quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Daquele amigo


 

Vou contar como era a relação de convivência com esse amigo. Na casa dele não existia televisão em função da religião dos pais dele, pentecostais, e muito menos antena parabólica, equipamento essencial onde moramos para ver TV aberta. Mesmo assim ele gostava de ver desenhos animados e a mãe dele deixava-o vir para minha casa com certa regularidade com esse intuito, ver desenhos animados sem chuviscos e chiados.  Porém, quando ele chegava aqui as intenções dele mudavam. Minha mãe estava em outras partes da casa cuidando de seus afazeres peculiares a uma boa dona-de-casa, coisa que até hoje ela é embora trabalhe fora também. Ficávamos sozinhos, eu e ele, na sala vendo Eliana ou TV Colosso, saudades daqueles programas. Na primeira hora ele se distraía com aquilo, depois ia para outra parte da casa onde ele acreditava que nós não seriamos pêgos, e caso fossemos pêgos poderíamos disfarçar já que ouviríamos quem estivesse chegando a tempo. 

Então ele me chamava como quem não queria nada. Eu, é lógico, sabia das intenções dele desde o princípio, mas preferia fazer o ingênuo, e ia ver o que ele queria. Ele me abraçava, eu não via muita graça naquilo e sentia medo de algum flagrante, que ate então nunca aconteceu. Às vezes ele tentava me beijar na boca e eu sentia nojo, coisa que hoje eu não sinto mais dos homens pelo menos, e não deixava. Roçávamos os nossos corpos. Ele abaixava a minha bermuda e a dele também. Sempre pedia que eu o boqueteasse, coisa que eu fazia às vezes, eu tinha nojo também. A higiene íntima dele não era boa, tinha mal cheiro e esmegma. Eu, aprendi muito cedo a afazer a minha, pois anos antes fiz operação de fimose. Chegava as vezes ele conseguir o que tanto queria, me comer. Está certo, na época era por o pinto na entrada do cu do outro e ficar parado, nem se quer bombava. Eu também comia ele, mas porque sempre via o passivo, talvez pelo machismo que os diversos signos me imprimia, como algo inferior. 


Hoje eu fico pensando onde ele aprendia isso e tão bem. Ele assim como eu só tinha quatro ou cinco anos. A nossa diferença de idade era de alguns meses. Até hoje eu acredito que ele não tinha outro amigo além de mim na época. A família, o melhor, os pais dele na época era humilde, ele dormia no mesmo quarto que os pais dele. Será que foi assim que ele aprendeu? Ou será que foi por instinto? Ignoro. Qualquer especulação que eu faço aqui não tem outra base se não meu errante achismo e não é importante.

Após o acontecido, o desgaste psicológico e físico que minha mãe me fez passar ele voltou a minha casa muitas vezes. Em muitas ele queria ver desenho, outras ele estavam acompanhando os pais dele que eram amigos dos meus. Nas oportunidades, principalmente quando ele via para ver desenho, que ele tinha de ficar sozinho comigo ele continuou a me chamar em algum canto silencioso da casa longe da vista e da desconfiança de algum adulto. Lembro de uma dessas oportunidades, apenas dela, e é a única que me vêm na memória agora. Estávamos na sala, ele começou a andar sozinho pela casa, foi ao quarto de hóspede, me chamou, eu o segui, chegando lá ele abaixou a bermuda dele e já estava com as piroca branca e sacuda dura e mando que eu chupasse. 

Eu não tinha esquecido o que minha mãe fizera comigo dias antes e entrei num pânico. Uma sensação que raramente eu tenho hoje, a última vez que eu tive aqueles sentimentos foi semana passada quando uma louca me deu uma fechada no trânsito. Então eu deixei ele sozinho, voltei para a sala e tentei assistir o que passava. Instantes depois ele veio de volta, sentou no sofá com uma expressão que tinha um misto de raiva, esperanças de que eu voltasse atrás e falta de entendimento dos motivos que me levou a refugar aquilo.

Por mais alguns anos continuamos muito amigos, mas com a escola, o trabalho de nossos pais, a acomodação e N motivos começamos a nos ver com menos frequência. Há muitos anos não frequentamos a casa um do outro, sequer nos comprimentos. Não somos mais amigos. A amizade morreu não por algum sentimento que gera aversão um ao outro, mas sim por falta de estímulo. Se deu pra perceber eu não tomo muita iniciativas, principalmente por timidez, e ele sei lá. Hoje ele é um pouco mais alto do que eu. Anda bem vestido, cheio de apetrechos, eu não gosto mais das minhas camisetas de banda e da funcionalidade. Tem uma cara de bobalhão safado enquanto eu tenho uma cara de "você pra mim é problema seu", não que eu seja antipático, basta apenas um sorriso da pessoa para que eu quebre esse gelo que minha face pode impor.


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Essa música da Pitty está descrevendo um pouco a minha comum e anônima vida.