quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Saindo do Armário.

Hoje, 08 de janeiro de 2009, é uma data que não vou esquecer, ela é um divisor de águas em minha vida. O dia em que finalmente eu parei de mentir para os meus pais sobre o que eu gosto afinal de contas. A coisa foi assim...

 

No meu quarto eu assistia um DVD no computador, ouvi a minha mãe pegando uma carta na caixa de correio. Depois de minutos ela aparece no meu quarto dizendo que não é para eu receber cartas de homens. Eu peguei a carta, coloquei em cima da cama e continuei a assistir o filme, ela sentou-se na cama como se estivesse esperando eu falar algo. O filme acabou e eu olhei para ela que começou a dizer:

 

- Que filme é este?

- Um que eu peguei na CARA para ver e eu escrevo para quem eu quiser!

- Eu não quero que você troque cartas com homens, isso é feio, você tem que escrever para mulher!

- Já que a senhora faz tanta questão assim de saber, eu sou gay!

- Não, você está mentindo, fala que é mentira! (choro)

- É verdade, eu sou gay e o tanto que você chorar eu já chorei.

- Não pode ser, porque você faz uma coisa dessa comigo?

- O tanto que você tiver sofrido eu sofri, não posso mudar, eu sou assim, está na minha pele, no meu sangue. Já sofri muito, eu me aceitei, já fiquei muitas noites chorando.

- Eu criei um homem perfeito, você tem um penis!

- E não precisa ter vagina para gostar de homens, e eu gosto de homens!

- Você já ficou com homens?

- Já.

- Quantas vezes?

- Uma (menti).

- De onde?

- UFG (menti).

- Você nunca ficou com mulheres?

- Nunca e nem tenho vontade.

- Você precisa ficar com uma mulher para ter certeza como é gostoso.

Vontade de perguntar se ela já ficou com uma para poder falar.

- A única coisa que eu tenho certeza é que eu gosto de homens e tenho nojo de mulher, até de beijar na boca eu tenho nojo.

- E você já beijou na boca de homem?

- É lógico...

- Quem foi?

- Esse rapaz lá da UFG (não só dele, mas de muitos outros).

E aí foi passando, passando, ela falando as típicas coisas de uma pessoa com muito preconceito dela e eu rejeitando, fazendo argumentos. Embora não pareça, eu fui amigável com a minha mãe. Entendo que ela é fruto do que meus avós passaram para ela, é uma vítima de certa forma do patriarcalismo, do machismo, das mentiras vendidas como verdades pela religião, do senso comum. Sei que ela tem o processo dela, o tempo dela e fui respeitando isso.

 

Então finalmente ela saiu do meu quarto, eu peguei minha toalha, tranquei a porta do banheiro, tomei banho, vesti roupa com meu quarto trancado também e sai para devolver o filme. Na volta passei na casa de minha amiga, contei para ela, ela disse que viria comigo. E veio, ela é um anjo. Eu amo ela demais.

 

Chegando aqui, estava minha mãe em um sofá chorosa e meu pai em outro, tranquilamente deitado. A Mah, minha amiga, se sentou ao lado dela. Eu disse:

- Meu pai já sabe? (se não sabe vai ficar sabendo agora)

- Sei!

- Ótimo!

Minha mãe entra em choro profundo e a Mah, como um anjo vai repetindo tudo aquilo que eu disse, mas com uma candura, um afeto, uma proximidade muito maior do que a que eu tenho para com minha mãe. Papo vai, papo vem. Meu pai diz que eu não enganava ele, que já havia comentado sobre minha sexualidade com minha mãe, ela ficou irritada com esse comentários. Minha mãe ficava falando de sujeitos que eram apontados, chacotas, do que será de mim. Eu, meu pai e a Mah dizendo que ninguém precisa ficar sabendo.

 

Mas, resumindo a história dá para saber que é com a minha mãe que vou ter paciência. Ela se preocupa muito com o que os outros pensam, na hora de formular qualquer pensamento ela usa os exemplos sempre mal sucedido dos outros e insiste para que eu tente mudar, o que não vou fazer porque já tentei isso antes e não deu certo.

 

Como eu me sinto, aliviado, o meu pai respondeu a todas minhas expectativas. Me respeitou, me elogiou, disse que tem orgulho de mim, citou o exemplo dos amigos que ele tinha na adolescência, da barra que eles enfrentaram. Eu disse que desde sempre senti mais confiança no meu pai.  Bom, estou aliviado, é isso, não preciso mais mentir e nem omitir. Feliz com a reação do meu pai e muito calmo para levar a minha mãe. Estou tão tranqüilo que eu estou preocupado com outras coisas, um emprego, ainda mais em tempos que dada a crise financeira, o meu pai está com o dele ameaçado.