Hoje recebi a notícia de que uma aluna da Educação de
Jovens e Adultos morreu. A notícia me deixou despontado de verdade. Tenho
simpatia pela EJA não só pelo fato de os alunos serem adultos, de pouco ser
necessário chamar a atenção a respeito da disciplina deles, porque no geral
eles se interessam pelo o que eu tenho a dizer, não tenho que tentar explicar
para eles qual é a importância daquilo, mas também pelas suas trajetórias de
vida. Muito estão lá às custas de relevantes sacrifícios pessoais, encaram a
volta à escola como uma oportunidade de se tornarem pessoas melhores do que
eles são, potencializar novos sonhos, ser o que um dia nunca foram e ou que
muito cedo foi lhes tirado a oportunidade. Muitos chegam a minha aula pensando
que concluído o 4º Semestre terão concluído a sua formação acadêmica, porém esforçamos
para mostrar a muitos que aquilo é só o começo se eles quiserem mais.
Por isso me comovo, me apego e torço por
pessoas que se parecem com meus pais, pela idade e pela vivencia, por pessoas
que aos mais de 50 anos vida carregam a família nas costas, suporta violência
familiar, doenças e destrato da saúde pública, ônibus lotado, faz uma rotina
tripla, estuda e ainda por cima consegue notas e desempenho exemplares. Porém,
saber que a pessoa morreu, mesmo que de maneira não muito dolorosa - "ela
dormiu e não acordou mais" - é frustrante. Investimos neles os recursos
públicos, mas também nossos anseios de professor e pessoa humana. Tudo o que a
gente mais quer então é que alunos assim se deem bem, recebem uma recompensa da
vida por seus esforços, ganhem da vida a outra face da moeda, a de que eles podem
ir além do que já são e serem felizes. Mas vem a morte, com toda sua
intransigência e frustram suas vidas e a gente também, por que não?
Dona Cleide Moura, a senhora me ensinou muito
mais coisas sobre a vida do que eu te ensinei sobre Geografia. Parabéns por ter
lutado como uma guerreira! Lembrarei da senhora, seu semblante, sua feição
humilde mas esforçada por toda minha vida.