Abrindo a porta do armário:
O meu melhor amigo é o R e a mãe dele, V, é muito amiga minha, aliás, é uma das minhas segundas mães. A mãe dele havia pegado a minha máquina fotográfica emprestada e depois fui buscá-la na casa deles. Em casa estava apenas meu amigo, e o irmão dele – um bebê – que dormia, e pensei em ir embora. É incrível, por mais intimo que eu seja naquela casa ainda me sinto um tanto quanto tímido.
Disse a ele que iria embora, pois em casa o clima está meio tenso, trevoso como eu diria meses atrás. Ele quis saber o por quê e eu disse que não era nada. Mas ele insistiu para saber e ficamos ali naquele “fala” da parte dele e “não falo” da minha parte, um lenga-lenga tedioso. Ele disse que com ele eu poderia contar e então acionei o modo EXPLODA e comecei a falar para ele algo que sabemos bem.
Disse a ele que existem coisas que não escolhemos, mas que precisamos seguir, até mesmo porque depende nossa felicidade disso, e que algumas pessoas como a minha mãe complicam. Ele é sagaz e inteligente, logo entendeu ou começou a fazer ideia do que eu estava falando e já perguntou como vai a minha relação com meu pai. Disse que com meu pai as coisas vão bem, ele não se preocupa com isso, ele continua o mesmo comigo. Isso o deixou surpreso, principalmente porque ele imaginava meu pai conservador, o que não é bem assim, muito antes, pelo contrário.
A conversa fluiu e ele disse algumas coisas que eu sei, entendo e que tenho dificuldade de incorporar na prática relacionada a mim e à minha mãe, mas que é importante repetir. Disse outras coisas, que eu não sou um bicha, fez as críticas as depravadas e eu disse a ele que não tenho interesse de fazer da homossexualidade o meu cartão de visita. Nisso concordamos bem. Disse também que pensei em nunca falar a ele sobre a sexualidade, já que ouvia da parte dele algumas piadas homofóbicas (?) e ele replicou dizendo que são brincadeiras. Me convenci disso.
Falamos sobre muito mais coisas a respeito disso, dos tipos da universidade, dos grupos ativistas e tudo. Relevante contar é que eu agradeci a ele, afinal de contas tive medo que para ele uma amizade que existe desde muito cedo, talvez desde os três anos, não valesse nada para dois caras de 19. Fiquei feliz, não que a semana tenha sido ruim, foi ótima aliás, mas contar com apoio do meu melhor amigo valeu por todos os dias.
Sobre o meu melhor amigo:
Não sei precisar bem a idade, mas talvez seja aos três anos que eu o vi pela primeira vez e posteriormente começamos nossa amizade. O bairro ainda era novo, não existiam muitas casas, fomos um dos primeiros a nos mudar para cá, ele e sua família veio logo em seguida. Eu passava com minha mãe na frente da casa dele, lembro que sua mãe varria a rampa e cumprimentou a minha, embora ainda não fossem amigas. Ele segurava uma bola e estava sentado na escada e disse um alegre “Oi”. Talvez ele nem lembre disso, acho que não.
Não sei precisar o tempo, quando criança não tinha noção espaço-temporal eficiente, mas sei que foi pouco para nossos pais serem amigos e eu me aproximar dele e da irmã dele, pela qual também nutro muito carinho. Logo de cara dá para falar que o R é o meu melhor amigo há muito tempo. Se é recíproco da parte dele não sei e nem me preocupo em saber. Desde meus três anos será? Não sei! Mas sabemos o peso que um amigo de longa data tem em nossas vidas, nas experiências, nos momentos importantes da vida, ainda mais se ele for considerado pela gente o melhor amigo.
O melhor amigo, para quem preza as amizades e as pessoas que vivem ao redor, é certamente uma das pessoas mais importantes para a vida desse indivíduo. É interessante compartilhar coisas de nossas vidas com o melhor amigo e poder ficar a vontade para não esconder a sexualidade, se formos homossexual, não é diferente.
Quem acompanha o blog há um bom tempo, sabe que por um período pensei viver minha verdadeira sexualidade escondido de todos aqueles que me subentendiam heterossexual. Com a evolução e as mudanças no meu ponto de vista a respeito da homossexualidade e das pessoas a minha a volta, ficou claro também que passou a existir algumas pessoas para as quais passei a tratar como sendo interessante o conciência delas a respeito da minha condição. Essas pessoas são alguns amigos do colégio, meus pais – sendo que a tranqüilidade da minha relação com minha mãe seja frágil, e o meu melhor amigo, assim como a mãe dele.
5 comentários:
Me deu vontade de escrever sobre meu melhor amigo também.
rsrs
o que seria de nós sem nossos melhores amigos?
Adorei o texto. Pudi contar pra uma amizade que é mestranda em filosofa, mente aberta. A experiencia de se abrir para alguem querido é sempre bom, faz bem pra alma e fortalece a amizade, afinal segredos nos aproxima. Bj querido!
Well, meu amigo...
Lindo esse seu relato, que bom que vc tem um amigo de infancia, eu nao tenho nenhum, mas tenho amigos maravilhoso que conquistei nos ultimos anos e q foram essenciais para a virada ocorrida em minha vida e vc encabeça a lista com certeza..
Bjos, te adoro...
Well, meu amigo... Parece que tivemos a mesma sorte hein!? Aconteceu algo parecidíssimo comigo, exceto pela parte do gênero. Quando minha melhor amiga soube de mim, tudo ficou mais leve. Nossa amizade até se fortaleceu.
É muito bom termos o nosso porto seguro pra todas as horas.
Abraços, querido! E continue postando! xD
Eu penso q se gosto de alguém de verdade, não posso mudar do dia pra noite só pq alguém me contou algo...
Um amigo dos tempos da universidade confessou q é gay. Eu gosto muito dele mas não falei nada sobre mim. Eu disse q continuaríamos sendo os mesmos amigos de sempre e q nada mudaria e q ele poderia contar comigo sempre. Ele me disse q tinha certeza q a minha reação seria essa e eu fiquei feliz por ele me considerar um grande amigo.
Belo post, querido! Abraço! =)
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