Cada vez que eu leio as sessões de cartas dos leitores, os comentários sobre essa matéria, os torpedos SMS escritos em português sofrível exibidos no rodapé da tela da TV, eu me assusto. Sobre o meu susto, ele não é porque o que escrevem lá seja para mim inesperado, aliás, eu não sou ingênuo e tenho plena consciência de que é aquilo o que as pessoas pensam dos homossexuais. Eu me assusto porque cada uma daquelas manifestações são tapas de uma realidade que me detesta e não se importa comigo.
Então eu me pergunto como assim e questiono qual o prazer e qual a ameaça que as pessoas vêem para dizer tudo aquilo. Mas de toda maneira, o que acho mais asqueroso nessa realidade é apresentá-la como algo nobre e bem intencionada, um benesse ameaçada pelo simples fato d’eu existir e querer viver em paz. Pior ainda são as explicações, esdrúxulas e contraditórias, dadas para convencer que sou como sou porque quis e pelo simples prazer de provocar polêmica que pensam eu ter.
Na verdade eu odeio religião e é ódio mesmo, de sentir raiva quando falam bem delas, porque bem não existe ali. Se Deus existe e se ele é infinito de amor e inteligente, provavelmente ele não gosta das religiões. Mas é mais coerente acreditar que Deus não existe, pois se ele existir, ele deve estar ocupado com coisas que ele julga mais importantes do que as pessoas ou não deve estar se importando ou sequer tem o poder que dizem que ele tem para modificar tudo isso.
Se Deus existir, ou melhor, se eu fosse Deus, pelo menos esse Deus igual ao que dizem por aí, o Deus que é sábio, é infinito de amor e que se preocupa com as pessoas, que supõem serem importantes para mim já que são minha imagem e semelhança, eu acabaria então com as religiões. Como, eu não sei. Mas sendo eu o Deus tão poderoso, tão inteligente e tão amoroso, eu daria um jeito de acabar com as religiões e ia começar pelas mais institucionalizadas, pois para mim, elas que são as mais perigosas.
Eu odeio religião, principalmente as mais institucionalizadas, essas aí que a maioria dos brasileiros segue e que a maioria dos brasileiros briga por causa delas. Não existe bom senso nesses templos, nesses sacerdotes e pastores, apóstolos, missionários e seja lá o que for que quiserem chamá-los. Não existe bom senso nas boas obras delas, sequer podem ser chamadas de boas. Eles, sacerdotes e afins, nada mais são do que os pilares da loucura que é a religião, da maldade passada como amor que é a religião, a versão contemporânea dos fariseus. Os exemplos existem como as pencas de bananas, um deles é o debate a respeito da PLC 122.
Ontem, logo quando meu pai chegou do serviço, ele começou a zapear na televisão os canais abertos e parou no programa do iconográfico Carlos Massa, o Ratinho, de onde se ouvia os berreiros de uma voz familiar, a do Pastor Silas Malafaia, misturados aos berreiros de uma massa, não o Ratinho e sim o do seu auditório, manipulado por um regente tacanha, que aos gritos extaseados emitia sua opinião, desde já ignorante como há de ser para com temas diversos.
Mas o interessante é porque Silas Malafaia gritava e dizia as coisas que dizia. Malafaia é pastor da igreja Assembleia de Deus, ali convencionada como a maior religião protestante do Brasil, e indignado esbravejava contra a Lei da Mordaça Gay, terminologia de efeito que é como essas pessoas gostam de tipificar as coisas para demonstrar o deboche que possuem, também conhecida como PLC 122.
Silas Malafaia fazia bem naquele lugar o papel dissimulado que faz os homens de Deus e suas religiões, o papel de defender a sociedade dos males, ainda não esclarecidos, vindo dos homossexuais e a liberdade de expressar abertamente a sua opinião preconceituosa, que eles insistem chamar de conceito. Um conceito equivocado e destilado a todo tempo pelas religiões por meio de seus líderes como verdade suprema e inquestionável baseada em meias verdades maquiadas como Ciência, essa que, conforme a conveniência, ignoram e ou desprezam para legitimarem os seus delírios da fé.
Silas Malafaia disse que homossexualidade é escolha, mas não explicou qual o prazer que os homossexuais sentem em ser diferentes daquilo que é pregado como certo e esperado. Silas Malafaia disse que a homossexualidade não é uma questão genética, pois cromossomos existem dois, o masculino e o feminino, como se gênero fosse sinônimo de sexualidade, tema incógnito para qual ele se apressa para fazer juízos de valores.
Bem, Silas Malafaia estava ali demonstrando apenas um dos motivos que me faz pensar nas religiões como câncer social. Em nome do que elas fizeram e fazem, as pessoas acreditarem, matam e matarão inúmeras pessoas. Graças a elas, as religiões, direta ou indiretamente, na medida em que se sentem ameaçadas e ignoram e ou rejeitam, quando em nome de suas questionáveis boas causas, sãos complacentes para com os abusos cometidos contra as vidas humanas, não poderá dizer que tem ali alguma causa nobre.
Mas religião é assim mesmo, é o que eles pensam e pronto, melhor ainda quando são a maioria e estão mais organizadas, porque aí que impõe mais e atribuem aos outros que reclamam seu espaço e a equiparação de direitos, o que a todo momento provam que são elas quem estão fazendo. O pior nisso tudo é que eles ainda ganham a credibilidade social.
Não me peçam para admirar a religião, eu nem considero as exceções porque elas não mudam o por assim dizer, de modo geral. Não admiro as religiões porque elas são para mim apenas um atentado secular e de um tempo remoto, contra a emancipação humana, vestida na pele de cordeiros e de pastores.