sábado, 15 de dezembro de 2007

A Lixeira.

Eu confesso, eu estou no armário, tenho medo de sair daqui e ir pra geladeira como alguns ai dizem. E na verdade eu gostava daquele homem. Mas para não me deixar gostar dele eu resolvi odia-lo, até que consegui, mas os meus desejos eram outros e a verdade nunca saiu do meu coração. Hoje passou, o ódio e a paixão também.

Reduzo lentamente, desço da 3ª para a 1ª marcha. Esterço para direita levemente, metade do carro sobe, pela breve rampa, em cima da calçada. Esterço para esquerda e alinho o resto. Opa! Mais um pouquinho dá! Mais um pouco... freia. Putz!!! Droga derrubou a lixeira.

As lixeiras ficam em nossas calçadas. Geralmente possuem 1,20m de altura por uns 50 cm de largura e comprimento. Mesmo assim não as enxergamos. Nem o desastrado escritor do blog e nem você. Não damos a mínima importância para elas. Não existe Arquitetura & Construção ou Casa & Jardim com sugestões e nem com as tendências mundiais de lixeiras de calçada. Vizinhos não se preocupam se a lixeira do outro é mais bonita, se for não é porque o dono foi mais caprichoso, mas sim por mero acaso. Ninguém tem empenho pela beleza da lixeira. Uma ser mais bonita que a outra é acidente.

Então entendemos porque acidentes como o de hoje acontece. Não é pelo motorista ser barbeiro, mas sim por ele, por cultura, não enxergar a lixeira. Afinal, as pessoas não se importam com as lixeiras. Tanto é que se preocuparam mais com o pára-choque do carro. Eu me preocupei mais, com quanto será gasto pra cobrir o arranhão. Acho que micro pintura resolve, ainda bem, mais ainda bem porque o pára-choque não quebrou. A lixeira ficou quebrada, mas uma hora depois, quando fui tirar o carro da calçada, com cuidado para bater em mais nada; lá estava ela amarrada por arames e pedaços de paus.

Não havia nela sinal de sofrimento. Ela se contenta em ser ignorada, em não ser vista por ninguém, exceto pelos garis que também não são vistos. A lixeira é conformada por ficar ali, sempre parada, sempre na mesma posição, sempre regada pelos cães que demarcam território, no sereno, debaixo do sol infernal, da chuva gélida.

O dono da lixeira só se preocuparia se ela não estivesse mais ali para ser ignorada. Pois sem lixeira ele não pode ignorar os seus lixos composto de usura, segredos, consumismo, futilidades, ignorâncias. Aí sim, eu teria problemas.

Para as pessoas, quem não é hetero é uma lixeira. A lixeira se resume a ser o local pra jogar o lixo fora. E um homossexual a um sujeito que dá a bunda. Mas eu não sou uma lixeira. Quero mais ser o pára-choque.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí garoto... Belas palavras nos dois posts... as vezes me sinto a lixeira tambem, mas ai lembro do que aprendi com minha mae, que devemos seguir sempre de cabeça erguida, por pior que seja o problema... e faço isso... levanto a cabeça e sigo o meu caminho, vivendo um dia de cada vez, e superando os obstaculos um a um... nossa vida é dificil e nossa sexualidade vai contra tudo aquilo que as pessoas adotaram como um padrao de normalidade...

Me emocionei de verdade lendo porque vivi situaçoes muito parecidas ao longo dos meus 25 anos de vida.

Parabens pelo blog.