segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ao sabor do vento...

Foi o último dia do ano, viajei com meus pais durante a tarde. A cidade dos meus avós como sempre estava mais quente do que aqui. Eu já pressentia que os meus próximos dias seriam um tédio, no entanto menos melancólicos do que em casa e com meu esforço para que as coisas não fossem piores do que elas seriam.

 

Ao chegar, cumprimentar, com beijos e abraços a crianças menores, chegando a segura-las no meu colo. Entrei, estava inclusive quem eu não esperava na varanda. Cumprimentei a todos com apertos de mãos, abraços, alguns com beijos e pedidos de benção, um ritual que acho maçante e desnecessário, mas preciso para que não reparassem a minha “grosseria”.

 

Fazia muito calor, eu transpirava sem parar, estava com uma roupa pesada. Uma grande nuvem cobriu o céu que se via dali e choveu em fortes gotas, com trovejos durante minutos. O suficiente para acabar com o calor. Meu ânimo foi melhorando e nisso minha prima chega acompanhada pelo seu marido e pelo pirralho do seu filho. Mas foi o quarto elemento que me chamou a atenção, o seu cunhado.

 

Rapaz branco com aproximadamente 1,80 m, corpo magro, definido, veias saltadas, olhos castanhos. Já tinha visto ele outras vezes, umas duas sendo uma na minha casa, porém nunca dei muita atenção para ele. Ele me cumprimentou assim como todos os desconhecidos ou pouco conhecidos que ali estava. Sua mão era grande, forte, ligeiramente áspera, deve ser o custo por aquele corpo torneado.

 

Conversava com as pessoas, mas olhava para ele instantaneamente, notava que ele brincava inclusive com o pirralho do filho da minha prima. Aquelas brincadeiras nas quais ele mede força com o menino, imobilizando puxando-o pelos pés. Ele olhou para mim umas duas vezes, mas nada demais. A principio ele é heterossexual, mas certeza eu não tenho, vai saber, ele poder ser um armariado também.

 

Mas ele não ficou muito tempo, estava na casa dos meus avós de passagem, não deu para empreender uma relação mais próximas a não ser os diplomáticos apertos de mão da chegada e da saída. Aquela aparição, aquela disponibilidade no meu alcance de vista foi o suficiente para provocar em mim uma série de coisas. Fiquei melancólico, me sentia ridículo e tosco por causa da presença dele, um anseio de impressioná-lo de alguma forma, enfim.

 

Na noite do dia seguinte, estava sozinho. Ninguém para me chamar para balada, cada um cuidando de suas vidas, os mais velhos jogavam compulsivamente Douradinha, Douradão, Truco, entre outras modalidades do baralho. Meu tio roncava de tão profundo o sono que o especial do Renato Aragão na TV provocava. Fui para cama, ouvia música, o tédio ficou ainda pior quando a minha bateria acabou. Tenho uma impressão de que a bateria desse aparelho eletrônico não dura o suficiente.

 

Mas o clima não se resumiu a isso. Estava entediado, solitário em meio a tantas pessoas, a noite estava quente e eu transpirava um pouco. Mas o mais irritante era os meus pensamentos, eles se alternavam entre pensar em homens que eu nunca vi, não conhece, mas que passo o tempo a imaginar, desejar e o cunhado da prima, na idealização de circunstâncias com ele, das mais banais até as mais carnais. Sentia algo na barriga, na garganta, mente transbordada e já estressada em tanto pensar nas mesmas coisas. Não queria ficar ali trancafiado imaginando.

 

Levantei-me, coloquei o mp4 para carregar, peguei carteira, desliguei o celular. Sai passando diante das pessoas para que elas me vissem e perguntasse aonde eu iria para que de forma ríspida eu respondesse que não sei, embora se elas não me perguntassem ainda sairia no lucro. Odeio ser interrogado, sabatinado sobre onde vou.

 

Sexta feira e rua vazia, olho para o céu com poucas nuvens e muito mais estrelado do que o da capital. Caminhando lentamente o corpo vai se refrescando mesmo com a atividade física. Algumas pessoas na rua me deixam menos a vontade com minha introspecção, mas sigo em frente. Os agroboys vão passando em suas picapes equipadas com potentes equipamentos de sons, ouvindo com qualidade prejudicada seus estilos populares tão rejeitados pelos que se denominam cultos.

 

Agroboy, sei de um que está na mesma condição e carência que eu, mas que está muito longe de mim. Tinha vontade de que alguém com seu perfil passasse por ali em uma semovente com diesel intercooler e começasse a conversar comigo e sei lá como, tudo aquilo acabasse em algo bem carnal, luxuriante e claro, bem discreto e seguro. Outrora imagino o cunhado da prima como um desses agroboys ou mesmo o outro distante agroboy.

 

Mas fui andando, bom de cidade pequena é que em poucas quadras chegamos a ala nobre dela, embora meu avós morem no início de uma.  Aprecio o silêncio das ruas e percebo as diferenças de fragrâncias. Um leve cheiro de alho e frango, um repugnante odor desses caminhões que carregam gado quando não se sente o da vinhaça que vem da usina. Mas o melhor sãos os odores dos perfumes, sobretudo masculinos, muito abundantes nesses templos protestantes. E penso no cunhado, em um agroboy com um cheiro cítrico leve, mas também gosto dos emadeirados.

 

Ao passar diante de um banco, do outro lado da rua passa um rapaz, alto, branco, bem vestido, trajando preto e boné, deve ter no máximo 22 anos. Ele olha, eu ao notar o olhar não correspondo. Sei que nessas cidades encarar demais algum cara é em geral sinônimo de elogio para mãe e em casos mais intensos, agressão física, o que não é interessante para ninguém ainda mais para mim que sou um pamonhão. Não encaro também por causa da vergonha e do medo de olhar e ser correspondido, o que me tiraria ação. Arrependo-me por isso e fiquei com vontade de olhar para trás.

 

Lá no centro, onde as coisas acontecem olho os belos exemplares em seus possantes rebaixados ou naquelas que são o meu sonho de consumo, as camionetes. Acho ótimo aquele olhar safado, de terceira intenções que fazem esses moços que bem poderiam ser para mim. Mas por mais que eles estivesse vontade, não daria. Cidades pequenas as línguas são malignas, pior do que é na capital que os exagerados chamam de provinciana, mas sem porquê.

 

Nessa cidade, como em muitas existe uma praça central. No entanto a Igreja e a agência do Banco do Brasil não ficam lá, mas respectivamente na primeira e na segunda rua acima. Mas a cobertura da Vivo é certeza, tanto em GSM/EDGE como em CDMA 1xRTT. Nessa praça, uma voz conhecida me chama por um apelido carinhoso que há muito não ouço. Olho, primos de segundo grau e amigos, alguns da capital também. Me perguntam com a típica hospitalidade interiorana o que eu fazia perdido ali.

 - Andando a toa apenas.

- Chega aí, pede uma coisa pra beber.

 

No fundo eu gostei de ser flagrado na minha introspecção, não era a companhia libidinosa que eu desejava, mas sim fraterna. Quanto ao cunhado, pensava nele constantemente.