quinta-feira, 3 de junho de 2010

E o bullying

Bullying consiste em agressões verbais, físicas, morais, psicológicas. A vítima e o agressor estão inseridos numa relação onde existe desigualdade de poderes sendo a vítima, lógico, o mais fraco. Além disso a vítima se sente desassistida, é coagida a ficar calada, em outra palavras, ela sofre silenciosamente. O bullying está presente em vários ambientes, é uma fenômeno mundial e em muitos países, inclusive nos mais desenvolvidos, acontece no ambiente escolar.

Eu também fui vítima de bullying, não sei se é comigo, mas na minha concepção meus colegas, principalmente os meninos, pegavam pesado comigo. Eu era xingado, agredido, tentava me relacionar com os agressores, mostrar que eu poderia ser um bom amigo, mas eu não conseguia. Bem, a fase que eu acho pior foi entre a sexta série do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A oitava série foi a mais crítica.

Eu tinha ódio dos meus colegas, hoje não, mas saiam para lá que eu não gosto de vocês. Os motivos que eles pegavam no meu pé, falar sobre eles ainda me dão vergonha e acho melhor deixar isso para uma outra fase. Sim, porque o bullying me causa vergonha, embora eu tenho racionalizado que não seja motivo para tal. Mas razão é uma coisa, emoção é outra.

Embora eu fosse vítima de bullying eu também o praticava. O bullying abaixava a autoestima da gente e uma forma levantá-la era abaixando a autoestima dos outros. Sim, uma grande bárbarie. Bem, não sei, mas meu bullying nunca surtia os mesmos efeitos e eu tinha o superego aflorado, ou seja, respeitava as regras e não porque as pessoas.

Existiam dias que eu não queria ir a escola. E eu já havia contado para a minha mãe, ela dizia para eu xingar meus colegas também. Meu pai dizia para eu ignorar, porém ignorar não era fácil assim, quando eu andando pelo corredor era alvo de bolas de papel ou chutes de quatro moleques. Só faltava ele falar para eu bater em quatro meninos maiores do que eu. Meu pai nunca falou isso, mas a minha mãe já. Louca!

Queria que meus pais fizessem alguma coisa, mas eles não faziam. Diziam que iam a escola, mas não iam ou então diziam que não poderiam ir até lá porque trabalhavam, porque minha mãe chegava cansada da trabalho, enfim. A vez que mais fiquei com raiva também dos meus pais foi quando um menino me xingou de bicha e como ele era do mesmo tamanho que eu taquei um soco na boca dele. 

Bem, na verdade foi assim, o soco foi bem dado, ele ficou chorando e com a boca sangrando, as colegas foram conso-lá. A professora disse que deveríamos resolver as disputas no diálogo e com o perdão e fez com que nós dois nos abraçassemos. De certa eu gostei disso, porque eu estava com medo de ir para a sala da Elmiuce, a coordenadora pedagógica, e arcar com as consequências que os outros alunos nunca arcaram. Eu já sabia que o mundo naquelas ocasiões sempre conspiraria contra mim, afinal, everybody hate the Well.

Mas eu fiquei com raiva dos meus pais porque no dia seguinte quem vai lá na escola não para conversar com os professores, mas sim para “conversar” comigo, a mãe do moleque que eu bati, meus pais nunca fizeram o mesmo por mim. A mulher disse que se eu batesse no filho dela de novo ela iria na Secretaria de Educação, denunciaria a mim, aos meus pais que eu amava mesmo assim, a direção da escola e os professores. Bem, o filho dela podia chamar os outros de bicha e bater neles quando bem entendesse e eu não podia me defender não é?

Dizer aos professores, eu também já pensei, mas eles faziam vistas grossas, não sabiam lidar com o tema, faziam aqueles discursos do tipo que eu tenho que aprender a lidar com meus problemas, que pedir para os outros resolverem meu problema nunca me ensinará resolvê-los.

Enfim, meu problema não era problemas deles e nem da escola? E o que afinal de contas é resolver os próprios problemas para essa gente? Pegar uma arma, levar para a escola e atirar em todo mundo? Virar o primeiro caso brasileiro noticiado de school shoteer? E eu já pensei nisso, existiam dias que eu não queria ir a escola, a segunda feira me dava medo não porque era segunda feira, mas porque eu sabia que dali durante cinco dias eu seria agredido, xingado, perseguido. Então eu pensava  e se eu tivesse uma arma?

Hoje na Universidade estudando sobre school shooters e bullying eu entendo perfeitamente o lado dos atiradores. Tiravam boas notas, eram diplomáticos, tratavam todos bem, mas ninguém via ou se recusava a ver que eles eram oprimidos, que os colegas os agrediam. Resumidamente, por isso que eles entravam na escola e matavam as pessoas.

É muito certo que o bullying influenciou no meu subjetivo e não influenciou boas virtudes. Parte da minha insegurança, do meu ódio ao meu corpo, enfim, vem de lá certamente. Eu sei o que é bullying na pele do oprimido que não é de todo inocente, mas na tentativa de se defender quando sabe que não pode contar com a ajuda de ninguém acabam fazendo o que nem sempre é o melhor como também praticar bullying, agredir os colegas, fugir da escola, odiar os dias da semana ou até mesmo matar as pessoas com armas. A diferença é que Datena não é chique como a CNN.

Mais ridículo nisso tudo era ir a Igreja, as reuniões da juventude missionária e ouvir coisas do tipo ofereça a outra face, perdoe os seus inimigos. A minha questão não era oferecer a outra face, aliás, eu nem precisava oferecer a outra face. Perdão é algo bom realmente, mas não confunda perdão com indugência e nem pense que ele é algo que venha assim, do nada. Para mim perdão é trabalhado e demora, vem quando a pessoa consegue. Ridículo, quando lembro da Igreja, d’eu pedindo a Deus para me ensinar a perdoar, para fazer os outros alunos pararem de me agredir, sei o quanto que fé é algo ridículo, Deus é ridículo.

O próximo que falar que é através dos caminhos das pedras que se chega a redenção vou mandar tomar no cu.

Deus e nem ninguém me ajudou, o primeiro porque existiu só na minha consciência de me achar incapaz e acreditar que preciso de algo maior e mais forte para resolver os problemas que são humanos, materiais, e na consciência dos outros. O segundo, enfim, é o que tem para hoje.