quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A sorrir Eu pretendo levar a vida Pois chorando Eu vi a mocidade perdida.

Mas os últimos dias não foram de todo mal apesar da peculiar baixa emoção das minhas horas. Meu pai desempregado e eu prometo a mim mesmo que não vou fazer da vida e das coisas um inferno para dizer que eu estou vivenciando um.

A noite em claro, apesar que não estivesse eu sentia calor e não dormi. Assim levantei-me e propondo sair antes do combinado cedo do dia para a casa dos avós no interior, desperto os senhores meus pais de seus sonos.

O Sol só foi aparecer quase chegando por lá, veio amarelo como a gema de um ovo de galinha caipira e teve o cheiro desagradável da vinhaça dos canaviais. Aliás, até de madrugada é possível sentir o odor da vinhaça trazido pelo vento fresco de sudeste, mesmo que a casa dos meus avós esteja no grande centro da cidade de 30.000 habitantes.

Imagem 016

Chegando a casa da avó uma ‘manada’ de cães estão a cachorrar em seu portão e se assustam com o carro que chega por ali. Um desses vira latas mais baixotinho no desespero se atropela socando-se debaixo do carro. Ali no banco de trás meu rosto é apreensivo e eu estou desesperado, os grunidos do cão são altos e eles despertam uma compaixão que me faz sentir humano, porém sem ser iluminista.

O mundo saiu de minhas costas quando o carro dá marcha a ré e o cão, de inteligência canina, saí correndo rumo a praça de logo ali aparentando estar apenas assustado e não muito machucado. Ótimo para mim que não dormi na última noite, mas que anseio um sono leve.

Mal chegamos e vamos para outra cidade para colecionar mais uma experiência para a série “Parentes distantes e do sítio que eu não conhecia”. Alguém percebe o rolo de papel higiênico em minhas mãos após uma crise de espirros provocados pelo resfriado. Então insistem para que eu tome remédio, o que eu odeio.

- Você está com febre?

- Não. (apático)

- Você está com dor no corpo?

- Não. (mais apático)

- Na garganta?

- Não.

- Com febre?

Respiro fundo e digo – Não.

- Com o quê? (Aí me dou conta que o jovem balconista da drogaria é bonito).

- Com coriza e espirros. (Mas cuida você bem de mim e nem se preocupe com esses senhores, meus pais e avós, eles sabem de mim e é só o que eu penso)

- Você toma um desses a cada oito horas, pode tomar um agora, vou pegar um copo d’água para você.

Ele volta com um copo e eu com cara de obrigado volte sempre digo que bebi o comprimido a seco.

E teve comida com gosto de roça, o morro agudo de fato era agudo e o celular não pegava. Ótimo, não ia ligar para ninguém e como esses primos distantes são feios. Eu durmo no banco de trás ouvindo a trilha sonora da novela, porque dormi na casa dos outros, que são meus parentes e nem sabia, é estranho. E o sono é bom, saí aquele suorzinho gostoso da testa e eu fico tão melancolico. A vida é boa sim.

Na hora de volta para casa dos avós eu levo o carro porque meu pai está um pouco etílico e com lei seca dirigir com pomba na cabeça não pode. A estrada é foi recém recapiada, as retas são retas além de longas. Em 5ª marcha na casa dos 3000 rpm vão se 100, 110, 120 e a minha avó no banco de trás começa a me reprender. Gente mais velha não gosta de emoções.

Tudo bem, isso não foi muito divertido, aliás, não é. Isso no caso é tudo, ficar a noite em claro, viajar de madrugada, atropelar cães, alto medicar, tratar com desdém o balconista que é bonito, achar os parentes feios e extrapolar por enquanto em 20% a limite de velocidade.

Fiquei entediado o tempo todo depois disso é verdade, ouvi música, não tive saco para ler, liguei para o Mário no Infinity. Isso foi bom, as peripecias dele na web com minha senha do MSN e do Twitter também. Também foi bom que ele leu os comentários deixados por vocês aqui no blog para mim. O “amigo” da cidade do interior não leu em tempo meu recado em off e fico sem alguém igual a mim para conversar ali. Prometo não deixar para última hora e salvar todos telefones em todos chips.Imagem 010

Em Goiânia é quarta feira, o céu está nublado, não vai chover, pelo menos não fede vinhaça. Embora quase 15:00 horas no Horário Brasileiro de Verão as onzeoras estão floridas e um pé de quê não sei também tiro foto delas.

Mas sabe, prometi que não ia pensar negativo e ia deixar o tempo agir. Ele agiu e os tempos de vacas magras duraram apenas duas semanas. Nunca estive com a autoestima tão elevada por ser brasileiro. Entramos por último no crise, saímos primeiro dela e como se não bastasse ela dura duas semanas na minha versão doméstica.

E viva o aumento do crédito, dos prazos e do financiamento da casa própria. Viva o Reuni também, que embora destrua a Universidade Federal de qualidade, tem obra para se tocar e empregar meu digno pai. Nhá, voltei a ser bonito também.