quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Carregando...

Esta não é a primeira vez que tento fazer um blog. É a quinta se não estou com as contas erradas. Antes, não levei os outros blogs adiante porque eu tinha apenas a vontade de tê-los. O que escrever não fazia a menor idéia. Tanto é que acabei falando da vaca verde e dos seus fãs provincianos que pintaram a cidade, provinciana também, na cor de seu ídolo. Agora creio saber o que dizer, assim sendo então, um blog de conteúdo. Vamos lá então.


Eu não leio o tanto que tenho vontade de ler, por que é difícil de encontrar um livro que seja suficientemente interessante para eu chegar até o fim de sua história, mas recentemente li um livro até famoso, o Admirável Mundo Novo do inglês Aldous Huxley. A obra é uma ficção onde o protagonista da história, Bernard Marx, é um sujeito que tem tudo o que acharam necessário. Porém, Bernard era insatisfeito com tudo. Como diria Raul, Bernard se perguntava "e daí?" depois que se olhava no espelho e se sentia um grandessíssimo idiota, humano, ridículo, limitado que só usa dez por cento da cabeça animal. Por isso me identifiquei com Bernard, com Raul também, e uso o nome dele como meu pseudônimo.


Eu tenho 18 anos, muitos dizem que estou no começo da vida e tenho muita coisa por viver. Pode até ser, e tomara mesmo, mas fato é que nesse tempo todo que já vivi me senti desperdiçado. Acho que não fiz nada a mim que no final eu pudesse realmente dizer a mim mesmo "valeu a pena". Também acho que não fiz nada ao mundo, mas creio que ele não tem feito muito por mim, e quem sabe por assim ser não merece que eu faça algo a ele. Eu tenho uma grande mágoa com o mundo. Eu sou filho único, meus pais nunca se preocuparam em saber o que eu tanto desenhava, nunca disseram que estava bonito. Não me deixaram ir a rua brincar com as outras crianças, tive que ficar dentro de casa vendo teve. Não gostavam muito de quando ocupados, mesmo com as mais fúteis das futilidades, de me dar ouvidos. Sempre me mandava ir ver televisão. Felizmente eu fui persuadido na grande maioria das vezes pela Tv Cultura. Imaginem só eu vendo Dragon Ball?


Na escola, nos primeiros anos não tive muitos colegas. Nem um de ficar conversando o tempo todo, de sermos unha e carne, de sentar sempre perto. As pessoas riam de mim, caçoavam de mim, faziam piadinhas de mim. Faziam isso com todo mundo, mas eu aceitei a opressão. Assim fiquei com um complexo de insegurança e de me fazer ser aceito pelas pessoas. Precisava disputar e conquistar a atenção e a devoção delas. Tudo isto para não me sentir sozinho. Acho que ninguém melhor do que eu sabe o que é ficar sozinho e/ou se sentir entediado. Creio que por ser filho único.


Para isso, fui criando uma fachada para atrair das pessoas estima e atenção. Não deu certo, nem sempre deu certo. Comecei a desenvolver um complexo tosco de ser vitima, fui chorão e fraco. Tanto emocionalmente quanto no critério físico. Apanhei muito na escola. Por medo de levar esporro dos alunos mais fortes, risadas das meninas por eu ser um besta, um bobão, para as professoras não debocharem de mim por eu nunca ter conseguido uma boa caligrafia, pela minha letra ser sempre a mais feia. Não bastava ser legível, quem deveria me amparar me criticou, me deu insegurança por uma coisa que nem para mim e nem para as outras pessoas faz tanta diferença. Também tinha medo por nunca ter entendido qual a vantagem de escrever tudo colorido. Para as pessoas sempre conversarem comigo fui desenvolvendo o complexo de me achar mais inteligente do que todo mundo, exceto a professora. Assim iria ter o ego massageado, seria melhor do que todo mundo por me sentir assim. Na maior parte do tempo até dava certo.

No entanto, o que fiz para mim e para as outras pessoas foi um arranha céu bonito, alto, imponente e digno de vários elogios. Mas não possuía alicerces, fortes fundações. Cada piada, sobre tudo com minha problemática sexualidade, implodia várias pilastras. Cair acho que nunca caí, nem sei que evento poderia figurar como uma queda desse edifício, mas ficava muito abalado. O que fiz foi usar muita tinta para tampar as trincas da fachada e ignorar os problemas na estrutura, nos alicerces, na parte interna do edifício. Somos idiotas por ser assim, somos bestas, bobos, bobões. Clodovil, olha só de quem fui lembrar, falaria também que somos feios por ser assim. Diga-me alguma coisa que é pensando na suspensão e no boa realmente pelo o que ela é por fora. Os carros são projetados de dentro para fora, motor, os cereais e leguminosas são bons não pelas suas espigas e vargens, mas sim pelo valor nutritivo e sabor de suas sementes. Os grandes edifícios são construídos de dentro para fora, pelos alicerces.


Desisti desse edifício, desisti de ser grande e imponente para as pessoas. Edifícios são complexos, sistemáticos, caros e difíceis de serem mantidos. Gosto mais das casas, simples, fáceis, tudo se resolve com facilidade, possuem tudo o que é essencial e não tem o condomínio. Nas casas só pagamos por aquilo que usamos, aquilo que queremos para nós e não o que os outros querem. É isso que tenho tentado ser. Até o ano passado eu era heterossexual, até a metade desse ano comecei a teclar com alguns homens, saí com três dizendo ser bissexual. Semana passada disse para minha psicóloga que sou gay. Ela não acha a palavra gay ideal por está carregada pejorativamente, também penso assim, e acho que não gosto muito da palavra. Estou satisfeito por finalmente não mentir mais para mim. Se me desfiz do arranha-céu e estou construindo uma casa, ao decidir ser sincero, vendo o que eu sinto de verdade e optar por esse sentimento, foi o mesmo que escolher se vou querer uma piscina no meu refúgio ou um painel com uma piscina pintada.