sábado, 3 de outubro de 2009

Do melhor amigo II

Hoje no começo da tarde voltava a pé para casa, vinha de uma reunião de estágio. De repente um motoqueiro para ao meu lado, o que serviu para me assustar já que uma vez um deles me deixou no mínimo constrangido.

Mas ainda bem, era o meu melhor, talvez, amigo perguntando se eu estava afim de terminar a caminhada até a minha casa ou se preferia subir na garupa e chegar até ela de moto. Eu escolhi a carona, mesmo que eu não estivesse de capacete.

Bom, a carona foi boa, mas não tão bom quanto poder conversar um pouco com ele, mesmo que breve. Acontece que isso serviu para dar ao resto do meu dia um clima de melancolia.

Gosto muito desse amigo, como amigo, e houve um tempo de nossas vidas que passamos muito do nosso tempo junto, fazendo uma infinidade de coisas, principalmente as mais caseiras como jogar baralho, xadrez e assistir a filmes, nenhum pornô que fique bem claro.

Esse foi, eu acho, o período de nossas vidas em que nossas relações foram as mais estreitas. Hoje ficou diferente, as coisas não são mais como eram antes. Vou pouco a casa dele, nos falamos pouco, nos vemos pouco também.

Uma coisa que mudou muito o meu semblante e garantiu por dias um sono mais leve, foi ter dito a ele que sou gay e ter da parte dele uma reação que se não foi a melhor, foi no mínimo muito boa. Ter dito a ele que sou gay parece não ter provocado nele nenhuma mudança, ele continua agindo naturalmente comigo, é sempre solicito, hospitaleiro e lembra de mim para favores que ele retribuí havendo a possibilidade.

O que parece ter mudado foi a minha segurança quanto ao amigo. Existe em mim uma insegurança quando na presença dele de haver alguma atitude minha, por mais que seja natural, que acabe provocando algum mal entendido, no sentido dele se sentir assediado.

Ele é muito inteligente, crítico, sabe que nossas convicções em muitos casos, como as sociais, são construídas, são relativas e por isso não expressam bem a realidade ou simplesmente não expressam. Mas não sei, tenho medo mesmo assim.

Uma coisa eu já percebi, ultimamente tenho adotado uma conduta mais reservada com relação a ele, embora eu queira me aproximar. Na verdade é medo meu.

Bom, aproveitei a melancolia para dormir no final da tarde, acordei mais melacólico ainda sentindo falta, saudade, de não sei quem. Um vazio que não é só por causa desse amigo, mas por causa de todos.  Isso pouco muda no decorrer do tempo, pois tenho cada vez menos lugares para ir com os amigos.

Não posso negar também que sinto falta do que nunca tive, alguém para contatos mais afetivos e íntimos. Sinto falta disso, mas não é apenas disso, é um mix de tudo mesmo.