Na ocasião de se abrir a porta do armário para os pais, meus avós também ficaram a par da minha “nova” sexualidade. Fui saber disso depois porque é fácil unir os pontos e ver a figura que se forma assim que o tempo passa, ou nem tanto como foi o caso. Bem, tão discretos como eu gosto de ser com relação a minha sexualidade, os meus avós também são com o que diz respeito da ciência dela. Acho ótimo, mas mesmo assim fico com receio.
Como de praxe, vamos para a casa dos meus avós no interior do estado. E lá vem sempre os comentários de quando eu casar, de quando eu tiver filhos. Me incomodei muito mais com isso no passado, hoje deixo levar, embora isso não resolva o problema e seja para mim apenas um jeito acomodado para tratar do mesmo. Quando perguntam sobre namorada, sobre quando eu casar não falo mais do que o necessário para que acabe emergindo um assunto diferente e eu seja esquecido.
Mesmo assim, as píadas ambíguas, e não de cunho com a sexualidade, incomodam. Agradeço muito aos meus avós pela forma discreta como eles agiram com relação a minha sexualidade e a forma serena e natural, que sempre tiveram, para me tratar. Mesmo assim, sei lá, somos brasileiros e meus avós, assim com a família num tem uma cultura que, digamos, seja da autocrítica e da mais aberta a essas coisas “novas”. No fundo, assim sendo, tenho receio de quê eles se esqueçam do que eu realmente sou em um dos seus comentários, bem como entusiasmados.
Sabe, também no fundo fico até com dó dos meus pais, que tem um único filho e o único filho não é heterossexual. Eles se empolgam com filho de oito meses do meu primo, que é um ano e pouco mais velho que eu. Filho, sei lá, tenho até vontade de ter, um biológico. Mas sequer persigo isso e nem vou me preocupar se isso é viável já que não vou, por agora, realizar isso. Bom e mesmo que tenha dó, não sou complacente com meus pais, a minha felicidade de outras pessoas não pode depender da deles.
Por mais que eu não me considere mais no armário e acho confortável não ficar rotulando a própria sexualidade, como se isso fosse algo necessário, ainda me sinto preso ao armário. Tenho vontade de cravar machados a ele destruir sem se preocupar com “agora e daí?”
Lá na praça principal da cidade, na qual não está a Igreja que está a duas paralelas acima a esquerda, teve carnaval. Geralmente acho os garotos do interior não muito bonitos e lá tive que rever meus conceitos. E quantos corpos suados! No fundo fiquei com inveja dos efeminados, ou nem tantos, mas gays certamente, que formavam sua rodinha para rebolar os axés dos covers dessas divas da Bahia. Tinha raiva também, dessa gente do interior, que sequer consegue ser hipócrita como a da capital que esconde a homofobia para si, e que tinha que fazer o maior berreiro quando via aos travestis e meninos quase moças passando pelas pessoas.
No fundo mesmo, eu estava mesmo era com raiva de beber Ypiocá com Del Vale de uva. Uma mistura que além de ser quente e não fazer arrotar, porque arrotar me faz sentir um ogro e me sentir um ogro me faz sentir de certa maneira franco, humano e natural; queimava quando descia e embrigava rápido, como a cerveja, mas às custas de muita dor de cabeça e o risco eminente de uma ressaca no dia seguinte.
Embriagado, era tudo o que eu queria ficar ali. Queria ser um idiota e talvez assim não me preocupasse tanto com as minhas ainda incontadas prisões. Ébrio quem sabe menos eu sentisse o meu coração batendo e meus sentidos capitando o mundo e assim esquecesse dessas prisões como a de não ter iniciativa, a de ter medo do que os outros pensem de mim, a de achar o carnaval um tremendo dum saco, pior ainda essas bandas covers com o som patético delas, a de olhar as dançarinas saradas quando o que me interessa mesmo são os dançarinos em seus corpos malhados e másculos, dançando no alto de seus Nikes pretos combinados as sungas e aos bonés de mesma cor.
Bem, eu nem vou falar da tesão que o primo de 15 anos tem me causado. Talvez um dia que eu for sincero o suficiente para admitir algumas coisas como essas eu fale dele aqui.
Caso a Mulher Asterístico venha aqui, deixo aqui também meu agradecimento. Depois da sua definição sobre o que caracteriza a pedofilia ficou mais fácil olhar para o primo sem o auto-flagelo. Enfim, e eu pensando que eu era um pedofilo, mesmo que eu não faça nada.
Mas será que eu posso ficar confessando essas coisas aqui e ainda por cima de forma tão escancarada? Na verdade não muito escancarada, mas sem papas na língua e ainda citar o nome de algumas pessoas que eu nem tenho intimidade e que causa um receio, sem saber lá como ela, a exemplo de muitos de vocês, veem “a ordem natural das coisas,” pensam a respeito “da moral e dos bons costumes”, sem contar “tradição, família e propriedade.”