domingo, 22 de março de 2009

Do melhor amigo



Abrindo a porta do armário:

O meu melhor amigo é o R e a mãe dele, V, é muito amiga minha, aliás, é uma das minhas segundas mães. A mãe dele havia pegado a minha máquina fotográfica emprestada e depois fui buscá-la na casa deles. Em casa estava apenas meu amigo, e o irmão dele – um bebê – que dormia, e pensei em ir embora. É incrível, por mais intimo que eu seja naquela casa ainda me sinto um tanto quanto tímido. 

Disse a ele que iria embora, pois em casa o clima está meio tenso, trevoso como eu diria meses atrás. Ele quis saber o por quê e eu disse que não era nada. Mas ele insistiu para saber e ficamos ali naquele “fala” da parte dele e “não falo” da minha parte, um lenga-lenga tedioso. Ele disse que com ele eu poderia contar e então acionei o modo EXPLODA e comecei a falar para ele algo que sabemos bem. 

Disse a ele que existem coisas que não escolhemos, mas que precisamos seguir, até mesmo porque depende nossa felicidade disso, e que algumas pessoas como a minha mãe complicam. Ele é sagaz e inteligente, logo entendeu ou começou a fazer ideia do que eu estava falando e já perguntou como vai a minha relação com meu pai. Disse que com meu pai as coisas vão bem, ele não se preocupa com isso, ele continua o mesmo comigo. Isso o deixou surpreso, principalmente porque ele imaginava meu pai conservador, o que não é bem assim, muito antes, pelo contrário.

A conversa fluiu e ele disse algumas coisas que eu sei, entendo e que tenho dificuldade de incorporar na prática relacionada a mim e à minha mãe, mas que é importante repetir. Disse outras coisas, que eu não sou um bicha, fez as críticas as depravadas e eu disse a ele que não tenho interesse de fazer da homossexualidade o meu cartão de visita. Nisso concordamos bem. Disse também que pensei em nunca falar a ele sobre a sexualidade, já que ouvia da parte dele algumas piadas homofóbicas (?) e ele replicou dizendo que são brincadeiras. Me convenci disso. 

Falamos sobre muito mais coisas a respeito disso, dos tipos da universidade, dos grupos ativistas e tudo. Relevante contar é que eu agradeci a ele, afinal de contas tive medo que para ele uma amizade que existe desde muito cedo, talvez desde os três anos, não valesse nada para dois caras de 19. Fiquei feliz, não que a semana tenha sido ruim, foi ótima aliás, mas contar com apoio do meu melhor amigo valeu por todos os dias.

Sobre o meu melhor amigo:

Não sei precisar bem a idade, mas talvez seja aos três anos que eu o vi pela primeira vez e posteriormente começamos nossa amizade. O bairro ainda era novo, não existiam muitas casas, fomos um dos primeiros a nos mudar para cá, ele e sua família veio logo em seguida. Eu passava com minha mãe na frente da casa dele, lembro que sua mãe varria a rampa e cumprimentou a minha, embora ainda não fossem amigas. Ele segurava uma bola e estava sentado na escada e disse um alegre “Oi”. Talvez ele nem lembre disso, acho que não.

Não sei precisar o tempo, quando criança não tinha noção espaço-temporal eficiente, mas sei que foi pouco para nossos pais serem amigos e eu me aproximar dele e da irmã dele, pela qual também nutro muito carinho. Logo de cara dá para falar que o R é o meu melhor amigo há muito tempo. Se é recíproco da parte dele não sei e nem me preocupo em saber. Desde meus três anos será? Não sei! Mas sabemos o peso que um amigo de longa data tem em nossas vidas, nas experiências, nos momentos importantes da vida, ainda mais se ele for considerado pela gente o melhor amigo.

O melhor amigo, para quem preza as amizades e as pessoas que vivem ao redor, é certamente uma das pessoas mais importantes para a vida desse indivíduo. É interessante compartilhar coisas de nossas vidas com o melhor amigo e poder ficar a vontade para não esconder a sexualidade, se formos homossexual, não é diferente. 

Quem acompanha o blog há um bom tempo, sabe que por um período pensei viver minha verdadeira sexualidade escondido de todos aqueles que me subentendiam heterossexual. Com a evolução e as mudanças no meu ponto de vista a respeito da homossexualidade e das pessoas a minha a volta, ficou claro também que passou a existir algumas pessoas para as quais passei a tratar como sendo interessante o conciência delas a respeito da minha condição. Essas pessoas são alguns amigos do colégio, meus pais – sendo que a tranqüilidade da minha relação com minha mãe seja frágil, e o meu melhor amigo, assim como a mãe dele.

domingo, 15 de março de 2009

As teorias


Diz a tese que o homem que tiver o dedo indicador maior que o anular, provavelmente será homossexual, e caso tenha o dedo anular maior que o indicador, provavelmente ele será heterossexual. A primeira vez que ouvi sobre essa teoria foi no Fantástico, em seguida na internet em ocasiões diversas. 

No meu caso a teoria se aplica, conforme a foto, tenho o dedo indicador maior que o anelar, o que sugere que eu seja homossexual. A teoria sugere e eu confirmo conhecendo a mim tão bem, sou homossexual.

Ao dizer sobre essa teoria, a da relação do tamanho dos dedos, vi que não é bem assim. Muitos tinham o dedo indicador maior que o anular, indicativo de homossexualidade. Outros, compondo um número bem relevante, que não sei precisar se chegavam a ser maioria ou minoria possuíam o dedo anular maior do que o indicador, indicativo de heterossexualidade, no entanto eles foram categóricos ao dizerem que eram homossexuais já que eles não tinham a menor dúvida quanto a isso.

É uma teoria, a ciência se pauta pela repetição do processo, observação do tamanho dos dedos e a relação com a sexualidade do indivíduo, e obtenção do mesmo resultado sempre para ter segurança sobre suas afirmações. Porém não é isso o que acontece, existem muitas excessões e havendo excessões jamais poderá tornar uma lei essa teoria. Lembro do bom senso do cientista que faz estudos sobre ela, ele disse que a teoria é essa, mas existe muitas questões serem resolvidas e saber se ela é válida ou não.

O que a teoria diz sobre as meninas não sei, só lembro que o dedo indicador maior que o anular, homossexual, é o padrão comum entre as mulheres, que pressupõe serem heterossexuais.

Bom, o que eu quero é que quem ler essa postagem diga como a teoria se aplica a você, dizendo quem é maior que quem e a sua condição sexual. Até a próxima, aqui no Mundo de Beakman.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Você é o meu balão


Quando criança, eu ia a muitas festas infantis. Nelas brincava-se muito, comia-se muito brigadeiros, salgados, sempre rolava o "Com quem será" depois de cantar parabéns. Enfim, eram divertidas as festas e eu gostava muito do final, quando os festeiros pegavam os balões que adornavam e distribuiam as crianças. As festas eram geralmente a noite e eu chegava em casa em um horário que eu costumava estar dormir, então chegava muito cansado e deixava para curtir meus balões no outro dia.

Os balões para mim sempre foram mais do que objetos feitos de um elástico latex com perfume peculiar. Foram para mim a continuidade da diversão em casa, recolhido comigo mesmo na minha infância solitária, sem irmãos e com a presença de amigos talvez menor do que em comparação a média. E dos balões posso dizer que eles não foram apenas balões no meu universo infantil. Nunca atribuí a eles nomes, mas atribuí a eles personalidades, nada mais reflexo da minha própria.

Me encatava nos balões o colorido, pareciam sempre estar sorrindo, a leveza, a flutuação. No fim acabava eu criando um certo laço afetivo com eles e com eles eu tive um pouco da sensação de se perder algo querido, seja repentinamente - estouro - com a falta de cuidado de uma criança, seja ao longo dos dias em que eles iam murchando, perdendo a leveza e as cores vivas e brilhantes passando para umas densas e opacas.

Mas então, eu só sei que apesar de tudo que não seja interessante, ainda assim muito eu gosto de balões e que você é o meu balão.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Amanhã ou Depois.



Na minha relação com a minha mãe muitas coisas são complicadas. Tenho notado que ao longo dos anos a nossa relação que era muito afetiva por parte de nós dois foi se acabando. As manifestações de carinho acontecem apenas por parte dela e mesmo que ela seja carinhosa eu ainda me sinto incomodado. Talvez tenha acontecido em função da definição da minha personalidade que é muito diferente da dela. Não gosto disso e acho que sou muito injusto com a minha mãe.

 

Por um tempo fantasiei que as coisas entre nós dois poderiam melhorar caso ela soubesse da verdade sobre minha sexualidade. Muitas mentiras e omissões que eu fazia a respeito de mim tendo a sexualidade iriam desaparecer e eu ficaria mais tranquilo, mais sereno. Fiquei mais tranquilo sim e também mais sereno, mas não atingi o objetivo que quis. Continuo agressivo, no entanto agora é diferente.

 

Certamente fico irritado pela forma como minha mãe age diante da situação. É degradante a forma degenerativa como minha mãe conduz a situação sobre a minha sexualidade. Sem sombras de dúvida ela gosta de mim, mas a felicidade dela está em me ver heterossexual, o que é impossível. Ela não sabe, ela é inocente quanto a isso, ingênua, mas ela me magoa muito quando deseja e reza ao Deus dela para que isso aconteça.

 

Abstenho-me de fazer muita coisa que eu imaginei que poderia fazer, e posso fazer, quando tivesse saído do armário. São degradantes as perguntas, a comotion (leia-se choro e chantagem sentimental) que minha mãe faz quando eu saio de casa. É uma sabatina pautada em dúvidas sem nexo, expressa com termos degradantes por parte dela ou tom de voz alto e expressões agressivas que preciso fazer para sair de casa sozinho.

 

Não importa o que se diga e o que se faça por agora, minha mãe acha que sempre vou fazer “safadagem” com alguma bicha (homossexual depravada e que todos percebem a sexualidade) doente que vai me deixar doente também, preferencialmente com AIDS como se fosse essa doença exclusiva aos e a todos homossexuais. E como se não bastasse, ao final me deixar falado, pesadelo para ela. Agora minha mãe deu para escolher até com quem, mesmo que heterossexual, posso assistir filmes que vão ter como temáticas a homossexualidade. Ela tem pavor que eu conte para pessoas como o meu melhor amigo e a mãe dele, que fecharão um ciclo de pessoas para quais acho conveniente contar.

 

Em função das atitudes da minha mãe e do meu comodismo em enfrentá-las eu fico em casa. Recuso muitos convites de pessoas daqui de Goiânia que poderiam terminar em amizades ou até em uma relação, se for para ser, por causa disso.

 

***

 

Falar de si mesmo é importante, pois é ouvimos opiniões sobre nós pautadas no que não percebemos. Também ajuda escrever para os outros tendo a própria vida como base da argumentação. É assim que olhamos para nós mesmos e entendemos melhor como comportamos, pensamos, sentimos, enfim.  Faço isso aqui no blog e faço isso na comunidade do Armário.

 

Na comunidade do Armário falei sobre minha relação com minha mãe, os amigos de lá foram certeiros com os conselhos, me disseram tudo o que eu sabia de certa forma, só não tinha me dado conta que servia para mim e que preciso muito usar. Agora falta por em prática, entender que eu não posso exigir da minha mãe o que ela não consegue. Eu sou o responsável por ter saído do meu armário, diante das pressões prós e contras, e sou também o responsável pelo o que vier agora tendo essa saída como pano de fundo.  

 

Cabe a eu agir da melhor maneira possível para melhorar a situação com a minha mãe.

 

Na última noite não fiquei até o horário de costume na internet, estava achando aquilo um tédio e morrendo de vontade de me ver ocupado novamente com minha faculdade. Assisti quatro finais de jornais, tentei dormir. O sono não veio e chegou o momento em que liguei meu mp4 que carreguei só com músicas acústicas.

 

Nisso tocou Amanhã ou Depois da banda gaúcha Nenhum de Nós. Rolou algumas lágrimas ao ouvi-la, pois a música fala bem da minha relação com a minha mãe com uma rica fidelidade. Amanhã ou Depois será a trilha sonora doravante da minha relação com minha mãe. Adoro as metáforas e os seus compositores, ainda mais em boas melodias.

Amanhã ou Depois


Deixamos pra depois uma conversa amiga
Que fosse para o bem, que fosse uma saí da
Deixamos pra depois a troca de carinho
Deixamos que a rotina fosse nosso caminho
Deixamos pra depois a busca de abrigo
Deixamos de nos ver fazendo algum sentido

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
For nunca mais... nunca mais

Deixamos de sentir o que a gente sentia
Que trazia cor ao nosso dia a dia
Deixamos de dizer o que a gente dizia
Deixamos de levar em conta a alegria
Deixamos escapar por entre nossos dedos
A chance de manter unidas as nossas vidas

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
For nunca mais... nunca mais