terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Goiânia_Ironias.exe

Acho que está na hora d'eu falar de Goiânia do ponto de quem está aprendendo geografia e que é Homossexual dentro do armário e que tem a esperança de um dia poder assumir e ser aceito. Por mais utópico que isto seja, deixa eu escrever a realidade então...

Bem, Goiânia foi projetada na década de 1930 para 50.000 habitantes até o ano 2.000. A cidade tem 1.200.000 habitantes de acordo com as estimativas de 2.005 do IBGE. Existem vários problemas, mas acho que a cidade é boa e está melhor do que muitas outras cidades de proporção semelhante. Goiânia é a segunda melhor capital em qualidade de vida de acordo com a FGV. Disseram que ela está muito adiantada se comparada até mesmo com Assunción, a capital do Paraguai. Eu gosto daqui, mas existem coisas que poderiam melhorar. O transporte coletivo que já foi melhor num passado próximo, o trânsito, as opções lazer público, o clima, este último apesar de sofrer muita influência humana não é fácil de controlar. Aqui boa parte do tempo é quente e a cidade já foi mais fresca. Ainda assim, o inferno não é permanente. No inverno é quente de dia, frio à noite e seco o tempo todo. O nariz que reclama. Quando chove a temperatura é muito agradável. Mas o que mais me irrita é o pseudo-moralismo e o pseudo-libertarismo, eles são tão falsos em função da imposição um do outro como verdade absoluta. Esses dois males atingem 99% da população. Aqui existem pseudos conservadores e pseudos libertários.

Os libertários são representados por uma pequena parcela da população. Tem representantes na classe operária, que aprende a respeitar os homossexuais através das bichas esteriótipadas das novelas globais, e também na elite econômica e intelectual. O dono de uma das principais rádios da cidade e o um dos maiores jornalista do estado são exemplos. A diferença é que o libertário (entende-se pseudo) proletário possui o senso crítico desprezível e só é libertário enquanto está passando a novela. Também só gosta de ver "viadagem" na novela. Deixa o filho do pedreiro, da operadora de caixa, da costureira, do borracheiro assumir que é gay. No fundo é um conservador que vou tratar a frente. Já o radialista e o jornalista amigo dele, são, se dizem, libertários. Eles criticam o conservadorismo do Papa, sujeito que não gosto também, mas não poupa críticas a parada gay da cidade e dizem achar nojento ver dois homossexuais beijando na boca.

A maioria da população da cidade tem ou diz ter uma religião, quase todo mundo mesmo. São poucos, mas existem muçulmanos e judeus. Outra parte da população pertence a alguma seita fundada por um ex-hippie que hoje não é nada mais do que um charlatão que ganha o dinheiro das trouxas dondocas brancas e elitistas e de seus maridos pederastas e pedófilos. Misturaram nessa seita Buda, Sidarta, alguns deuses indianos, astrologia, alienígenas, reencarnação. Tem muito "seixonoiês" aqui. Existem também alguns "atoas", porém eles não sabem de nada, ninguém sabe, no entanto eles não têm religião, mas não é que tem seus pés atrás com elas, é por preguiça mesmo de freqüentar alguma e/ou por terem raiva de Deus. Mas essas religiões não me chamam a atenção. Chama-me a atenção as religiões de Cristo, ou que dizem ser dele, e os "cristãos". Deixo claro que quem vos escreve gosta do Cristo, mas não dos cristãos.

...

Daí então vem os conservadores, a esmagadora maioria da população. Os conservadores são bem social-democratas. Eles defendem a família, a moral, os bons costumes, a propriedade, a tradição, a honra, vota nos homens de bem da nação, são contra eutanásia, aborto, "homossexualismo", também só pode; e tem religião é claro. Eles são divididos em várias "vertentes" do cristianismo. A maior e mais decadente por aqui, assim como no resto do mundo ainda bem quem sabe, é o catolicismo romano. Boa parte da população tem essa religião, vai uma vez por ano a pé para Trindade, município vizinho onde ocorre uma festa religiosa que em tamanho só fica atrás de Aparecida do Norte em São Paulo. E como sempre, nestas festas tem gente que pouco está se lixando para o Deus e para fé que dizem ter, acreditar. Tem muitas putas por lá, além de esgoto de louça sanitária, montoeira de gente e comida mão feita, mal cozida e mal servida. Ah! mal comida também tamanho é o desperdício e comprometida a qualidade. A maioria dos católicos daqui não é católica. Dizem ser só por convenção ou acomodação mesmo.

Outra parte dos cristãos é protestante. Esses cristãos se cansaram dos falsos ensinamentos cristãos do catolicismo e foram ser tapados no mercantilismo de outras vertentes cristãs. A mais forte daqui e que está muito na moda é a Fontes da Vida. A assembléia não é aquela ralé mal alfabetizada e mal paga que veio do interior do estado ou de algum outro. Ralé da qual sou filho e nela permaneço até este momento. Quem participa dessa fonte são os alpinistas sociais, talvez sirva a palavra "emergentes" para eu não ficar mais arrogante do que já estou nesse texto, e mais alguns burgueses, que ignoro saber como é que eles não foram pender para a seita daqueles ex-hippies charlatões que eu supra citei. As denominações protestantes são infindáveis e na maioria das vezes, pentecostais. Acho que nem nome mais existe para dar a elas, em breve elas estarão usando nomes celtas, gregos, latinos, indígenas, mandarim por que no português já não existe mais nada, todas possibilidades já se esgotaram. Aliás, quem quiser abrir farmácia, vídeo locadora ou lan house, estabelecimentos nenhum um pouco raros por aqui, vai encontrar forte concorrência nas igrejas evangélicas para alugar uma sala comercial, pois até ex-botecos vira igreja aqui. Resultado, especulação no mercado mobiliário.

De certa forma, alguns desses conservadores, cristãos, não são tão fundamentalistas quanto parece. Os mais enrústidos deles tem até um discurso esperançoso e mais libertário, daria pra falar isso se eu fosse ingênuo né? Dizem que respeitam os homossexuais apesar de achar que é errado e que Jesus tem voltar logo para acabar com isso, com essa pouca vergonha. Só acho estranho é que com tanta gente cristã, preocupada com a moral, os bons costumes, a família, a tradição, os ensinamentos éticos e por ai vai; aqui existir as pencas putas, travecos e michês. Belos michês diga se de passagem, embora eles não sejam o que eu quero - a menos se eles forem de graça e quiser algo mais sério do que promiscuidade. Na Região Metropolitana de Goiânia o que tem muito são casas noturnas e motéis. Isso acontece devido o ISS nesses municípios ser mais barato do que aqui em GYN. Aparecida de Goiânia, cidade conurbada a capital, está com sucesso na guerra fiscal, conquistou desde a Arcom e a Mabel até estabelecimentos da categoria do Real Privé e Casa Nova, centros noturnos de lazer masculino e elitista; sem ignorar também as dezenas de motéis. Nos bairros mais antigos, centralizados e tradicionais, tradicionais não quero dizer que sejam bairros nobres e com fundamentalismo cristão, existem os pontos. No Centro temos a Avenida Paranaíba, a Praça Cívica e a Rua 8. E toda orgia é bem democrática, existe o Cat's Night, cabaré de periferia feita pra peão.

É tudo isso é o que eu, homossexual crítico vejo e levo em conta para sair do armário. Mas o principal mesmo é meus pais. Outra vez falo sobre eles, sem ser tão arrogante quanto fui agora, aja visto que eles são as pessoas que realmente mais amo e mais acredito na reciprocidade deles.

Antes de encerrar a postagem quero deixar meus agradecimentos, infeliz pois sei da injustiça que farei a outras importantes pessoas que me cativaram, a dois amigos meus de armário, o Rod e o Eco. Eco, você chegou há bem pouco tempo e eu já lhe considero um dos meus melhores contatos para teclar, tanto é que você está no grupo de contatos prediletos. E Rod, obrigado mesmo, pelas palavras de estímulo e ainda mais por você ser um dos meus quatro leitores fiéis, acredita eu. Ah também pelas citações.

Aproveito para contar que o Rod e o Eco estudou e estuda respectivamente Geografia.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Desfragmentando...

Ah! como que eu queria que as coisas por mais agradáveis que tenham sido fossem diferentes. Poderiam ser mais enérgicas a ponto de me assustar.

O domingo amanheceu, eram 05h30min no relógio do vídeo cassete que só está no meu quarto porque é um aparelho obsoleto. Na verdade eram 06h30min. Eu estou com uma preguiça há um pouco mais de um ano. Por causa dela não consigo fazer coisas ridiculamente simples. Acertar o relógio do vídeo cassete para o horário de verão é uma delas. E são essas coisas que fica me deprimindo e vão se tornando grandes e insuportáveis. Um tropeção e me lembro de um cara...

Indo para a Universidade eu não parava de encarar ele, que não era assim um Brastemp. Mas não sei por que, ele mexeu comigo de tal forma que, por mais que eu tentasse não fazer, eu olhava para ele todo o tempo. Eu olhava pra fora do ônibus, tentava capturar os pensamentos que sempre tenho e que só ouço na solidão introspectiva que tenho no ônibus lotado. Porém, não raro, eu me pegava encarando ele, e não era só olhar para o rosto dele. Olhava para tudo, para o Fila que calçava, o relógio que se não fosse vagabundo seria um Casio. Para a calça, a camiseta preta, apenas preta, muito semelhante a que eu tenho. As mãos morenas, o cabelo liso e baixo. O olhar amigável e safado que não deveria ter mais do que 25 anos.

Lá na metade da viagem ele percebeu que eu olhava toda hora para ele, na verdade eu o contemplava. Ele começou a dar risos, hora eram risadas. Mas não sabia se era de fato para mim. Fiquei quieto, olhei, mais algumas vezes, mas bem menos. Ele desceu dois pontos antes, três pontos antes de mim que desço dentro do campus. Noutro dia eu pensei bem, ele tinha me correspondido. Sabia que ele estudava ou trabalhava na universidade. Eu já tinha visto ele algumas vezes por lá. E tinha mais certeza que ele morava ali perto. Mas ir atrás dele é o que eu não tinha vontade de alguma. Tampouco fazer sexo com ele.

Eu minto algumas vezes, pequenas mentiras que eu solto por não lembrar a resposta ou simplesmente ter preguiça de falar a verdade, seja por ela ser algo que vai me consumir muita saliva, ou seja, por usar muitos dos meus neurônios. Mas não minto por maldade, é uma seqüela, um vício que tenho vergonha de dizer aqui, mas que falo. Vem dos tempos de criança quando mentia para me defender. Mentir, eu menti o mesmo tanto que todas as crianças mentiram, e, em doses "saudáveis". As mentiras que conto são pequenas.

Minha mãe chega para me contar uma fofoca, que sinceramente é algo que eu não gosto nenhum pouco. Ela pergunta: "Lembra da fulana?". Eu lembro, mas de tanta preguiça para simples coisas eu respondo que não, mas lembro. E também não sei quem é também, tem hora que minha mãe é tão genérica com as coisas, e não quero perguntar e não quero saber do resto da história. Acaba sendo pior, minha mãe vai me torrar os ouvidos contando quem é a pessoa, me mandando recordar de coisas que não tenho a menor vontade.

São esses detalhes inúteis, essa preguiça mórbida para me atentar a detalhes e resolver coisas simplíssimas que me provoca boa parte de estresse. Bem mas não é sobre isto que quero falar. É sobre a viagem, na verdade sobre a letargia.

Viajei para a cidade dos meus avôs. A noite de Natal e de Ano Novo foram semelhantes. Exceto o fato que na primeira eu não estava muito gripado. Na verdade, no Natal não estava nenhum pouco gripado. Fiquei até meia noite e meia com a família. Desejei esses clichês que todo mundo deseja a todo mundo. Mesmo existindo o fato de eu não acreditar na sinceridade de todo mundo e para muitos eu não estar sendo sincero. Sou indiferente, havendo em mim somente solidariedade e respeito à pessoa. Sai com a trupe para o centro da cidade, de 27.000 habitantes. Então pensem como é esse centro.

Eu já tinha bebido um pouco nas duas noites, lá desci a cara sem medo. Entreguei a cam a não sei quem. Era de confiança. O lugar era escuro, abafado por mais que o ar condicionado tivesse a mil. Luzes coloridas circulavam e cortavam o ambiente em três dimensões. Flashes faziam tudo aqui ficar em câmera lenta. Meu corpo estava dançando uma música que não se canta e que não acabava mesmo sendo diferente do jeito de quando começo. A batida era a mesma, não mudava. Ouve uma hora que eu não sentia e não ouvia mais nada. O álcool já tinha me subido a cabeça. Estava muito bom. Não queria mais saber das minhas frustrações. Pouco me importava se eu era O GAY DO ARMÁRIO e que se desse bandeira ali, naquela província, naquele cu que só tem meio de tão grande. Seria o fim da minha vida. Mas eu não ia dar bandeira. Eu estava pouco me importando com as pessoas. Eu estava letárgico a tudo.

Só lembro-me de ter acordado com barulho de panelas caindo, isto na manhã do natal, eu na casa da minha avó. Uma depressão e um medo inexplicável tomaram conta de mim. Eita! vontade desmotivada de chorar que me deu. Segurei-me. Na outra noite lembro-me de voltar pra casa da velhinha arrependido. Gripado, querendo as mesmas sensações de antes, de tão mal que fiquei pensei que teria que de ir embora no SAMU, na única ambulância do serviço na cidade. Orgulho daquela gente. Ainda bem que ninguém percebeu os meus espamos.

Agora tenho medo. Apesar da gripe do Ano Novo, as sensações que eu tenho com o álcool foram boas. Mas vou me controlar, conheço muitos que foram consumidos por ele.