quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O não vai dar certo voltou

Por muito tempo as perspectivas no horizonte simplesmente foram capazes de conferir a mim sofrimento ou muita alegria. Anos de terapia e aprendo não dar mais tanta importância para as expectativas, pelo contrário, se apegar ao máximo ao que é possível e não tratar o incerto como fato.

Não sabendo dosar a balança, comecei a ficar cético quanto a um monte de coisas. A vida se tornou um tédio, sem graça, simplesmete ficou quadrada e eu passei a ir para, ou acreditar nas coisas, como se o fato delas não darem certo era o mais esperado e a realização delas um acaso, que nesse caso viria para o bem.

A vida é um aprendizado e uma evolução constante e decidi viver as boas expectativas por antecedência. Uma delas foi o fato dos meus pais pagarem uma cirurgia nada tão sério, porém que custa 15 a 20 mil reais, uma cirurgia na mandibula necessária a minha qualidade de vida.

O preço elevado fez com que esperassemos por muito tempo a cirurgia na rede pública, onde as disputas de ego e política são sempre maiores do que as demandas dos pacientes e por isso a cirurgia não saiu, ou não saí. Meus pais decidem pagar por ela e isso me deu alegria. Comecei a viver a cirurgia antes mesmo dela acontecer, quando o dinheiro, mesmo que não seja o principal, ainda assim é preponderante para que ela aconteça.

O dia é um verdadeiro tédio, um calvário na Universidade. Os discursos são enfadonhos e meus olhos embaçam em sono quando tento fixar o olhar nos slides. Uma diversão, aliás, uma distração é olhar os rapazes em volta, principalmente suas pernas peludas, ou lembrar dos descamisados colegas estudantes das Artes Cênicas em suas apresentações nesses dias do evento.

De volta para casa, até que enfim, olho para a Região Leste e trovões e raios estão a bradar e clarear por lá. Aqui um asfalto ligeiramente molhado e um chuvisco de nada.

Finalmente estou no ônibus que vai me conduzir ao ponto da minha casa. Lá dentro olho os corpos masculinos procurando pelo que não tive e sequer é dessa cidade. A chuva vem e vem grossa, parece que quer levar embora tudo que num quero daquele dia. O tédio, as frustrações, a carência, o cansaço e quisesse anunciar alguma coisa, que poderia ser boa ou ruim.

Desço do bólido semovente para massas, doravante denominado ônibus, inundo meus pés com a água da sargeta, me escondo debaixo da marquiz e olho o véu laranja das lâmpadas de mercúrio. Meu pai chega para me buscar e quase em casa pergunto como foi na firma. Foi que agora meu pai está desempregado, o que significa entre uma série de coisas péssimas, uma mais péssima ainda, a possibilidade, pelo menos para quando planejamos, da minha cirurgia não se concretizar.

Chego em casa estressado já pelo simples fato de imaginar a minha mãe poder escolher a hora d’eu jantar para ser mais um calvário dela, aliás, uma coisa que me irrita profundamente na minha mãe é o seu gosto por sofrer, por viver o que não é positivo da pior forma, o seu processo eterno de se vitimizar, de se achar sofrida. É como se ela não vivenciasse algo negativo se ela não chorasse, esperneasse, berrasse e enchesse mais do que o necessário a minha paciência com essa lamúria.

Janto em paz e nada mais falo com meus pais. Me tranco nesse quarto e escrevo isso para vocês. Celebro ter uma verdadeira inspiração para à vocês escrever agora.