Aquela foi a terceira vez no dia de hoje que eu repetia aquele trajeto. Andava rápido com passos firmes, as pernas sentiam alguma dor. Havia tomado banho, as gotas da água clorada escorria do cabelo liso ondulado pelo rosto misturando-se ao suor.
Apesar que tenha havido três dias consecutivos de chuva, ainda assim a temperatura estava um tanto quanto elevada, não tanto quanto como a do meu corpo. Suava, o céu estava nublado e dele caiam as gotas de uma chuva fina e insistente, mas que não molharia nada até chegar onde queria chegar em poucos minutos.
O céu era cinza, mas com manchas amareladas em degradê. A oeste, por detrás dos edifícios dos bairros centrais da cidade o Sol se punha e deixava para trás as cores vivas de uma gema de ovo. Ao extremo norte via-se uma clareira e nela um azul celestial profundo rajado com nuvens cirrus.
Descia do céu um ar úmido e fresco, já é outono, e mesmo assim úmido ainda bem e infelizmente não por muito tempo. Junto a brisa, misturado vinham os odores do biodiesiel dos ônibus fretados, do etanal dos carros flex, do salão de beleza do outro lado da avenida, da padaria, da farmácia.
Passei finalmente pela fronte da academia e lá os corpos se esculpiam para se enquadrar num misto de estética e líbido, correndo de um lugar, até lugar algum, sem sair do lugar. Na sargeda o defunto rato vai sendo carreado ladeira abaixo pela enxurrada. O corpo e a enxurrada brilham refletindo as luzes brancas dos faróies de xenon dos carros dos playboys e o amarelo queimado das lampadas de vapor de sódio. Mas na verdade, a enxurrada era vermelha, não pelo sangue do rato, mas pelo avermelhado solo ácido e ferroso do Planalto Central.
Chegando até a esquina, naquela em que o homem estranho me viu, me abordou quadras antes me chamando de bonitinho e convidando a mim para ir a sua casa, quando eu tinha 11 anos. Naquela esquina o bueiro estava entupido em a cadaveríca ratazana rodopiando na água.
Contava as moedas, subia a rampa da estação, embarcava, esperava o ônibus. Lá dentro todos calados, todos sérios, todos olhando para o mesmo rumo, a frente do ônibus onde nada de interessante existe. Naquela hora já havia pensado em escrever isso. Já estava bem escuro e o céu não estava tão amarelado, mas certamente mais que preto claro, estava preto escuro.
No terminal eu desço e agora tem lindos fiscais arianos cuidando do embarque. A todo momento, desde a saída lá de casa até aqui é a trilha sonora do Fabuloso Mundo de Amelie Poulain que ouço em fones de ouvido Phillips suficientemente potentes para abafar os ruídosos motores MWM dos uniformes ônibus VW 17-210 encarroçados pela CAIO Induscar.
Na outra área de embarque, pequenos ensaios de civilização ocorrem quando nós, os animalescos usuários, entramos em fila. Logo aquele veículo fica lotado, um par de macios e abundantes, apesar que a bunda é mais em baixo, apertam a mim por trás. Dessa fez quem faz cara feia sou eu e não a sua dona.
Bem, se você não entendeu esse texto, volte novamente ao título, leia-o lentamente e em seguida leia esse texto pausadamente. Se mesmo assim você não entendê-lo, repita o processo, já que esse agrupados de simbolos gráficos e culturais tem aqui uma mensagem sútil.
Se você entendeu esse texto, bem… não vou falar a conclusão, pois fará perder a graça para os que não entenderam e querem entender.
Prometo escrever algo descente da próxima vez.
Se ficou com raiva, nunca mais chame aos textos do Well de profundos.