quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre o meu catolicismo

Minha mãe é assim, católica. Para mim ela não é tão católica. Aliás, ela é católica, daquele jeito podre de ser católica. Ele me batizou, por um tempo eu agradeci por isso. Arrumou meus avós maternos para serem meus padrinhos e para eu, que achava que padrinhos tinham algum grau de parentesco, foi o fim. Eu fiquei putaiado. Avós padrinhos é redundância, ora essa. Sem contar que o que vinha a minha mente quinquenal era o fato de um presente a menos no Natal, no dia das crianças, no aniversário.

Ela me mandou fazer catequese e consequentemente, primeira comunhão. Foram três anos chatos, eu vendo um monte de moleque fazendo primeira comunhão e no meu dia de vestir aquela tunica branca… aff, que coisa mais sem graça e que tunica mais quente, apesar de branca.

Lembro do padre, um cara duns 30 e tantos anos, meio careca e meio gordo. Ele brincava com os catequisandos, jogava aqueles tecidos que vão por cima da batina e ficávamos parecendo freiras. Fiquei sabendo que ele não é mais padre e casou. É, o monsenhor não orou e não vigiou, casou porque a carne é fraca ou simplesmente porque é humano mesmo.

No dia da primeira catequese, digo comunhão, lembro que o padre usava verde. Achava um absurdo e uma falta de consideração ele usar verde só porque era tempo comum. Mas não era, era a nossa primeira eucaristia, ele deveria usar vermelho. Afinal de contas, aquilo lá era uma festa, da qual os três centos de salgados que minha mãe comprou não vimos. Muito menos as garrafas de guaraná Antartica. Mas as de Xuá, Big Boy e Micos, que tinha gosto de sabão, estavam lá.

Nesse dia o padre falou algo que achei bonitinho e que acho que carregarei por toda vida. Ele disse que a hóstia maior não era para o padre comer e sim para dividir e dividir é algo bonitinho, que devemos fazer. É, eu acho que precisamos dividir mais as coisas, mas não vou dar esmola a ninguém no semáforo e vou fazer cara feia mesmo viu minha senhora!

Outro evento chato da minha vida foi a crisma. Tentei me crismar na CEB, Comunidade Eclesial de Base, da qual regionalmente faziamos parte. Não deu certo, foi um, depois outro, depois mais outros, e todos meus parcos coleguinhos de crisma subiram para a paróquia mesmo para fazer a tal da Crisma.

Não não, eu estou pulando uma parte. Antes da crisma e depois da primeira eucarístia, tinha uma outra coisa que minha mãe me obrigava a ir. Na tal Juventude Missionária, juventude não sei onde, tava mais para pré adolescência intrigária, porque missionário era o que não éramos também. Ficavamos lá só tirando com a cara do outro, criando intriga.

Na Juventude Missionária ficávamos cantando cabeça ombro joelho e pé da Xuxa, quando o espírito de Deus se move em mim eu rezo como rei Davi de não sei quem, e ainda se vier noites traiçoeiras do padre Zezinho. Era legal também. Brincávamos de telefone sem fio, comiamos quitutes caseiros que as catequistas traziam das casas delas, liamos coisas chatas da Bíblia e aqueles textos mela calcinha que mandam por email, aqueles de auto ajuda e lições de vida. Era legal, apesar de perca total de tempo.

Mas voltando a crisma, eu batia muita punheta quando tinha 15, 16 anos. Tipo, às oito horas da manhã tinha que estar na Igreja para aguentar a professera (?), a doutrinadora falando baleiês. Mas eu acordava às 07:30 e só não ficava irritado por ter que acordar cedo no domingo para ir a igreja, porque acordava de pau duro. O que eu fazia? Tocava uma ali na cama, me limpava com o tapete, e como os jatos eram quentinhos. Entrava para o banho para tirar o futum da porra, saia de casa às 8:01 para chegar lá na Igreja às 08:14 pingando de suor, logo não adiantava tomar banho. Eram só sete quadras, mas as quadra de Goiânia só não são piores que as de Brasília em largura, porque comprimento são piores.

Era bom apesar do sono e do calor, primeiro porque eu gozava, segundo porque eu tinha que pular aquela parte chata de ficar em pé, esperando todo mundo fazer um pedido, um agradecimento e para o final rezar aquele pai nosso, ave maria, vinde anjo do senhor e enchei o coração dos vossos fieis, já que chegava 14 minutos atrasado. Paia é que na hora de ir embora, dali 46 minutos, iam começar tudo de novo.

Lá na crisma eu aprendia umas coisas interessantes e muito verdadeiras (sic), do tipo, é através do caminho das pedras que se chega a redenção ou porta larga vai para o inferno e a estreita para o céu. Que sorte os esfomeados do Nordeste têm eu pensei, eles vão todos para o céu, porque além de morrer cedo, viviam nessa vida difícil que infelizmente não podíamos fazer nada.

Uma coisa também era falada na crisma e eu lembrava dela toda vez antes de ir para as reuniões, que dentro do meu corpo mora um pombinho, digo, que o meu corpo é morada do Espírito Santo. Por causa disso eu não podia bater punheta, porque meu corpo não me pertencia, era da pombinha lá… e não do pintinho, e a pombinha é contra punhetar a casa dela. Eu pensava nisso na hora da punheta, Deus tava olhando o que eu tava fazendo na ganhola do ES e eu ficava com peso na consciência, mas… gozava.

Ah sim 2004! Primeiro ano do Ensino Médio, chovia bem em novembro, tinha trocado farpas com a minha mãe que me achava, e ainda devo ser, um adolescente “rebelde” e fui para o último retiro espiritual da crisma. Lá rezei muito, abracei muito minhas colegas. Naquela noite eu achei que eu seria digno das graças de Deus e me tornaria heterossexual. Nada feito, passei a noite em claro porque tinha muitos pernilongos. Chegou no final, do retiro, abrimos cartas. Meus pais, meus catequistas, meus padrinhos, que sequer eu bem os conhecia, e nem conheço, havia me mandado cartas. Aí eu chorei, chorei, chorei, chorei e chorei.

E daí que a gente fala assim, ironiza as coisas, mas o importante mesmo quando fazemos isso é que não nos damos conta. As cartas naquele dia serviram para eu ver que a gente ama sem se dar conta. Até que num por de sol de domingo, numa chácara a 50 Km da capital, você percebe que foi tudo rápido, que tudo valeu a pena, que não sabia que as pessoas gostavam tanto de você. Mas o mais louco é saber que nem a gente próprio sabia que gostava tanto dos outros assim, de olhar para a cara do colega e chorar e abraçar e ter medo porque sabe que as coisas estão acabando por ali. É, aquele retiro foi bom, eu curti muito chorar naquele dia. Chorar me fez sentir bem menos pior, bem mais humano.

Uma semana depois eu crismei, acho que bati punheta no dia. Veio a minha madrinha de crisma que eu sequer escolhi para ser minha madrinha, lá de MG. Sabe quando antes das pessoas casarem e ter filhos, elas prometem aos amigos que eles serão padrinhos dos filhos? Foi esse o caso da minha mãe essa madrinha. Bem, também achei minha crisma meia boca. O Arcebispo não estava lá e crisma chique tem bispo, arcebispo para eu que moro em uma capitarrr eu sou mais chique. Mais chique que isso, só se fosse chique de Paris, mas para isso o bispo teria que ser francês.

Enfim, boa noite Brasil.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre esse blog

Quando eu criei esse blog, em 2007, eu tinha 18 anos. Na época eu escrevia bem menos, e acho que pior, do que escrevo hoje. O que queria na blogosfera, e ainda com o título Sempre Avante no Nada Infinito, era falar da minha sexualidade ainda não tão resolvida como pode ser hoje.

Sempre soube que eu era homossexual e lá por volta dos 18 anos, numa viagem para o interior de São Paulo, no marasmo que trazia o banco traseiro do carro em uma rodovia entre Uberlândia e Uberaba, eu resolvi finalmente ser homossexual. Sei lá como, eu tinha mais dúvidas do que certezas.

Os 18 anos foram por assim dizer, o ano da mudança para mim. Agora de um dia para o outro eu sou adulto e em algumas semanas vou fazer o que sempre quis, dirigir. Agora eu me revolto com a obrigação de ter que me alistar ciae se definido fosse, servir ao Exército, o que me faz saber que eu sou dono do meu próprio nariz, mas não do meu único corpo. Além disso, entro na Universidade que é um mundo em que não só o cheiro do ar é diferente, por causa do laboratório de anatomia humana e da grama, mas também a forma de falar, explicar e acreditar no mundo. Agora eu decidi que não vou ser o que eu passei a minha vida toda querendo me tornar, heterossexual, porque eu nunca fui. Agora estou realmente incorporando e entendendo os que foi falado naqueles 18 meses de terapia.

Então criei, depois de uns dois meses, esse blog aqui. Tentei sintetizar tudo aquilo que estava acontecendo comigo. Quis falar de mim mesmo, da minha sexualidade, das minhas consciências ou o que hoje acho simplesmente ingenuidade minha naquela época e o que morro de medo de saber no futuro que o atual também possa ser. Certo era que eu queria acertar e colocar através das palavras o que eu estava sentindo e o que idealizo.

Creio que nunca tive sucesso com isso. Creio que nunca consegui porque o que eu escrevo é muito idealizado. Me perco muito escrevendo, abro muitos parênteses, sou repetitivo e acho que explico muito. Idealizo inclusive a forma como vocês vão ler e receber isso. Ou em outras palavras, me antecipo aos leitores.

Hoje dá mais prazer escrever porque sei que tem mais gente para ler e saber que sou lido. Isso satisfaz o desejo implícito de ser ouvido. Mas gosto do que escrevi no passado, do jeito errante, apesar de que me indago como pude escrever algumas coisas. Também fico contente por saber, que embora eu escreva o mesmo parágrafo inúmeras vezes, que embora eu demore uma hora para escrever coisas de se ler em três minutos, em mais linhas do que o necessário, eu sou idealista e tenho minhas utopias, se é que devo tratar o que pretendo alcançar como utopias.

Mas se bem que esse blog existe é por causa disso mesmo, ser ouvido. E ser ouvido não é só a consciência de saber que alguém vai ler e meia dúzia de gatos pingados, apesar que o Gato de Cheshire aparece pouco por aqui de tempos para cá, vá comentar, créditos ao Paulo Braccini por ser quem mais me prestigia com os seus comentários. Ser ouvido, e logo o que quero aqui, é ser saber que alguém entendeu o que quis dizer, que mesmo que não concorde comigo, o que eu tenho dito vai fazer pelo menos alguma diferença, mesmo que seja para dar mais convicção, a alguém que pense diferente de mim.

Então é por causa disso que escrevo e delongadamente contra a religião, contra Deus, contra o pastor Silas Malafaia, a favor dos direitos civis, a favor da Dilma e do PT e porque acho que homossexual não deve votar em partido de quem é contra PLC 122. E por isso que as vezes escrevo aqui, eu acho que nem eu entendi realmente o que eu falei. Sabe, é que eu sou ruim com ensaio. Da preguiça escrever o mesmo texto duas vezes.

Bem, vou continuar escrevendo aqui por causa de tudo isso que eu acredito, pelos mesmos motivos de quando escrevi no passado, embora agora tenha mais coisa diferente e eu saiba muito de quando comecei isso aqui. Algumas vezes escrevo com esses títulos parecidos, apenas parecidos, com texto de filosofia porque acho bonito se parecer Cult e filosofia é Cult.

É, não é cair em parafuso e nem crescimento em espiral. Em parafuso horizontal significa para mim, ir para algum lugar, que pelo visto nem eu sei o que é e onde fica.

P.S.: Agora sim eu fui metablogueiro.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sobre mim

Eu também falo sozinho, ganho prêmios no banho, o frasco de Garnier Fructis para cabelos normais é o meu Oscar, Troféu Imprensa, o meu Nobel, o meu qualquer coisa. Ganho muitos prêmios e concedo entrevistas e participo de debates sobre temas diversos. Falando sozinho eu sou alguém ponderado, amado e pop. Todo mundo quer assistir aos meus filmes, ir aos meus shows, assistir as palestras que costumo conceder no banho.

As vezes imagino que estou no Roda Viva e a duchinha, aquela que tasca água geladinha no cu e eu adoro, é o meu microfone. Eu costumo dar má respostas nos meus imaginários sabatinadores e costumo ser elogiado por eles. Eu faço de conta que estou ao vivo em uma cidade qualquer e vou fazer link ao vivo com outro jornalista de um lugar qualquer. A minha esquizofrenia é tamanha que fico sem áudio, peço para aumentar o retorno, indago se o problema é na Embratel ou reclamo que meu teleprompt está desligado.

Eu sou louco e tenho vergonha de dizer isso. Isso o quê? Que eu sou louco? Não, de dizer as coisas que me faz sentir louco. Todo mundo diz que é louco, mas só pessoas como eu digo o que minha esquizofrenia faz eu fazer para eu me tornar louco. Eu sou esquizofrênico? Nem sei. Nunca fui ao psiquiatra a psicóloga disse que em geral eles não são muito legais, nem mesmo certos. Será que é implicância entre as profissões? Não sei, mas eu não me sinto normal.

Não sou normal mesmo, minha mente é tão louca que eu consigo visualizar pessoas na minha frente. Tão bem, a questão que elas são tão translúcidas que vejo com a máxima nitidez os anúncios na TV atrás da pessoa a minha frente. Quando essas pessoas se tornam visíveis para mim eu danço com elas, algumas vezes discuto e ponho dedo na cara delas. Algumas bem raras vezes me declaro, até para blogueiro.

É isso eu aí, eu sou louco. Mas eu provo porque sou louco, tipo, vocês que se dizem loucos, duvido que fazem como eu faço, conversa loucamente com sabe-se lá quem e acho tudo engraçado, interessante ou melhor divertido. Vocês não fazem o que eu faço.

Um dia fiz um desses testes da internet,tipo da revista Capricho e descobri que sou louco, mas o meu consciente me controla. Como meu consciente está num período de desconstrução das verdades feitas, ou tentando pelo menos ao meu modo, e num espírito de protesto estou aqui escrevendo para vocês, pois quero protestar contra mim, porque eu não gosto de mim.

Sabe, eu sou chato, falo demais. Sou irritante e arrogante. Por isso quando vou falar sozinho falo com todo mundo. Só não falo comigo. Dá última vez que conversei comigo eu prometi a mim mesmo que escreveria esse texto aqui, confessando essas coisas todas. Eu não acreditei e disse que eu não teria coragem de fazer isso, porque eu sou covarde, molengão. Mas eu vim e escrevi isso aqui para tirar com a minha própria cara.

Mas eu sou inteligente, eu poderia me filmar falando sozinho, ganhando os meus prêmios no banho, mas como eu sou inteligente, sei que jamais conseguiria me enganar. Eu posso enganar outras pessoas, mas eu jamais. Na primeira tentativa eu denunciaria a mim para mim mesmo. Além d’eu não ser capaz de enganar alguém tão inteligente quanto eu, vocês pensaria que seria uma encenação. O que não é verdade.

Pra convencê-los, precisaria eu inventar uma prova mais factual da minha insanidade. Mas como tenho dito, é difícil. Porque é difícil eu conseguir me incriminar sem fazer eu mesmo perceber. Ainda mais difícil eu conseguir colocar aqui para vocês. Tudo que eu faço, eu também faço, na mesma hora, do mesmo jeito na mesma sincronia.

Bom, para, essa meta autoconsciência já não tá tão divertida assim.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sobre Religião – outra vez

Cada vez que eu leio as sessões de cartas dos leitores, os comentários sobre essa matéria, os torpedos SMS escritos em português sofrível exibidos no rodapé da tela da TV, eu me assusto. Sobre o meu susto, ele não é porque o que escrevem lá seja para mim inesperado, aliás, eu não sou ingênuo e tenho plena consciência de que é aquilo o que as pessoas pensam dos homossexuais. Eu me assusto porque cada uma daquelas manifestações são tapas de uma realidade que me detesta e não se importa comigo.

Então eu me pergunto como assim e questiono qual o prazer e qual a ameaça que as pessoas vêem para dizer tudo aquilo. Mas de toda maneira, o que acho mais asqueroso nessa realidade é apresentá-la como algo nobre e bem intencionada, um benesse ameaçada pelo simples fato d’eu existir e querer viver em paz. Pior ainda são as explicações, esdrúxulas e contraditórias, dadas para convencer que sou como sou porque quis e pelo simples prazer de provocar polêmica que pensam eu ter.

Na verdade eu odeio religião e é ódio mesmo, de sentir raiva quando falam bem delas, porque bem não existe ali. Se Deus existe e se ele é infinito de amor e inteligente, provavelmente ele não gosta das religiões. Mas é mais coerente acreditar que Deus não existe, pois se ele existir, ele deve estar ocupado com coisas que ele julga mais importantes do que as pessoas ou não deve estar se importando ou sequer tem o poder que dizem que ele tem para modificar tudo isso.

Se Deus existir, ou melhor, se eu fosse Deus, pelo menos esse Deus igual ao que dizem por aí, o Deus que é sábio, é infinito de amor e que se preocupa com as pessoas, que supõem serem importantes para mim já que são minha imagem e semelhança, eu acabaria então com as religiões. Como, eu não sei. Mas sendo eu o Deus tão poderoso, tão inteligente e tão amoroso, eu daria um jeito de acabar com as religiões e ia começar pelas mais institucionalizadas, pois para mim, elas que são as mais perigosas.

Eu odeio religião, principalmente as mais institucionalizadas, essas aí que a maioria dos brasileiros segue e que a maioria dos brasileiros briga por causa delas. Não existe bom senso nesses templos, nesses sacerdotes e pastores, apóstolos, missionários e seja lá o que for que quiserem chamá-los. Não existe bom senso nas boas obras delas, sequer podem ser chamadas de boas. Eles, sacerdotes e afins, nada mais são do que os pilares da loucura que é a religião, da maldade passada como amor que é a religião, a versão contemporânea dos fariseus. Os exemplos existem como as pencas de bananas, um deles é o debate a respeito da PLC 122.

Ontem, logo quando meu pai chegou do serviço, ele começou a zapear na televisão os canais abertos e parou no programa do iconográfico Carlos Massa, o Ratinho, de onde se ouvia os berreiros de uma voz familiar, a do Pastor Silas Malafaia, misturados aos berreiros de uma massa, não o Ratinho e sim o do seu auditório, manipulado por um regente tacanha, que aos gritos extaseados emitia sua opinião, desde já ignorante como há de ser para com temas diversos.

Mas o interessante é porque Silas Malafaia gritava e dizia as coisas que dizia. Malafaia é pastor da igreja Assembleia de Deus, ali convencionada como a maior religião protestante do Brasil, e indignado esbravejava contra a Lei da Mordaça Gay, terminologia de efeito que é como essas pessoas gostam de tipificar as coisas para demonstrar o deboche que possuem, também conhecida como PLC 122.

Silas Malafaia fazia bem naquele lugar o papel dissimulado que faz os homens de Deus e suas religiões, o papel de defender a sociedade dos males, ainda não esclarecidos, vindo dos homossexuais e a liberdade de expressar abertamente a sua opinião preconceituosa, que eles insistem chamar de conceito. Um conceito equivocado e destilado a todo tempo pelas religiões por meio de seus líderes como verdade suprema e inquestionável baseada em meias verdades maquiadas como Ciência, essa que, conforme a conveniência, ignoram e ou desprezam para legitimarem os seus delírios da fé.

Silas Malafaia disse que homossexualidade é escolha, mas não explicou qual o prazer que os homossexuais sentem em ser diferentes daquilo que é pregado como certo e esperado. Silas Malafaia disse que a homossexualidade não é uma questão genética, pois cromossomos existem dois, o masculino e o feminino, como se gênero fosse sinônimo de sexualidade, tema incógnito para qual ele se apressa para fazer juízos de valores.

Bem, Silas Malafaia estava ali demonstrando apenas um dos motivos que me faz pensar nas religiões como câncer social. Em nome do que elas fizeram e fazem, as pessoas acreditarem, matam e matarão inúmeras pessoas. Graças a elas, as religiões, direta ou indiretamente, na medida em que se sentem ameaçadas e ignoram e ou rejeitam, quando em nome de suas questionáveis boas causas, sãos complacentes para com os abusos cometidos contra as vidas humanas, não poderá dizer que tem ali alguma causa nobre.

Mas religião é assim mesmo, é o que eles pensam e pronto, melhor ainda quando são a maioria e estão mais organizadas, porque aí que impõe mais e atribuem aos outros que reclamam seu espaço e a equiparação de direitos, o que a todo momento provam que são elas quem estão fazendo. O pior nisso tudo é que eles ainda ganham a credibilidade social.

Não me peçam para admirar a religião, eu nem considero as exceções porque elas não mudam o por assim dizer, de modo geral. Não admiro as religiões porque elas são para mim apenas um atentado secular e de um tempo remoto, contra a emancipação humana, vestida na pele de cordeiros e de pastores.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre spams

Prezados senhores blogueiros que por aqui passarem. Postarei em breve, assim que me sentir inspirado e tiver um tema pertinente.

Porém, venho aqui apenas para pedir a colaboração dos senhores para denunciar o blog abaixo pela prática de spam. Acredito que se todos agirmos juntos, as denuncias terão efeito mais imediato e o Blogger (Google) tomará medidas para tornar os algoritmos mais rigorosos para com a prática dos spammers.


Denunciar é fácil, após a página ser carregada, basta clicar no topo dela na barra do Blogger na opção denunciar e com mais dois cliques está tudo pronto.

Bem, estou pedindo para denunciar esse blog, pois seu autor tem postado em meus comentários links para páginas da internet em caracteres mandarins, algo irrelevante, que prejudica a estética do meu blog, muito anti ético para promover os interesses de outras pessoas e inconveniente, pois são vários comentários repetitivos em vários dos meus posts.

Em virtude de temer que o bandido volte aqui para postar novos comentários, adotei uma medida ligeiramente inconveniente, a confirmação de caracteres para postar comentários aqui no blog e espero poder desativá-la em breve.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sobre as crianças

Agora virei babá e tudo que irei ganhar fazendo isso é responsabilidade. Na verdade não é ser babá, é apenas ficar com o Pepe enquanto a sua mãe, mestrando, vai dar aula a noite na rede municipal de ensino. E não ser remunerado financeiramente com esse ficar com o Pepe é algo que, assim, me aproxima do homem bom por natureza do Jean Jacques Rousseau. Homem bom por natureza que deve ter aos montes por aí, imagino que em Tuvalu e na ilha Bora-Bora, onde suponho, não tem mestrado e nem aula na rede municipal de ensino a noite.

Bom, até agora está tudo tranquilo, estou aqui usando o PC deles, que é menos lerdo que o meu, lendo alguns bloguinhos, trocando idéia com o Scotty lá do Action Double, que falar nisso tenho que relacionar aqui no ladinho, e com o Santa Católica Travesti, que muitos de vocês conhecem como o Sex and City Tupiniquim lá do Em Constante Construção.

Mas o melhor de tudo mesmo é que nem vou limpar o bumbum dele, nem dar mamadeira, nem nada. Tudo que eu tenho que fazer é dar o meu apoio psicológico todas quartas-feiras a noite para ele dormir em piloto automático. Na verdade não é tão simples assim, eu tenho que abrir a porta depois de quinze minutos, acender a luz, ver se ele está suando e caso estiver, puxar o lençol para trás. Tudo perfeito, eu fui fazer isso e quando acendo a luz lá vem ele olhando para mim com aqueles dentinhos de leite. Porra, não gostei, bem, pelo menos ele dormiu.

Acho que vou postar todas as quartas feiras enquanto eu fico com o Pepe. Então é isso crianças, estou ficando com outra criança e menor que eu. Na verdade estou ficando no pc ou na tv a cabo da casa dela. O máximo que pode acontecer é a casa pegar fogo, eu arrancá-lo do berço e dar entrevista para algum jornal local sensacionalista, desses que passam na Band local.

Beijos me twitta: www.twitter.com/BorbaGabriel

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sobre segredos de liquidificador

Na ocasião de se abrir a porta do armário para os pais, meus avós também ficaram a par da minha “nova” sexualidade. Fui saber disso depois porque é fácil unir os pontos e ver a figura que se forma assim que o tempo passa, ou nem tanto como foi o caso. Bem, tão discretos como eu gosto de ser com relação a minha sexualidade, os meus avós também são com o que diz respeito da ciência dela. Acho ótimo, mas mesmo assim fico com receio.

Como de praxe, vamos para a casa dos meus avós no interior do estado. E lá vem sempre os comentários de quando eu casar, de quando eu tiver filhos. Me incomodei muito mais com isso no passado, hoje deixo levar, embora isso não resolva o problema e seja para mim apenas um jeito acomodado para tratar do mesmo. Quando perguntam sobre namorada, sobre quando eu casar não falo mais do que o necessário para que acabe emergindo um assunto diferente e eu seja esquecido.

Mesmo assim, as píadas ambíguas, e não de cunho com a sexualidade, incomodam. Agradeço muito aos meus avós pela forma discreta como eles agiram com relação a minha sexualidade e a forma serena e natural, que sempre tiveram, para me tratar. Mesmo assim, sei lá, somos brasileiros e meus avós, assim com a família num tem uma cultura que, digamos, seja da autocrítica e da mais aberta a essas coisas “novas”. No fundo, assim sendo, tenho receio de quê eles se esqueçam do que eu realmente sou em um dos seus comentários, bem como entusiasmados.

Sabe, também no fundo fico até com dó dos meus pais, que tem um único filho e o único filho não é heterossexual. Eles se empolgam com filho de oito meses do meu primo, que é um ano e pouco mais velho que eu. Filho, sei lá, tenho até vontade de ter, um biológico. Mas sequer persigo isso e nem vou me preocupar se isso é viável já que não vou, por agora, realizar isso. Bom e mesmo que tenha dó, não sou complacente com meus pais, a minha felicidade de outras pessoas não pode depender da deles.

Por mais que eu não me considere mais no armário e acho confortável não ficar rotulando a própria sexualidade, como se isso fosse algo necessário, ainda me sinto preso ao armário. Tenho vontade de cravar machados a ele destruir sem se preocupar com “agora e daí?”

Lá na praça principal da cidade, na qual não está a Igreja que está a duas paralelas acima a esquerda, teve carnaval. Geralmente acho os garotos do interior não muito bonitos e lá tive que rever meus conceitos. E quantos corpos suados! No fundo fiquei com inveja dos efeminados, ou nem tantos, mas gays certamente, que formavam sua rodinha para rebolar os axés dos covers dessas divas da Bahia. Tinha raiva também, dessa gente do interior, que sequer consegue ser hipócrita como a da capital que esconde a homofobia para si, e que tinha que fazer o maior berreiro quando via aos travestis e meninos quase moças passando pelas pessoas.

No fundo mesmo, eu estava mesmo era com raiva de beber Ypiocá com Del Vale de uva. Uma mistura que além de ser quente e não fazer arrotar, porque arrotar me faz sentir um ogro e me sentir um ogro me faz sentir de certa maneira franco, humano e natural; queimava quando descia e embrigava rápido, como a cerveja, mas às custas de muita dor de cabeça e o risco eminente de uma ressaca no dia seguinte.

Embriagado, era tudo o que eu queria ficar ali. Queria ser um idiota e talvez assim não me preocupasse tanto com as minhas ainda incontadas prisões. Ébrio quem sabe menos eu sentisse o meu coração batendo e meus sentidos capitando o mundo e assim esquecesse dessas prisões como a de não ter iniciativa, a de ter medo do que os outros pensem de mim, a de achar o carnaval um tremendo dum saco, pior ainda essas bandas covers com o som patético delas, a de olhar as dançarinas saradas quando o que me interessa mesmo são os dançarinos em seus corpos malhados e másculos, dançando no alto de seus Nikes pretos combinados as sungas e aos bonés de mesma cor.

Bem, eu nem vou falar da tesão que o primo de 15 anos tem me causado. Talvez um dia que eu for sincero o suficiente para admitir algumas coisas como essas eu fale dele aqui.

Caso a Mulher Asterístico venha aqui, deixo aqui também meu agradecimento. Depois da sua definição sobre o que caracteriza a pedofilia ficou mais fácil olhar para o primo sem o auto-flagelo. Enfim, e eu pensando que eu era um pedofilo, mesmo que eu não faça nada.

Mas será que eu posso ficar confessando essas coisas aqui e ainda por cima de forma tão escancarada? Na verdade não muito escancarada, mas sem papas na língua e ainda citar o nome de algumas pessoas que eu nem tenho intimidade e que causa um receio, sem saber lá como ela, a exemplo de muitos de vocês, veem “a ordem natural das coisas,” pensam a respeito “da moral e dos bons costumes”, sem contar “tradição, família e propriedade.”

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sobre política

Esse 2010 é ano de eleições e vou entrar no mérito político hoje. Se você é de direita, vota no PSDB, tem saudades de FHC e lê Veja, não leia.

Eu gosto do Governo Lula e quero que ele faça um sucessor. Não acredito na boa vontade de quem diz que deve haver alternância de poder. Acredito que em time que está ganhando não se mexe e com o governo Lula eu acho que estamos ganhando, não só na economia como quer a grande imprensa convencer.

Se os que acreditam em alternância de poder acreditasse nos benefícios dela, não estariam governando a 16 anos São Paulo ou a 12 o meu estado goiano. Na verdade é apenas quem está de fora querendo entrar para pegar a galinha dos ovos de ouro e assim voltarmos ao passado, que é o que essas pessoas para mim representam.

Entre várias coisas no governo Lula, existe uma que vejo como muito positiva para eu que sou homossexual, o acesso que os movimentos sociais tiveram ao governo. Exemplo disso são as secretarias especiais, criadas no começo da primeira gestão ainda, como a da Promoção da Igualdade Social, Mulheres e dos Direitos Humanos, onde nós homossexuais entramos.

Com isso muitas coisas tem acontecido para as minorias e que são certamente avanços. Uma das coisas que me faz acreditar nesse avanço é a propaganda do Governo Federal cujos protagonistas são um casal de homossexuais:

Achei a propaganda ótima, ainda mais porque ela não é estigmatizando e nem cria um esteriotipo, aliás, vai numa direção contrária a isso. Dois rapazes, não efeminados e discretos, coisa que a maioria da socieade não imagina que os homossexuais também pode ser, indo fazer algo que aparentemente é sexo casual, o que muitos homossexuais, entre eles os do armário, fazem muito.

Para muitas pessoas a propaganda, bem como os simbolos presentes nela, passa despercebida. Porém essa propaganda é o fruto do que os movimentos sociais tem conseguido fazer no Governo Federal, colocar no Estado políticas públicas, inclusive a publicidade, direcionada aos homossexuais, que é um dos grupos que mais se contaminam por HIV e já não bastando a sexualidade, ainda sofrem preconceito por isso.

Para muitas pessoas também, esse acesso dos movimentos sociais ao Estado e na decisão de políticas públicas no governo Lula não significa nada, mesmo que concordem que seja importante. Porém é no governo Lula e em partidos como o PT, que tem sim seus problemas, que essas discussões, bem como propostas e ações, entram.

Em outros partidos, como o PSDB e o DEM, não se vê candidatos com essa plataforma, raramente aliás. E não que seja uma política, um diretriz do partido, mas é sabido, que os reacionários, que vetam os direitos dos homossexuais, como a PLC 122 que apelidaram-na de lei da mordaça gay, estão em partidos como esse.

No PT e em outros partidos da base aliada, vê-se um posicionamento do partido a respeito de causas controversas como os direitos civis e outas políticas públicas que contemplem os homossexuais. Tudo bem que outros partidos não se posicionem contra, mas quando eles não têm um posicionamento e ainda por cima permitem que se tenha gente contrária ao que vejo como fundamental a mim, não posso acreditar neles nesse aspecto.

Bem, é isso.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Lembrança da Infância

Quando criança, ganhava do meu pai todo mês dinheiro para comprar revista Quatro Rodas. Minha mãe era contra porque não via em comprar aquelas revistas nada menos que um desperdício de dinheiro, que nunca fez falta para nós, mesmo que aquilo fosse o meu prazer e contribuísse em muito para ampliar meu vocabulário e afinar minha leitura.

Mas meu pai não dá muitos ouvidos a minha mãe e geralmente após do 5º dia do mês dava dinheiro para eu comprar a revista que eu passara um mês esperando. Um dia, lá por volta dos meus 11 anos, cheguei da escola, almocei, lavei as louças – eu ficava sozinho em casa após os oitos anos – calcei um tênis mais sujinho e fui eu feliz da vida debaixo de um Sol quente, provavelmente não era o de maio, comprar a minha revista Quatro Rodas.

Na banca em frente à escola ainda não havia chegado a QR daquele mês, o que de certa forma alimentava a minha idéia que eu precisava morar em um bairro nobre e não nesse típico bairro proletário de Goiânia. Então, sozinho eu resolvi descer até a outra praça, na qual passa a principal avenida da cidade, a Anhanguera, logo, muita gente, muitos carros, muitos ônibus e longas carretas que vão para o pool de combustíveis da BR Distribuidora.

Lembro que minha barriga ficava alternando entre o normal, a sensação de almoçado, e o frio do medo de aí se mamãe me pega indo para a zona proibida sozinho. Cheguei à esquina que dava para a Avenida Anhanguera, na qual até hoje existe uma loja de frutas. Em frente à loja de frutas havia um homem alto, branco, de olhos verdes, de bermuda e chinela, em pé, como quem estivesse esperando por alguém ou simplesmente pensando na morte da bezerra.

Não dei lá muita atenção para o homem e como não estava vindo mais carros, eu atravessei a Anhanguera com o sinal verde para eles, porém com segurança na faixa de pedestres. Cheguei lá na banca de revista da outra tão temida e buscada praça e qual não é a minha surpresa, ela estava fechada.

Tudo bem, mas agora a história vai ficar tensa, eu acho. Fiquei meio triste, perdi a caminhada, me expus ao perigo, sem contar que estou cansado e suando. Atravessei a avenida e comecei a subir de volta para casa. Como eu estava na “cidade proibida” tive que apertar o passo e subir depressa, mas ouvi passos acelerados atrás de mim. Continuei andando depressa e quando olho para trás está o cara que estava em frente à frutaria vindo logo atrás.

Olho para frente e escuto:

- Olá garoto!

- Oi! – no sentido de quem é você?

- Passeando muito?

Então pensei que fosse melhor não dar atenção, minha mãe falou que não se pode falar com estranhos. Mesmo assim ele continuou falando depois de alguns segundos.

- Aí hein, só passeando né?

Eu achava que minha barriga estava gelada quando eu havia descido para A+A ANHANGUERA. Mas não estava, ou melhor, estava, ela só não havia congelado como naquele momento. Afinal de contas o que esse sujeito quer comigo? Isso eu descobri em partes no próximo momento.

- Então, você é um garotinho muito bonito... ...Não quer ir até lá em casa?

Lembro que havia tropeçado e dado com as mãos no chão e em algum momento e ele falou:

- Num está afim de ir lá em casa não?

Olhei para trás, para o rosto do sujeito, olhei para o meio da avenida que eu estava subindo, vinha muitos carros. Eu estava sem fôlego, tentava andar rápido, mas ele, claro, era mais rápido que eu.

Finalmente não tinha mais nenhum carro vindo, atravessei como se isso melhorasse alguma coisa. Ele ficou do outro lado da avenida e me olhava a todo instante. A cada vez que ele me olhava eu sentia mais medo. Cogitava que ele pudesse me pagar à força, o que ele conseguiria porque era mais forte e maior que eu, poderia me bater e dizer que sei lá, que fosse aparentado meu e levasse para fazer sabe-se lá o que na casa dele.

Eu não era ingênuo assim como aparentei ao falar sobre desobedecer minha mãe e ir até onde ela não me autorizava sozinho. Eu sabia bem dos perigos que corria, embora mesmo assim ainda acho que as restrições da minha mãe para aquela época eram paranóias dela. Até hoje ela é paranóica. Então, não sendo ingênuo eu conseguia pensar na minha mãe chorando no Datena, que na época ainda trabalhava na Record e não ficava enchendo o saco com esses dizeres sobre pedofilia. Já a pedofilia era uma palavra nova para mim, mas que fazia alguma idéia, naquela época foi recente o escândalo de um médico bem conceituado chamado Eugênio sobrenome russo.

Logo aquele cara estranho foi se distanciando, parece que ele desistiu de ganhar minha confiança, viu que eu não era tão bobo quanto aparentava. Mesmo assim eu estava com medo, eu sabia que tudo podia acontecer comigo, mas não pensava que poderia ser tão escancaradamente assim, ou pareceu. O sujeito virou numa esquina qualquer, antes de chegar a desconfiar ao certo onde eu moro.

Perto da Igreja aparece um carro que buzina para mim, dentro dele era o meu professor de catequese me oferecendo uma carona até minha casa. Respirei aliviado e o que aconteceu depois não lembro assim tão bem, mas cheguei em casa são e salvo.

A respeito de Deus lembro que pensei nele como uma entidade de fato muito bondosa e protetora, sendo o meu catequista a forma colocada por Deus para eu chegar em segurança até minha casa. Mesmo pensando em Deus como alguém protetor, pensava nele como alguém semelhante a minha mãe. Tipo, ele havia me tirado de uma enrascada, mas isso não queria dizer que ele não estivesse irritado comigo por desobedecer a minha mãe. Se o verbo se fizesse carne, ele haveria de me dar um sermão durante horas.

Fiquei um dois dias sentido calafrios quanto ao pensamento sobre esse fato. Contei ao meu amigo uma vez sobre tal coisa e foi uma pincelada, mas também foi a única vez que tive coragem de contar a alguém sobre esse incidente. Nunca falei do assunto a ninguém, nem mesmo com meus pais até hoje. Sobre Deus, bem, o meu catequista ter aparecido lá foi apenas uma coincidência é nisso no que acredito hoje.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sobre as Forças Armadas

Causou polêmica as declarações proferidos pelo novo ministro – nome pomposo que só o Brasil usa para chamar os juízes das instâncias maiores – do Superior Tribunal Militar, Raymundo Nonato de Cerqueira Filho. E vai dar mais fôlego as polêmicas o endosso dado ao Cerqueira Filho vindo do presidente do clube Militar, o general da reserva Gilberto Figueiredo, e que foi publicado no G1.

O que Cerqueira disse aos nossos senadores foi que homossexuais não são bem vindos nas Forças Armadas porque os soldados não obedecem aos homossexuais. Figueiredo, por sua vez, endossou dizendo que as Forças Armadas não se preocupam com a sexualidade dos membros quando isso é algo externo, mas que os internos não respeitam aos homossexuais assumidos e eles não devem então ir para as Forças Armadas.

E daí que isso apenas repercute mais um dos vários defeitos das Forças Armadas, o mal de Gabriela (eu nasci assim, eu sou assim, eu vou ser assim, eu sou Gabriela). Isso quer dizer que para Exército, Aeronáutica e Marinha o preconceito existe e está tudo bem, porque não tem nada ser feito.

Porém não é assim que as coisas funcionam. A Sociedade Brasileira, que acha que as Forças Armadas é algo bonito e nobre, é racista, patriarcalista, machista, homofóbica, entre outras coisas. Contudo, essas características são construções sociais resultantes da ignorância e dominação cultural, mas que com políticas, entre elas as educacionais, podem ser revertidas.

Logo, não deve se tolerar que as Forças Armadas continuem com um discurso retrógrado e comodista, pois elas pertencem a um Estado que existe para servir às demandas de uma Sociedade em transformação em prol do que é mais justo a todos. Além do mais, a ideia que fazem das Forças Armadas precisa ser revista.

Primeiro, porque durante 21 anos as FA’s perseguiram pessoas nos Brasil, tirou-lhes direitos políticos, as prendeu, torturou e matou usurpando o poder e acirrando ainda mais as desigualdade sociais, e mesmo assim não foram punidas.

Segundo, por causa do incentivo que elas fazem ao alistamento militar obrigatório, que nada mais é do que o Estado tirando do invíduo, nesse caso o masculino, a propriedade sobre o próprio corpo para defender questões nada nobres, as guerras, que podem ser entendidas como resultados das disputas de egos de chefes de Estado insano e a ética capitalista das grandes corporações.

Terceiro, por causa da forma que elas tem defendido ao país como se outros Estados estivessem interessados em tirar do Brasil a Amazônia, quando a diplomacia, além de ser mais barata e elegante, será provávelmente a forma nobre com que vão tirar, se é que vão tirar ou se já não tiraram, a Amazônia pelo bem da humanidade, rica de algum país. Sem contar que as FA’s mal auxiliam na vigilância das fronteiras, deixando a critério das polícias estaduais e da Federal, que tem coisa mais importante para fazer dentro do Brasil, e até da Receita Federal, a segurança das mesmas.

Enfim, eu não gosto das Forças Armadas.