segunda-feira, 14 de junho de 2010

Só quem é vivo tem isso

É uma noite de domingo e estou deitado na cama. Aos poucos me dou conta de que a insônia também está ali, respirando o ar frio. Ela vem sem convite, dá medo e raiva. Tudo que quero é dormir. Mas a insônia está aqui, fazendo coro com um monte de coisas que não sei ao certo o que são.

Minha garganta dói, está apertada e não tenho a menor vontade de chorar. Talvez se eu quiser chorar eu chore e a garganta pare de doer. Lá vou eu tentar chorar e quem sabe assim me sentir melhor, os olhos vão se enchendo de lágrimas, as respiração fica mais profunda e então me pergunto, mas afinal de contas, porque quero chorar?

Não tenho resposta, passou-se muito tempo desde a hora que desliguei a TV e decidi que iria dormir. O quarto está escuro e só a luz vermelha do stand by da TV está ligada. Fluorescendo no escuro os botões do interruptor da lâmpada e o controle da TV na cômoda. O silêncio permite ouvir com clareza os cloques do relógio de parede da cozinha, os cães ladrando longe, o ronco do ônibus no outro bairro e portão sendo fechado.

Um sinfonia sutil, mas irritante. Os olhos estão ardendo e oba!, talvez eu durma. Mas eu não durmo, os pensamentos estão claros e penso no tempo que não para para nada e ninguém. Ele passou e eu fiquei ou fui. E no passar do tempo foram tantas coisas que fiz, que perdi, que conheci e que me arrependi.

E o tempo serve para pensar nas pessoas, quantas conheci, quantas me lembro delas e será que elas se lembram de mim? Elas foram e eu devo ter ido para elas, mas sensação é a de que eu fiquei enquanto elas se foram e o tempo passou, eu perdi o controle ou não aproveitei, não fiz o que eu poderia ser feito.

Eu deveria ter feito algo? Fazer algo para quem? Porque razão? Deixar irem de nossas vidas e se acomodar com relação a isso não é normal? Fazer essas perguntas é um jeito de me sentir menos mediocre, mas no fundo, me sinto do mesmo jeito.

Sentir mediocre é algo mediocre e parece, como diz a música, que se sente assim porque o fracasso subiu a cabeça. Mas o tempo, é parece que ele que dá medo, o prazo vai acabando, não realizei o que queria ter feito e procurei justificativas. Assuma alguma vez a incompetência enquanto digita esse parágrafo e olha para o teto pensando, “que máximo, sei digitar sem olhar para a tela do PC”.

Bem, mas lá na cama, do quarto, deitado a insônia continua. Pensamos nos demadas não atendidas e criadas pelo consumismo e de repente não se fica tão deprimido. Mas o tempo continua passando, o tempo passa, e quando se dá conta que ele passou é que se toma noção que não está tudo bem. Estaria tudo bem se estivesse dormindo.

Eu quero dormir, mas os pensamentos borbulham, a garganta continua com aquele nó, os pés estão formingando, suando e gelados. Mas é na barriga que se sente mais frio, mas um frio que vem de dentro, saí do umbigo sobe por debaixo da pele do torax e chega até atrás das orelhas. O que sei é que essa é a mesma sensação de que eu sinto quanto tenho medo.

Medo por que? Eu sei porque, mas nego tanto que nem sei porque razão tenho medo. Mas o medo existe, o motivo existe, está ali, latente, gritando “resolve-me” e eu insistentemente tento resolvê-lo, resolvê-lo e não consigo. Me deito com o problema lá, para ser resolvido, me esperando, o tempo passando e nesse caso acabando e eu estou ali, na cama, parado. Parado enquanto tenho que resolver meus problemas.

Reclamar disso não tem motivo. Justificar, eu faço isso o tempo todo, inclusive agora. Dizer que está cansado facilita? Não, não resolve. Deitar também não, a cabeça está cansada e a insônia está aí, para não me deixar dormir. E nada disso vai resolver meu problema.

Hoje estou cansado para travar uma disputa com a insônia, ficar ali por horas, pensando que é tudo uma insônia provocada por um monte de coisas que tenho que resolver e não quero falar, não quero pensar nisso agora. Me levanto, bebo água e venho para cá um pouco.