Sem querer ser um sofista, mas já sendo, a vida é feita de escolhas. Algumas escolhas são complicadas e decidir o que se fazer, ou não fazer, a respeito dela demanda muita razão, muita paciência e porque não, muita emoção. Outras escolhas são simples, muitas vezes tão simples que nem penso que ela é uma escolha.
Mas enfim, algumas escolhas, mesmos que simples, acabam criando em mim, seja na razão, seja na emoção, um dilema fudido. Não são raras as vezes que eu estou entre a cruz e a espada, a cruz de isopor e a espada de espuma.
Ganhei uma semana para escolher entre o sim e o não, e escolhi o sim para a parada gay. Parece simples, mas não é. Para mim foi complicado e confesso que ainda estou com vontade de voltar atrás e dizer não. Porém resolvi seguir a propaganda da Visa, que passou no tempo do a vida é agora, e não colecionar NÃO’s.
Decidi jogar algumas das coisas para cima, questionar, quebrar destruir mesmo que as vezes isso possa fazer mal ou falta, mas se vai, falar agora não passa de hipótese, de possibilidade. Enfim, eu decidi que vou parada gay, ou não.
Vou tentar ser breve, o que dúvido que vou conseguir, e explicar um pouco da minha trajetória de vida e o meu passado recente, ou será que é médio? Assim pode ser que alguém entenda a minha subjetividade e dê um conselho que tornará o meu caminho reto, plano, duplicado, sem radares eletrônicos e taxista, aquela classe filha duma put… que é isso que eles são.
Bom, quando criança eu já me sentia atraído por homens, pelo menos pela estética deles e depois sexual e emocionalmente. Com as mulheres o processo não se repetia da mesma forma, aliás, não se repetia. Fui crescendo em meio a ignorância do que acontecia comigo, em ambiente culturalmente nada propicio, com mistificações – palavra nova que aprendi usar e acho chique – a respeito da homossexualidade e o principal, a homofobia.
Naturalmente, eu que não sou alheio ao meio, fui incorporando isso, os preconceitos, a homofobia e zaz. Além dos prenconceitos desenvolvi medo de ser identificado como homossexual, e o que mais me marcou para agir assim foram o bulling que sofri na Escola, os preceitos religiosos que já defendi com veemência e o assédio moral e a violência física que sofri da minha mãe quando ela me encontrou brincando de médico, com um outro menino da minha idade.
Cresci com medo de ser o que sempre fui, homossexual, e de ser identificado como tal. Acredito que isso tenha servido apenas para atrapalhar o meu processo de autoentendimento e autoaceitação. Quando me autoaceitei, próximo aos 18 anos de idade, passei a não ter mais vergonha de mim para comigo mesmo, mas das outras pessoas sim. Cheguei até comemorar a revelação da sexualidade a terapeuta, que lógico que já fazia ideia a um bom tempo.
Hoje da vergonha me resta menos. Não fico constrangido ao falar da sexualidade com outros amigos que sabem e, conforme for, eu até a sugiro em alguns lugares em algum contexto. O que não gosto é que as pessoas que não conheço ou não confio saibam da minha sexualidade, não é da conta delas e acho isso íntimo, ainda mais quando as reações hostis mais do que factuais, são comuns.
Ir até a parada gay é identificar a minha sexualidade, ou sugerir j á que nem tudo que reluz é ouro, aos que por lá estiverem ou passarem. Pessoas com as quais não tenho intimidade, não tenho delas respeito em virtude da devoção e por aí vai.
Também não tenho incorporado totalmente algumas coisas. Algum tempo atrás escrevia neste blog falando do meu armário, situação que acho legitíma, e agora já estou falando de eventos que não combinam muito com quem está nessa condição.
Mas para quê ir até a parada gay então? Quero conhecer o evento para dizer se gosto, para dizer se é bom ou ruim, para colecionar a experiência, matar a curiosidade, para criar um discurso coerente.
Nunca confiei nesses julgamentes publicados na grande mídia criando uma mentalidade negativa a respeito do evento, pois sinto existir uma intencionalidade heteronormativa, até no “sou contra a parada mas respeito os homossexuais”. Ao mesmo tempo acho que tem homossexual que se rendeu a esse discurso mal intencionado quando o adota sem conhecer o evento.
Acho que devo ir ao evento, apesar que tenho comigo o velho pensamento do que os outros vão pensar de mim. Também acho que devo ir para mostrar a mim mesmo quem está no comando da minha vida, se é eu ou o que os outros pensam de mim. Eu deixo de fazer muitas coisas por causa dos outros e o mundo e o tempo são meus.
Chato, chato mesmo só vai ser dizer a minha mãe que eu vou a parada e querer que ela fique numa boa com isso. Ela vai chorar, ela vai berrar. Eu não vou chorar, mas berrar com ela eu vou.
Mas eu juro que vou a parada gay, só não tenho certeza.