A oficina de sexualidade e afetividade que fiz neste primeiro semestre é certamente uma das melhores experiências que eu tive em 2011. Fiquei sabendo da mesma através de um email de divulgação que foi encaminhado pela terapeuta, que descreveu a oficina como algo que ela fez e que é ótimo. Como confio na pessoa que ouve minhas verborragias, me inscrevi logo de cara. Confesso que menti quando na ficha perguntaram o porquê de eu estar interessado em fazer a oficina. Mas mesmo assim eu fui sincero, disse que foi uma indicação da terapeuta, que procuro captar novas vivências, que sou professor e seria bom algo que colaborasse para que eu pudesse me relacionar com os meus pares e alunos, enfim.
Fui selecionado e fiz todas as etapas da oficina, que por serem pautadas na vivência precisou-se que eu dormisse no local, uma organização católica, a Casa da Juventude de Goiânia. É irônico, mas serviu para eu ter uma visão mais otimista da igreja de Roma, pois, entre os assessores da organização e o próprio sacerdote que a coordena, logo deu para notar os valores progressistas a respeito de temas que a instituição católica oficialmente é contrária, entre elas o uso de métodos contraceptivos e a aceitação plena da homoafetividade.
Alguém que seja católico e me lê agora poderá dizer que a Igreja Católica aceita os homossexuais. Aceita, porém aceita em partes e não de uma maneira que confira igualdade em relação aos heterossexuais. Na Igreja Católica ser gay não é motivo para impedir que alguém coordene uma pastoral, faça parte da equipe de liturgia (o mesmo que ministério de louvor dos protestantes), comungue (que no catolicismo significa participar da vida de Jesus Cristo, levando um estilo de vida que tenha por objetivo a santidade). No entanto, um gay católico deve ser casto, ou seja, não pode ter relações sexuais e afetivas com uma pessoa do mesmo sexo que o seu. A Igreja Católica não vai reconhecer como um casal, como alguém digno das bênçãos de Deus, duas pessoas do mesmo sexo e que dormem na mesma cama.
Na CAJU é diferente, senti entre os membros da instituição satisfação em relação a decisão do STF sobre a união estável para os homossexuais, a necessidade de reconhecimento das peculiaridades dos LGBT's e da necessidade políticas de proteção direcionadas a esse público. Além disso, a CAJU turbinou meu círculo de amizades, que anda crescendo, ainda bem, mas num ritmo lento, até mesmo porque amigos vêm de relações que o tempo constrói. Encerradas todas as etapas, criamos um grupo no Facebook onde criamos pretextos para encontrar os novos amigos.
A Casa da Juventude pode ser um paraíso para as mentes progressistas, e é sim. É uma instituição historicamente envolvida com os motores de muitas das mudanças sociais, os jovens, e suas articulações políticas. É uma instituição que pede aos jovens o seu protagonismo juvenil, vive de acolhê-los e denunciar aquilo que os prejudica como o consumo de narcóticos, a inconseqüência no trânsito, a baixa escolaridade, o desemprego acima da média, a criminalidade, a marginalização de sua cultura, valores e expressão.
Contudo, a CAJU é um ambiente ameaçado. Outros setores da Igreja Católica a chama de motel juvenil, lugar onde os jovens fazem sexo de graça enquanto dizem que estão fazendo curso de alguma coisa, pensionato de homossexuais – palavra cujo valor negativo que ela tem entre os fundamentalistas cristãos sabemos bem qual é, lugar que incentiva a impunidade, já que oficialmente ela se opõe a redução da maioridade penal, tema para o qual não me sinto habilitado para falar. Até a Polícia Militar, setores corruptos dela dirá alguns, têm colaborado para desarticular a Casa da Juventude, uma vez que ela, a CAJU, anda de mãos dadas com ONGs, Universidades, Ministério Público, Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, da Assembleia Legislativa, da Câmara Municipal de Goiânia, entre outros lugares nos quais sejam possíveis as denuncias dos abusos que a juventude sofre. As ameaças de morte já foram feitas, resta saber se elas serão concretizadas. Por enquanto, o tiro contra a organização vem daqueles setores católicos que citei, pois eles se mexem e eles podem conseguir que a Arquidiocese feche a casa e com um arcebispo não muito progressista, é possível que este seja o caminho.