terça-feira, 2 de setembro de 2008

As brincadeiras de criança

Tenho um primo mais velho pouco mais de um ano. Até alguns anos atrás, não faz tanto anos assim, eu possuía uma relação muito próxima com ele. Essa relação nasceu no período em que meus tios moraram com ele em nossa casa enquanto a casa deles aqui, na Região Metropolitana, não ficava pronta. Assim sendo desenvolvemos uma relação muito próxima. Brincávamos o dia todo um com o outro. Eu era o mais comportado e o mais manhoso, ele o mais atentado e agressivo.

Brigávamos muito também. Eu sempre apanhava, aliás, acho que apanhei de praticamente todo mundo. Embora meus tios tenham se mudado para a casa própria deles assim que foi a eles possível, a minha relação de proximidade com esse primo não se abalou. Claro, não era mais como antes que por morarmos debaixo do mesmo teto éramos quase irmãos, mas continuamos próximos dando seqüência a um processo.

Na minha casa ficou um vazio mesmo assim, era normal que ficasse. Com a ausência desse meu primo, quando eu tinha por volta de dois ou três anos, mudou-se para a rua transversal a minha casa uma pessoa que supriu a falta do meu primo e é hoje o meu melhor amigo e quem será uma das próximas pessoas para qual eu planejo contar da minha condição.

Mas voltando ao primo, principalmente depois que passamos a morar em casas diferentes começamos a "brincar de médico". Não lembro a primeira vez em que eu joguei. Mas sei que a iniciativa e quem "me iniciou" no jogo foi ele. Nas vezes eu era bobo, ingênuo, ou melhor, inocente mesmo. Não tinha malícia, pois nunca tive contado com sexo, não sabia o que era transar, o que era sexo.

Nas brincadeiras lembro-me do pênis ereto, das chupadas, da saliva que ficava com uma consistência diferente e nojenta, das cutucadas. Eu não sentia prazer, eu não sabia estimular o meu pênis e acredito que meu primo também não, o dele tampouco o meu. Lembro também da proibição, tudo o que fizéssemos era nosso segredo. Os adultos não poderiam saber jamais, aquilo era errado, não era coisa de homem, era coisa de mulherzinha, Deus castigava e principalmente, apanharíamos. Acredito ser isso o começo do imaginário do sexo como algo sujo e o homossexual ser inferior por se "assemelhar" a mulher no imaginário dos adultos, até mesmo das próprias mulheres.

Brincando de médico, posso dizer com segurança, que eu aprendi muitas coisas. Está certo que o fundamental mesmo fui aprender na adolescência de N modos, todos eles normais penso eu. Aprendi muito sobre anatomia masculina, a minha anatomia, ao ser examinado e examinar o meu primo. Era aquele jeito que eu encontrei para conhecer meu próprio corpo, sem notar é lógico, pois não podia tocar o meu corpo, era feio, sujo, errado, papai do céu não gostava.

Dessa proibição, outra coisa que aumentou muito o meu medo de brincar de médico, seja com quem for, foi um evento ocorrido na minha casa, na Copa de 1994. Tínhamos um casal de vizinhos que possuíam um filho da minha idade com quem fiz amizade. Com esse amiguinho brinquei de médico também, ele me dava umas "dicas" que eu passava para o meu primo que me dava outras que eu passava para o meu amiguinho. kkk.

Um dia veio esse meu amiguinho junto com o pai dele a minha casa para assistir o jogo do Brasil contra não me importa quem. Eu já brincava com ele, ficaram os adultos na sala e nos dois pela casa brincando de N coisas. Quando criança tanto eu como meus amigos quando estava com vontade de mijar falava na lata que ia fazer xixi e alguém ia para mijar também. Eu disse ao meu amigo que ia fazer isso então e fomos os dois para o banheiro. Fizemos o que tínhamos para fazer.

Então ele fechou a porta, isto é, encostá-la sem nem ao menos encostar no batente e travar a maçaneta, coisa que não alcançávamos. Então ele começou a passar a mão na minha bermuda e tirou o pênis dele que já tava duro, era maior do que meu e branquinho também. Eu já tinha sacado e os feromônios já estavam me deixando ereto. Então começou o chupa-chupa, daí foi passar para o troca-troca. Na hora de começar eu fiquei como passivo e ele como ativo (aeh?).

Passado algum tempo, não tinha naquela época noção de tempo e a porta abre de uma vez e minha mãe olha para nos dois que subíamos os calções envergonhados, assustados. A cara da minha mãe não gosto de lembrar nenhum pouco, muito menos descrever. Lembro que passado alguns instantes tava o meu amigo brincando com minhas coisas até o momento em que o jogo acabou e nisso o pai dele chamou ele para ir embora. Nesse tempo minha mãe ficava me fazendo perguntas para mim num canto da cozinha, me dava tapas na boca, eu chorava, e quando eu chorava ela me batia, eu respondia ela me batia, eu me calava ela me batia.

Quando o meu amigo foi embora com o pai dele lembro que minha mãe me deu muitas cintadas, ela dizia para o meu pai o que tinha acontecido. Não lembro de como meu pai se posicionou sobre. Ele não falou nada eu acho, deveria pensar ele que aquilo era normal. Acho que se fosse ele que tivesse me visto lá ele teria dado uma bronca e feito que nada tinha acontecido. Mas eu indago tudo isso pois se ele fosse tolerante, sei lá, achasse normal ele teria me defendido das agressões da minha mãe e dado uma lição de moral de descascar aroeira como as vezes dá na minha mãe.

No acho fim, acho mesmo que meu pai foi um cúmplice do que minha mãe fazia comigo. Não tinha ninguém ali para me defender de quem eu acreditava, e acredito ser ainda, os meus heróis. Não havia psicólogo, pedagogo, conselheiro tutelar para me defender, para impedir o assédio moral que minha mãe estava provocando em mim. Será que se Deus estivesse lá ele também me bateria ou sendo ele alguém infinito em amor e misericórdia me defenderia no colo dele.

Fiquei muito constrangido, humilhado com o episódio. É a primeira vez que eu penso já com a ciência de uma pessoa adulta que eu devo ser sobre o que aconteceu, tentando justificar algo. Será que minha mãe me bateria se fosse eu que tivesse comendo o meu amiguinho? Será que dá pra eu revelar para minha mãe, para o meu pai a minha condição tendo em vista aquilo lá? Minha mãe nunca demonstrou ter mudado de opinião.

Me sinto ofendido e irritado, também invadido e cobrado, quando eu entro no meu quarto e vejo 12 camisinhas sobre a minha cama, colocadas por minha mãe, como as que eu encontrei essa noite.

Neste instante me sinto nu por expor algo que por tanta vergonha, tantos tabus eu escondi desde os meus cinco anos de idade. Acho até bom, me sinto aliviado compartilhando o que eu guardo a sete chaves. Me pego até ligeiramente emocionado.