Não sei responder essa pergunta, pois não sei definir o que é armário e então fica complicado responder sobre algo que eu não tenho uma ideia, ou várias delas, formada. Mas, vou tentar seguir um pensamento linear e tentar responder a pergunta.
Ser homossexual, a minha condição sexual, é algo inaceito socialmente pela maioria das pessoas, tanto é que encontramos nelas muita hostilidade contra as pessoas que estão nessa condição. Por não ser aceito, muitas pessoas optam por esconder a sexualidade.
Em um primeiro momento, as pessoas escondem a sexualidade de si mesmo, a pior fase dado aos sentimentos de culpa, frustração, medo e as ilusões que redundam em mais culpa, frustrações e medos. Essas pessoas talvez sejam o que muitos chamam de enrústidos, não reconhecem e não aceitam a si próprias, muito menos os outros homossexuais.
No segundo momento, as pessoas aceitam a si mesmas, mas decidem não compartilhar isso com ninguém e resolvem viver discretamente. Acho que são essas pessoas as que estão no armário. Porém daí surge uma confusão, estar no armário quer dizer que ninguém sabe da sexualidade do indivíduo, mas e quando ele começa a se abrir para o terapeuta, para algum amigo virtual, procura também um outro “não assumido” nesses batepapos e redes de socialização para juntos permitirem viver o que as emoções e razões podem proporcionar através do corpo com a pessoa do mesmo sexo?
Assumir a sexualidade em uma sociedade intolerante, apesar das exceções ou da intensidade da intolerância, não é algo confortável para muitos e a mim, que não sou diferente, não é interessante. No entanto guardar essa sexualidade para si próprio também não é agradável e faz mal. Vejo que é uma escolha entre o ruim e o pior. Com isso notamos que no nosso caso pode existir um amigo para o qual resolvemos contar e dele conseguirmos apoio, o que é tudo de bom. Mas quando isso acontece continua-se no armário?
Depois desse amigo, vemos que temos mais uns dois que podem saber e contamos, eles também nos apóia, e aparece pessoas importantes também, como os pais e os avós, contamos e eles nos apóiam. Seja terapeuta, amigo ou familiar, quando contamos a sexualidade peço segredo, pois não é bom que todos saibam, ninguém quer sentir preconceitos e sou orgulhoso, não quero nem mesmo ouvir dizer que disseram mal de mim pelas costas. Mas mesmo assim, quando isso acontece continua-se no armário? Mas por quê?
Estou em uma fase em que todas as pessoas que eu acho importantes para mim sabem da minha sexualidade e o mais importante, elas aceitam, algumas não tão bem como é o caso da minha mãe, mas deixa para lá. Nessa situação que me vejo encontro uma autoconfiança e confiança nas pessoas importantes muito grande, a autoestima fica elevada, afinal agora não preciso mentir, omitir e sei com quem posso confiar, independente da minha sexualidade.
Acontece que agora também, conforme for o perfil da pessoa, caso ela perguntem a mim a minha sexualidade não será bem o caso de dizer, mas será o de não mentir, de sugerir já que vejo que dela não surge nenhum preconceito. Ainda não foi o caso disso acontecer, mas embora eu tenha um pequeno receio, sei que provavelmente tomarei essa atitude.
De modo geral não sou assumido. A quantidade de pessoas com quem me relaciono diariamente e que me conhecem em vista da quantidade de pessoas que sabem de mim são poucas, são apenas as mais importantes ou aquelas, que constituem um grupo muito pequeno, que a minha sexualidade, como a de qualquer outro, para elas não importa. Também não quero e não devo sair dizendo a quem perguntar a minha sexualidade, isso não é da conta delas, perguntar não quer dizer que elas mereçam ouvir.
Talvez seja melhor eu deixar a sina de usar rótulos para definir as pessoas e dar moral aos tipos que surgem por aí que utilizam deles, mesmo que na própria comunidade do armário, onde sinto em alguns um “naziarmarismo”. Naziarmarismo? A purificação dos armariados, só pode entrar quem está no armário, sendo que a ideia de armário é vaga e indefinida e como quem que parece estar fora do armário consistisse num perigo aos demais, não importa o histórico, o caráter da pessoa e as relações que ela cultivou ali. Impressiona como as pessoas promovem o preconceito do qual são vítimas e nem se tocam.