sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sobre mim

Eu também falo sozinho, ganho prêmios no banho, o frasco de Garnier Fructis para cabelos normais é o meu Oscar, Troféu Imprensa, o meu Nobel, o meu qualquer coisa. Ganho muitos prêmios e concedo entrevistas e participo de debates sobre temas diversos. Falando sozinho eu sou alguém ponderado, amado e pop. Todo mundo quer assistir aos meus filmes, ir aos meus shows, assistir as palestras que costumo conceder no banho.

As vezes imagino que estou no Roda Viva e a duchinha, aquela que tasca água geladinha no cu e eu adoro, é o meu microfone. Eu costumo dar má respostas nos meus imaginários sabatinadores e costumo ser elogiado por eles. Eu faço de conta que estou ao vivo em uma cidade qualquer e vou fazer link ao vivo com outro jornalista de um lugar qualquer. A minha esquizofrenia é tamanha que fico sem áudio, peço para aumentar o retorno, indago se o problema é na Embratel ou reclamo que meu teleprompt está desligado.

Eu sou louco e tenho vergonha de dizer isso. Isso o quê? Que eu sou louco? Não, de dizer as coisas que me faz sentir louco. Todo mundo diz que é louco, mas só pessoas como eu digo o que minha esquizofrenia faz eu fazer para eu me tornar louco. Eu sou esquizofrênico? Nem sei. Nunca fui ao psiquiatra a psicóloga disse que em geral eles não são muito legais, nem mesmo certos. Será que é implicância entre as profissões? Não sei, mas eu não me sinto normal.

Não sou normal mesmo, minha mente é tão louca que eu consigo visualizar pessoas na minha frente. Tão bem, a questão que elas são tão translúcidas que vejo com a máxima nitidez os anúncios na TV atrás da pessoa a minha frente. Quando essas pessoas se tornam visíveis para mim eu danço com elas, algumas vezes discuto e ponho dedo na cara delas. Algumas bem raras vezes me declaro, até para blogueiro.

É isso eu aí, eu sou louco. Mas eu provo porque sou louco, tipo, vocês que se dizem loucos, duvido que fazem como eu faço, conversa loucamente com sabe-se lá quem e acho tudo engraçado, interessante ou melhor divertido. Vocês não fazem o que eu faço.

Um dia fiz um desses testes da internet,tipo da revista Capricho e descobri que sou louco, mas o meu consciente me controla. Como meu consciente está num período de desconstrução das verdades feitas, ou tentando pelo menos ao meu modo, e num espírito de protesto estou aqui escrevendo para vocês, pois quero protestar contra mim, porque eu não gosto de mim.

Sabe, eu sou chato, falo demais. Sou irritante e arrogante. Por isso quando vou falar sozinho falo com todo mundo. Só não falo comigo. Dá última vez que conversei comigo eu prometi a mim mesmo que escreveria esse texto aqui, confessando essas coisas todas. Eu não acreditei e disse que eu não teria coragem de fazer isso, porque eu sou covarde, molengão. Mas eu vim e escrevi isso aqui para tirar com a minha própria cara.

Mas eu sou inteligente, eu poderia me filmar falando sozinho, ganhando os meus prêmios no banho, mas como eu sou inteligente, sei que jamais conseguiria me enganar. Eu posso enganar outras pessoas, mas eu jamais. Na primeira tentativa eu denunciaria a mim para mim mesmo. Além d’eu não ser capaz de enganar alguém tão inteligente quanto eu, vocês pensaria que seria uma encenação. O que não é verdade.

Pra convencê-los, precisaria eu inventar uma prova mais factual da minha insanidade. Mas como tenho dito, é difícil. Porque é difícil eu conseguir me incriminar sem fazer eu mesmo perceber. Ainda mais difícil eu conseguir colocar aqui para vocês. Tudo que eu faço, eu também faço, na mesma hora, do mesmo jeito na mesma sincronia.

Bom, para, essa meta autoconsciência já não tá tão divertida assim.