segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Gayzismo, a nova ditadura.

Parece existir uma moda entre as pessoas e a grande imprensa para fazer comparações e tentar convencer aos outros que as ocasiões, muitas delas meras especulações, estão nos empurrando para uma ditadura. Conforme o grupo, a explicação para qual ditadura vai se instalar é diferente, assim como os indicadores dela.

Os exemplos são vários, mas vou me concentrar no gayzismo, que é o termo que pessoas têm empregado para se referir a uma ditadura gay que acreditam estar se instalando no Brasil. Os argumentos, que podem ser encontrados facilmente ao digitar o termo gayzismo em um site busca, são aberrantes, são rasos, míopes, relativos e acima de tudo ridículos.

O que dizem é que com o advento do tal gayzismo, os heterossexuais serão discriminados enquanto que os homossexuais serão apoiados, algo inconcebível para os opositores, cujo porquê é explicado com muitos versículos desprovidos de contextualização histórica do Antigo Testamento da Bíblia dos cristãos.

Dizem também que a Família será extinta, na verdade o conceito de família eles fazem e que já está obsoleto para descrever toda sociedade, e com isso teremos a falência da humanidade, que há muito tempo não é cristã, muito menos segue seu modelo de família patriarcal monogâmica nuclear.

Também insistem na teoria de que no mundo o que se tem não é homossexualidade, primeiro porque desconhece o termo, segundo porque é homossexualismo, uma doença, que na opinião, embora censurada pelo CRF, da psicóloga denominada cristã, Rosângela Justino, deve ser curada e combatida, com vistas evitar que se tenha no Brasil um regime de castas provocado por gente pervertida e abusada sexualmente.

Para provar (sic) essa tal de ditadura gay, comparam o que os movimentos pró cidadania LGBT fazem no Brasil ao que aconteceu na Alemanha no segundo quartel do século XX e assim dizer que os homossexuais compartilham de ideais nazistas, embora fossem naquele período um grupo perseguido.

Outro ponto chave é o de que leis como a PLC 122 são um leis anti democráticas, assim sendo um outro indício dessa ditadura gay que dizem se aproximar, pois no fim querem acabar com a liberdade religiosa e com a liberdade de pensamento e que os heterossexuais serão cerceados na sua liberdade individual, a de ser heterossexuais, como se alguém quisesse que não os fossem.

Não vou rechaçar o que dizem em linhas gerais os teóricos do golpe gayzista. Acredito que os que venham nesse blog sejam inteligentes o suficiente para saber que são disparates proferidos por pessoas que vêem a sua posição de opressores e sócio-culturalmente beneficiada ameaçada pela ampliação que não visa nada senão equiparar direitos e tirar justificativas contrárias a essa equiparação.

O que sei é que enquanto os movimentos sociais se articulam em prol de democracia, que não consiste é claro em apenas votar, direito de ir e vir ou de expressão, mas também na equivalência que as pessoas tem para a sociedade, o Estado, aos serviços públicos e itens de sobrevivência com qualidade de vida, existe também gente em nome da fé fanática e doentia, imbuídas em pouco conhecimento de causa, se articulando contra usando de prerrogativas toscas e insensatas, acusando aos outros pelos crimes contra a democracia que cometem. Mas não é esse o pior, o pior é que tem gente se conformando assim como tem gente acreditando que eles estão certos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Numa horas dessas de quem é a culpa?

O que é fato é que eu tenho escrevido bem menos nesse blog. Menos do que eu quero e muito mais do que me sinto inspirado. É, escrever para mim é algo que depende de inspiração, coisa que não tenho agora, para sair algo bom. Como não tenho inspiração, espero disso uma postagem ao nível de todo esse blog aqui, medíocre.

Aliás, estava lendo outros blogs, gays, por aí e estava olhando o talento dos outros autores para escrever. Claro, nisso comparo ao que eu escrevo para chegar a conclusão de que meu blog é medíocre, se medíocre não for elogio. Está certo que são mais comuns os blogs postando fotos desses moleques arianos com seus pintos circundados, coisa que não me atraí muito, mas meu blog é medíocre.

Certamente lê-lo seja para alguns dos que por aqui aparecem apenas uma retribuição da minha carinha em seus blogs, naquela caixinha dos seguidores, apenas uma retribuição daamizade e nada mais, porque sendo o que eu escrevo medíocre, não deve causar entusiasmo algum acordar numa manhã qualquer e pensar, hoje é dia de ver o que o Well postou.

Estou falando mal do meu blog, mas o que eu quero na verdade é falar mal de mim, só que minha vaidade arrogante e travestida de modéstia não me deixa. Aliás, não é a minha vaidade, sou eu que sou um sujeito vaidoso nesses critérios citados aí em cima. Não é o meu blog medíocre, eu que sou medíocre ou até menos, porque pode ser que o blog seja menos que medíocre.

Mas porque eu sou medíocre, eu já sei bem porque e escrevo de teimoso, porque sei que nada adianta quando a solução para as coisas é minha responsabilidade. Sabe, sou medíocre porque eu sou muito parado, sou muito lento, não coleciono coisas para contar. Ah e que se dane tudo.

Meu corpo transpira sem parar com tanto calor. Eu odeio o El Niño que nesse novo 2010 levou embora a minha chuva, que já chegou em Setembro. Com tanto calor eu não durmo, hoje já é a terceira noite em claro, sem dormir, sem acordar na hora de sempre, porque sinto calor e porque fico ansioso esperando nem sei o quê.

Tenho inveja de quem tem chuva, de quem consegue dormir e de quem consegue escrever coisas interessantes. Mas de quem é a culpa do El Niño, de quem é a culpa por eu não dormir e de quem é a culpa por eu não escrever como eu entendo como bom.

Bem, é isso, termino essa postagem saindo do mesmo lugar de que partir, de lugar nenhum e pouco me importo com o "tá, mas e daí?". Talvez eu entre na Uol ou reative um meu perfil no manhunt.com para encontrar alguns consumidores de sexo, sem compromisso.

Quem sabe quando eu tiver lá por volta

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Aqui começa 2010

Hoje é dia 08 de janeiro, data que certamente vou carregar por toda vida, pois ela adquire para mim um significado relevante. Ano passado, nesse mesmo dia, aproximadamente às quatro horas da tarde minha mãe chegava do trabalho, conferia a caixa de correio e depois vinha até o meu quarto para dizer essencialmente que não era para eu receber cartas de homens. O que havia chegado para mim naquela quinta-feira era uma carta do Mário, não a primeira dele para mim, muito menos a primeira oriunda de um homem.

Quando ouvi o imperativo da minha mãe logo me desconcentrei do filme que assistia aqui no PC, De Porta em Porta cujo enredo não me agradou, era bem neoliberal e meritocrático. Comecei a pensar por quanto tempo iria brigar com minha mãe, iria mentir a respeito da realidade para os meus pais para viver como o que eu realmente sou. Pensei no e se eu falasse agora. Me veio medo, veio receio, veio a adrenalina e veio uma insegura decisão que uma vez tomada eu não iria voltar atrás.

Minha mãe estava sentada na minha cama esperando algo, não sei bem o quê, talvez tivesse pressentido que eu iria falar algo muito sério a
ela. Então agressivamente eu disse a ela que continuaria recebendo cartas de quem eu quisesse, inclusive de homens, pouco me importava com isso, afinal, sou gay se é isso o que ela não quer que eu seja. Bem, daí desenrolou uma situação enfadonha, inclusive para lembrar e que no mesmo dia tratei de postar aqui. Leia o texto aqui.


Naquele dia um misto de sentimentos me vinha a todo o momento. Era alívio da verdade revelada misturado a nova pressão que se instaurava, a de ficar continuamente justificando o que para mim por si só já estava justificado, a de se controlar sendo polido e racional quando o que eu recebia do mundo era apenas emocional, ao orgulho da coragem obtida por conseguir o que muitos não haviam conseguido e talvez demorem conseguir.

Sol + Chuva = Arcoíris + Eu + Câmera = Blog.

Postei aqui acreditando que o meu texto tinha também um caráter de utilidade pública e em um tópico já criado, falando entre inúmeras coisas, o meu aviso aos meus iguais de que o conhecimento dos outros a respeito da minha condição havia mudado na comunidade do armário. Foram congratulações, elogios e muitas perguntas.

Sabe, de certa forma me orgulho e fico feliz por isso e por mais que no meu caso tenha sido através dos caminhos das pedras que cheguei a redenção, desejo isso a todos os outros esse relativo sucesso que obtive.

Pois bem, um ano se passou e os benefícios vivenciados por esse assumir para os pais – e sem saber para os avós, leia aqui - foram poucos. Sendo meritocrático, a culpa foi minha. Na terapia, refletindo a respeito de mim mesmo durante o ano de 2009, cheguei à conclusão de que o meu ano de apatia teve como culpado eu mesmo. Faltou realizações por ter faltado de mim os objetivos e sem querer ser sofista, o Universo, tanto faz aqui com letra maiúscula ou minúscula, não se abala sozinho para conseguir o que desejamos.

Bem, 2010 começa diferente. No blog a diferença essencial é a primeira postagem ser intencionalmente no dia do mês em que foi publicada a segunda de 2009. Claro, essa postagem aqui tem um caráter muito mais reflexivo do que o emocional que teve a outra e quiçá tenha um caráter simbologista.

Sobre 2010 defini algumas coisas. A primeira é que não vou me considerar mais no armário e nem assumido, sequer vou me preocupar com um rótulo, que é feito para potes de geléia e não para eu que me vejo como complexo, multifacetado, singular e humano, com o que mais nobre ou podre isso tenha. Uma forma que encontrei para dar fim a essa designação de armariado foi o fim da minha participação na comunidade Estou no Armário e daí?, assim como o do meu perfil Well Bernard no Orkut.

Saí da comunidade, pois a um certo tempo não me identificava mais com ela que surgiu num momento da minha vida caracterizado por uma recente autoaceitação, porém cheia da solidão e cercado por um horizonte incógnito e amendrontador. Lá tive meus erros, os quais não seriam repetidos se fossem hoje sem dúvidas. Não os lamento porque isso nada adianta e adiantar alguma coisa não é meu desejo.

Também houve meus atritos, minhas divergências, me chamaram de coisas ruins. Mas quem disse que também não tenho coisas ruins para dizer a respeito dos que me ofendem? Mas foi bom, infinitamente bom, imensurávelmente bom. Pois a ENAED desencadeou coisas que certamente não se desencadeariam sozinhas em mim.

Sei que terei muitas saudades das conversas nos botecos, as cantadas dadas e recebidas, das trocas de experiências, a paciência para ouvir os relatos, para dar e ouvir conselhos inseguros, errantes, mas sinceros. Das provas de amizades não imaginadas, principalmente a dada pelos amigos de São Paulo. Embora tenha sido bom, a ENAED nunca será o que preciso para mim, pois essas demandas já foram superadas. Também não terá o encanto da naturalidade com que as coisas decorreram. A hora de sair e de deixar a comunidade para os outros e suas trajetórias e projetos de vida chegou e eu a fiz.

Assim penso que seja melhor sair, pois faz muito tempo que eu não me identificava mais com a ENAED e assim não tinha mais eu algum entusiasmo para lê-la, dela participar. Sentia-me nela alguém alheio e distante. De tal maneira, discretamente a deixei apagando, por não ver sentido em manter a existência, de Well Bernard. Saí da comunidade para dar ponto um final em um importante capítulo do texto que pode ser a minha vida.

Voltando ao que eu dizia, 2010 é um ano de planos, entre os outros planos está tentar realizar uma vaga em algum projeto de mestrado na universidade e em proporção menor, aumentar a convivência com pessoas do meu universo sexual na minha cidade e quem sabe atender e ser atendido pela demanda afetiva de alguém.

E aqui termino a primeira postagem do ano 2010, no dia do aniversário da minha “assumição”.