Uma reflexão sobre a convivência e o amor baseando em fatos.
Quando se mudaram para cá eram um simpático e sereno casal de bons velhos. Retirantes e embora os anos de Planalto Central ainda conservavam o sotaque arrastado do interior do Ceará. A fé protestante se entrelaçava com a humildade, a pouca ciência e achavam tudo biblíco e abençoado, as crianças gritando pela rua, o céu cinza avisando que vai chover. No fundo duas almas leves.
Hoje a velhinha ainda continua com o seu jeito sereno e simpático, mas embora more com a filha caçula e os outros filhos, netos e bisnetos venham visitá-la aos finais de semana, é notável sua solidão e sua carência. Ela não gosta de falar do passado mais como antes, porque quando fala lembra de quem a acompanhou na maior parte da sua vida. Suspira, os olhos transbordam e solidarizo com ela.
Juntos construíram conseguiram só ao final de suas vidas construir uma casa descente e confortável para viverem. De frente a essa casa, quando saio da minha a vejo sentada que ascena e depois continua a olhar para o infinito. Dá a sensação de que para onde olha é onde está ou por onde se chega ao seu velhinho.
Especulo comigo mesmo o que faz alguém como ela sentir tanta saudade dele. Por que embora esses quatro anos da morte dele, ela ainda está a chorar e ainda lamenta? O que tem no céu e porque olhamos para ele quando desejamos ou sentimos saudade? Será que o céu representa visualmente a distância que ela sente? É saudade ou é amor o que torce a garganta e escorre lágrimas? Ou será que a saudade só existe porque existe primeiro o amor?
Se é amor o que ela sente é então o mais nobres do sentimentos. Sei que isso é brega, mas é sincero, desejo ter alguém para que eu possa, mesmo que isso seja dolorido e mesmo que eu queira ser tão racional e acomedido, ter alguém para chorar assim na mais avançada das idades que eu conseguir viver, caso o meu suspiro venha depois.