quinta-feira, 18 de junho de 2009

Título é o de menos

De São Paulo trouxe uma gripe que quase no final dessa semana resolve realmente me incomodar. É impressionante como gripes são desconfortáveis. Graça a ela estou com a audição ligeiramente afetada e meus ouvidos às vezes doem um pouco por causa da garganta. Tenho uma continua vontade de arrotar e não consigo. Minha garganta está formigando e isso tira o conforto e a serenidade de qualquer sono que eu possa ter.

Para completar o inferno astral me vem um pessimismo com relação ao bom senso e a inteligência das pessoas. Concluo que ninguém sabe criticar, muitos dos que se denominam mais críticos não sabem criticar. Opinião todo mundo quer ter uma, mesmo que seja a do outro, mesmo que se terceirize-a.

Me espanta o tanto de mentiras e opiniões dolosamente deturpadas a respeito dos temas que me chega na caixa de correio. Emails assinados por um Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, um tal Olavo de Carvalho. Nomes diferentes e que as antas que me repassam automaticamente sequer sabem quem são, se quer tiveram coragem de ler os absurdos que eles escrevem ou conseguiram vencer a preguiça de analisar o que eles dizem. Uma verdadeira pseudo intelectualidade potencializada pela mal sucedida inclusão digital brasileira.

Concluo que brasileiro não tem opinião própria. Todo mundo precisa de um Caetano Veloso para dizer o que é bom ou ruim. Se não é um Caetano Veloso vai ser uma religião com sua coletânea de delírios, vai ser a de algum profissional se identificando apenas como tal e escrevendo coisas contra sua ética de profissão em alguns desses emails que chegam na caixa de correio.

Melhor é quando todo mundo resolve usar das informações editadas, escolhidas e passadas com a entonação desejada de uma imprensa que não é séria para ter uma visão autônoma dos fatos. Aí começa tudo, são contra os produtos transgênicos sem nem ao menos saber o que é ou passa a defendê-los após lerem informes da Monsanto. Acham aborto um crime contra a vida sem nunca ouvirem o argumento de quem os defende.

É internet 2.0 é assim, todo mundo faz o conteúdo e todo mundo vai ter uma opinião, mas não quer dizer que eles sejam bons ou sérios, nem a desse babaca que está a vos escrever.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Homossexualidade X Homossexualismo: o significado dos termos.

Não sei você, mas a mim incomoda o uso de alguns termos para se referir a tal coisa. Muitas pessoas vão dizer que é frescura, vontade de parecer politicamente correto, desejo messiânico de salvar o mundo com balelas. Será que é mesmo? Não, isso não passa de justificativa para o comodismo que as pessoas possuem, o de não pensar o significado das palavras e mudar seus vocabulários. Da mesma forma que muitas pessoas não vêem problema algum em utilizar alguns termos, pois eles ficaram muito intrínsecos a elas, a mim fica algo conflitante utilizar esses mesmos termos, pois também o asco a etimologia dos termos também me ficou natural e intrínseca.

Exemplo de quando sinto esse asco são as vezes que utilizam para se referir aos homossexuais o termo homossexualismo. Esse termo foi cunhado após o Século XVIII para designar como doentes as pessoas por serem homossexuais. Com a ciência e seus avanços, no segundo quartel do Século XX foi refutada a idéia de homossexuais como pessoas doentes e o termo homossexualismo passou a ser inadequado, quiçá proibido em laudos científicos.

Assim a quem resolver utilizar o termo homossexualismo para se referir aos homossexuais ignora o saber cientifico, aqui amparado na biologia e na psicologia. A quem insistir no trato dos homossexuais como doentes por serem tais, caberá o ônus da prova. Logo deverá refutar com métodos científicos, que são processos passíveis de repetição e obtenção dos mesmos resultados sempre, uma infinidade de estudos que já foram feitos e dizem o contrário. Isso não é nada fácil e arrisco dizer impossível.

Não sou doente por ser homossexual e me irrita esse modismo, esse senso comum, no uso das palavras para se referir aos homossexuais. O que me irrita bastante nisso não é nem tanto as pessoas que ignoram a diferença entre homossexualismo, doença, e homossexualidade, um comportamento assim como a heterossexualidade. O que me irrita é os meios de grande imprensa, os cientistas sociais que dizem levantar a bandeira da tolerância aos homossexuais utilizar o termo homossexualismo. E o que me irrita mais ainda são os homossexuais saberem a diferença e insistirem no uso do termo homossexualismo para definir a sua sexualidade, homossexuais que certamente não se vêem como doentes.

Tudo bem que quem usa o termo homossexualismo não queira dizer que são doentes, mas as palavras conforme a mente ignorante, conforme o contexto e conforme sua etimologia e o significado que deram a ela preteritamente diz isso sim. É meio caótico, mas o caminho é esse. Aboli o termo homossexualismo do meu vocabulário, assim como viado, bicha, boiola.

sábado, 6 de junho de 2009

Era uma vez...



Antes de começar essa historinha quero mandar beijos e abraços às pessoas novas que visitaram ou passam a visitar a partir de um momento meu blog, pelos comentários, pelos elogios. Essas pessoas são principalmente da comunidade do Armário, que muito tem contribuído comigo, para o meu processo de auto aceitação e até mesmo auto afirmação da minha sexualidade, e da blogsfera. Não é ético citar nomes, mas com licença, cito o Juninho e o Gato de Cheshire para mandar a eles abraços e beijos mais especiais e tornar claro minha admiração pelas suas belezas, sarcasmo, inteligência e no caso do Juninho o apreço pelas conversas via MSN.

Mas senta que lá vem história...

Existe uma cidadezinha onde mora um velhinho que por todos é muito querido. No entanto esse velhinho é diferente dos outros velhinhos moradores da cidade. O velhinho não fica na praça olhando o movimento e nem oferece doces para as crianças, também não conta como eram as coisas antes de chegar à cidade, que dizem ser ele o fundador. Também ninguém o vê e nem sabe ao certo onde é a casa dele. Mas mesmo assim as pessoas sabem que ele mora na cidade e ama muito o velhinho.

Para as pessoas conhecerem melhor o velhinho foram escritos alguns livros que foram unidos em um único volume. Esses livros contam algumas coisas que aconteceram antes da cidade existir, das pessoas lá morarem e como o velhinho é bom para a cidade e seus moradores. Porém esses livros foram escritos por pessoas que também moraram na cidade, mas muito depois dela ser construída e que também não conheceram o velhinho vivendo em tempos que já se dizia que o velhinho é muito bom. Mas os moradores não se preocupam com isso, pois para elas esses livros são muito verdadeiros, conforme os próprios livros dizem.

Por ser o velhinho alguém tão querido e admirado, se parecer com ele virou o desejo de muita gente. Para se parecer com o velhinho, muitas pessoas da cidade passaram a fazer várias coisas, mesmo que não fosse à coisa mais fácil, mais óbvia, mais simples e que no final fosse melhor para todos. Algumas pessoas se mancaram disso e por isso deixaram de fazer essas coisas, mesmo que nos livros seja dito que tem que ser feito. Mas ficou tudo bem mesmo assim, pois as pessoas passaram a entender que era necessário saber interpretar os livros.

Na cidade existem alguns moradores que gostam de usar roupas coloridas, de várias cores ao mesmo tempo, só que a maioria das pessoas usa roupas de uma cor só porque gosta e ou porque nos livros dizem que o velhinho não gosta de roupas coloridas. Por causa disso as pessoas monocromáticas não gostam das pessoas coloridas e as pessoas coloridas dizem que não é assim e mesmo assim usam roupas coloridas. Só que as pessoas monocromáticas não aceitam e dão como motivos os livros, mesmo que as pessoas coloridas digam que é necessário interpretar os livros. Porém a maioria das pessoas monocromáticas não está nem aí, mesmo que no passado em outros casos diferentes elas tenham parado de usar os livros ao pé da letra.

Como o velhinho é muito querido pelas pessoas da cidade, alguns moradores acharam melhor convencer as pessoas de outras cidades a amar o velhinho. Para isso elas passaram a visitar outras cidades e a convencerem os moradores de que os velhinhos em que elas acreditavam não existiam, que o velhinho delas era mau e que elas deveriam amar só um único e verdadeiro velhinho, o da cidade delas. Algumas pessoas de outros lugares acreditavam no mesmo velhinho, só que as pessoas daquela cidade achavam que elas acreditavam de forma errada.

Para as pessoas saírem da cidade e convencer outras pessoas a amarem o velhinho, ou mesmo para dizerem como amar o velhinho, essas pessoas fizeram vários centros de amação ao velhinho pela cidade que passaram a ser sustentado com o dinheiro que muitas pessoas ganhavam com muita dificuldade. Só que as pessoas nunca deixavam de dar dinheiro para sustentar os centros de amação ao velhinho, porque o dinheiro não é mais importante do que o amor, principalmente se for o do velhinho.

Algumas pessoas fazem trocas, mediadas pelos centros de amação geridos por pessoas que amavam e sabiam amar melhor o velhinho de acordo com essas próprias pessoas, para que o velhinho as ajudassem naquilo que elas possuíam dificuldade em conseguir. Muitas vezes essas pessoas conseguem o que tanto desejam. Para isso elas contam com a ajuda de outras pessoas ou as coisas simplesmente acontecem. Mas independente disso, elas agradecem ao velhinho por tudo que há de bom.

Enfim, mas na cidade, e em várias outras cidades em que acreditam no velhinho ou em algum outro velhinho ou velhinha, algumas pessoas começaram a ficar imaginando e tentar saber quem é o velhinho, onde ele mora, porque ele nunca aparece, como é que ele ajuda as pessoas apesar de parecer que outras pessoas que ajudam, a saber como é que pode os livros estarem certos. Claro, essas pessoas não são bem vistas e quem ama o velhinho passou a evitá-las, pois para quem ama o velhinho, os perguntadores são pessoas más e mentirosas.


O velhinho chama Deus, a cidade chama religião, as pessoas que amam são os crentes e eu sou ateu.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Datena: fomento aos preconceitos na TV

Como todos devem saber, José Luís Datena apresenta na TV Bandeirantes o programa Brasil Urgente. Esse programa de Brasil não tem muita coisa, além do nome e do objetivo de sua publicidade irritante, já que as matérias raramente saem de São Paulo. A essência do programa é seu patético apresentador, Datena, que é o que incomoda.

Ultimamente Datena tem se denominado contra pedofilia. No entanto, aquele senhor não entrevista em seu programa nenhum especialista reconhecido na área para que esse explique o que é pedofilia, quem é e como identificar uma pessoa pedofila, o que a pedofilia provoca na vida de quem é abusado. Datena faz ao contrário disso, a forma que ele escolhe para abordar os casos de pedofilia desinforma e coloca nas pessoas mal informadas o medo e preconceitos.

Diariamente no Brasil Urgente são exibidas reportagens sobre crimes relacionados à pedofilia. Quando essas reportagens se encerram, Datena começa a rotular, a culpar e a sentenciar os até então acusados. Faz parte de seu discurso exigir atitudes das autoridades com palavras de ordem e sem nenhuma análise crítica do caso como se as coisas se resumissem e se resolvessem com isso.

Mas Datena apresenta as coisas assimo porque não percebe ou está mal intencionado.

Nessa semana o intitulado jornalista mostrou em seu programa uma quadrilha que agenciava meninos pobres nas regiões Norte e Nordeste para prostituí-los como travestis na cidade de São Paulo. Para se referir ao caso, Datena dizia que uma quadrilha agenciava garotos NORMAIS e os TRANSFORMAVAM em HOMOSSEXUAIS e TRAVESTIS. Existem muitas pessoas que não vêem nada de mal nisso. Porém as palavras assumem significados diferenciados conforme o contexto em que são utilizadas.

Assim como não explica cientificamente de forma clara, objetiva, racional sem a sua típica passionalidade sensacionalista Datena não mostra também nesses mesmos critérios o que é homossexualidade, o que é um travesti, sequer define o que é ser normal, muito menos com competência cientifica. Portanto não pensem que está tudo bem. Eu por enquanto não vi nada que seja homofóbico da parte de Datena, mas acho que não vai demorar para que isso aconteça. Suas palavras são cobertas de sutil duplo sentido e ele não faz os parênteses necessários.

Não estranhem se um dia alguém de 17 anos for proibido pelos pais de namorar alguém de 18 anos por se pensar que isso seja pedofilia. Não estranhem se um dia a homofobia usar contra nós argumentos como os que se somos homossexuais é porque fomos abusados e se somos homossexuais é porque somos pedofilos. E quando isso acontecer também não estranhem se quem usar desses argumentos sejam fãs de Datena.

A forma de jornalismo usada no Brasil Urgente, que não é Brasil e nem urgente, é maçante, desnecessária, não adianta e não acrescenta nada a não ser preconceitos oriundos de dúvidas e das trevas da ignorância. Está na hora de Datena ser tirado do ar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Memórias do vigésimo



Hoje é o dia do meu 20º aniversário e não tenho entusiasmo para comemorá-lo. Vem-me a mente umas reflexões e umas conclusões pessimistas. Eu acredito que eu tenho evoluído, tenho ficado melhor a cada ano, principalmente nos últimos dois anos. Motivos para comemorar eu tenho, só não tenho entusiasmo.

Quando completei os 18 anos de vida decidi viver bem com a minha sexualidade. Naquele dia só não imaginei que em tão pouco tempo, dois anos que se completam no dia de hoje, estaria onde estou, principalmente sendo assumido para as pessoas mais importantes, entre elas os meus pais.
Por um lado eu ganhei, por outro perdi e perdi justamente o que eu não queria perder, os tantos amigos que tive no passado. Não, ninguém se afastou de mim por causa da minha sexualidade, sequer sabem dela. Eles podem desconfiar, mas não saber. O que aconteceu é que não vou mais aos lugares que encontrava os amigos, principalmente o colégio e a Igreja.

Não vou mais a Igreja, o lugar que mais me proporcionou amigos, momentos e boas experiências. Não vou mais a Igreja porque não gosto dos fariseus embriagados em seu conservadorismo, em suas teorias a respeito da existência de uma força superiora, um deus, que não consigo acreditar. Não me faz sentido aquilo, nem mesmo as músicas que até hoje liberam em mim os hormônios do prazer. Além disso, o grupo de jovens não será o mesmo, não terá as mesmas pessoas. No fundo, me sinto um estranho, algo externo e estranho ao ambiente de uma Igreja.

Quanto ao colégio, a esse nunca mais voltarei como estudante e nem como adolescente. Aqueles tempos foram outros, também com suas pessoas, sua nostalgia, essência.

Na universidade tudo é diferente, não conheço todo espaço da instituição que é enorme. As pessoas são isoladas, como já disse outra vez, em seus prédios, ciências, leituras. É meio estranho. Tenho amigos por lá, poucos e proporcionalmente não tanto quanto no ensino médio. Além disso, as amizades não têm aquela passionalidade adolescente, são muito formais e não sei até que ponto vão, tanto é que não confesso minha sexualidade a elas.

Há dois anos, no dia do meu aniversário já teria recebido várias ligações e teria muitos para convidar para um rodízio na pizzaria, hoje é diferente. Talvez não fosse assim se nesse tempo todo que se passou, que me distanciei aos poucos das pessoas, pensasse em cultivar as muitas amizades que tive tendo em mente que tudo que vou me distanciando, vai aos poucos, ficando menor.

Conforta saber que eu não tenho nunca houve atritos com alguém e eu, as amizades sempre foram cordiais. Conforta saber que hoje sobrou as que eu sempre achei melhor. Mas mesmo assim gostava daqueles dias em que as rodinhas de violão, os DVD’s na casa de alguém depois da aula, os almoços de domingo, as caravanas levantavam minha autoestima e fazia eu pensar que não estava passando em branco na vida de ninguém.

Talvez eu peque muito idealizando, idealizando como as coisas deveriam ser para me agradar. É bem verdade que nunca estou satisfeito, existem sempre algo que para mim deve melhorar e não que eu seja infeliz, não me considero infeliz, irei ficar muito incomodado.

Posso concluir usando de umas das mais belas músicas do Lenine, que explica bem o que sinto e o que quero...

“Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa”

sábado, 16 de maio de 2009

Uma crítica que pretende anarquista

Ser homossexual não afirma nada além do fato de gostar de pessoas do mesmo sexo, todo o resto são adereços que podem ou não existir e que dependem do individuo. Mas estamos secularmente acostumados a um modelo positivista, que visa explicar a tudo e todos usando leis gerais tiradas a partir de pequenas partes.

Mesmo assim, ninguém por ser homossexual vai ser passivo, efeminado, gostará de divas ou utilizará e se portará espalhafatosamente. Muito menos tem o involuntário papel messiânico de sair às ruas gritando aos quatro cantos sua sexualidade intolerada socialmente e querer a partir disso uma transformação social, política, ou às vezes simplesmente carnaval.

Além disso, quando se vive em uma sociedade heteronormativa é legitimo que muitas pessoas homossexuais escolham viver escondidas, inclusive de suas famílias e amigos, abrindo seus armários para poucas pessoas. Porém, o que falta em muitos armariados é questionar a si mesmos, seus valores, seus padrões antes de se pensarem dignos de acusar algum grupo, muitas vezes semelhantes a si.

Outro dia, quem se dizia contra pessoas taxativas, criou pela N vez um tópico com uma visão determinista, além de pessimista, a respeito da homossexualidade, taxando o mundo homossexual de fútil. Na comunidade surgiu um debate extenso. Muitos concordaram com o autor do tópico, mas a maioria, pelo menos de quem postou, felizmente discordou das taxações e perseguições a um perfil de homossexual, o dos efeminados freqüentadores de baladas, fãs de Mariah Carey e super produzidos.

O que falta aos homossexuais armariados é a percepção de que as mesmas condutas morais que eles usam para discriminar efeminados são as mesmas que a sociedade e as religiões, que insistem em professar, usam para condenar simplesmente pelo fato de serem homossexuais os armariados. O que não pode ignorar também a mudança que esse perfil de homossexual, organizados em seus ativismo conseguiram para mudar para melhor nosso mundo.

Se sentir atraído por efeminados sexualmente ninguém é obrigado, mas respeitá-los enxergando-os no mesmo patamar de importância e dignidade humana que nós é necessário. Até mesmo porque mundo gay é uma concepção heteronormativa e ignorante a respeito da diversidade sexual além de limitada e taxativa. Sem contar que mundo gay é feito pelos gays. Se habitasse no imaginário coletivo de que os homossexuais são sempre discretos, a concepção de mundo gay também mudaria.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nem tudo precisa de título.


Ah! Que vontade de escrever conforme me vem às coisas na cabeça sem me preocupar com a linearidade e com os meus objetivos. Sei lá, falar o que eu tenho pensado nesses dias, mesmo que não tenha pensado muito em mim. Mas tenho que exercitar o pensamento linear e adestrado. Assim também como é interessante falar de mim, pois é o que eu tenho propriedade para bem dizer. Então...

Então que eu falei da última vez das paixões de adolescência, mas essas paixões se foram junto com os medos e as incompreensões que me acompanhavam naquele período da vida. Nunca mais me apaixonei. Bem, não chamo os processos similares a esse de agora de paixão, ainda não.

Que inconclusivo estou.

Lá existem outros que são bonitos também, são de encher os olhos e fazer brotar em mim uma certa carência. Lógico, também imagino-os em diversas situações, de uma simples conversa a respeito do conteúdo, sendo que fico muito feliz quando uma dessa se torna real, até um beijo. Bom que já dá para definir agora quem também é colorido conforme vou lapidando o radar.

Imagino também como deve ser seus abraços, as sensações que passam através do tato vindas de seus corpos. Ok, eu confesso, também os imagino nus, e não me recordo, talvez mais que isso. Tenho a mania de olhar para os dedos para deduzir o tamanho. Claro, contextualizo o tamanho e o formato dos dedos com o biótipo e não me perguntem como, eu costumo acertar o tamanho.

Mas deixo os pensamentos libidinosos para depois. Eu penso muito em todos de lá, mas entre todos alguém se destaca e nesse alguém, que sabe lá o porquê, eu penso mais.

Diferente das paixões de adolescente eu não fico me sentindo ridículo, e não fico pensando tanto assim, não imagino tanto as hipotéticas situações, não fico constrangido assim. Pelo menos por enquanto não. Agora é diferente, sei lá, é muito bom e frustrante também. Ai que porra! Camões! Camões! Camões!

Mas eu não estou apaixonado, mas se continuar irei ficar, pois é um processo isso tudo.

Gosto das tardes de terça e de quinta feiras, só não gosto da disciplina da quinta, mas gosto da turma. São os dias em que o vejo. Saco, cinco metros é muita coisa, melhor é claro que se fosse do outro lado da sala. Porém, mesmo que fosse um metro apenas, na carteira ao lado ainda ficaria distante. A timidez, a cara de pau que não possuo para chegar e puxar conversa torna qualquer distância uma unidade astronômica (distância média da Terra em relação ao Sol).

O gaydar, em estágio beta e que insisto em por para funcionar, o gaydar que não é capaz de me dar resposta alguma. Agora ele ficou um individuo assexuado.

Mas a cada vez que eu o olho fico feliz, me sinto saciado de alguma coisa e fico carente também, querendo algo que não tenho e que sinto falta, ou melhor, nunca tive. Sinto um leve constrangimento pelo medo de que alguém perceba que eu o olho. E olho mesmo, olho com gosto, vou escaneando até a forma como gesticula, o sorriso, o espírito humilde e adocicado, vários signos que se encontro em outra pessoa me lembra ele.

Quando a aula acaba sempre olho para trás. Olho sempre para trás, sempre que algo para mim não terminou, algo que precisa ser resolvido. Fico melancólico e é frio, mas essa é a perspectiva enquanto não tomar iniciativa de ir em busca da realização dos meus desejos.

Último devaneio

DIRIGIR é uma falsa sensação de liberdade. Na pista da direita não se anda com regularidade, sempre haverá alguém andando, saindo, balizando. Na central sempre haverá alguém mais lento que eu e na da esquerda, quando eu pensar que estou rápido, haverá alguém mais rápido que eu chegando por trás e querendo passar. Deixo passar indo para pista central e sendo atravancado pela lesma da frente.

Sem contar que sempre que estiver andando em velocidade cruzeiro, com quinta marcha a 60Km/h na via arterial ou 80 Km/h na via expressa, haverá algo, não importa o que, um semáforo, uma rótula, uma anta, uma plaquinha de “Os transtornos passam e os benefícios ficam” para estreitar a pista, com eles a velocidade e redobrar a atenção.

Pois é, o período pós autoescola já passou, acabou um pouco antes do primeiro ano da provisória vencer.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Monte Castelo

A primeira vez que eu me apaixonei foi aos quatorze e anos e eu estava começando o 1º ano do Ensino Médio. A professora de Literatura deu como conteúdo a turma o 11º Soneto do poeta português Luís de Camões. Para mim aquilo foi muito didático, pois daqueles 40 estudantes, provavelmente só eu que estava sentindo na pele - no estomago, no coração, nas pernas, nas mãos e o que quisesse considerar - o que Camões sentia quando escreveu o seu soneto e a professora em vão explicava aos seus discentes. Emoção é emoção, razão é razão, logo não existe razão explicando a emoção, então o que a querida professora fazia ali era em vão. Só quem se apaixonou ou estava apaixonado entendia aquilo.

Mas quando me apaixonei as coisas não foram agradáveis, muito antes pelo contrário. Eu estava apaixonado por um rapaz, que morava em uma quadra próxima a da minha casa. Estar apaixonado por ele era de tirar o sono, não só porque ele é bonito, hoje mais bonito ainda do que naquela época, porque eu afirmava a mim uma heterossexualidade que só eu bem sei que nunca existiu e então nutrir algo pelo menino em questão é contraditório.

Ficar apaixonado foi a coisa mais confusa que aconteceu no meu mundo. Na época eu ficava pensando no rapaz o tempo todo, imaginava situações, gerava motivos para ir a algum lugar que eu tivesse que passar pela porta de sua casa, onde ele geralmente nos finais de tardes sentava com seus amigos para conversar. Até sozinho em casa ou com alguém, em algum lugar, me comportava como se ele, que até hoje nem me conhece a não ser de vista, fosse chegar e reparar o que eu faço.

Nas situações que eu imaginava eu estava fazendo algo que pudesse impressioná-lo e o tipo de relação que tínhamos era no máximo amizade, mas meu corpo, minhas emoções queriam outras coisas que minha razão rejeitava. Às vezes eu me sentia bem com aquilo, outras não, me sentia culpado, amoral e até inferior por saber que o que eu sentia não era o que eu pensava.

Na situação, que era de conflito, comecei então a fantasiar que realmente eu gostava dele, mas era só dar um tempo ao tempo, aquilo tudo ia passar e eu iria me ver novamente como heterossexual que sempre pensei que fosse, casado, com uma linda família de comercial de margarina. Passou, mas fácil não foi e nem virei o tal heterossexual que pensei que fosse, continuava o mesmo viado de sempre.

Outra vez que eu me apaixonei, ouve um período da minha vida que passei a freqüentar um órgão estadual onde no protocolo trabalhava um homem, que por ter me dado conta de que estava também apaixonado por ele passei a odia-lo. Não gostava de encontrá-lo, não gostava porque o que eu sentia era justamente o contrário, alegria. Dá para entender? Não sei. Além de odiar e amar, me encontrar com o sujeito era constrangedor, me sentia ridículo porque quando estamos apaixonados, queremos impressionar a flor roxa que nasce no coração do trouxa, que sou eu.

Com o tempo a paixão foi passando e nunca mais me apaixonei, pelo menos por heterossexual, ou aparentemente heterossexual. Ainda bem e isso tem explicação, o que eu penso ser explicação.

Finalmente eu comecei a não ter mais medo de mim mesmo, questionei o que eu acreditava e o que eu sentia. Comecei a questionar não tudo, mas muita coisa. Foi daí que afastei da religião, daí que comecei a tolerar, aceitar foi um pouco mais tarde, que eu sou homossexual e tentar acomodar a melhor forma para se viver com essa condição. Fez parte da minha autoaceitação as indagações e os desprezos aos valores religiosos, pilares do meu período de inaceitação.

Sobre se apaixonar, há tempos não me sinto apaixonado e finalmente quando isso acontecer não será mais tão ruim, aliás, será bom, talvez, não sei. Não vou precisar mentir nem para mim e nem para quem eu confio sobre o que eu estou sentindo, pois penso que serei inteligente emocionalmente para não mais se apaixonar por quem for heterosseuxal. Bom também que com esse tal de gaydar dá para saber com certa segurança quem é colorido como eu, e então dar sinal verde ao coração.

Agora o meu objetivo é ter alguém para abraçar agora. Prontofaleibeijomeliga.

(Mystica, eu te amo)

11° Soneto de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A vontade de escrever continua.

Continuo com vontade de escrever, só não sei bem o quê falar. Bem, estou bem entediado, apesar que antes de ontem tive uma boa notícia. Não é todo dias que se ganha uma promoção nacional. Ruim é que fiz planos antes da hora sobre meu prêmio e agora viverei 30 dias esperando para fazer usofruto do que me deram. 

Aquele clima de decadência ainda existe, agora não estou mais me sentindo velho ou subaproveitado. Me sinto decadente porque estava olhando o meu circulo de socialização, os amigos meus remanescentes da Igreja e do colégio com os quais tenho um contato mais constante são poucos. 

Perdi muito em ter saído da Igreja, do grupo de jovens, mesmo que aquele discurso digno de fariseus dos falsos humildes me fazia mal, mesmo que hoje tenha eu chegado a um estado materialista e a fé em algo divino não me faz sentido. Não faz sentido e nem existe a mínima emoção em mim capaz de me convencer, a razão, do contrário. Também não sinto estimulado a voltar para lá, mesmo que seja só pela socialização, acho que aqueles tempos tiveram o sua nostalgia, como é provavel que eu pense que esse dia de hoje eu fosse feliz em um futuro próximo.

Também, a universidade muda os nossos vínculos sociais, o círculo de amizades, que no Ensino Médio incluía quase que a turma toda, agora se limita a alguns com quem sempre faço trabalhos e tenho a oportunidades de visitar suas casas ou eles frequentarem a minha. As pessoas são isoladas, cada um em seus prédios, em seus institutos com suas ciências, pesquisas e literaturas, quando leem. 

Enfim, me rege a esperança de que isso uma dia vai passar e que de mim depende fazer tudo dar certo. 

Hoje andei muito a pé, isso me faz sentir melhor, não só por saber que queimo as gorduras que tanto odeio, mesmo que me digam que não sou gordo, mas também pela sensação de poder, de movimento, de força, de mudança que as pernas são capazes de prover. Inclusive aquela dor nos musculos me dá um certo prazer... e pernas peludinhas torneadas também, depois posto para vocês uma foto de minhas pernas.

Agora vou lá, vou sair com uma das pessoas que mais amo no mundo, minha amiga M. Isso me leva acreditar, e consola de certa forma, que dos amigos mantenho contato com os que mais gosto pelo menos. Irei com ela a um point cult de Goiânia, frequentado por gente do babado, por jovens, universitários. Irei tomar alguma coisa, étilica, em uma mesa de bar. Aproveitarei para ver como Gonzaguinha estava certo, a dona birita levanta a moral de quem está na pior, ou nem tanto como é o meu caso. 

Daí vou sugerir a quem é que possa me ver do que eu gosto. Meu gaydar tem muito o que melhorar, já mostra sutis melhoras, mas isso não quer dizer que eu não posso usar o gaydar alheio, permitindo a eles que me detectem e saibam que eu estou, digamos, com o coração disponível.

terça-feira, 21 de abril de 2009

No final tudo da certo, se não deu certo é porque não chegou ao final

Gosto da maior parte das coisas que escrevo nesse blog. As coisas que eu gosto mais são as que eu dou minhas idéias falando a partir das minhas experiências. As postagens que eu fico de frente a mim mesmo pensando sobre mim, sobre o que comigo aconteceu, o que eu desejo e como resultado eu organizo e estabeleço uma idéia que publico aqui.

E as coisas que não gosto são as postagens como esta que você está lendo agora, as postagens que satisfazem apenas ao meu desejo de escrever algo que será lido por alguém que se disponha. As postagens que quem lê e nem o autor sabe aonde quer chegar, ou melhor, o autor sabe, ele quer escrever algo e publicar já que ele tem essa possibilidade. Será a maldita inclusão digital? Ignoro.

Pois é, estou com vontade de escrever agora e estou escrevendo então. Mas para onde posso levar esse meu discurso até agora metalingüístico? Sei lá, talvez possa dizer que meu Word 2007 não tem corretor ortográfico atualizado e ignora o meu desejo de não acentuar os ditongos abertos e de não colocar trema em lugar algum.

Será mais justo quem sabe eu escrever algo sobre minha sexualidade, sobre minhas experiências, sobre o que eu penso do Amor e dos poemas que criam para o Amor, o que seria uma inspiração vinda do blog do meu amigo, o que eu chamo de melhor amigo com uma enorme devoção, pois quem vem aqui tem esse desejo.

Falando no melhor amigo, hoje fui a casa dele. Passou um bom tempo desde que me abri sobre minha sexualidade para ele e eu fosse a sua casa e conversássemos com mais tranqüilidade sobre nossas banalidades. Saí deprimido da situação, mesmo que ele tenha me tratado super bem e com naturalidade. Falamos de sexualidade, da minha inclusive, sem dar nome aos bois na presença da mãe dele fazendo com que meus dizeres sobre o colega de mestrado dela, homossexual, fossem uma sugestão da minha sexualidade. Por ser apenas uma discreta sugestão ela não deve ter percebido o que eu quis dizer ali.

Mas deprimido? 

Está bem, confesso que eu gosto do que dizem do meu blog, que gosto quando dizem que eu escrevo bem, embora eu seja cético a respeito disso. E por gostar de quando falam do meu blog e de como escrevo fiquei frustrado, não no sentido dramático da palavra, por tudo o que ouvi do meu amigo sobre essa página foi que ele lera somente “naquele dia” que eu mandei o link para ele. Mas não foi isso o que me deprimiu.

Daqui menos de um mês completo meu 20º outono de vida, agora me expressei de forma similar ao estereótipo de homossexual, e olhando para o irmãozinho do meu amigo, que não deve ter nem 10% da minha idade, me senti velho. Não que eu seja velho, mas o que sinto em mim é que são quase 20 anos e o que eu consigo dizer sobre esses anos é o que eu queria ter feito ou estar fazendo e não fiz ou faço. Em outras palavras, eu não aproveito bem a minha vida. Fica mais assustador saber que a cada suspiro meu, a cada inspiração e expiração, o oxigênio vai oxidando minhas células e DNA, reforçando a minha certeza de que um dia, hoje ou daqui muito tempo, a única vida que tenho certeza que viverei acabará.

Tenho medo da morte? Não, tenho medo de não aproveitar a vida como eu acho que posso e deveria antes que a morte chegue, por isso não quero morrer tão cedo. Como diz a propaganda da Visa, que reposto aqui, as pessoas vivem colecionando Não sendo a vida é agora e eu não estou alheio a mensagem da propaganda. Então, o que me deprime é não aproveitar as chances que eu sei que tenho colecionando nãos. 

Voltando a um discurso metalingüístico, eu posso me tranqüilizar agora porque aos 20 anos a vida está começando, quando se pressupõe que para um cidadão goiano do sexo masculino a expectativa de vida é de 72 anos, e terei muito para viver e aprender. Assim como não sei o que fazer da vida agora, minutos atrás, com um humor bem diferente desse meu otimista de agora, não sabia o que fazer dessa postagem, que agora penso ser uma das melhores que fiz.