sexta-feira, 30 de maio de 2008

Enfim...

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sábado, 10 de maio de 2008

Coração em Stand by

E então aqueles 17° que dizia a previsão da internet ficaram então mais glaciais. A noite além de fria tornou-se insuportável. A escuridão lhe tocava o corpo e o envolvia em uma nuvem de agonia. O sono não chegava, a inquietude era fato. Estava inconformado. Não acreditava no que estava se passando. Pensava e pensava sobre as possibilidades, as palavras ditas, as situações vividas. Se apegando aos sentimentos aquilo se tornava irreal, mas a razão lhe convencia do contrário. Aquilo era tão real e estava ele lá, deitado de bruços, soluçando ao mesmo tempo em que estava abraçado ao travesseiro, assim como um mendigo caído na sarjeta abraçado a sua trouxa de imundices, que ninguém quer, na esperança de não se separar delas.

Os pensamentos eram borbulhantes e lhe provocava o tédio, a angústia, a frustração, a dúvida, a esperança. Pensava no que vira na internet minutos antes. De fato foi ignorado. Tentava não mais pensar naquilo, ecoava em sua cabeça estridente os “esquece” escritos por vários naquela janela de Messenger certos da veracidade do que também viram. Esquecer que jeito? Não é fácil. Ele ainda alimenta esperanças.

Pensou no primeiro dia que viu o perfil do menino na comunidade de relacionamento. A foto o fazia crer numa beleza atraente. Sentiu se mais cativado quando leu naquele perfil o nome da cidade do menino, a mesma do agoniado. Aquilo lhe potencializava esperanças por algo mais efetivo, por mais remoto que fosse. Um dia a coragem, adicionou o perfil do menino novo na comunidade. No dia seguinte a felicidade, fora aceito. No embalo daquela confirmação envia ao perfil seu contato para o Messenger. É adicionado e em um dia os dois conversam muito. A conversa é inocente, pura. Eles compartilham os mesmos medos, receios, opiniões e esperanças. Eles vão se encontrar pessoalmente, está combinado.

Um dia quente e úmido de verão que inusitadamente não chovia. Na biblioteca, olha por entre as prateleiras, encontra o livro, procura o outro nas prateleiras próximas de onde aquele menino da comunidade disse que estaria. Identifica quem seria ele enquanto não encontra o outro livro. É real o receio por uma possibilidade de engano, mas ele chega e se apresenta. É correspondido com um sorriso e um aperto de mão amistoso e convidativo. Puxa a cadeira, encara a beleza do menino da comunidade que é sem sombra de dúvidas mais bonito do que nas fotos, coloca o livro sobre a mesa e começa os dois a falar.

Estavam em horário de verão e já era 18h00min daquela tarde onde Hélio ainda irradiava seu calor e sua luz branca sobre Gaia, mesmo assim pegou seu livro e disse que precisava ir embora, um desempregado não tem muito que fazer fora de casa em um horário que seria em tese noite. Foram juntos a loja de conveniência do campus, o rapaz do livro comprou seu bilhete eletrônico e junto com o novo amigo andou até o ponto mais distante possível para poderem conversar mais. Chegou o ônibus e se despediram apressados para quem fosse embarcar não perdesse a condução.

Em casa estava melancólico. Ouvia no mp4, que não era seu, Inverno, da Adriana Calcanhotto e projetava na memória o rosto do menino da comunidade, os trejeitos, a voz, o sorriso. Não estava com o computador em casa, sofria de angústia para falar com o menino. Os dias se passaram e outras vezes se encontraram na biblioteca da Universidade e muito descobriram um do outro. O menino da comunidade era do interior e estava na capital enquanto aguardava o resultado de aprovação da universidade. A amizade se consolidava, um recado de última hora avisa que o novo amigo estava voltando para a sua cidade, não daria para ficar na capital, não fora aprovado pela universidade. Vão lá e tem os dois a última conversa pessoal e com a mesma intensidade de sempre. Embora não aparecesse, Inverno ecoava na mente do menino da capital e lhe dava uma melancolia, uma leve dor de despedida. As idas a biblioteca daquele dia em diante lhe dava uma nostalgia e um talvez saudosismo.

Então começam os dois a se falar com mais freqüência de tudo o que é possível no Messenger. Logo aquele menino lá do interior, tão admirando pelo da capital por sua beleza, pelo jeito simples, humilde, otimista e humorado, começa a dar sinais de uma afetuosidade, embora desejada pelo outro, desacreditada. Sim, desacreditada estava no começo, mas então, o menino da capital começa a corresponder e apresenta seus signos, o frio na barriga, o Flerte Fatal do Ira!, o jeito mais melancólico e afetuoso de se dirigir, tudo mais. As trocas de elogios, as declarações de sentimentos, certamente verdadeiros por parte de um deles, os planos, os assuntos, as conversas são mais intensas e freqüentes. Tudo caminha tão bem.

Um dia o menino do interior tem uma queda de conexão e não retorna mais na mesma noite. Na outra retorna, explica o que aconteceu, mas novamente cai e não volta na mesma noite. A terceira e ultima noite não foi diferente, exceto pelo critério de que o menino do interior não voltou mais na quarta. A semana estava só começando. O menino da capital religiosamente estava logando até altas horas esperando por quem uma série de reações provocava em seu corpo. O medo começou a ficar mais constante, a ansiedade também, mas as possibilidades, as mais agonizantes estavam descartadas... ainda. Então o sumido aparece, conta uma história que justifica o sumiço. O jeito de contar a história, de referir ao outro e tudo mais continuam iguais. Nada de diferente exceto o cansaço que fizera o menino do interior ir dormir mais cedo mas com a promessa feita de voltar a sempre estar disponível ao seu amante.

A promessa não foi cumprida. O menino da capital toma sua ação, deixa seus recados no perfil do seu afeto. Logo pistas começam a se escancarar. Os seus recados deixados a ele estavam sendo ignorados, como se não tivesse sido deixados, e seu amante sempre, até mesmo nos mesmos horários estava logando e respondendo a todos. O sentimento ainda rege a alma do garoto da capital, mostra o detalhe a quem espera sinceridade, a mais dura se possível, e todo mundo sai proferindo “esquece”, esquece aquele que não é corajoso suficiente pra não assumir nem a ele mesmo o que sente e brinca com seus sentimentos. A letargia domina o corpo a mente, leves soluços. Despede-se e vai tentar dormir. Mas não dorme, apenas lamenta e enrijece o coração e a desconfiança.

Obrigado meus amigos por me apoiarem na minha angústia.