quarta-feira, 9 de abril de 2008

Aberto Para Balanço

Fazendo um balanço, concluo que o ano de 2007 foi um ano bom. Primeiro, eu cheguei a Universidade, e pública. Segundo, completei minha maior idade, iniciei o processo para emissão da minha carteira de motorista. Vivi durante um bom tempo na esperança de ter um estágio em um lugar que me trouxe coisas boas. E quarto, mas o primordial, foi um ano em que eu lentamente comecei a olhar para mim mesmo e vi que definitivamente eu não sou heterossexual.

Nesse processo a terapia ajudou, as palavras daquelas pessoas ativistas do movimento LGTB ajudou, alguém daquele lugar onde passava as minhas tardes - sem saber, sem querer, por mais distante que fosse de mim - também ajudou. O processo não é o mesmo para todas as pessoas, não corre na mesma velocidade para todos, não começa na mesma hora para todos.

Primeiro me via como bissexual, uma mentira que eu insistia em dizer, eu não estava me aceitando totalmente. Ainda existia culpa por ser o que eu não escolhi ser e estava cansado de lutar contra, no que tange a Deus, algo pecaminoso, desprezível, errado, mal. Mas depois pensei sobre Deus e em outra postagem vocês podem ver o que eu penso dEle. Finalmente, lá no final do ano conto para a terapeuta, "Sou Gay!".

Aquele momento foi intenso. Sentia-me nu, constrangido dum tanto. Era como se eu tirasse minha máscara e mostrasse o meu verdadeiro rosto. Porém era bom, era como se eu me livrasse também de correntes, algumas grades e tivesse então um espaço maior e mais bonito para correr. Digo isso, pois afinal de contas, eu quero um latifúndio para eu viver e nao viver dentro de um armário para sempre.

Lógico, a terapeuta já sabia que eu sou homossexual, nem ela e nem eu gosta muito da palavra gay. Eu fico impressionado com a psicanálise por causa do fato da gente falar muito coisa que não pensa não estar dizendo. Ela, a terapeuta, só estava esperando chegar O MEU TEMPO, para contar a ela, para confirmar a ela. Mas o principal mesmo, a hora primordial, foi eu ter me aceitado. Quando me aceitei não foi como se eu tivesse tirando o mundo das minhas costas, mas pelo menos a Austrália. Aquilo tudo ali me aliviou dum tanto. E falar para ela foi como se eu tirasse quem sabe a Antártida.

Aceitação da condição sexual. Aceitar a condição sexual começa por aceitar a si mesmo e entender que ninguém é culpado por algo que não é que não é sua culpa, até mesmo porque a própria condição sexual não foi escolhida por nós mesmo. Não se sentir culpado por algo que não é controlável. Esses desejos, sexuais principalmente, que vem a nós não são controláveis. Isso é o principal, não podemos aprisionar massacrar a nos mesmo se temos amor próprio.

Bem, o êxtase da confissão na terapia já passou. Hoje fico me indagando se não dá para eu contar para mais alguém sobre a minha condição sexual. Isso vem de uma necessidade que eu tenho de contar para as pessoas que eu acho importante para e que merecem saber. Não acho que devemos gritar ao mundo quem somos o que somos só porque as pessoas em seus casulos predestinados acha isso anormal quando é tão natural. Que heterossexual se apresenta como heterossexual para um desconhecido? "Oi, meu nome é fulano eu sou heterossexual". Eu não sou diferente dos heterossexuais.

Bem fica ai minhas óticas e minhas expectativas. A música é Primeiro de Julho, foi composta pelo saudoso Renato Russo, quem canta é a saudosa Cássia Eller em seu Acústico Mtv. Nossa, como esse Brasil já teve gente boa na música né? Ainda tem é claro, mas convenhamos, Renato, Cássia, Elis que quando morreu eu nem era nascido, Cazuza, enfim, fazem uma falta tremenda.