sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

1º Dia pós saída

Ontem eu fiquei enquanto dei na internet, quis me distrair com o mundo virtual enquanto desse. O meu desejo foi não ficar sozinho comigo mesmo e em silêncio. Mas chegou o instante que não deu, precisava ir dormir o sono que era tímido. Deitei-me, liguei a TV e passava um filme chato desses noturnos. Desliguei, sentia calor e não parava de transpirar. Para quebrar o clima de velório uma mensagem muito carinhosa do Thor. Uma parede separa o meu quarto do quarto dos meus pais e ouvia os ruídos da minha mãe suspirando. Não me importei com isso, ainda não me arrependi de ter contado e a reação do meu pai é o que mais me faz sentir que valeu a pena.

 

Fiquei assim, também como minha mãe, rolando de um lado para outro, porém não chorava, me sentia aliviado e mais livre, desagradável era o clima psicológico imposto pela minha mãe. Eu ficava apenas usando a razão para enfrentar as emoções e as falas infelizes da minha mãe, que passa pelo seu processo e não cabe a mim mais nada a não ser ter paciência e nenhuma magoa.

 

Pela manhã, bem cedo, ouvia a minha chorar intensamente, ficava resgatando o passado, dizia ao meu pai a criança que eu era na infância, do meu “bilauzinho”. Meu pai dizia a ela que nada disso mudou, eu sempre fui o mesmo e para ser o que sou o corpo não tem nada a ver. E minha mãe falando do que as pessoas vão pensar, do neto que ela não vai ter, ou seja, que exploda a mim e a minha felicidade, o importante é o que a minha mãe quer. Meu pai não falou nada a não ser para ela se apressar e ir para o serviço. Antes de sair ela veio no meu quarto e ascendeu a luz e me olhou por alguns segundos. Fiz questão de demonstrar que eu estava acordado e que ouvi aquilo, ela se sentiu envergonhada e saiu, sei lá.

 

Após meus pais saírem fiquei um bom tempo sem dormir, pensando em tudo novamente, pensando, repensando a mesma coisa. De cansado mentalmente dormir, meu sono foi leve, qualquer coisa era suficiente para me acordar. Resolvi sair da cama, berço de agonia, as 09:30HS. Liguei o computador olhei o blog, a comunidade do Estou no Armário e Daí. Ninguém no MSN, nenhum e-mail interessante, sem notas no sistema, desliguei o PC e fui ver TV, mas me sentia solitário e queria ficar sozinho.

 

Por volta das 12:00HS eu novamente entrei na web, poucas pessoas on line, mas foi para mim uma ótima companhia a do Leo, novato na comunidade, rapaz bonito, da mesma idade que eu, atencioso e inteligente. Fiquei por ali um bom tempo, sair, almocei, limpei a louça, tomei banho e ao sair a mãe da minha amiga chegou querendo falar com minha mãe. Eu já sabia que ela sabia, autorizei a Mah falar. Ela foi receptiva, carinhosa, compreensiva, fez comigo o que a minha mãe não fez. Ela notou que eu já estava de saída e foi caminhando também para o portão, foi dizendo que é para que eu tenha calma com a minha mãe por mais que eu esteja errado. Ao virar a esquina a minha mãe vinha lá, semblante não agradável. Vou usar pseudônimos para os diálogos:

- Está boa Solange?

- Não estou não Tereza (choro e constrangimento).

- Vou voltar para abrir o portão para vocês. Eu disse.

E nisso a minha mãe começa a repetir as mesmas que dizia para o meu pai, só não a esperava dizer que preferia chorar em cima do meu cadáver do que eu seja homossexual. Calma, muita calma eu pensei. E disse que estava indo. Queria sair logo. Na metade do caminho até o ponto de ônibus e dentro dele, eu sentia um frio na barriga, raiva, vergonha, me senti uma pessoa ruim. Sei lá, parece que a minha prefere que eu seja um Lindenberg ao que eu sou, um Daniel Cravinhos, ou um moleque bem vestido que vi outro dia roubando um boné de um senhor. Certamente meu coração batia mais do que 70 vezes por minuto, não sei quanto, mas batia muito mais.

 

Mesmo que em meio a multidão me sentia só. Queria, quero, ter a companhia a todo o momento de alguém em quem eu possa confiar e segurar a minha mão. Mas num pensamento bem judaico-cristão é através das pedras que se chega a redenção, o jeito é enfrentar a situação sozinho e num momento me vejo otimista, começo a acreditar que tudo vai ficar bem. É só dar tempo ao tempo, quero tanto que esse dia seja na verdade um dia qualquer daqui um mês. Quero sair logo dessa situação, por mais que eu pense que as coisas vão ficar bem.

 

Cheguei em casa, ainda bem que a Tereza, mãe da Mah estava aqui, falava de trivialidade de pessoas da idade e do perfil delas e outra hora começavam a falar de mim. Minha mãe começou a citar a história de uma moça lésbica que conheceu quando ainda grávida de mim. Dizia a mãe da minha amiga que a moça foi rejeitada pela família, do envolvimento com drogas e que ela e meu pai apoiaram essa moça, só não sei porque ela repete a coisa para mim.

 

No fundo acho desagradável relembrar e escrever, porque é sofrer duas vezes, mas a minha mãe disse a mãe da minha mãe coisas que ninguém nunca disse para mim, coisas não agradáveis. Ela com medo das pessoas me humilharem e constranger e no entanto, ela quem faz por isso. Não consigo parar de pensar nisso. A mãe da minha amiga foi embora, disse coisas boas para mim, minha mãe chorou, me abraçou, me senti desconfortável e senti de repulsa de abraçá-la quando disse que Deus é maior e para ele nada é impossível. Não precisa explicar não é?

 

Os minutos seguintes foram ruins, minha mãe fazia coisas em casa suspirando e eu freneticamente trocando de canal. O clima só se quebrou quando o meu pai chegou. Tudo bem então... cá estou na web a postar como o meu dia foi até o instante momento.