sábado, 25 de julho de 2009

Wall-e e não subestime os infantis

Eu adoro animações e não tinha assistido ainda Wall-e, animação gerada pela Pixar, uma divisão da Disney. Aproveitei os temporários e em vias de acabarem super poderes da minha conexão de internet e baixei por torrent o dito filme.

Assistindo o filme fiz muitas assimilações para comigo e meus hábitos de consumo. Apesar de que eu procuro reduzir ao máximo reduzir as embalagens, os produtos descartáveis e por aí vai. Porém fiz assimilações com o meu estado de espírito também, principalmente as emoções.



Na Terra está Wall-e, o velho e simpático robozinho, a empilhar o lixo. E logo vou me identificando com ele, o jeito árido da paisagem, o tédio da rotina, o passageiro entretenimento das quinquilharias e a solidão do robô constituem o meu retrato emocional.

Em casa Wall-e assiste seus vídeos, não os pornôs como eu, mas aqueles românticos em que as pessoas estão apaixonadas e de mão dadas. Comigo a diferença é que fico ouvindo essa Ana Carolina aí. Me chamou a atenção quando Wall-e vê o casal na velha TV de mãos dadas e não tem ninguém para dar a mão.

Finalmente chega Eva vinda do espaço. Tá, não precisa que ninguém venha do espaço. Pode vir de outro lugar, sei lá, do ônibus, da entrevista de estágio que segunda feira – odeio entrevistas, sei lá.

No começo um estranhamento entre Wall-e e Eva. Estranhamento semelhante ao que eu tenho com algumas pessoas antes de dizer, “caraca como ele é bonito”.

Daí o que o Wall-e vivencia o que eu nunca vivi, com exceção da parte de ficar o tempo todo olhando para o outro admirando a beleza e mentalizando os desejos por ela, não os sexuais que irremediavelmente eu acabo imaginando muitas vezes.

E lá vai o filme falando dos hábitos de consumo, do consumismo, do não faça nada – outro ponto com que me identifiquei, e a história flui até que o Wall-e e Eva vivem felizes para sempre. Fim.

Não tem fim essa minha vida monótona, sem nada para fazer, cheia de adiamentos, omissões e não faça nada. Estou vegetando e a minha mãe não sabe o quanto isso é bom para ela que não aceita minha sexualidade. Ela acha que eu sou simplesmente gay. Ela se esqueceu ou não se deu conta que não comer meninas é só uma pequena parte, rola muito mais do que isso e que não viver o resto da vida dentro desse quarto ou indo pendularmente aquela universidade ou a um emprego que suponho um dia ter.




Enfim, eu gosto de animações e as acho cults, contrariando as verdades feitas dos pseudointelectuais que acham Cult só os filmes europeus ou os dos EUA que não possuem final feliz. Gosto das animações por causa do jeito sutil de tratar os temas. Tão sutil que às vezes penso que até exagero minhas interpretações.

Quem já assistiu o primeiro filme de Madagascar? É só eu ou alguém conseguiu estabelecer alguma conexão entre a homossexualidade e o Leão que não conseguia controlar seu desejo por comer carne, tanto é que às vezes enxergava o seu melhor amigo, uma Zebra masculina kkk, como um grande bife?

Animações são divertidas e inteligentes, gosto da crítica feita aos contos de fadas e suas idealizações apresentada por Shrek, da empatia de Irmão Urso, do convívio com as diferenças da Era do Gelo e por aí vai.

Então, assistam Wall-e quem não assistiu, apesar que não acredito que vocês vão se sentir carentes como eu me senti assistindo-o e após o fim baixar sua trilha sonora.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sentindo e memoriando a cidade.

I – Aurora Tardia

Acordo e é quase meio dia. Não gosto desse horário para acordar, dá uma sensação de vadiagem e é como se tivesse pouco dia para viver. No entanto o que viver durante o dia eu não sei. Mas enfim, acordo quase meio dia.

Ouço os carros correndo no bairro vizinho, vento soprando nos bambuzais das chácaras e a gritaria dos pirralhos que acordaram primeiro que eu para empinar suas raias, como são chamadas as pipas por aqui, na rua.

II – Primeira Caminhada

Lá pelas quase 15:00hs saio de casa e vou ao Centro. Nessa época do ano incidência de raios UV’s é mais baixa, portanto 30° na cidade quente durante os dias de inverno parecem até com agradáveis 26°. Os moleques, de férias estão correndo pela rua, me olham e eu com a cara apática não me importo com eles que já estão novamente preocupados com suas bicicletas, raias e bolas.

No mp4 ouço Ana Carolina e o vento continua soprando seco meu rosto e meus olhos ardentes. Não sei por que ouço suas baladas românticas, é para ficar frustrado com aquelas músicas que falam desses finais de relação que nunca tive, pois nunca comecei efetivamente uma.

Lá na metade do caminho não são apenas meus olhos que sentem e reclamam incomodando esses menos de 20% de umidade relativa, meu nariz também responde ao clima provocando uma desconcentrante dor na nuca.

E do alto do bairro dá para ver o Norte, de onde vêm as nuvens de chuva da Amazônia que em outra época do ano estariam chegando nessa mesma hora obesas e negras trazendo consigo um vento com cheiro de terra molhada, seiva e o melhor, úmido. Quando chove a cidade é mais bonita, as flores daquela praça e a grama também ficam mais bonitas com água da chuva e não com a da irrigação.

Sinto saudade, pois nessa época o céu é azul anil profundo. Parece que não tem mais fim e é bonito de se ver. Precisa de cuidado, já tropecei muito e levei muita buzinada olhando para cima ao invés de olhar por onde ando. Eu gosto do verão apesar dos finais de manhãs e das tardes quentes, porém noites frescas e úmidas.

Continua tocando Ana Carolina quando desço do céu, quando não olho mais o céu azul, só que desbotado pela névoa. E lá estou chegando à Lotérica com sua fila, do outro lado do córrego já é possível ver os prédios dos bairros mais centralizados.

III – Notando outros


No fim da fila lá está um de vermelho. Fico constrangido, ele está muito bem vestido e eu em funcionais, simples e livres All Stars pretos, jeans e camiseta e nada além disso. Ele olha, eu disfarço e me arrependo porque o rosto dele é muito bonito.

Xingo-me e penso em ficar mais saidinho, corresponder aos olhares e buscar respostas para as expectativas. Aceito isso como verdade, mas não vou fazer isso agora. Deixo isso para outra hora e que seja melhor. Mas é sempre outra hora e que jeito melhor eu não sei. É só desculpa para mim mesmo.

E a fila vai andando e estou eu analisando com inexplicado constrangimento o rapaz a minha frente. E tento olhar para o rosto dele e ele olha na minha direção e eu disfarço como quem quer saber as dezenas sorteados por Senor Abravanel na sua própria loteria.

O cheiro dele é agradável. Entra pelo nariz e desce para o tórax, causa pequenos tremores. É como se preenchesse um vazio de alma que faz com que eu sinta uma alegria, uma satisfação por não sei o que. Continuo na fila... ai como ele é bonito!

Enfim, cada um em seu caixa pagando seu boleto, ele sai primeiro que eu e quando saio não sei para onde ele foi. Deixa, vou para estação onde reparo o assistente de embarque.

Ele não é lindo, mas faz bem meu estilo. Noto que ele está entediado e sinto dó dele. Deixa também. Quando começo a me irritar com a luz do sol incidindo diretamente nos meus olhos o ônibus chega. Que bom, nem meu nariz e nem meus olhos ardem mais.

Motor ruidoso, nem dá para ouvir a Ana Carolina direito enquanto lá fora, parado no semáforo um playboy num Celta rebaixado. Ele é mais lindo que o rapaz da Lotérica. Daí que pressinto que com um playboy eu não me daria tão bem. Sei lá, acho que temos anseios e linguagens diferentes.

E na hora eu penso em quem? Em você Mystica!!! Fico com raiva do meu gaydar, o cara do Celta é hetero para mim, o da Lotérica também. Só que meu gaydar não funciona não é menina?

IV – Paisagem da Cidade

E vou olhando a paisagem da cidade, não tinha me dado conta que os Ipês já estão florindo tingindo a cidade com rosa, roxo e amarelo. Imagino como vai ficar agosto. Vai ser lindo. Pena esse espetáculo da natureza durar apenas algumas semanas. As ruas da cidade que ficam lindas, aqueles flocos amarelos, rosas, roxos e raramente brancos na altura dos postes e embaixo tapetes coloridos, às vezes em cima dos carros.

Vou plantar um ipê amarelo na porta da minha casa. Vou sim e em cinco anos vai ficar tão lindo. Em cinco anos eu vou morar aqui com meus pais ainda? Acho que não, não quero. Mas vai que moro e quando vier aqui aos domingos quero tirar foto do meu ipê amarelo.

No Centro olho para o Oeste, para onde o Sol está indo. Tenho vontade de segui-lo. Só que seguir o Sol é impossível. Vou em um lugar e a outro, compro isso, pago aquilo, compro sorvete e me sento. Lugar barulhento, não precisa de tantos carros, não precisa de tanto som, não precisa de tanto panfleto.

Nos prédios desbotados alguma arte patrocinada pelo Estado nas grandes e antes vazias fachadas. Quando não, banners enormes mandando as pessoas consumirem, cerveja redonda, falar 20X mais, presentear o pai com perfume do boticário. Acima deles um helicóptero carregando alguém que não tem tempo para o caos daqui de baixo.

A tia de saião e perna cabeluda por detrás do albão lendo com microfone e uma caixa de som anêmica em vista dos motores urbanos está pregando para quem não está ouvindo nada do que ela diz. Três viaturas da polícia estacionadas na calçada do banco que me acusou de uma dívida que nem eles sabiam.

Continuo tomando meu sorvete e me dou conta que desde que cheguei naquele bairro barulhento eu estou com a mania de olhar para as mãos dos homens procurando por alianças. Acho tudo isso um tédio e me levanto, com minhas sacolas ouvindo incomodamente o tilintar das moedas no bolso.

V – Segunda Caminhada

Vou descendo pelas ruas e vou me lembrando de outras memórias, do ensino médio, do que já falei e já fiz em tal lugar com que pessoas em outras oportunidades. Sei que no local que estou tem mais gente do babado do que posso imaginar e muita gente passa a ser suspeita até prove o contrário.

Então percebo e paro rindo ao notar que como que em piloto automático estou indo para o parque lá embaixo, onde ao lado acontece a parada gay daqui. Nesse ano vou à parada, se eu tiver companhia. Viro na próxima esquina, atravesso e na outra quadra, lá na metade dela, eu arrogante aperto a botoeira e faço o sinal fechar para que eu e outros atravessem a faixa para pedestres em segurança.

E olho para as pessoas e me lembro de London, London do Caetano Veloso, só que na voz da Gal Costa. Então penso, “é bom estar vivo e eu concordo”.

Estacionado na grande calçada um possante utilitário esportivo off-road, um Hyundai VeraCruz. Que lindo é ele, adoro carros assim. Quando deixo de olhar feito bobo para o carro e olho para onde ando, gritando comigo está um ciclista vindo em rota de colisão. Deu para perceber que ele era bonitinho e para desviar da bicicleta.

Fiquei puto com aquilo, uma calçada daquela largura ele tinha que vir justo na minha direção e tão rente aos carros como eu? Mas comecei a achar engraçado. Se tivéssemos trombado – putz quem fala trombado?- seria o culpado pelo acidente o capitalismo e o seu consumismo? Pois ao olhar para o carro, que está agora pelo menos longe, das minhas condições, esqueci da vida real e das coisas mais imediatas, como o meu caminho.

Achei engraçado também, pois vai que o ciclista fosse gay. Vai que ali conversando acabássemos confiando um no outro e ficássemos juntos. E acho engraçado porque tudo isso que eu mentalizo é muito novelístico, muito livresco, muito intencional.

VI – Recomendações

Na assistência, onde quase de frente um ipê flori frondosamente, descubro que a Kodak não enviou minha máquina nessa remessa. Mesmo assim amo essa marca, os produtos são de boa qualidade e ainda quando estragamos o produto por descuido ela conserta o mesmo. Comprem produtos Kodak, são bons e não estragam por si só, se estragarem, mesmo que por sua culpa, é provável que a Kodak cubra o conserto, mesmo que ela deixe o seu produto por mais de 30 dias no assistência. Aff cu.

VII – Notando o que eu não quero

Vou finalmente embora para casa. Estou perto da Rodoviária, que é também um shopping super freqüentado por pessoas desse nosso meio, e olho a quantidade de destinos e origens, saindo e chegando a cidade. De repente, entre as gueirobas, palmeiras do cerrado, plantadas no canteiro central da avenida uma velhinha, manca, humilde, semblante sofrido vendendo panos de prato brancos e ornamentados com pinturas e bordados. Eram bonitos e ninguém comprava.

O que era de cortar o coração não era a solidão da velhinha ali naquele semáforo, tentando vender para pessoas isoladas em outros mundos, na verdade bolhas utilizadas como potentes e confortáveis carros. Cortava o coração o seu jeito manco e melancólico de sair da avenida e voltar para o começo do cruzamento, onde esperava o instante em que o trânsito parava para tentar vender seus panos de prato novamente.

Eu senti raiva, da velhinha. Sentia raiva porque ela me deixava deprimido, o que eu estava tentando não ser. Sentia raiva porque ela me fazia sentir responsável. Ela não está no semáforo porque quer ou porque um dia quis. Ela não é a culpada pelo fracasso dela. Culpados são muita gente e uma engrenagem suja tem culpa. E senti raiva dela porque enxergá-la me fazia pensar nisso tudo e saber que eu estou numa situação acomodado.

Pensei, ah que tosco. Outro pensamento messiânico meu. Piaget disse que isso era lá na adolescência e que raiva, ainda estou na adolescência com 20 anos. Senti raiva de mim, da minha comoção e por aí vai. Finalmente chega o circular para me levar para longe dali.

VIII – Finalmente embora

Lá dentro uma pessoa do babado, pena efeminada e demasiadamente feia para os meus critérios de beleza. Achei fofinhas o casal de lésbicas. Após entrarmos no terminal tive a confirmação, as sapas e o gay lá moram no meu bairro. Eita Jardim que está ficando colorido e não é pelas flores ou pelo nome, sim pelas pessoas.

Escrevi nesse embalo e em duas horas, tentando ser espontâneo e não ser autocensurante, seis páginas a respeito de mais um dia em que fiz coisas para mim comuns e nada interessantes. Mas isso me faz concluir o seguinte, o óbvio é complexo. Mas deixa a filosofia de banco de rodoviária para lá, pois já escrevi muito por hoje e não sei se alguém vai ler isso. Mas vai sim e tomara, porque eu quero isso.

sábado, 18 de julho de 2009

Não era Influenza A

Maldita gripe. Começou na terça-feira quando disse a minha mãe que ia ver a Vaca Profana na casa da avó dela, quando na verdade eu iria a um lugar com dois amiguinhos. Com a minha mãe é assim, temos que mentir se não quisermos brigar ou deixá-la falando sozinha. Na terça-feira foi um mal estar, na sexta até piscar os olhos me doía.

Nada que um prontossocorro não resolva. Insuportável foram aquelas enfermeiras e o enfermeiro, que por sinal era gatinho, lá na classificação de risco fazendo aquelas típicas perguntas para as quais eu dizia não. Porra! Eu não estava com gripe porcina. Depois para piorar eles ainda soltam a que o ministro disse, o H1N1 já está circulando sem controle no Brasil e todo mundo é suspeito até provem o contrário.



Eu não estou com influenza A, foi o que deu para notar pelo fato da médica não falar qual o diagnóstico para o meu caso, apenas que minha garganta estava cheia de pus, deu para notar pelo gosto horrível na minha língua.

E lá vai o voltaren na bunda, doeu um pouco, e ainda doí. Que eu lembro doía mais. Ficaria tudo bem se fosse só o voltarem. Porém teve a parte da dipirona na veia do braço esquerdo. Confesso que foi desagradável ver aquele "cacete de agulha" se mexendo dentro do meu braço e eu perdendo os sentidos enquanto dizia mentalmente no pouco de consciência que me sobrava:

Não dá vexame! Não dá vexame! Não dá vexame porra! Contorna! Contorna!

Parece que na hora apareceu um:

"Sua consciência.exe parou de responder e será reiniciada. Deseja avisar sua mãe sobre isso?"

Não avisar - Avisar

Eu contornei ao dizer "Moça, estou um pouco tonto, posso continuar sentado aqui?" e a enfermeira responde angelicalmente "Claro, a dipirona faz isso mesmo, eu mesmo não aguento." E então fico lá respirando, sinto uma gotinha de suor descer pelo meu rosto já aparelho no espelho. Sabe aquela carência homoafetiva? Ela veio tão avassaladora quando lembrei do policial da guarda municipal que estava lá fora. Um leve nó na garganta.

Talvez seja carência homoafetiva também, só sei que hoje estava olhando pela enésima vez o vídeo da edição brasileira sobre a homofobia baseado no Foda-se da Lilly Allen e comecei a reparar as pessoas que aparecem no vídeo. Quanta gente bonita. Mas esse rapazinho da foto aí é muito gatinho.



Adorei essa cara dele de sou nerd, mas não sou virgem e sou sarcástico. Ele é muito gatinho, só que com eu pressinto um monocromático evoluído (não homofóbico e sem preconceitos) apenas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Papo Aleatório III

A história das coisas é um vídeo gerado nos EUA e fala a respeito de como os bens de consumo são produzidos explicando os processos que não são divulgados pelas grandes empresas, principalmente os processos políticos, sociais e ambientais. O enredo do vídeo é holístico e acho interessante postá-lo aqui. Creio que vídeos como esse são necessários nas escolas, nas reuniões de grupo e tudo mais, pois colaboram para a construção de um mundo melhor.



Eu adoro o visual do meu blog. Adoro o fundo branco do meu blog, dá uma sensação de que ele é um eterno livro e que eu sou o autor que pode escrever tudo o que quiser nele. Além do visual limpo, funcional e por isso bonito adoro essa foto aí do título. Tirei em uma ponte sobre o lago da UHE Itumbiara, divisa entre Goiás e Minas Gerais.

Vou mudar o led do meu blog. No último post, o primo que também é do babado, um novo visitante, o Sex and City Tupiniquim, comentou que escrevi algo corriqueiro, comum, o que fez com que ele se sentisse um protagonista da história. Gostei muito do comentário pois ele vai de encontro ao que quero nesse blog, falar da minha nada tão diferente vida a todos vocês. Logo, eis o novo led do blog:

SEMPRE AVANTE NO NADA INFINITO: O interessante nas particularidades comuns da minha vida.

Sei lá se o novo led ficou chique de Paris como diria um amigo meu do MSN. Nem sei se está rigorosamente ligado ao que escrevo ou pretendo escrever aqui. Mas é algo que tenho vontade que seja, pois falo com propriedade a respeito da minha vida comum e interessante a quem desejar.

Estou pensando no crente que me pegou pelo braço no último final de semana. No último sábado teve uma festinha de aniversário para o filho da minha prima. A festa era chata e eu achei mais interessante ficar do lado de fora com o resto da turma olhando o arraial evangélico que estava rolando. Logo comecei a interagir com os “irmãos” e minha amiga, que por sinal era da Igreja mandou que me prendessem.

Foi ótimo, chegaram por trás, seguraram no braço e foram me puxando para dentro da Igreja. Bem que poderia ela estar vazia, seria uma grande fantasia sexual transar com os crentezinhos dentro de uma Igreja vazia, o que não era o caso. Pressentindo que meu pinto já tava ficando duro, paguei a polícia do Arraiá de Judá R$0,50 para me libertar.

O ocorrido no final de semana, somado aos pensamentos que me dominam a mente quando ando de ônibus comprova a minha carência homoafetiva.

Hoje pensei em ficar encarado os viadinhos que freqüentam um “shopping” do centro da cidade. Muitos deles eram gatinhos, bonitinos, gostosinhos e olhavam para mim. Bas fiquei como sempre envergonhado e tive medo de olhar para eles e ter a confirmação, de fato eles estavam olhando para mim. Pobre grosseiro pseudoetero eu sou.

domingo, 12 de julho de 2009

Outra ovelha colorida na família

I – Sinceridade

Enfim, não estou só. Que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu mais acuado quando se deu conta que pelo visto na família a única ovelha colorida é você. Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu mais medo quando pensou que caso se assuma caberá a si ser aquele que vai “jogar o nome da família na lama”, que vai quebrar a “tradição, a moral e os bons costumes” da sua exemplar família. Que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu lisonjeado por caber a si o pioneirismo, a vanguarda em tornar a família menos monocromática e mais colorida, quiçá em high definition a 24Mbps BitRate.

E aí? E aí que agora eu falo que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu melhor, quem nunca pensou “menos mal”, quem nunca disse “ihhhhaaaa” (feito um goiano mesmo) ao saber que você tem um parente que é do babado!

Então, quando resolvi pegar mais leve comigo mesmo, tentando olhar as coisas por outro ponto e por fim me autoaceitar, uma das coisas que me veio à cabeça foi à família. Quando digo família falo de modo geral mesmo, englobo primos, tios, avós, quase primos, cunhados dos primos, os tioavós, o outro marido que a tia viúva encontrou e por aí vai.

Bom, quando pensei na minha família o que me veio na mente além do nível médio de cultura dela e que não é muito elevado, foi o fato de que em toda aquela gigantesca massa de... de... de... familiares sou eu o único ente colorido. Está certo, eu não acredito que a minha família a exemplo de toda sociedade seja tão heterossexual assim. A exemplo disso, creio que sejam no mínimo bissexuais os primos com os quais eu já brinquei de médico no começo da adolescência.

Porém contar com eles não vale, eles levam uma vida heterossexual, pelo menos aparenta, por seus vários motivos. É mais conveniente a eles aparentarem heterossexuais se gostam dessa fruta mesmo, se eles tem medo e preconceito quanto aos próprios sentimentos. Mas explodam as especulações sobre eles e os motivos deles porque não é isso o que interessa agora, vamos ao que interessa.

II – Contextualizando

Vamos recordar um pouco. No começo do ano assumi minha sexualidade, meu pai aceitou super de boa, minha mãe não aceitou super de mal e meus avós vieram para Goiânia, sem dizer os motivos a mim, para convencer a minha mãe a mudar de idéia, logo eles aceitaram também super de boa a minha sexualidade. Outrossim creio, ainda mais pelo meu estilo de vida mais "discreto", que não vou “desonrar” o nome de ninguém.

Pelo que meu pai falou meus avós não acreditaram muito que eu fosse. Ser eu um homossexual era algo muito inesperado para os meus avós, tanto é que eles nunca esperaram isso de mim. No entanto nutrem desconfianças de um outro primo meu, o qual também nutria certas desconfianças.

III – O Primo



Ele tem 14 anos, está de férias e veio curtir o tempo aqui na capital, na verdade na região metropolitana na casa de uma tia nossa. Comecei a reparar o priminho para tirar as coisas mais a limpo. Daí que vamos começar por onde sempre começo, ele não é feio, mas não é bonito, muito menos faz o meu tipo e pegá-lo me deixaria com peso na consciência. Explico melhor isso depois... Além disso é muito melhor ficar comendo com os olhos o cunhado da minha prima.

Mas nem só de sexo vive o homem, eu comecei a reparar outras coisas no querido primo. Ele é levemente efeminado, levemente delicado, não fala de futebol – eu também não, não fala de mulher – eu também não, não gosta de carro – eu gosto, não gosta de Fórmula 1 – eu estou puto com a Braw GP está favorecendo o Button, ele se relaciona melhor com meninas – eu também quando se é para fazer a linha heterossexual, mas que ele não é tátil com elas e nem fala sacanagens como quem nutre segundas intenções libidinosas – eu sim. Ele é também educadinho, bonitinho no melhor estilo “queria um neto/sobrinho/filho assim”.

Notei também que ele está acima da média masculina nos quesitos promotor de carinho e receptor de carinho. Achei encabulante (se a palavra não existe que passe a existir então) a forma como ele reagiu aos meus leves tapinhas nas costas do tipo “E aeh primo!” com aquele sorrisinho tímido.

Somo a essas observações também o fato dele não ter sido criado pelo meu tio, irmão dos meu pai, contar ele e a mãe dele com apoio emocional principalmente e financeiro dos meus avós, aos boatos e as demonstrações dele ser um rapazinho prendado e prestativo que lava, passa e cozinha.

Enfim, tenho 99,5% de crenças que ele seja do babado.

IV – O Messias

No entanto os espíritos doces da candura, da empatia faz que eu sinto um medo por ele. O menino mora no interior, lugar onde todo mundo conhece todo mundo e todo mundo adora falar de todo mundo. Além disso, a mãe dele, a família que o cerca, inclusive da nossa parte, não tem um nível cultural que se espera ser mais propício para aceitar no rebanho um ovino colorido. Outra coisa que ponho em questão é a educação e os referenciais que ele possa ter a respeito de sexualidade, principalmente a homossexual. Na capital já existe tabus, o que dirá no interior que embora não seja atrasado em muitos critérios fica atrás de centros urbanos maiores.

Certeza que ele é homossexual não tenho, mas para acreditar só preciso de uma confirmação. Creio que ele sente coisas que sentem os homossexuais, mas diante dos fatores expostos não deve entender e se entender não deve aceitar. Talvez tenha aceitado, mas está agindo silenciosamente, da forma como achar mais conveniente tornar as coisas melhores para ele, mesmo que isso possa estar equivocado.

Enfim, é bom saber que não estou sozinho no mundo familiar, não me sinto tão deslocado. Pode ser que um dia ele se assuma, caso ele realmente seja, a começar pela família. Por ele ser um xodó da família, protegido por quase todos talvez abra precedentes para que o resto da massa passe a encarar a homossexualidade como algo diferente do que eu sei que imaginam, ruim.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sobre ônibus e homossexualidade.



Sou usuário do sistema de transporte público e costumeiramente viajo sozinho. Existem, é claro, os outros passageiros, mas assim como eu, eles ficam recolhidos na própria individualidade ou com outros falando sobre nascer e morrer da mesma forma que em Panis et Circenses, o que não é o meu caso.

Recolher-se a própria individualidade é sinônimo de muitas ações, como empurrar feito um bovino os outros na hora do embarque ou não ceder lugar a quem mais precisar – coisas que não são minhas práticas, até ficar introspectivamente olhando a paisagem.

Só que pensar como aquela paisagem foi construída fica chato. Melhor então variar, que tal pensar em outras coisas? Eu tentava pensar, mas toda vez que ficava introspectivo não dava certo, a sexualidade reclamava que eu não dava atenção para ela, perguntava até quando ia ser assim, onde eu desejava chegar, indagava se não era mais fácil encarar as coisas de uma outra maneira, arriscar mais.

Enfim, ficar introspectivo foi um saco por causa da encheção de saco da minha sexualidade. Nem precisava eu embarcar em um ônibus, o simples fato de ir sozinho até a estação já era suficiente para tudo aquilo começar. Enfim, essa menina colorida degradê me venceu pelo cansaço. Aceitei aderir, aos poucos ao discurso dela. Viajar de ônibus para Universidade ficou mais agradável a partir daí.

Mas sabe, posso dizer que andar de ônibus foi fundamental para a aceitação da minha homossexualidade. Porque ficar introspectivo, ouvir os próprios pensamentos e sentimentos foi virando rotina, foi ficando chato, foi ficando irritante e os meus pensamentos e sentimentos têm um forte poder de persuasão sobre mim, quando eles querem, eles me convencem. Mas deixa a minha geopolítica interna.

Como já disse, chegou uma hora que eu me cansei daquela e rotina e daí como forma de espairecer resolvi observar os rapazinhos que estivessem ali, no mesmo ônibus que eu. Assim então pensei é melhor ser gay mesmo, porque realmente homem é muito agradável de se olhar, resta saber como é na prática. Eu resolvi simplificar a minha vida, mesmo não sendo cliente Oi. Hoje digo que andar em ônibus me faz sentir vivo e pode acreditar, é relaxante, divertido e inspirador.

Faz-me sentir vivo por, entre muitas coisas, deixar o meu falo excitado quando alguns sujeitos entram ali no bólido semovente para massas, pois sei que se estou me excitado é porque estou vivo, além de ser um viado. E pensar sacanagens, escanear os gestos e os corpos, me dá mais convicção sobre a existência da razão, aqui entendida como pensamento, e dos meus desejos cristãomentes perversos. Ainda bem que sou ateu daí.

Apesar do empurra, dos atrasos, da superlotação, dos crentes berrando suas crenças, que são muitas vezes inerentes as viagens de ônibus e que faz com que eu pense que esteja em uma narração simbolista, sim porque me sinto um animal comprovando a teoria da evolução de espécies assim, me divirto. É interessante ficar olhando as figuras que entram no ônibus, às vezes dá até para nutrir esperanças.

Mas esse que é o problema, perder a noção da brincadeira e nutrir esperanças. Hoje mesmo comecei a comer com os olhos um boyzinho muito bonito. Ele deve ter uns dezenove anos, adora bermudas e por a mostra os pernas peludas, que eu curto demais, e um jeito bem jovial. Repará-lo estava sendo um baita dum entretenimento, estava até me excitando em ficar ali de pé olhando ele sentadinho olhando a paisagem da janela lateral.

Eu estava excitado então, mas foi perdendo de forma gradual e sensível o vigor quando o ônibus foi lotando e chegou uma racha muito da boasuda, coisa que não curto de jeito algum, e se aproximou ali de nós dois e vi como ele olhava o corpicho que o papai e a mamãe dela deu a ela. Então, eu tinha ouvido pela manhã Paisagem na Janela, mas ver aquele ato de heterossexualidade por parte dele foi como se a minha música fosse parando de tocar como naquelas cenas em que tudo desaafiiinnaaaaa.