quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre o meu catolicismo

Minha mãe é assim, católica. Para mim ela não é tão católica. Aliás, ela é católica, daquele jeito podre de ser católica. Ele me batizou, por um tempo eu agradeci por isso. Arrumou meus avós maternos para serem meus padrinhos e para eu, que achava que padrinhos tinham algum grau de parentesco, foi o fim. Eu fiquei putaiado. Avós padrinhos é redundância, ora essa. Sem contar que o que vinha a minha mente quinquenal era o fato de um presente a menos no Natal, no dia das crianças, no aniversário.

Ela me mandou fazer catequese e consequentemente, primeira comunhão. Foram três anos chatos, eu vendo um monte de moleque fazendo primeira comunhão e no meu dia de vestir aquela tunica branca… aff, que coisa mais sem graça e que tunica mais quente, apesar de branca.

Lembro do padre, um cara duns 30 e tantos anos, meio careca e meio gordo. Ele brincava com os catequisandos, jogava aqueles tecidos que vão por cima da batina e ficávamos parecendo freiras. Fiquei sabendo que ele não é mais padre e casou. É, o monsenhor não orou e não vigiou, casou porque a carne é fraca ou simplesmente porque é humano mesmo.

No dia da primeira catequese, digo comunhão, lembro que o padre usava verde. Achava um absurdo e uma falta de consideração ele usar verde só porque era tempo comum. Mas não era, era a nossa primeira eucaristia, ele deveria usar vermelho. Afinal de contas, aquilo lá era uma festa, da qual os três centos de salgados que minha mãe comprou não vimos. Muito menos as garrafas de guaraná Antartica. Mas as de Xuá, Big Boy e Micos, que tinha gosto de sabão, estavam lá.

Nesse dia o padre falou algo que achei bonitinho e que acho que carregarei por toda vida. Ele disse que a hóstia maior não era para o padre comer e sim para dividir e dividir é algo bonitinho, que devemos fazer. É, eu acho que precisamos dividir mais as coisas, mas não vou dar esmola a ninguém no semáforo e vou fazer cara feia mesmo viu minha senhora!

Outro evento chato da minha vida foi a crisma. Tentei me crismar na CEB, Comunidade Eclesial de Base, da qual regionalmente faziamos parte. Não deu certo, foi um, depois outro, depois mais outros, e todos meus parcos coleguinhos de crisma subiram para a paróquia mesmo para fazer a tal da Crisma.

Não não, eu estou pulando uma parte. Antes da crisma e depois da primeira eucarístia, tinha uma outra coisa que minha mãe me obrigava a ir. Na tal Juventude Missionária, juventude não sei onde, tava mais para pré adolescência intrigária, porque missionário era o que não éramos também. Ficavamos lá só tirando com a cara do outro, criando intriga.

Na Juventude Missionária ficávamos cantando cabeça ombro joelho e pé da Xuxa, quando o espírito de Deus se move em mim eu rezo como rei Davi de não sei quem, e ainda se vier noites traiçoeiras do padre Zezinho. Era legal também. Brincávamos de telefone sem fio, comiamos quitutes caseiros que as catequistas traziam das casas delas, liamos coisas chatas da Bíblia e aqueles textos mela calcinha que mandam por email, aqueles de auto ajuda e lições de vida. Era legal, apesar de perca total de tempo.

Mas voltando a crisma, eu batia muita punheta quando tinha 15, 16 anos. Tipo, às oito horas da manhã tinha que estar na Igreja para aguentar a professera (?), a doutrinadora falando baleiês. Mas eu acordava às 07:30 e só não ficava irritado por ter que acordar cedo no domingo para ir a igreja, porque acordava de pau duro. O que eu fazia? Tocava uma ali na cama, me limpava com o tapete, e como os jatos eram quentinhos. Entrava para o banho para tirar o futum da porra, saia de casa às 8:01 para chegar lá na Igreja às 08:14 pingando de suor, logo não adiantava tomar banho. Eram só sete quadras, mas as quadra de Goiânia só não são piores que as de Brasília em largura, porque comprimento são piores.

Era bom apesar do sono e do calor, primeiro porque eu gozava, segundo porque eu tinha que pular aquela parte chata de ficar em pé, esperando todo mundo fazer um pedido, um agradecimento e para o final rezar aquele pai nosso, ave maria, vinde anjo do senhor e enchei o coração dos vossos fieis, já que chegava 14 minutos atrasado. Paia é que na hora de ir embora, dali 46 minutos, iam começar tudo de novo.

Lá na crisma eu aprendia umas coisas interessantes e muito verdadeiras (sic), do tipo, é através do caminho das pedras que se chega a redenção ou porta larga vai para o inferno e a estreita para o céu. Que sorte os esfomeados do Nordeste têm eu pensei, eles vão todos para o céu, porque além de morrer cedo, viviam nessa vida difícil que infelizmente não podíamos fazer nada.

Uma coisa também era falada na crisma e eu lembrava dela toda vez antes de ir para as reuniões, que dentro do meu corpo mora um pombinho, digo, que o meu corpo é morada do Espírito Santo. Por causa disso eu não podia bater punheta, porque meu corpo não me pertencia, era da pombinha lá… e não do pintinho, e a pombinha é contra punhetar a casa dela. Eu pensava nisso na hora da punheta, Deus tava olhando o que eu tava fazendo na ganhola do ES e eu ficava com peso na consciência, mas… gozava.

Ah sim 2004! Primeiro ano do Ensino Médio, chovia bem em novembro, tinha trocado farpas com a minha mãe que me achava, e ainda devo ser, um adolescente “rebelde” e fui para o último retiro espiritual da crisma. Lá rezei muito, abracei muito minhas colegas. Naquela noite eu achei que eu seria digno das graças de Deus e me tornaria heterossexual. Nada feito, passei a noite em claro porque tinha muitos pernilongos. Chegou no final, do retiro, abrimos cartas. Meus pais, meus catequistas, meus padrinhos, que sequer eu bem os conhecia, e nem conheço, havia me mandado cartas. Aí eu chorei, chorei, chorei, chorei e chorei.

E daí que a gente fala assim, ironiza as coisas, mas o importante mesmo quando fazemos isso é que não nos damos conta. As cartas naquele dia serviram para eu ver que a gente ama sem se dar conta. Até que num por de sol de domingo, numa chácara a 50 Km da capital, você percebe que foi tudo rápido, que tudo valeu a pena, que não sabia que as pessoas gostavam tanto de você. Mas o mais louco é saber que nem a gente próprio sabia que gostava tanto dos outros assim, de olhar para a cara do colega e chorar e abraçar e ter medo porque sabe que as coisas estão acabando por ali. É, aquele retiro foi bom, eu curti muito chorar naquele dia. Chorar me fez sentir bem menos pior, bem mais humano.

Uma semana depois eu crismei, acho que bati punheta no dia. Veio a minha madrinha de crisma que eu sequer escolhi para ser minha madrinha, lá de MG. Sabe quando antes das pessoas casarem e ter filhos, elas prometem aos amigos que eles serão padrinhos dos filhos? Foi esse o caso da minha mãe essa madrinha. Bem, também achei minha crisma meia boca. O Arcebispo não estava lá e crisma chique tem bispo, arcebispo para eu que moro em uma capitarrr eu sou mais chique. Mais chique que isso, só se fosse chique de Paris, mas para isso o bispo teria que ser francês.

Enfim, boa noite Brasil.

6 comentários:

Wans disse...

Pora, por que todo mundo que vai nesses retiros chegam chorando? MInha irmã que vivia em pé de guerra comigo chegou num desses dias e me abraçou como se não me visse há 10 anos. Depois voltou tudo ao normal, mas naquele momento foi algo surreal.

Sabe o que aprendi com toda essa religião? Que bater punheta é uma das melhores coisas do mundo. Só não é melhor que baterem pra vc.

bj, queridão!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

"Jesus" amado ... ki delícia isto ... revivi toda a minha infância e adolescência ... kkkkkkkkkkk

agora, bom mesmo foram as punhetas que vc bateu ... eita coisa boa era isto ... atualmente estou com o Wans ... melhor que bater umazinha é qdo os outros batem para nós ... delícia ...

#momentosacanagem

bjux

;-)

Cristiano Contreiras disse...

Nossa, decidido e interessante seu blog! parabéns pela atitude, te seguirei!

O+* disse...

realmente é bom chorar e namorar nestes encontros...

Sex and the city Tupiniquim disse...

"Jesus" amado ... ki delícia isto ... revivi toda a minha infância e adolescência ... kkkkkkkkkkk



adorei!!!! o melhor comentário que alguém poderia fazer... não vou nem me atrever a desmentir... comigo foi o mesmo!!!
Só que eu detestava minha catequista... Juro que rezava para a peruca dela cair no meio da aula de catequese.

[Farelos e Sílabas] disse...

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Pois, é...

Grato pela visitinha por lá também! Imagina, suas palavras são pura alma em grafias!

Gosto da simplicidade que torna tudo muito verdadeiro. Coisas assim me encantam de cara!

...e quanto ao texto, digo que tudo na vida é nossa construção. Ali você tava formando excelentes capítulos. Eu me remeti no tempo ao ler cada detalhe porque há mais de dez anos leciono catequese. Em 2007 parei tudo porque deixei de acreditar na ‘forma’ como acreditava e nas papagaiadas boçais de um século que se distanciava do nosso. Meus alunos sempre me acharam muito doido e, talvez por isso, ATÉ HOJE ainda somos apaixonados uns pelos outros (eles e eu)! Em 2009 retornei com força total, porém, atualmente, falo para a galera LGBT num espaço que respira diversidade!

Mas não é sobre isso que quis falar ao vir aqui e sim te parabenizar. Beijo, rapá!

P.S.: Meu amigo Wans tá corretíssimo no seu comment! Hehe!

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