segunda-feira, 20 de abril de 2009

Da grande amiga

Não me sinto a vontade para falar da minha sexualidade com meus pais. Meu pai não toca no assunto, não sei se é porque também não agrada a ele, se é porque para ele tanto faz, afinal ele pressupõe que eu sei me cuidar, não sei se é a mistura dos dois ou se não é nada disso que eu estou pensando. Minha mãe não toca no assunto porque eu não deixo. Eu não deixo porque me irrita a forma que minha mãe escolhe para falar do assunto que para mim de certa forma é constrangedor. 

No entanto com a presença da minha amiga, aquela que esteve aqui em casa ajudando a segurar a barra quando me assumi, a situação é um pouco diferente. Quando ela está aqui me sinto a vontade para falar sobre minha sexualidade. Percebi isso porque na hora em que estávamos conversando na sala agora a pouco revelei com bom humor, bom pelo menos para mim e para minha amiga, o que fiz na viagem de páscoa.

Meu pai ouvia as coisas e nada comentava, comentava muito pouco. Deve ser o que falo, para ele não deve fazer diferença ou ele prefere ficar calado, acredito mais na primeira possibilidade. Minha mãe tentava entender meus risos, os termos complicados que o filho prolixo – palavrinha nova que aprendi hoje no boteco – com sua amiga, igualmente prolixa, falavam e não deixar as coisas piores do que eram, para ela.

Na páscoa viajamos para a casa dos meus avós no interior, a família estava toda lá. Essa viagem foi a primeira vez que eu vi meus avós desde quando eu me assumi e eles vieram para convencer que as coisas não era como pareciam ser, para a minha mãe. Não demora tanto tempo assim para vê-los, mas demorou. Os velhinhos, que eu amo muito, me trataram como sempre, muito bem, e não tocaram hora alguma no assunto da sexualidade, como se quisessem dar a entender que não sabem de mim. Eu achei o comportamento deles muito natural e melhor impossível.

Na primeira noite ali na casa dos meus avós eu fui a lan house ver um amigo que conheci aqui na internet. Menino carinhoso, mesma idade que eu, estudante universitário também, assumido para algumas pessoas e uma mãe problemática no que tange a sexualidade dele. Algo semelhante a minha. Fiquei ali na lan house conversando com ele, eu estava demorando chegar e minha mãe liga perguntando onde estou. NA LAN HOUSE SINHÁ. 

A revelação que eu fiz hoje aos meus pais foi essa, a de que eu não estava simplesmente na lan house, sequer sentei em um computador de lá, e sim que estava na lan house com um novo amigo, tão gay e tão acuado, ou até mais, que eu. Minha mãe ficou num misto de curiosidade e constrangimento querendo saber mais, porém sem ter coragem para perguntar. 

Só não falei para minha mãe que depois o meu amigo fechou a lan house e rolou sarro e ejaculações. Isso ela e nem ninguém ali precisam saber e não tenho vontade de contar.

What Can I Do, ouvi hoje na hora de dar risadas.