agroboys ou mesmo o outro distante agroboy.

 

Mas fui andando, bom de cidade pequena é que em poucas quadras chegamos a ala nobre dela, embora meu avós morem no início de uma.  Aprecio o silêncio das ruas e percebo as diferenças de fragrâncias. Um leve cheiro de alho e frango, um repugnante odor desses caminhões que carregam gado quando não se sente o da vinhaça que vem da usina. Mas o melhor sãos os odores dos perfumes, sobretudo masculinos, muito abundantes nesses templos protestantes. E penso no cunhado, em um agroboy com um cheiro cítrico leve, mas também gosto dos emadeirados.

 

Ao passar diante de um banco, do outro lado da rua passa um rapaz, alto, branco, bem vestido, trajando preto e boné, deve ter no máximo 22 anos. Ele olha, eu ao notar o olhar não correspondo. Sei que nessas cidades encarar demais algum cara é em geral sinônimo de elogio para mãe e em casos mais intensos, agressão física, o que não é interessante para ninguém ainda mais para mim que sou um pamonhão. Não encaro também por causa da vergonha e do medo de olhar e ser correspondido, o que me tiraria ação. Arrependo-me por isso e fiquei com vontade de olhar para trás.

 

Lá no centro, onde as coisas acontecem olho os belos exemplares em seus possantes rebaixados ou naquelas que são o meu sonho de consumo, as camionetes. Acho ótimo aquele olhar safado, de terceira intenções que fazem esses moços que bem poderiam ser para mim. Mas por mais que eles estivesse vontade, não daria. Cidades pequenas as línguas são malignas, pior do que é na capital que os exagerados chamam de provinciana, mas sem porquê.

 

Nessa cidade, como em muitas existe uma praça central. No entanto a Igreja e a agência do Banco do Brasil não ficam lá, mas respectivamente na primeira e na segunda rua acima. Mas a cobertura da Vivo é certeza, tanto em GSM/EDGE como em CDMA 1xRTT. Nessa praça, uma voz conhecida me chama por um apelido carinhoso que há muito não ouço. Olho, primos de segundo grau e amigos, alguns da capital também. Me perguntam com a típica hospitalidade interiorana o que eu fazia perdido ali.

 - Andando a toa apenas.

- Chega aí, pede uma coisa pra beber.

 

No fundo eu gostei de ser flagrado na minha introspecção, não era a companhia libidinosa que eu desejava, mas sim fraterna. Quanto ao cunhado, pensava nele constantemente.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O primo - eu preciso de falar mais sobre ele

Já contei aqui sobre um primo que tenho e que conviveu comigo nos primeiros anos de nossa infância. Foi com esse primo que aprendi a "brincar de médico" e com quem foi realmente a minha primeira vez.

Desde sempre eu e meus pais vamos a casa dos meus tios, pais desse meu primo, em uma cidade aqui da região metropolitana e eles vêem a nossa.  Nessas indas e vindas muitas coisas mudaram, e entra as coisas que aconteciam e não acontecem mais, eu acho, estão as consultas médicas kkk. Curtiamos ficar esfregando os pintos na bunda um do outro, ele tentava me penetrar de verdade e até deveria sentir um prazer, eu tinha ereção e a curiosidade apenas, mas já sentia, desde sempre atração por homens. 

Uma vez viajei para a cidade dos nossos avós no interior e ele já estava lá. Como sempre fui apegado a ele e ficavamos o dia todo aprontando algo, inclusive pegar uma tralha de pesca bem rústica e ir pescar em um córrego na chácara de nossa tia, que ficava no final da cidade. Iamos a pé ou de bicicleta, apenas nós dois porque até hoje lá não existe esses perigos de cidade grande. As vezes não pescavamos nada, ficavamos conversando, subiamos nos pés de fruta, comiamos algo. Se desce vontade de mijar, mijamos na frente do outro, sem muita malícia. Tenho saudade daquilo principalmente quando lembro do cheiro do pasto e da sensação que provocava o vento quente que antecede a chuva de verão.

Na chácara existia uma chave escondida que abria a sede e que minha tia deixava lá para caso precisassemos de algo. Tinha muita coisa boa para comer lá dentro e as vezes um "eu pego no seu se você pegar no meu" ou outras coisas nessa linha. Uma vez rolou troca troca bem hardcore, hardcore nos níveis de criança porque não conseguiamos acertar nem o buraco do outro e eu nem sequer sabia o que era porra. Um comia o outro e o outro comia um. Nesse troca troca eu comi ele e tava na vez dele me comer, mas ouvi barulho qualquer e como já estava entediado disse que era alguém chegando na casa e era melhor arrumar a bagunça para nossa tia não brigar. 

Meu primo ficou me cobrando uma "revanche" por muito tempo, a viagem acabou, voltamos para capital, eu né, fomos a casa um do outros, viajamos outras vezes para a casa dos avós. Nunca dava certo, porque eu me empenhava, que ele conseguisse me comer outra vez. Até que chegou de novo o natal e o fim de ano e na volta da casa de nossos avós fiquei mais uma semana na casa dos meus tios com ele. Eu tinha 10 anos e ele 11 recém completados. 

Uma tarde eu e ele estavamos no quarto dele jogando cartas sozinho, ele falou que tava com o pau duro. Eu não dei a mínima, ele disse que o pau dele era muito maior do que o meu e eu não acreditei. Ele foi até a porta do quarto, minha tia e minha prima estavam na rua conversando com vizinhos eu acho, trancou a porta e fechou a persiana, ficou em pé na minha frente e esticou a bermuda mostrando aquele volume. Eu fiquei doidinho e ele puxou a minha mão e pois em cima da bermuda dele, o cacete dele tava quente e latejando.

Hum... continua...

Pensando sobre os fatos

Os hemocentros são instituições presentes em muitas cidades do Brasil e não é raro vermos seus coordenadores indo aos meios comunicação, grupos como igrejas, sindicatos, associações, universidades pedindo doadores de sangue devida a demanda superior a oferta. No discurso dos hemocentros está a solidariedade, o amor e o respeito ao próximo, independente de quem seja ele. Eles dizem isso tanto na hora de pedir sangue quanto na hora de repassar o sangue a quem realmente necessita e permitir que salve a vida dessas pessoas.

Porém esse discurso é questionável. Sei através dos meios de comunicação e de quem já doou, porque eu tenho medo de agulha, que no questionário que fazem para o doador a pergunta se ele é homossexual. Caso o doador responda que sim ele é considerado pertencente a um grupo de risco e é dispensado, deduzo que educamente.

Enfim, ser educado não é ser políticamente correto e políticamente correto não é o caso dos hemocentros quando desprezam o doador por considerar a sua sexualidade de risco. Existem muitas pessoas que acreditam que homossexualidade, ou homossexualismo no pensamento deles, seja além uma imoralidade, uma aberração, uma opção, um comportamento promíscuo e infeccioso. E o pior de tudo é que tem homossexuais que são assim também. 

No entanto nem todos homossexuais são assim, e tenho a sensação de que a maioria não é, pois acredito que a maioria vive no armário, se relaciona sexualmente com um número restrito - pensei no número 1 - de pessoas do mesmo sexo, quando se relacionam além de se protegerem com preservativo e afins. Além disso os hemocentros não perguntam para quem se denomina heterossexual se ele é um baladeiro daqueles que transam toda noite com alguma rebaixada para contar vantagem depois, tipos muito comuns em Universidades, micaretas, festas eletrônicas e afins. Os hemocentros também não devem saber que os casos de AIDS por exemplo cresce entre grupos considerados seguros, como o de mulheres casadas.

É revoltante ver o  quão atrasado  e falso pode ser o discurso de instituições como os hemocentros. Mesmo assim não deve-se desprezar esses lugares, sem sombra de dúvidas eles prestam um serviço inestimável a qualquer pessoa, inclusive nós homossexuais, afinal, nunca se sabe o dia de amanhã e se vamos precisar de sangue. O que é necessário é que os hemocentros, a Anvisa, entre outros utilize como critérios para saber se um sangue é contaminado ou não outros caminhos e não os conceitos pré concebidos, como o de taxar todos homossexuais como grupo de risco. Esses caminhos podem ser exames no próprio sangue doado, afinal de contas a nossa medicina é avançada a tal ponto, pois até mesmo em sangue de grupos considerados seguros pode haver contaminação.

A situação não se resume simplesmente aos homossexuais poder doar sangue ou não, a situação é mais que isso. Essa restrição aos homossexuais é um preconceito disfarçado, que mesmo que não exista no imaginário das pessoas, fica sendo um resquício que repercute na mente de pessoas não esclarecidas. E por fim, e o mais importante, existem inúmeras pessoas precisando de sangue, pessoas como nós e que a qualquer momento podemos estar na mesma condição que elas. Logo toda ajuda, responsável, é bem vinda.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Da Matriarca II

Eu não tenho paciência com a minha mãe. Por isso quando ela se aproxima de mim eu já fico irritadiço. 

Eu não gosto do jeito como ela fala. Não gosto das expressões cunhadas por ela que são excessivamente genéricas, figurativas e mal formuladas. 

Não gosto da forma como expõe seus desejos, lida com as suas frustações e lida com os nossos pontos de vista e desejos.

Não gosto da incapacidade proveniente do interesse dela de aprender a lidar com as coisas novas. Muito menos de quando ela me chama para colocar o DVD para funcionar sendo que é tão fácil, sendo que eu ensinei tantas vezes,  sendo que ela não esforça.

Não gosto de quando ela faz planos a meu respeito. Principalmente porque meus planos não combinam com os delas.

Não gosto da forma como ela fala de mim, seja bem ou mal, ela sempre exagero e não gosto da forma como ela me compara com as pessoas, aliás, eu não gosto de ser comparado com ninguém.

Não gosto do assuntos assuntos que toca para falar comigo e nem de como pergunta sobre eles.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Consciência Ambiental

Um dia desses fui a drogaria para comprar um aparelho de barbear que mesmo sabendo que é uma marca costumo chamar todos de Prestobarba. Está certo, eu sei que aparelhos de barbear são descartáveis e feito com um material fóssil e nada biodegradável, plástico, mas a essência do que quero falar não é essa.

Fui até onde tinha o produto, peguei uma embalagem com dois, fui até o caixa e paguei. Quando eu guardava a nota fiscal e o troco, a simpática vendedora sem perceber colocava a mercadoria dentro de uma sacola. Eu falei meio extasiado "Não não não! Não precisa eu levo na mão". Ela rindo e sem entender disse "tudo bem" e me entregou o produto.

Eu tenho consciências ambiental, global, social, econômica que podem ser mínimas, mas tenho, além de pensar na funcionalidade das coisas. Eu não sou exemplo de uma pessoa sustentável, digna do selo verde, mas sei que uma sacola naquele caso e em muitas outras ocasiões é inútil. 

Uma sacola, que possui um custo minimo, mas possui, para um produto pequeno que coube no meu largo bolso direito dianteiro da calça e que fariam as minhas mãos, que gostam de ficar livres, suar e acumular a sudorese são uma verdadeira agressão ambiental. Um consumo desnecessário e prefudicial que fazemos diariamente sem perceber e sem pensar em razão da busca insustentável pela praticidade e modernidade que a vida consumista nos impõe. Praticidade e modernidade que se formos olhar a fundo talvez nem exista.

Seguir ações sustentáveis em pró do ambiente são dificeis porque somos mal acostumados e comodistas. Também acreditamos ser bobeira, ser chato, complicado. Gostaos de ficar parado na realidade. Para facilitar um pouco as coisas, já que virar uma pessoa amiga de Gaia pode parecer tão complicado, que tal pensar sobre o quanto e como utilizamos a sacolinhas plásticas e reduzir o seu consumo? Não resolve os problemas mas é uma ação pontual que multiplicada pela grande massa se torna grande.

sábado, 15 de novembro de 2008

O fim do dia



Estava bem tarde. Naquele horário já estaria em casa se fosse um dia qualquer e aquela a linha que estava acostumado a pegar. Toca a campainha e na quadra seguinte desse um dos dois passageiros daquele ônibus. Apressadamente sem nem olhar para trás se afasta do veículo que também se afasta seguindo sua rota.

A calçada irregular estava suja pelas folhas e galhos que caíram por causa da chuva que durou a tarde toda e o começo da noite. Desviava das poças d’água que formavam espelhos que refletia as marquises cafonas das lojas, o tom cinza e o desbotado dos prédios, a iluminação pública laranja onde gotículas formavam ondulações ovais.

Estava frustrado porque tinha demorado mais do que o comum para sair daquele campus e não ganhara carona por causa de um sujeito entrão e sem noção. Estava irritado também, não só pelo episódio da carona, mas também por ter que pegar um ônibus para outro lugar já que os da sua linha deixam de passar, embora não devessem, no campus depois daquele horário.

De certa forma sentia-se humilhado – por ficar para trás e por ficar esperando o ônibus que não viria, abandonado, não reconhecido tanto pelos amigos, que foram embora primeiro e juntos, como no geral. Sentia frio, embora estivesse apenas fresco. Na barriga uma sensação de vazio potencializadas pelo significado que tinha para ele as luzes de natal da cidade.

A sua frente o resultado da exclusão econômica e da falência social, um grupelho de mendigos debaixo de uma marquise dividindo solidariamente seus papelões e jornais. Ficou com medo, atravessou para a outra calçada com antecedência. Normal para quem também constrói de certa forma as barreiras da segregação social.

Andava lentamente e se pôs a pensar em quem não conhecia, não sabia o rosto, a voz, as idéias, o que fazia da vida, apenas deseja ter a companhia para um abraço, um beijo, para um sexo que nunca fez, ter a sensação de segurança, de desejado e pudesse retribuir o mesmo. Pensava que talvez pudesse ser o candidato alguém que conhecesse pela internet.

Na internet existem muitos caras legais, mas moram sempre longe e que talvez não vão gostar dele quando encontrá-lo pessoalmente, caso isso realmente aconteça algum dia. Ficou triste. Na sua frente aparece uma figura que não gosta, tem medo, quer distância, mas respeita. Travestis, pessoas que são para ele tanto pseudo-homens como pseudo-mulheres.

Ele não gosta de mulher e esse é um segredo que poucos sabem e não lhe é interessante muitos saberem, tampouco todos. Mulheres são para ele brochantes, chatas, irritantes. Travestis se parecem com mulheres por isso não gosta deles.

Homem é tão bom, porém tão proibido para ele. Não que vá ser assim tão proibido e sim porque ele pensa que seja. E por ser algo proibitivo, também pensa neles como distantes e difíceis de serem conquistados.

Mas é isso, ele gosta de homens. Adora a voz, a virilidade, a força física, a segurança a que isso sugere, o jeito pragmático, sem a embromação que as mulheres possuem. Gosta da anatomia, dos músculos, do corpo, tudo o que um travesti na sua individualidade nega, inverte e por isso não são homens do jeito que ele gosta.

O medo dos travestis se dá também por pensar que todos eles sabem do seu segredo de liquidificador, do o que realmente lhe faz feliz, o que ocupa sua mente, o que tanto deseja e o que lhe é também uma vergonha. E tem medo que eles de alguma forma manifestem isso numa, quem sabe, cantada ou comentário. Uma cantada seria a situação que lhe deixaria assustado, constrangido, mais irritado e mais frustrado. 

Travestis, de acordo com seus conhecimentos, andam armados com lâminas afiadas e a sua integridade física e mental conservada também é um desejo que possui.

Passa indiferente pela figura assim como os mendigos, que tem menos em comum com ele. Segue seu caminho, anda na beirada da calçada pensando numa eventual fuga de algum energúmeno realmente perigoso, como quem sabe um assaltante. Chega a estação, passa o cartão, olha as garis farreando. Repensa sobre tudo e pensa em escrever aquilo em algum lugar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Abrindo o armário para mais uma

A quinta-feira foi aniversário de minha amiga. Uma amizade que conquistei no grupo de jovens que participei no passado. Após a universidade passei pessoalmente na casa dela para dar um abraço de feliz aniversário e ali no portão mesmo ficamos falando daquilo que a muito não falavamos. Foi bom matar a saudade. Combinamos de no dia seguinte, a sexta-feira, irmos ao famoso chorinho do Grande Hotel e fomos.

Ela não conhecia o evento e gostou. Ali ao som do cavaquinho, do clarinete, do violão de sete cordas ficamos falando de trivialidades. Ela confia em mim, conta os segredos delas. As desilusões sobre o amor, a morte e as paixões. Na hora de falar de mim, eu não estava com saco para contar a ela sobre a menina sobre a qual para muitas pessoas eu menti uma paixão que nunca existiu. Há muito tempo desejava falar para ela a minha condição sexual e falei.

A coisa foi mais ou menos assim, ela falou do pouco caso dela amoroso pelo qual passa. Perguntou como é que as coisas vão para mim. Eu falei para ela que as coisas para mim são muito piores do que é para ela. Quando comecei a notar que ia me justificar demais soltei o "blá blá blá porque eu sou gay".

Minhas mãos estavam frias, eu não tinha me dado conta delas, apenas do meu coração disparado. Ela ficou com uma cara séria, na verdade ela não sabia como reagir, eu a peguei de supetão. Ela falou que nada ia mudar, continuaremos os mesmos com nossas amizades. É o que eu mais quero. Ela gosta de mim e ao longo do tempo me deu muita segurança.

Expliquei para ela um monte de coisas, porque eu me afastei da Igreja, porque eu não me assumo para todos. Falei da comunidade do Armário. Falei dos tipos da universidade, dos tipos presentes ali naquele chorinho. Eu me senti no ínicio envergonhado e até cogitei voltar atrás. Mas a minha vontade de levar aquilo a em frente era maior. Falamos muito, me justifiquei muito para ela sobre isso que eu não tenho culpa.

As coisas com ela até o instante se dando muito bem. 

No sábado fui a universidade e a tarde saí com o meu melhor amigo. Mas as condições não permitiam uma revelação sobre a minha sexualidade que ele no mínimo suspeita. Deixa estar. As coisas ainda vão dar certo.

***

Revelar a condição sexual não é uma obrigação. Eu não vejo como obrigação. Porém existem pessoas para as quais eu não preciso mentir e nem omitir. Revelando eu ganho mais pessoas para contar, consigo saber quem continua comigo e tenho que me oprimir menos, ou nem mesmo me oprimir. 

Oprimido, é assim que me sinto quando tenho que ficar omitindo ou mentindo a minha sexualidade. Me sinto numa prisão, violentado, acuado, silênciado, desperdiçado.

Achar que todas as pessoas são homofóbicas, que não tolera uma pessoa homossexual, que elas não merecem confiança para revelarmos a nossa condição sexual, também é preconceito. Infelizmente existem pessoas que pensam assim. Azar delas não ter pessoas, como as que eu tenho, para as quais eu posso revelar a minha condição. Algumas pessoas já sabem de mim e não me arrependo disso.

Falar que as coisas são ao contrário do que eu penso é fácil. Pode dizer que se pensa assim por causa da experiência também é fácil. Porém experiência mal sucedida não serve para dizer que todas as outras também serão, nem ao menos serve para dizer que será sempre assim. Afinal estamos lidando com pessoas, indivíduos complexos e singulares. .

Só resta saber se quem disse ter aprendido com a vida realmente teve por onde aprendeu e questionar se o que aprendeu também é o certo.

***

Apesar dos que me chama de equivocado, para não dizer errado, por não ter o estar no armário como uma religião, por eu ter a coragem de sair fora dele e não me arrepender - embora pelas falas parece querer que eu me dê mal; eu estou muito bem.

O final de semana teve uma chuva, não como eu queria, mas choveu. Antes dela um pouco teve a Fórmula 1. Lewis Hamilton é um gatinho, mereceu a vitória, mas se olharmos o saldo de vitórias do Felipe Massa, saberemos que o brasileiro teve um desempenho melhor. Não somos campeões por culpa daquela Ferrari inconpetente. Eita Cingapura que vai ficar na história.

Bom, sei que dei um grito quando o Vettel ultrapassou o inglês. Minhas mãos tremiam, meu corpo estava gelado, meu coração estava disparado, muito mais do que quando me revelei a minha amiga. A emoção foi boa para testar o coração.  Chato foi o Timo Glock ficar sem tração por causa dos pneus para pista seca. 


A música é Fechar os Olhos da Valéria Coista, cantora goiania cujo site (www.valeriacosta.com) dispõe de downloads gratuitos das músicas de todos os albuns. Recomendo que vocês baixem a versão do Acústico, o último albúm.

Acho essa música super a ver por causa da letra que entre muitas coisas serve para falar desses conselhos infelizes que ouvimos e dessa vida de se esconder, renúncia para sermos algo que não queremos e que não somos.

sábado, 25 de outubro de 2008

Situação do Armário em casa

Bom, na minha casa são três pessoas. Eu e meus pais. Se serve para ajudar, eu sou filho único. Isto quer dizer que os planos dos meus pais envolve a mim. Os planos deles são os mesmo que os meus? Não! Eles me perguntaram isso? Jamais! Mas de qualquer forma eu sinto uma certa segurança, pelo menos no meu pai.

Meu pai não é do tipo que fica perguntando aonde vou, com que eu vou, o que vou fazer. É assim porque ele confia em mim. Quanto aos outros ele também não se preocupa com a vida deles, porque isso não é da alçada dele. Ele é reservado, porém sempre que precisamos conversar ele nos ouve e fala o que tem que ser dito muito bem, desde que no intervalo do futebol. Quando está junto com a família ele é muito enérgico e feliz. Talvez por isso ele seja considerado O TIO pelos meus primos. Tem uma paciência que eu queria ter herdado. 

Já me falou de amigos dele que morava com ele no interior que eram gays e foram expulsos de casa por causa da intolerância dos pais, aliás do pai. E vieram para Goiânia sofrer, se virar como pode. E alguns ele encontrou muito bem "sucedido" como cabeleiros e afins da socialight da província que era isso na década de 1970. Ele não faz piadas homofóbicas e não costuma rir delas. Não reduz o caráter de ninguém a isso e tampouco vê a sexualidade como denominador de bondade ou maldade. Diz para mim que devo respeitar. 

Não sei porque ainda não assumi para o meu pai. 

Minha mãe tem tudo aquilo que eu acho desnecessário. Pergunta demais o que não é da conta dela. Gosta de detalhes que em trinta minutos ela vai esquecer e nunca mais se lembrará deles. Fala muito da vida dos outros. Quando fazemos uma coisa que não é da conformidade dela, logo ela cita alguém, principalmente meu melhor amigo e diz que eu devo ser como ele e não como o filho de alguém sei lá.

Minha mãe faz muitos julgamentos e se preocupa muito com os julgamentos feitos pelos outros a respeito de nós. É muito melodramática. Qualquer coisa que se diz ela faz uma tempestade no copa de água.

Deixo de conversar com ela por causa disso. O sentimentalismo dela é uma chantagem que ela faz para que aceitemos sempre o ponto de vista dela. Pobre mãe! Ainda não se deu conta que o mundo não pode parar para ela e nem para ninguém. Acha que a única que tem sofrimentos, é a única que tem vergonha, é a única que se senti lesada, injustiçada, é a única que está certa e só a opinião dela que vale.

Aqui em casa de uma coisa eu tenho certeza. Meus pais já desconfiam de mim. Um dia de cão, que não tem muito tempo. Chego em casa ela reclamando. Tava de saco cheio de ouvir só os problemas dela e o infeliz que fui falei que um dia vamos ter que ter uma conversa, eu, ela e meu pai; muito séria e que mais cedo ou mais tarde teremos que tê-la. É íncrivel como quando o ser humano não quer aceitar uma coisa ele inventa outras coisas para atribuir o problema, e parece que até se convence disso. 

Ela me disse que se eu quisesse largar o curso e fazer outro tudo bem. Eu disse para ela que a Universidade é uma das únicas coisas atualmente na minha vida que vejo que realmente vale a pena e só faço outro curso depois que terminar o atual. Aí ela me pergunta o que é, eu falo que não é o momento de contar. Ela insiste, eu falo não. Então ela pergunta "Você é homossexual?", e começa a fazer aquele tramalhão mexicano de como se só ela tivesse sofrimentos. 

Eu neguei, e me arrependi ao mesmo tempo que dei graças por não ter dito NÃO. Ela continuou a falar que tinha que ser, porque eu não levava nenhuma moça em casa. Eu disse que não era isso e respeitei a vontade dela, de chorar e a fiz chorar por outros motivos. Como diz a humorista, "Contornei". Ela fez mais uma pergunta e perguntou se a terapeuta sabia, eu disse que sim. No outro dia ela disse que ia ligar para a terapeuta e saber o que era. Eu disse que ela ia gastar franquia de minutos em vão pois ela não diria. Mão de vaca ela!

Semana passada enquanto eu arrumava os armários (da cozinha) para a nova geladeira que não é assim uma Brastemp, mas é muito boa, kkk; ela começou com uma história irritante. Falou que está pensando em construir um sobrado no fundo do nosso latifúndio urbano de 300m² para quando eu casar e que está louca para ter netos, que as minhas tias são felizes com os netos delas, e zaz.

Ainda bem que eu não tenho visão com raio laser se não eu arrebentava alguns parafusos e deixava um armário cair em cima da minha mãe e faria a Flora de A Favorita. Eu disse para ela que eu não estou preocupado com isso agora e nem vou me preocupar e meus objetivos por agora são outros. Mas até hoje estou irritado com isso. 

Ela sabe, ela só está esperando eu falar e fica fazendo esses comentários infelizes. 

Estou pensando em dizer também aos meus pais, pelos menos para limpar a barra em casa. Acho que complicamos demais. Ainda bem que não sou sistemático e vou mudando meus planos de acordo com as minhas novas perspectivas.

Desculpe a longa postagem.

Publicado na Comunidade "Estou no Armário, e daí?" em 21/10/2008.