quarta-feira, 27 de maio de 2009

Datena: fomento aos preconceitos na TV

Como todos devem saber, José Luís Datena apresenta na TV Bandeirantes o programa Brasil Urgente. Esse programa de Brasil não tem muita coisa, além do nome e do objetivo de sua publicidade irritante, já que as matérias raramente saem de São Paulo. A essência do programa é seu patético apresentador, Datena, que é o que incomoda.

Ultimamente Datena tem se denominado contra pedofilia. No entanto, aquele senhor não entrevista em seu programa nenhum especialista reconhecido na área para que esse explique o que é pedofilia, quem é e como identificar uma pessoa pedofila, o que a pedofilia provoca na vida de quem é abusado. Datena faz ao contrário disso, a forma que ele escolhe para abordar os casos de pedofilia desinforma e coloca nas pessoas mal informadas o medo e preconceitos.

Diariamente no Brasil Urgente são exibidas reportagens sobre crimes relacionados à pedofilia. Quando essas reportagens se encerram, Datena começa a rotular, a culpar e a sentenciar os até então acusados. Faz parte de seu discurso exigir atitudes das autoridades com palavras de ordem e sem nenhuma análise crítica do caso como se as coisas se resumissem e se resolvessem com isso.

Mas Datena apresenta as coisas assimo porque não percebe ou está mal intencionado.

Nessa semana o intitulado jornalista mostrou em seu programa uma quadrilha que agenciava meninos pobres nas regiões Norte e Nordeste para prostituí-los como travestis na cidade de São Paulo. Para se referir ao caso, Datena dizia que uma quadrilha agenciava garotos NORMAIS e os TRANSFORMAVAM em HOMOSSEXUAIS e TRAVESTIS. Existem muitas pessoas que não vêem nada de mal nisso. Porém as palavras assumem significados diferenciados conforme o contexto em que são utilizadas.

Assim como não explica cientificamente de forma clara, objetiva, racional sem a sua típica passionalidade sensacionalista Datena não mostra também nesses mesmos critérios o que é homossexualidade, o que é um travesti, sequer define o que é ser normal, muito menos com competência cientifica. Portanto não pensem que está tudo bem. Eu por enquanto não vi nada que seja homofóbico da parte de Datena, mas acho que não vai demorar para que isso aconteça. Suas palavras são cobertas de sutil duplo sentido e ele não faz os parênteses necessários.

Não estranhem se um dia alguém de 17 anos for proibido pelos pais de namorar alguém de 18 anos por se pensar que isso seja pedofilia. Não estranhem se um dia a homofobia usar contra nós argumentos como os que se somos homossexuais é porque fomos abusados e se somos homossexuais é porque somos pedofilos. E quando isso acontecer também não estranhem se quem usar desses argumentos sejam fãs de Datena.

A forma de jornalismo usada no Brasil Urgente, que não é Brasil e nem urgente, é maçante, desnecessária, não adianta e não acrescenta nada a não ser preconceitos oriundos de dúvidas e das trevas da ignorância. Está na hora de Datena ser tirado do ar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Memórias do vigésimo



Hoje é o dia do meu 20º aniversário e não tenho entusiasmo para comemorá-lo. Vem-me a mente umas reflexões e umas conclusões pessimistas. Eu acredito que eu tenho evoluído, tenho ficado melhor a cada ano, principalmente nos últimos dois anos. Motivos para comemorar eu tenho, só não tenho entusiasmo.

Quando completei os 18 anos de vida decidi viver bem com a minha sexualidade. Naquele dia só não imaginei que em tão pouco tempo, dois anos que se completam no dia de hoje, estaria onde estou, principalmente sendo assumido para as pessoas mais importantes, entre elas os meus pais.
Por um lado eu ganhei, por outro perdi e perdi justamente o que eu não queria perder, os tantos amigos que tive no passado. Não, ninguém se afastou de mim por causa da minha sexualidade, sequer sabem dela. Eles podem desconfiar, mas não saber. O que aconteceu é que não vou mais aos lugares que encontrava os amigos, principalmente o colégio e a Igreja.

Não vou mais a Igreja, o lugar que mais me proporcionou amigos, momentos e boas experiências. Não vou mais a Igreja porque não gosto dos fariseus embriagados em seu conservadorismo, em suas teorias a respeito da existência de uma força superiora, um deus, que não consigo acreditar. Não me faz sentido aquilo, nem mesmo as músicas que até hoje liberam em mim os hormônios do prazer. Além disso, o grupo de jovens não será o mesmo, não terá as mesmas pessoas. No fundo, me sinto um estranho, algo externo e estranho ao ambiente de uma Igreja.

Quanto ao colégio, a esse nunca mais voltarei como estudante e nem como adolescente. Aqueles tempos foram outros, também com suas pessoas, sua nostalgia, essência.

Na universidade tudo é diferente, não conheço todo espaço da instituição que é enorme. As pessoas são isoladas, como já disse outra vez, em seus prédios, ciências, leituras. É meio estranho. Tenho amigos por lá, poucos e proporcionalmente não tanto quanto no ensino médio. Além disso, as amizades não têm aquela passionalidade adolescente, são muito formais e não sei até que ponto vão, tanto é que não confesso minha sexualidade a elas.

Há dois anos, no dia do meu aniversário já teria recebido várias ligações e teria muitos para convidar para um rodízio na pizzaria, hoje é diferente. Talvez não fosse assim se nesse tempo todo que se passou, que me distanciei aos poucos das pessoas, pensasse em cultivar as muitas amizades que tive tendo em mente que tudo que vou me distanciando, vai aos poucos, ficando menor.

Conforta saber que eu não tenho nunca houve atritos com alguém e eu, as amizades sempre foram cordiais. Conforta saber que hoje sobrou as que eu sempre achei melhor. Mas mesmo assim gostava daqueles dias em que as rodinhas de violão, os DVD’s na casa de alguém depois da aula, os almoços de domingo, as caravanas levantavam minha autoestima e fazia eu pensar que não estava passando em branco na vida de ninguém.

Talvez eu peque muito idealizando, idealizando como as coisas deveriam ser para me agradar. É bem verdade que nunca estou satisfeito, existem sempre algo que para mim deve melhorar e não que eu seja infeliz, não me considero infeliz, irei ficar muito incomodado.

Posso concluir usando de umas das mais belas músicas do Lenine, que explica bem o que sinto e o que quero...

“Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa”

sábado, 16 de maio de 2009

Uma crítica que pretende anarquista

Ser homossexual não afirma nada além do fato de gostar de pessoas do mesmo sexo, todo o resto são adereços que podem ou não existir e que dependem do individuo. Mas estamos secularmente acostumados a um modelo positivista, que visa explicar a tudo e todos usando leis gerais tiradas a partir de pequenas partes.

Mesmo assim, ninguém por ser homossexual vai ser passivo, efeminado, gostará de divas ou utilizará e se portará espalhafatosamente. Muito menos tem o involuntário papel messiânico de sair às ruas gritando aos quatro cantos sua sexualidade intolerada socialmente e querer a partir disso uma transformação social, política, ou às vezes simplesmente carnaval.

Além disso, quando se vive em uma sociedade heteronormativa é legitimo que muitas pessoas homossexuais escolham viver escondidas, inclusive de suas famílias e amigos, abrindo seus armários para poucas pessoas. Porém, o que falta em muitos armariados é questionar a si mesmos, seus valores, seus padrões antes de se pensarem dignos de acusar algum grupo, muitas vezes semelhantes a si.

Outro dia, quem se dizia contra pessoas taxativas, criou pela N vez um tópico com uma visão determinista, além de pessimista, a respeito da homossexualidade, taxando o mundo homossexual de fútil. Na comunidade surgiu um debate extenso. Muitos concordaram com o autor do tópico, mas a maioria, pelo menos de quem postou, felizmente discordou das taxações e perseguições a um perfil de homossexual, o dos efeminados freqüentadores de baladas, fãs de Mariah Carey e super produzidos.

O que falta aos homossexuais armariados é a percepção de que as mesmas condutas morais que eles usam para discriminar efeminados são as mesmas que a sociedade e as religiões, que insistem em professar, usam para condenar simplesmente pelo fato de serem homossexuais os armariados. O que não pode ignorar também a mudança que esse perfil de homossexual, organizados em seus ativismo conseguiram para mudar para melhor nosso mundo.

Se sentir atraído por efeminados sexualmente ninguém é obrigado, mas respeitá-los enxergando-os no mesmo patamar de importância e dignidade humana que nós é necessário. Até mesmo porque mundo gay é uma concepção heteronormativa e ignorante a respeito da diversidade sexual além de limitada e taxativa. Sem contar que mundo gay é feito pelos gays. Se habitasse no imaginário coletivo de que os homossexuais são sempre discretos, a concepção de mundo gay também mudaria.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Nem tudo precisa de título.


Ah! Que vontade de escrever conforme me vem às coisas na cabeça sem me preocupar com a linearidade e com os meus objetivos. Sei lá, falar o que eu tenho pensado nesses dias, mesmo que não tenha pensado muito em mim. Mas tenho que exercitar o pensamento linear e adestrado. Assim também como é interessante falar de mim, pois é o que eu tenho propriedade para bem dizer. Então...

Então que eu falei da última vez das paixões de adolescência, mas essas paixões se foram junto com os medos e as incompreensões que me acompanhavam naquele período da vida. Nunca mais me apaixonei. Bem, não chamo os processos similares a esse de agora de paixão, ainda não.

Que inconclusivo estou.

Lá existem outros que são bonitos também, são de encher os olhos e fazer brotar em mim uma certa carência. Lógico, também imagino-os em diversas situações, de uma simples conversa a respeito do conteúdo, sendo que fico muito feliz quando uma dessa se torna real, até um beijo. Bom que já dá para definir agora quem também é colorido conforme vou lapidando o radar.

Imagino também como deve ser seus abraços, as sensações que passam através do tato vindas de seus corpos. Ok, eu confesso, também os imagino nus, e não me recordo, talvez mais que isso. Tenho a mania de olhar para os dedos para deduzir o tamanho. Claro, contextualizo o tamanho e o formato dos dedos com o biótipo e não me perguntem como, eu costumo acertar o tamanho.

Mas deixo os pensamentos libidinosos para depois. Eu penso muito em todos de lá, mas entre todos alguém se destaca e nesse alguém, que sabe lá o porquê, eu penso mais.

Diferente das paixões de adolescente eu não fico me sentindo ridículo, e não fico pensando tanto assim, não imagino tanto as hipotéticas situações, não fico constrangido assim. Pelo menos por enquanto não. Agora é diferente, sei lá, é muito bom e frustrante também. Ai que porra! Camões! Camões! Camões!

Mas eu não estou apaixonado, mas se continuar irei ficar, pois é um processo isso tudo.

Gosto das tardes de terça e de quinta feiras, só não gosto da disciplina da quinta, mas gosto da turma. São os dias em que o vejo. Saco, cinco metros é muita coisa, melhor é claro que se fosse do outro lado da sala. Porém, mesmo que fosse um metro apenas, na carteira ao lado ainda ficaria distante. A timidez, a cara de pau que não possuo para chegar e puxar conversa torna qualquer distância uma unidade astronômica (distância média da Terra em relação ao Sol).

O gaydar, em estágio beta e que insisto em por para funcionar, o gaydar que não é capaz de me dar resposta alguma. Agora ele ficou um individuo assexuado.

Mas a cada vez que eu o olho fico feliz, me sinto saciado de alguma coisa e fico carente também, querendo algo que não tenho e que sinto falta, ou melhor, nunca tive. Sinto um leve constrangimento pelo medo de que alguém perceba que eu o olho. E olho mesmo, olho com gosto, vou escaneando até a forma como gesticula, o sorriso, o espírito humilde e adocicado, vários signos que se encontro em outra pessoa me lembra ele.

Quando a aula acaba sempre olho para trás. Olho sempre para trás, sempre que algo para mim não terminou, algo que precisa ser resolvido. Fico melancólico e é frio, mas essa é a perspectiva enquanto não tomar iniciativa de ir em busca da realização dos meus desejos.

Último devaneio

DIRIGIR é uma falsa sensação de liberdade. Na pista da direita não se anda com regularidade, sempre haverá alguém andando, saindo, balizando. Na central sempre haverá alguém mais lento que eu e na da esquerda, quando eu pensar que estou rápido, haverá alguém mais rápido que eu chegando por trás e querendo passar. Deixo passar indo para pista central e sendo atravancado pela lesma da frente.

Sem contar que sempre que estiver andando em velocidade cruzeiro, com quinta marcha a 60Km/h na via arterial ou 80 Km/h na via expressa, haverá algo, não importa o que, um semáforo, uma rótula, uma anta, uma plaquinha de “Os transtornos passam e os benefícios ficam” para estreitar a pista, com eles a velocidade e redobrar a atenção.

Pois é, o período pós autoescola já passou, acabou um pouco antes do primeiro ano da provisória vencer.