domingo, 21 de março de 2010

Sobre a Igreja

Para os católicos a culpa dos casos de pedofilia na Igreja é dos homossexuais. Pois a Igreja é Santa e perfeita e não tem culpa pelos casos denunciados a todo momento.  Essa é a indignada justificativa dada pelos fieis nos comentários às críticas feitas pela imprensa à conduta tomada pela Igreja Católica Apostólica Romana com relação aos seus sacerdotes pedofilos.

Nessas jusitificativas tem muitas coisas implicitas e repugnantes. O que mais é irritante é saber, que se o inferno existir, todos nós vamos para inferno, mas os crentes que se arrogaram de verem perfeitos, tão perfeitos que são incapazes de reconhecer e assumir aos próprios erros, pensam que não vão.

Não bastando cometer esses equívocos, a Igreja e seus fieis se arroga de fazer seus manifestos moralistas convocando a todos para unirem-se contra os homossexuais, tão perigosos quanto a devastação da Amazônia cujos seus dogmas nada de prático tem feito para evitar. Exemplo disso são os históricos templos católicos construídos com madeira de origens para lá de questionável.

O mais irônico é que embora os pedofilos “sejam antes de tudo homossexuais interessados em desmoranar com a Igreja, a vida e a família”, conceito que os crentes sem definição alguma tratam de se dizerem pró a todo momento, a  Igreja tenha como prática abafar em atos corporativistas as ações dos pedofilos que usam as suas batinas.

Nisso tudo o que fica bem implícito não é só as incoerências, hipocrisias e mentiras da Igreja, mas também o desdém que ela tem para com a inteligência alheia. Infelizmente tem muita gente que ainda está acreditando nesses argumentos fuleiros e sabe-se lá porque.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre a libras

Falar para eu mesmo que sou gay foi complicado porque gay não significava apenas quem gostasse de pessoas do mesmo sexo. Embora fosse repetido e eu tentasse acreditar, ainda tinha comigo a imagem de que gay é mais do que é isso, aliás, é menos do que os outros, que gay é inferior.

E sabido, pelos padrões sociais que são empurrados, que temos que ser perfeitos, dentro daquilo que é colocado pelas instituições, pela publicidade, que diga-se de passagem é uma coisa que faz mal e está serviço dele, e pelo consumo como perfeito. Na construção do impõe como pessoas perfeitas, coisa que tento alcançar as vezes sem me dar conta, não entra o homossexual, apesar que tenham aí um discurso dissonante, mas ainda sim mínimo querendo mudar isso.

Pronto, agora assumi para mim que sou gay, mas acabei admitindo para mim também que sou inferior no fundo também. Na verdade não assumi que sou gay, admiti que sou bissexual, porque é menos pior, apesar que de mulher mesmo nunca tivesse eu gostado e nunca fui bissexual, também decidi que não faria amizades com pessoas do “meio”, não deixaria ninguém saber disso e por aí vai. Conforme vou incorporando que não é inferior, vou evoluíndo, conto para terapeuta, que já sabia é claro, para amigos, pais, e alguns lugares públicos pouco me importa saber se os outros vão entender isso, que eu sou homossexual mesmo, na maior parte do tempo passivo.

Fazer Libras foi também uma realização pessoal na qual serviu também para eu fazer todas essas reflexões que coloco nesse texto. Não que eu não soubesse disso tudo que estou escrevendo aqui, é que eu não tinha sistematizado para mim mesmo do modo claro que até eu entendesse, o que faz com que eu conclua que o processo de auto-observação e auto-entendimento é delongado e contínuo.

Aos poucos fui me conhecendo e aos poucos fui perdendo o medo que tive de mim, porque passei aos poucos a me entender. Com surdos, com cegos, com pessoas com deficiência mental, cadeirantes e tudo mais é a mesma coisa, apesar que penso que auto-aceitação, pelo menos para aqueles com deficiência nativa, não tenha sido o caso.

Mas no fundo quando pensamos nessas pessoas, mesmo que queiramos ser inclusivos, somos preconceituosos, porque temos medo de magoá-las e não entendê-las como é o meu caso. Mas ainda bem que posso me dar ao luxo de ser racional usando dessas emoções que me vêm agora, revolta, vergonha, orgulho, satisfação, medo, inconformismo, porque assim posso me dar conta do quão limitado eu é que sou e como se aprende a cada a instante.

Não não não! As melhores lições não são essas que estão escritas em longas dissertações, teses, artigos, livros, palestras e tudo mais. As melhores lições são essas que se assemelham à Libras, as que de tão simples que são acabam se tornando complicadas serem percebidas, aprendidas como os seus sinais e gramática, que se assemelham à essa reflexão que fiz e que certamente não estava na ementa da disciplina.

Aliás, porque estou escrevendo isso? Pouco importa. Estou atrasado para o lançamento do livro da Vaca Profana.

domingo, 14 de março de 2010

Sobre o Gaydar

Por causa do lançamento do livro da Vaca Profana, ela veio até minha casa ontem deixar convites para a solenidade na qual vão estar outros escritores também lançando seus livros, a imprensa local, os políticos, os “formadores de opinião”, os garçons, os seguranças engravatados e as moças arianas super maquiadas da periferia. Conversávamos e navegávamos pelo orkut olhando as pessoas e contando causos sobre elas no melhor estilo recordar é viver.

Tinha ali o ex da Vaca Profana, que dizia amá-la muito, que não gostava de viado, que era emo por modinha e que o tio da Vaca, que é super divosa, chamou para fazer tudão. Tudão… palavra legal. O Di, o meu amigo casamenteiro cujo gaydar eu confio, viu a nosso pedido o perfil do ex da Vaca e deu o veredicto, que nos convenceu, o rapaz é do babadón. Sempre desconfiamos do garoto e ficamos num misto de eu já sabia, riso, de ele te enganou Vaca e tudo mais.

Bem, olhando ali o orkut do Di, olha só que eu vejo entre nossos amigos em comum, nada mais do que meu colega de estágio. Não que a pessoa seja delicada, efeminada, e tudo mais. Mas sabe quando você olha para alguém e vê que ela tem um semblante, uma aura, de colorido também? E o caso desse colega de estágio, que por sua vez tira sarro dos professores do instituto aparentemente gays, de toda figura colorida que vê, é evangélico e lógico, contra o “homossexualismo”.

O que achei estranho é o colega de estágio estar no orkut do Di, cujo fator que nos tornou amigos foi a nossa sexualidade. Mais estranho o colega ter outras pessoas do meu orkut, que são gays, adicionadas. Então pergunto ao Di de onde ele conhecia fulano. O Di respondeu que na Uol, mas que não fala muito com ele. E eu pergunto, e ele é gay, como se Uol já não fosse quase que uma redundância. Ele responde que sim, e para ficar bem respondido eu devolvo com outra pergunta, ele é ativo ou passivo. O Di responde que não sabe, mas que vai confirmar da próxima vez.

Bem, o Gato de Cheshire tem razão, um boi preto conhece o outro. Assim é melhor não subestimar mais toda sofisticação tecnológica do meu gaydar. É engraçado, na verdade não é engraçado e sim irritante, esses meninos enrústidos. Uma coisa é estar no armário, o que acho legítimo porque também já estive e sei bem os motivos que levam alguém a ter essa discrição. Mas já é de me deixar putaiado o cara ser e ainda fica repercutindo preconceitos contra os iguais como se não fosse um.

Lamentável mesmo é que o colega de estágio não seja gatinho. Se fosse da próxima vez que ele viesse aqui discutir o projeto de intervenção, eu iria parar do nada, olharia nos olhos dele bem profundamente e diria: “Eu sei de tudo. Tire a purpurina do potinho bee. Agora chega aqui e me beija, porque eu tenho camisinha”. Mas ele não é bonito porque ele é… feio.

Eita final de semana divertidoso.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sobre o ateu

Falando mal do Silas Malafaia, um blogueiro que passou por aqui, me indicou uma reportagem falando sobre o dito cujo em uma revista. A matéria foi publicada na revista eletrônica A Capa e a autoria era de Márcio Retamero, denominado pastor protestante de uma igreja inclusiva.

Embora ateu, me interesso por conhecer esse tipo de denominação e vi no pastor uma oportunidade para conhecer e até de mudar meu conceito a respeito das religiões. Escrevi ao referido pastor inclusivo, me identificando como ateu e pedindo indicação de igreja inclusiva em Goiânia. Ele me indicou a uma pastor de Brasília que me indicou a um rapaz daqui de Goiânia.

Nem para o pastor de Brasília e nem para o rapaz de Goiânia eu me identifiquei como ateu e hoje conversei em conferência com eles e com outros rapazes, também homossexuais. Eles são carinhosos, inteligentes, bonitos e atenciosos, mas o principal, partem do pressuposto de que eu sou crente.

Sobre minha fé, apenas falei que não tenho igreja e que tive formação católica. Estou bem convicto de que eu sou ateu, apesar que não vejo em ser ateu uma permanência, e imaginando o que eu possa encontrar numa igreja inclusiva continuarei ateu.

Me incomoda é a não ciência deles a respeito do meu tipo de fé, o medo de como eles possam receber isso e que isso possa me excluir. Quero conhecer a vivência religiosa deles e inclusive me socializar com eles se isso for interessante. Contudo não acho ético nem para mim e nem para eles fingir que acredito nas coisas do mesmo jeito que eles.

Bem, acho que não vou fazer do meu ateu um segredo trancado a sete chaves como já foi minha sexualidade. Se eu perder algo com isso, que seja agora no começo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sobre um trauma da infância ou a Educação da Autonomia

Ontem me lembrei de um trauma da infância. Na pré alfabetização a professora levou até nós folhas de papel A4 nas quais estavam desenhadas espigas de milho. Deveriamos pintar as folhas da espigas desenhadas de verde, eu quis pintá-las de bege porque na chácara do meu avó eu vi uma espiga de milho com folhas beges, na verdade secas. A professora gritou comigo, ela era muito brava, e disse que eu era louco porque não existia espiga de milho bege. Todos meus colegas riram de mim e eu fiquei com vergonha.

Ok, eu pintei então as folhas da espiga de milho de verde claro com contornos em verde escuro. Enquanto fazia isso, a professora passou por todas carteiras deixando pedaços de papel amarelo que deveriamos cortar com os dedos pedacinhos, embolá-los e colá-los nos pontinhos da espiga de milho. Tudo bem, eu fiz assim e ela disse que o meu estava ficando bonito. Nossa, finalmente o louco recebeu um reforço positivo!

Então a professora saiu e foi buscar fica crepe, aquela fita adesiva que se parece com papel e pode ser cortada no dedo, porque ela ia colar nossas espigas no mural da escola. Eu tinha um caixa de giz de cera e queria usá-los, então peguei o giz de cera vermelho sangue e contornei ao redor da espiga de milho um coração que ficou bem torto. Na volta a professora foi pegando os extratos do suprassumos das criatividade dos aluno, sem luz era o que ela pensava que nós éramos. Quando ela foi pegar o meu, ela fez aquela cara feia de novo, apareceram um monte de rugas na testa dela, ela gritou e fui molhado pelo cuspi venonoso dela dizendo que não ia colar a minha espiga no mural porque ela ficou feia.

Guardei o meu desenho, doravante feio e que não merecia ser colado no mural da escola. Cheguei em casa e coloquei o desenho num canto escondido qualquer porque aquilo era uma coisa vergonhosa. Um dia qualquer minha mãe foi arrumar meu quarto e quando chego da escola…

!!!!!!!!

…lá estava a minha espiga de milho das folhas verdes contornada com um coração torto com giz de cera vermelho e quera era feia para ser colada no mural da escola pregada na porta do guardarroupas. A exposição daquela espiga na porta do meu quarto me envergonhava.

Perguntei a minha mãe porque ela havia feito aquilo e ela disse que achava tudo que o filhinho lindo dela fazia lindinho demais. Como assim lindinho? Minha mãe não entende nada de beleza. Aquilo era feio, minha mãe e nem a vizinha, as minhas tias, as minhas primas grandes que iam até o meu quarto e dizia que tava bonito, não entendiam de beleza. Eu morria de vergonha daquilo porque a professora que me ensinava as coisas certas disse que estava feio.

Quando a professora falou que a minha espiga estava feia, achei ela uma vaca, feia, velha e gorda que deveria morrer no trilho do trem e queria ver se ela falasse aquilo para mim se eu fosse um cavaleiro do zoodíaco ou o Machine Man. Bem, hoje, após ter entendido que aquela professora era tradicional, feito minhas críticas a esse modelo e ter lido Vigostsky, Piaget, Paulo Freire e outros caras legais que sabiam como é que se faz, não penso mais na professora como uma vaca, feia, velha e gorda que deveria morrer no trilho do trem e queria ver se ela falasse aquilo para mim se eu fosse um cavaleiro do zoodíaco ou o Machine Man.

Penso nela apenas como uma feia, velha, gorda e tradicional.

Peixos, me twitta @BorbaGabriel.

sábado, 6 de março de 2010

Sobre o Paulo Braccini

Ultimamente tenho pensado, acho que Paulo Braccini é Deus, com a diferença do amigo blogayro existir. Penso assim, porque em todos os blogs que eu vou, tirando os pornográficos e os políticos, lá está o Paulo Braccini demonstrando sua onipresença. Com relação aos blogs políticos, talvez seja porque o tema não seja algo de Deus, então Paulo não comenta por lá.

Paulo Braccini não é só onipresente, ele é também amado, bem quisto como um bom deus que se preze. E de tão devotado, é altamente respeitado com a vantagem dele não mandar quem não goste para os quintos dos infernos.

Para mim, o que mais dá ao Paulo Braccini as graças típicas de um Deus é esse sentimento de dívida eterna que tenho para com ele. Bem, confesso que raramente sou eu quem vai aos outros blogs ler e comentar primeiro, assim também como eu sou dificilmente o primeiro a tomar a iniciativa de adicionar alguém no orkut ou puxar conversa pelo MSN. E tenho perdido muito por causa disso.

Bem, eu tenho minhas dívidas para com Paulo Braccini sim, apesar que talvez ele venha comentar aqui dizendo que não, que não tem importância, o que é isso, que não faz diferença e tudo mais. É lógico que Braccini dirá essas coisas todas, já que ele é um gentleman. Mas isso não muda muito sentimento de dívida.

Sabe, é que como eu tenho dito, Paulo Braccini é um gentleman. Dá atenção a todos os blogayros, no meu caso é sempre o primeiro praticamente a comentar e sempre está comentando meus textos. Além do mais, para quem tem um blog não muito pop, como esse, o homem, nesse caso o Homem porque Paulo Braccini é Deus, presta um grande serviço, publicando e referenciado um texto daqui.

Tudo bem, a menos que não falhe minha memória, foi eu quem visitou primeiro, assim como comentou o blog do outro, mas foi Paulo Braccini quem passou a religiosamente dar as caras por aqui colocando para os anais desse blog o seu nome chique. Paulo Braccini é meio que pronunciado assim na minha boca, Bratxisne.

Antes eu até tinha desculpa para não visitar o blog do Paulo Braccini, pois ele que usa computadores chicosos, potentosos, rapidosos, não percebia que ficava inviável para o meu computador, que como diria o Gato Cheshire, do milhão. Agora ele limpou o visual do Enfim, é o que tem para hoje.

E enfim, é o que tem para hoje tem uma essencia inspiradora para desenvolver diálogos familiares. Naquele bate taquara da família, gerar uma polêmica e olhar para todos com aquela cara de cachorro que desdenhou da salsicha e dizer, enfim, é o que tem para hoje.

De modo geral Paulo é pop, um gentleman, onipresente, amável e mara, é porque adoro chamar o que acho bom de mara e mara é mara. Talvez, talvez não, certamente eu estou fazendo esse texto para tentar pagar um pouco da minha dívida de não comentar tanto o blog do Paulo, que além de bem quisto, filosofo, historiador, tudo o que me atraiu, blogayro, casado há 35 anos, modelo e atriz, é certamente um ídAlow meu.

Enfim, é o que tem para hoje.

Peixos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre o meu catolicismo

Minha mãe é assim, católica. Para mim ela não é tão católica. Aliás, ela é católica, daquele jeito podre de ser católica. Ele me batizou, por um tempo eu agradeci por isso. Arrumou meus avós maternos para serem meus padrinhos e para eu, que achava que padrinhos tinham algum grau de parentesco, foi o fim. Eu fiquei putaiado. Avós padrinhos é redundância, ora essa. Sem contar que o que vinha a minha mente quinquenal era o fato de um presente a menos no Natal, no dia das crianças, no aniversário.

Ela me mandou fazer catequese e consequentemente, primeira comunhão. Foram três anos chatos, eu vendo um monte de moleque fazendo primeira comunhão e no meu dia de vestir aquela tunica branca… aff, que coisa mais sem graça e que tunica mais quente, apesar de branca.

Lembro do padre, um cara duns 30 e tantos anos, meio careca e meio gordo. Ele brincava com os catequisandos, jogava aqueles tecidos que vão por cima da batina e ficávamos parecendo freiras. Fiquei sabendo que ele não é mais padre e casou. É, o monsenhor não orou e não vigiou, casou porque a carne é fraca ou simplesmente porque é humano mesmo.

No dia da primeira catequese, digo comunhão, lembro que o padre usava verde. Achava um absurdo e uma falta de consideração ele usar verde só porque era tempo comum. Mas não era, era a nossa primeira eucaristia, ele deveria usar vermelho. Afinal de contas, aquilo lá era uma festa, da qual os três centos de salgados que minha mãe comprou não vimos. Muito menos as garrafas de guaraná Antartica. Mas as de Xuá, Big Boy e Micos, que tinha gosto de sabão, estavam lá.

Nesse dia o padre falou algo que achei bonitinho e que acho que carregarei por toda vida. Ele disse que a hóstia maior não era para o padre comer e sim para dividir e dividir é algo bonitinho, que devemos fazer. É, eu acho que precisamos dividir mais as coisas, mas não vou dar esmola a ninguém no semáforo e vou fazer cara feia mesmo viu minha senhora!

Outro evento chato da minha vida foi a crisma. Tentei me crismar na CEB, Comunidade Eclesial de Base, da qual regionalmente faziamos parte. Não deu certo, foi um, depois outro, depois mais outros, e todos meus parcos coleguinhos de crisma subiram para a paróquia mesmo para fazer a tal da Crisma.

Não não, eu estou pulando uma parte. Antes da crisma e depois da primeira eucarístia, tinha uma outra coisa que minha mãe me obrigava a ir. Na tal Juventude Missionária, juventude não sei onde, tava mais para pré adolescência intrigária, porque missionário era o que não éramos também. Ficavamos lá só tirando com a cara do outro, criando intriga.

Na Juventude Missionária ficávamos cantando cabeça ombro joelho e pé da Xuxa, quando o espírito de Deus se move em mim eu rezo como rei Davi de não sei quem, e ainda se vier noites traiçoeiras do padre Zezinho. Era legal também. Brincávamos de telefone sem fio, comiamos quitutes caseiros que as catequistas traziam das casas delas, liamos coisas chatas da Bíblia e aqueles textos mela calcinha que mandam por email, aqueles de auto ajuda e lições de vida. Era legal, apesar de perca total de tempo.

Mas voltando a crisma, eu batia muita punheta quando tinha 15, 16 anos. Tipo, às oito horas da manhã tinha que estar na Igreja para aguentar a professera (?), a doutrinadora falando baleiês. Mas eu acordava às 07:30 e só não ficava irritado por ter que acordar cedo no domingo para ir a igreja, porque acordava de pau duro. O que eu fazia? Tocava uma ali na cama, me limpava com o tapete, e como os jatos eram quentinhos. Entrava para o banho para tirar o futum da porra, saia de casa às 8:01 para chegar lá na Igreja às 08:14 pingando de suor, logo não adiantava tomar banho. Eram só sete quadras, mas as quadra de Goiânia só não são piores que as de Brasília em largura, porque comprimento são piores.

Era bom apesar do sono e do calor, primeiro porque eu gozava, segundo porque eu tinha que pular aquela parte chata de ficar em pé, esperando todo mundo fazer um pedido, um agradecimento e para o final rezar aquele pai nosso, ave maria, vinde anjo do senhor e enchei o coração dos vossos fieis, já que chegava 14 minutos atrasado. Paia é que na hora de ir embora, dali 46 minutos, iam começar tudo de novo.

Lá na crisma eu aprendia umas coisas interessantes e muito verdadeiras (sic), do tipo, é através do caminho das pedras que se chega a redenção ou porta larga vai para o inferno e a estreita para o céu. Que sorte os esfomeados do Nordeste têm eu pensei, eles vão todos para o céu, porque além de morrer cedo, viviam nessa vida difícil que infelizmente não podíamos fazer nada.

Uma coisa também era falada na crisma e eu lembrava dela toda vez antes de ir para as reuniões, que dentro do meu corpo mora um pombinho, digo, que o meu corpo é morada do Espírito Santo. Por causa disso eu não podia bater punheta, porque meu corpo não me pertencia, era da pombinha lá… e não do pintinho, e a pombinha é contra punhetar a casa dela. Eu pensava nisso na hora da punheta, Deus tava olhando o que eu tava fazendo na ganhola do ES e eu ficava com peso na consciência, mas… gozava.

Ah sim 2004! Primeiro ano do Ensino Médio, chovia bem em novembro, tinha trocado farpas com a minha mãe que me achava, e ainda devo ser, um adolescente “rebelde” e fui para o último retiro espiritual da crisma. Lá rezei muito, abracei muito minhas colegas. Naquela noite eu achei que eu seria digno das graças de Deus e me tornaria heterossexual. Nada feito, passei a noite em claro porque tinha muitos pernilongos. Chegou no final, do retiro, abrimos cartas. Meus pais, meus catequistas, meus padrinhos, que sequer eu bem os conhecia, e nem conheço, havia me mandado cartas. Aí eu chorei, chorei, chorei, chorei e chorei.

E daí que a gente fala assim, ironiza as coisas, mas o importante mesmo quando fazemos isso é que não nos damos conta. As cartas naquele dia serviram para eu ver que a gente ama sem se dar conta. Até que num por de sol de domingo, numa chácara a 50 Km da capital, você percebe que foi tudo rápido, que tudo valeu a pena, que não sabia que as pessoas gostavam tanto de você. Mas o mais louco é saber que nem a gente próprio sabia que gostava tanto dos outros assim, de olhar para a cara do colega e chorar e abraçar e ter medo porque sabe que as coisas estão acabando por ali. É, aquele retiro foi bom, eu curti muito chorar naquele dia. Chorar me fez sentir bem menos pior, bem mais humano.

Uma semana depois eu crismei, acho que bati punheta no dia. Veio a minha madrinha de crisma que eu sequer escolhi para ser minha madrinha, lá de MG. Sabe quando antes das pessoas casarem e ter filhos, elas prometem aos amigos que eles serão padrinhos dos filhos? Foi esse o caso da minha mãe essa madrinha. Bem, também achei minha crisma meia boca. O Arcebispo não estava lá e crisma chique tem bispo, arcebispo para eu que moro em uma capitarrr eu sou mais chique. Mais chique que isso, só se fosse chique de Paris, mas para isso o bispo teria que ser francês.

Enfim, boa noite Brasil.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre esse blog

Quando eu criei esse blog, em 2007, eu tinha 18 anos. Na época eu escrevia bem menos, e acho que pior, do que escrevo hoje. O que queria na blogosfera, e ainda com o título Sempre Avante no Nada Infinito, era falar da minha sexualidade ainda não tão resolvida como pode ser hoje.

Sempre soube que eu era homossexual e lá por volta dos 18 anos, numa viagem para o interior de São Paulo, no marasmo que trazia o banco traseiro do carro em uma rodovia entre Uberlândia e Uberaba, eu resolvi finalmente ser homossexual. Sei lá como, eu tinha mais dúvidas do que certezas.

Os 18 anos foram por assim dizer, o ano da mudança para mim. Agora de um dia para o outro eu sou adulto e em algumas semanas vou fazer o que sempre quis, dirigir. Agora eu me revolto com a obrigação de ter que me alistar ciae se definido fosse, servir ao Exército, o que me faz saber que eu sou dono do meu próprio nariz, mas não do meu único corpo. Além disso, entro na Universidade que é um mundo em que não só o cheiro do ar é diferente, por causa do laboratório de anatomia humana e da grama, mas também a forma de falar, explicar e acreditar no mundo. Agora eu decidi que não vou ser o que eu passei a minha vida toda querendo me tornar, heterossexual, porque eu nunca fui. Agora estou realmente incorporando e entendendo os que foi falado naqueles 18 meses de terapia.

Então criei, depois de uns dois meses, esse blog aqui. Tentei sintetizar tudo aquilo que estava acontecendo comigo. Quis falar de mim mesmo, da minha sexualidade, das minhas consciências ou o que hoje acho simplesmente ingenuidade minha naquela época e o que morro de medo de saber no futuro que o atual também possa ser. Certo era que eu queria acertar e colocar através das palavras o que eu estava sentindo e o que idealizo.

Creio que nunca tive sucesso com isso. Creio que nunca consegui porque o que eu escrevo é muito idealizado. Me perco muito escrevendo, abro muitos parênteses, sou repetitivo e acho que explico muito. Idealizo inclusive a forma como vocês vão ler e receber isso. Ou em outras palavras, me antecipo aos leitores.

Hoje dá mais prazer escrever porque sei que tem mais gente para ler e saber que sou lido. Isso satisfaz o desejo implícito de ser ouvido. Mas gosto do que escrevi no passado, do jeito errante, apesar de que me indago como pude escrever algumas coisas. Também fico contente por saber, que embora eu escreva o mesmo parágrafo inúmeras vezes, que embora eu demore uma hora para escrever coisas de se ler em três minutos, em mais linhas do que o necessário, eu sou idealista e tenho minhas utopias, se é que devo tratar o que pretendo alcançar como utopias.

Mas se bem que esse blog existe é por causa disso mesmo, ser ouvido. E ser ouvido não é só a consciência de saber que alguém vai ler e meia dúzia de gatos pingados, apesar que o Gato de Cheshire aparece pouco por aqui de tempos para cá, vá comentar, créditos ao Paulo Braccini por ser quem mais me prestigia com os seus comentários. Ser ouvido, e logo o que quero aqui, é ser saber que alguém entendeu o que quis dizer, que mesmo que não concorde comigo, o que eu tenho dito vai fazer pelo menos alguma diferença, mesmo que seja para dar mais convicção, a alguém que pense diferente de mim.

Então é por causa disso que escrevo e delongadamente contra a religião, contra Deus, contra o pastor Silas Malafaia, a favor dos direitos civis, a favor da Dilma e do PT e porque acho que homossexual não deve votar em partido de quem é contra PLC 122. E por isso que as vezes escrevo aqui, eu acho que nem eu entendi realmente o que eu falei. Sabe, é que eu sou ruim com ensaio. Da preguiça escrever o mesmo texto duas vezes.

Bem, vou continuar escrevendo aqui por causa de tudo isso que eu acredito, pelos mesmos motivos de quando escrevi no passado, embora agora tenha mais coisa diferente e eu saiba muito de quando comecei isso aqui. Algumas vezes escrevo com esses títulos parecidos, apenas parecidos, com texto de filosofia porque acho bonito se parecer Cult e filosofia é Cult.

É, não é cair em parafuso e nem crescimento em espiral. Em parafuso horizontal significa para mim, ir para algum lugar, que pelo visto nem eu sei o que é e onde fica.

P.S.: Agora sim eu fui metablogueiro.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sobre mim

Eu também falo sozinho, ganho prêmios no banho, o frasco de Garnier Fructis para cabelos normais é o meu Oscar, Troféu Imprensa, o meu Nobel, o meu qualquer coisa. Ganho muitos prêmios e concedo entrevistas e participo de debates sobre temas diversos. Falando sozinho eu sou alguém ponderado, amado e pop. Todo mundo quer assistir aos meus filmes, ir aos meus shows, assistir as palestras que costumo conceder no banho.

As vezes imagino que estou no Roda Viva e a duchinha, aquela que tasca água geladinha no cu e eu adoro, é o meu microfone. Eu costumo dar má respostas nos meus imaginários sabatinadores e costumo ser elogiado por eles. Eu faço de conta que estou ao vivo em uma cidade qualquer e vou fazer link ao vivo com outro jornalista de um lugar qualquer. A minha esquizofrenia é tamanha que fico sem áudio, peço para aumentar o retorno, indago se o problema é na Embratel ou reclamo que meu teleprompt está desligado.

Eu sou louco e tenho vergonha de dizer isso. Isso o quê? Que eu sou louco? Não, de dizer as coisas que me faz sentir louco. Todo mundo diz que é louco, mas só pessoas como eu digo o que minha esquizofrenia faz eu fazer para eu me tornar louco. Eu sou esquizofrênico? Nem sei. Nunca fui ao psiquiatra a psicóloga disse que em geral eles não são muito legais, nem mesmo certos. Será que é implicância entre as profissões? Não sei, mas eu não me sinto normal.

Não sou normal mesmo, minha mente é tão louca que eu consigo visualizar pessoas na minha frente. Tão bem, a questão que elas são tão translúcidas que vejo com a máxima nitidez os anúncios na TV atrás da pessoa a minha frente. Quando essas pessoas se tornam visíveis para mim eu danço com elas, algumas vezes discuto e ponho dedo na cara delas. Algumas bem raras vezes me declaro, até para blogueiro.

É isso eu aí, eu sou louco. Mas eu provo porque sou louco, tipo, vocês que se dizem loucos, duvido que fazem como eu faço, conversa loucamente com sabe-se lá quem e acho tudo engraçado, interessante ou melhor divertido. Vocês não fazem o que eu faço.

Um dia fiz um desses testes da internet,tipo da revista Capricho e descobri que sou louco, mas o meu consciente me controla. Como meu consciente está num período de desconstrução das verdades feitas, ou tentando pelo menos ao meu modo, e num espírito de protesto estou aqui escrevendo para vocês, pois quero protestar contra mim, porque eu não gosto de mim.

Sabe, eu sou chato, falo demais. Sou irritante e arrogante. Por isso quando vou falar sozinho falo com todo mundo. Só não falo comigo. Dá última vez que conversei comigo eu prometi a mim mesmo que escreveria esse texto aqui, confessando essas coisas todas. Eu não acreditei e disse que eu não teria coragem de fazer isso, porque eu sou covarde, molengão. Mas eu vim e escrevi isso aqui para tirar com a minha própria cara.

Mas eu sou inteligente, eu poderia me filmar falando sozinho, ganhando os meus prêmios no banho, mas como eu sou inteligente, sei que jamais conseguiria me enganar. Eu posso enganar outras pessoas, mas eu jamais. Na primeira tentativa eu denunciaria a mim para mim mesmo. Além d’eu não ser capaz de enganar alguém tão inteligente quanto eu, vocês pensaria que seria uma encenação. O que não é verdade.

Pra convencê-los, precisaria eu inventar uma prova mais factual da minha insanidade. Mas como tenho dito, é difícil. Porque é difícil eu conseguir me incriminar sem fazer eu mesmo perceber. Ainda mais difícil eu conseguir colocar aqui para vocês. Tudo que eu faço, eu também faço, na mesma hora, do mesmo jeito na mesma sincronia.

Bom, para, essa meta autoconsciência já não tá tão divertida assim.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sobre Religião – outra vez

Cada vez que eu leio as sessões de cartas dos leitores, os comentários sobre essa matéria, os torpedos SMS escritos em português sofrível exibidos no rodapé da tela da TV, eu me assusto. Sobre o meu susto, ele não é porque o que escrevem lá seja para mim inesperado, aliás, eu não sou ingênuo e tenho plena consciência de que é aquilo o que as pessoas pensam dos homossexuais. Eu me assusto porque cada uma daquelas manifestações são tapas de uma realidade que me detesta e não se importa comigo.

Então eu me pergunto como assim e questiono qual o prazer e qual a ameaça que as pessoas vêem para dizer tudo aquilo. Mas de toda maneira, o que acho mais asqueroso nessa realidade é apresentá-la como algo nobre e bem intencionada, um benesse ameaçada pelo simples fato d’eu existir e querer viver em paz. Pior ainda são as explicações, esdrúxulas e contraditórias, dadas para convencer que sou como sou porque quis e pelo simples prazer de provocar polêmica que pensam eu ter.

Na verdade eu odeio religião e é ódio mesmo, de sentir raiva quando falam bem delas, porque bem não existe ali. Se Deus existe e se ele é infinito de amor e inteligente, provavelmente ele não gosta das religiões. Mas é mais coerente acreditar que Deus não existe, pois se ele existir, ele deve estar ocupado com coisas que ele julga mais importantes do que as pessoas ou não deve estar se importando ou sequer tem o poder que dizem que ele tem para modificar tudo isso.

Se Deus existir, ou melhor, se eu fosse Deus, pelo menos esse Deus igual ao que dizem por aí, o Deus que é sábio, é infinito de amor e que se preocupa com as pessoas, que supõem serem importantes para mim já que são minha imagem e semelhança, eu acabaria então com as religiões. Como, eu não sei. Mas sendo eu o Deus tão poderoso, tão inteligente e tão amoroso, eu daria um jeito de acabar com as religiões e ia começar pelas mais institucionalizadas, pois para mim, elas que são as mais perigosas.

Eu odeio religião, principalmente as mais institucionalizadas, essas aí que a maioria dos brasileiros segue e que a maioria dos brasileiros briga por causa delas. Não existe bom senso nesses templos, nesses sacerdotes e pastores, apóstolos, missionários e seja lá o que for que quiserem chamá-los. Não existe bom senso nas boas obras delas, sequer podem ser chamadas de boas. Eles, sacerdotes e afins, nada mais são do que os pilares da loucura que é a religião, da maldade passada como amor que é a religião, a versão contemporânea dos fariseus. Os exemplos existem como as pencas de bananas, um deles é o debate a respeito da PLC 122.

Ontem, logo quando meu pai chegou do serviço, ele começou a zapear na televisão os canais abertos e parou no programa do iconográfico Carlos Massa, o Ratinho, de onde se ouvia os berreiros de uma voz familiar, a do Pastor Silas Malafaia, misturados aos berreiros de uma massa, não o Ratinho e sim o do seu auditório, manipulado por um regente tacanha, que aos gritos extaseados emitia sua opinião, desde já ignorante como há de ser para com temas diversos.

Mas o interessante é porque Silas Malafaia gritava e dizia as coisas que dizia. Malafaia é pastor da igreja Assembleia de Deus, ali convencionada como a maior religião protestante do Brasil, e indignado esbravejava contra a Lei da Mordaça Gay, terminologia de efeito que é como essas pessoas gostam de tipificar as coisas para demonstrar o deboche que possuem, também conhecida como PLC 122.

Silas Malafaia fazia bem naquele lugar o papel dissimulado que faz os homens de Deus e suas religiões, o papel de defender a sociedade dos males, ainda não esclarecidos, vindo dos homossexuais e a liberdade de expressar abertamente a sua opinião preconceituosa, que eles insistem chamar de conceito. Um conceito equivocado e destilado a todo tempo pelas religiões por meio de seus líderes como verdade suprema e inquestionável baseada em meias verdades maquiadas como Ciência, essa que, conforme a conveniência, ignoram e ou desprezam para legitimarem os seus delírios da fé.

Silas Malafaia disse que homossexualidade é escolha, mas não explicou qual o prazer que os homossexuais sentem em ser diferentes daquilo que é pregado como certo e esperado. Silas Malafaia disse que a homossexualidade não é uma questão genética, pois cromossomos existem dois, o masculino e o feminino, como se gênero fosse sinônimo de sexualidade, tema incógnito para qual ele se apressa para fazer juízos de valores.

Bem, Silas Malafaia estava ali demonstrando apenas um dos motivos que me faz pensar nas religiões como câncer social. Em nome do que elas fizeram e fazem, as pessoas acreditarem, matam e matarão inúmeras pessoas. Graças a elas, as religiões, direta ou indiretamente, na medida em que se sentem ameaçadas e ignoram e ou rejeitam, quando em nome de suas questionáveis boas causas, sãos complacentes para com os abusos cometidos contra as vidas humanas, não poderá dizer que tem ali alguma causa nobre.

Mas religião é assim mesmo, é o que eles pensam e pronto, melhor ainda quando são a maioria e estão mais organizadas, porque aí que impõe mais e atribuem aos outros que reclamam seu espaço e a equiparação de direitos, o que a todo momento provam que são elas quem estão fazendo. O pior nisso tudo é que eles ainda ganham a credibilidade social.

Não me peçam para admirar a religião, eu nem considero as exceções porque elas não mudam o por assim dizer, de modo geral. Não admiro as religiões porque elas são para mim apenas um atentado secular e de um tempo remoto, contra a emancipação humana, vestida na pele de cordeiros e de pastores.