quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

As constatações



Agora você constatou que não é heterossexual e tem um desejo intenso que lhe sai pelos poros por pessoas do mesmo sexo. Não se sente atraído e até se enoja quando em contato mais íntimo com pessoas do outro sexo. Não só o contato, mas também tocar em alguns assuntos lhe causa vergonha e asco.

Constatação não muito agradável. E você mente para você mesmo e tenta mudar ou fingir que não sente. Começa a provar para as pessoas o que não é verdade seguindo comportamentos que não gosta.

Crítica quem deixa evidente que é o que você é. Essa desconstrução do valor do outro é sua forma de se sentir superior, negar o que tanto lhe aflinge e faz sentir pior.

Com o tempo você constata que isso cansa. Mais cedo ou mais tarde verá que isso não dá para mudar e que continuar a seguir esse caminho de mentira, o que muitos fazem, vai lhe custar a felicidade.

Aos poucos você se acostuma com a idéia e tem menos medo de repeti-la, mesmo que mentalmente para você mesmo. Ao mesmo tempo que sentir uma vergonha por ser quem de fato você, pois pensa que isso é ser inferior, sentirá também um alívio. O seu maior cobrador é o seu maior inimigo, você!

Constata que não gosta de ficar na presença das outras pessoas, principalmente quando elas te perguntam sobre algo que não tem e não te interessa ter e é necessário mentir ou omitir, elas não querem entender e nem respeitar. Tem medo de que elas descubram e cria uma vida de segredo que pensa seguir como uma religião.

Então constata que não sabe bem o que fazer agora. Não sabe se fica como aquelas pessoas que estão na rua sendo vaiadas ou se continua sendo a pessoa que sempre foi. Gostando de fazer e aparentar o que sempre gostou e aparentou.

Resolve então experimentar algumas coisas. Os contatos físicos mais próximo, os primeiros beijos para valer e o sexo também. Ruim é que as pessoas que vão aparecendo no caminho são passageiras como a água que passa por debaixo da ponte.

Ao longo do tempo vai constando que nem sempre é necessário mentir, omitir ou isentar-se. Pois existem pessoas que não importa com o que você é e com quem você pode ser você enquanto elas continuam a gostar de você, pois isso não faz importância para elas.

Uma coisa é certo, que ao decorrer das coisas constatações existirão, mas o mais importante de tudo aconteceu, você já ter aceitado-se quem você realmente é e com isso ter acabado com parte das cobranças mais injustas feitas sobre você, vindas do seu maior inimigo e maior herói, você.

Se espante, você evoluiu bastante, mas muitas coisas vão mudar também.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Cartão-Postal: está tudo bem agora.

As coisas estão tranquila, a minha mãe não demonstra nenhuma chateação. Eu a trato normalmente e o mesmo acontece com ela para comigo. Aliás, vivemos como antes, não tocamos no assunto. O meu pai também não toca no assunto.

carta

Ontem recebi um cartão postal direto da Argentina que o Mário me mandou. Dessa vez minha mãe não colocou nenhuma resistência sobre o postal ou sobre eu receber cartas e afins de homens. Bom, da ultima vez que ela fez isso ela teve uma notícia que para ela não é muito agradável e que agora, no oitavo dia, ela aparenta estar se acostumando.

Lembro da minha aflição desejando que estivessemos no final do mês só para sair daqueles dias desconcertantes e ver para que rumo as coisas foram. Para passar a agônia mais rápida eu fiz uma personificação para algo tão abstrato como é o tempo. Chamei-o de senhor da razão e me consolava saber que ele faria com que as coisas melhorassem. De fato o tempo é invencível.

Mudando de assunto

Sabe, eu ouço as pessoas contarem os problemas delas para mim. Quando acho que eu posso falar algo, eu falo. Uma coisa é certa, eu não tenho fórmulas mágicas e digo o que aprendi na minha comum, errante e nada interessante vida, o que comigo deu certo ou que eu tentaria se fosse o meu caso.

Porém não tenho paciência com essas pessoas que vivem a dizer que sofrem, que está passando por umas perrengas mas que nada fazem para mudar a situação, ou não se esforçam o quanto deveriam. Talvez seja por isso a minha impaciência comigo mesmo no que se refere a emprego. Também não tenho paciência com essas pessoas que mal lhe perguntam como está e começa a dizer dos problemas dela, das paranóias dela.

Ontem, por pensar e agir assim, acabei discutindo, aliás, deixando uma pessoa sozinha falando e falando e falando um monte de coisas para mim. Eu estava de saco cheio droga!

Sempre tendo que agüentar aquela janela invadindo a minha barra de tarefas. E ainda por cima na usura de teclas enter - quando a tecla enter é usado no lugar da vírgula e fica impossível acompanhar a conversa já que a mesma rola muito rápido para baixo, sem contar o plimplim a cada segundo que atrapalha ouvir música, se concentrar nas outras pessoas e janelinha piscando sem parar. Mais irritante era sempre contar as coisas como se eu tivesse a obrigação de ler aquilo, de entender aquilo e ainda dá uma resposta para a situação.

Ontem me perguntou se eu estava bem, mas bem só por questão de conveniência. Se eu dissesse que não ia perguntar como se eu tivesse que contar tudo, ia ficar calado, nada diria e ficaria off line sem avisar, nem ao menos um até logo. Eu disse que estava bem e então me perguntou se eu poderia ouvi-la. Como assim ouvi-la? Iriamos iniciar uma conversa de voz? Não e o que importa é que hoje eu não queria saber dos problemas dela eu que estava feliz com o postal e o filme que assistia no PC. Eu não respondi nada, nem sim nem não. Mas sou adepto de que na ausência de resposta é melhor não fazer nada, a pessoa não.

Começou naquele esquema supracitado a contar o seus problemas e como de praxe, no final me perguntou se tem base. Puta que pariu desgraça! Então eu disse, se quiser ser "ouvido" cria um blog, conte seus problemas lá para quem quiser ler e que quiser ajudar. Disse que sou humano, que tenho sentimentos, que também sofro, que eu estou cansado, eu não sou terapeuta on line e que tenho o direito de ficar feliz sem que alguém me tire isso uma hora.

Pensei que ia ficar chateado mas a coisa ia acabar ali. Ledo engano.

A resposta de quem dizia que eu era inteligente, ponderado, culto entre outras coisas que eu nunca usei para descrever a mim mesmo foi hóstil. Eu, considerado um dos melhores amigos virtuais da pessoa, virei um insensível, grosso, egoísta além de descobrir que tenhos ciúmes dela, a pessoa que de tão inconveniente nunca chamava para conversar e nem dava bola.

Com bem menos enters, letras e palavras, eu rebati tudo dizendo que a reciproca era verdadeira e que você - sim eu sei que você tá lendo essa porra! - é um inconveniente que não tem educação, que fica enchendo os outros com seus problemas. Além disso é frustrado porque eu não sou aquilo que ele idealiza que deve ser um amigo, uma pessoa boa.

A troca de farpas continuou, falei bem pouco, aliás, só um irônico "feche a porta ao sair" quando você me disse que ia sair, após ter dito que sou uma farsa, um pseudo-intelectual, que me acho, ingênuo que acredita nos elogios das pessoas e que X e Y viram isso, por isso que eles nem falam mais comigo.

Ora, Y viu isso em mim e em todo mundo, por isso que sumiu apesar que aparece de vez em quando me falando brigadeiros. Já o X aparece de vez em quando também, mas conversa sempre comigo, do jeito dele é claro, mas me falou o que ele pensa de você, coisa que eu não especifiquei por uma questão de ética e você disse que não te afetava, não te feria. Mentira! A sua negação é uma rejeição ao que você sabe, a sua própria vontade de ser adorado pelas pessoas mas incapaz de lidar com o contrário.

Depois ela me deixou um scrap no orkut fake, disse que o que as pessoas diziam ali para mim era apenas o que elas falariam antes de conhecer a minha outra face. Me deixou um depoimento dizendo que o frustrado sou eu, filho único, que não vai casar e nem dar netos para os meus pais e que vou viver com um macho em cima de mim. Voltou ao MSN, me disse o que havia feito e fez a gritaria mais louca do mundo. Provando aquilo que eu disse antes, que você se comporta como um adolescente embora aproxima-se dos 30.

gay

É claro, eu recusei o depoimento, excluí o scrap, ignorei e deletei o sujeito no perfil fake como no social, por questão de segurança.

Você implorou para que eu te bloqueasse também enquanto eu assistia e agia em silência para que eu provasse que a minha inferioridade em relação a você. Inferior eu? Ou será que você que vem me pedir a fórmula mágica do bem-viver todo dia como se eu a tivesse e não só a humildade de dizer que eu não sei e não tenho.

Minutos depois volta, diz que um tal de Vander pegou a senha dele, mandou emails aos amigos dele ofendendo-os e perguntou se eu acreditava nisso. E eu? Me convencia que a melhor vaia é o silêncio para quem quer louvores.

 

Disso ficou claro que você é um bajulador, invejos, falso, mentiroso, covarde, hipócrita, além de ser o verdadeiro insensível, egoísta, pseudo intelectual e inferior. Veio chamar justo eu que ouço Rolando Boldrin e faço uso da minha variedade de língua regional de caipira enrústido.

Agora eu pergunto e daí? Sou homossexual, mas quem tem que me amar, que são meus pais, me ama. Os seus não te aceita. E quem  disse que eu quero casa? Casar é paranóia sua que gosta de seguir as conviências cristãs ditadas como sendo dos bons costumes. Além disso, você não entendeu que meu negócio é homem? Em cima, por baixo, de lado, sendo homem e bonito e gostoso para mim é realização.

E viu tanto que eu sou inferior, escrevi mais para você em uma postagem do que para minha mãe. Realmente, ciúmes é uma coisa que eu tenho demais por você.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

6º dia pós saída - finalmente a psicológa


Com relação aos meus pais, nada de relevante conversei com eles. Não tocamos no assunto, não que evitamos, é que não precisa tocar nele. Além disso, eu sou reservado quanto a ele. O que conversei com meus pais se limitou a outras coisas banais. Uma coisa é certo, aqui em casa não dialogamos muito principalmente porque eu e meu pai somos reservados.

Minha mãe pergunta de tudo, até o que não tem importância se deixar. Um exemplo, ontem liguei para minha vizinha e falava sobre coisas da Universidade e nada além disso, minha mãe perguntou depois se ela arrumou empregada, como se eu tivesse interesse em ligar para saber disso.

Mas deixe minha mãe para lá, o que foi realmente interessante hoje foi ter ido pela primeira vez esse ano a terapia. Entrando no consultório;

- Então, como você está?

- Fora do armário!!!

Então contei com a riqueza de detalhes e um certo estresses para não esquecer outros que acho relevante o que aconteceu nos últimos dias. Outra coisa também é certa, eu não sou conciso, me perco em parenteses e em "recordar-é-viver's" com perdão do neologismo.

Ganhei muitos reforços positivos por parte da terapeuta que ficou contente com a grande revelação do dia 08 de janeiro de 2009 e com a serenidade, o controle que a minha razão exerceu sobre as emoções, algo imprescindivel com a dramática da minha mãe. Sobre a minha mãe ela disse coisas que eu já sabia mas que é importante ouvir para não esquecer e incorporarmos, tanto é que algumas delas eu não incorporei ainda, mas leva tempo.

Pelo perfil que descrevo sobre a minha mãe, a terapeuta não acha nada imporvável que ela vá chorar por mais algum tempo, talvez um ano, um ano e meio. Nada como tem sido esses últimos dias, mas é possível que ela se sinta frustrada novamente.

Por fim falei do encontro de amanhã com um rapaz daqui de Goiânia que conheci via internet. Nos encontraremos aqui no bairro mesmo e eu tenho vontade disso, até onde eu sei não vamos fazer nada além do que simplesmente nos encontrar. Falei o que penso disso, para mim é interessante conhecer rapazes que tenham semelhanças comigo. Assim eu conheço não só mais do mesmo, mas também as peculiaridades de cada. Sem contar que eu potencializo algo que sinto muita falta nessa Goiânia, amizades e quem sabe uma relação afetiva mais intensa, sim um namoro.

Sobre o rapaz não disse muito sobre ele, aliás, muito pouco. Limitamos mais a dizer da minha mal pré meditação de como sair de casa na noite de amanhã para ir vê lo. Acho que direi que vou a casa de algum conhecido que não vai ligar para mim me perguntando onde estou, sendo que meus pais acreditam que eu estou na casa deles.

Por mais livre que eu sinta, não me conforta dizer para os meus pais, mesmo que eles saibam de mim aonde vou, o que vou fazer e com quem. No entanto da forma que eu ainda fui criado é quase que instintivo dizer para eles isso e a terapeuta foi enfática, os pais não querem saber o que os filhos fazem no íntimo sexual. Não diga nada se eles não perguntarem e nem além do que perguntarem, eles também precisam de um tempo para digerir a situação.

E quer saber, eu concordo. Por fim, fui a uma lan house imprimir um curriculo meu para a Mah levar uma empresa que está fazendo seleções. Eu estava de carro e como contornar a quadra dela é complicado pois no final da rua começa uma chácara, dei uma ré até a esquina que ela e sua irmã olharam a minha maestria em dirigir. Há sete meses eu que não tinha carteiras, elas ainda estão tirando a delas. Boa Sorte meninas!

5º dia pós saída











Nada de novo aconteceu. Parece que finalmente minha mãe está se conformando e deixando o dramalhão mexicano de lado. Agora quinta-feira irei vê um rapaz aqui no meu bairro mesmo. Mas é sem compromisso. Só conhecer mesmo, não sei se conto a verdade ou se dou uma desculpa qualquer. Bem, é isso.

 

Até a próxima, aqui, no mundo de Beckman. [/deu saudade dos programas que eu via na infância]


P.S.: O Marcel_Duchamp deixou um comentário sobre o Word 2007, mas como não consegui dar uma resposta, nem mesmo no Orkut falo aqui mesmo. Melhor do que o Word 2007 é o Windows Live Writer que descobri suas funcionalidades pouco depois. O Writer também tem uma interface intuitiva, só que tem mais recursos, entre ela reconhecer automáticamente como é configuração de layout do blog. O Windows Live Writer pode ser baixado no mesmo pacote que vem o Windows Live Messenger 8.5 e sua maior vantagem é ser compacto, 5MB, o que não é muito comum quando se trata de Microsoft.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

4º dia pós saída

Nada de incomum aconteceu hoje. Meus avós ficaram na casa dos meus tios e foram embora hoje pela manhã para o interior. Só cumpri um compromisso que planejei para hoje, mas quanto ao restante de amanhã não passa.

Minha mãe chegou do serviço e me perguntou quanto tempo faz que temos computador em casa. Eu respondi três anos e ela disse que esse computador só deu tristeza para ela. Engraçado, sempre quando veêm gente aqui em casa ela fala as maravilhas do que é ter internet, computador. Computador, banda larga, tv a cabo, microondas, geladeira duplex, máquina de lavar, tv de 29 polegadas, coisas que antes desse período eram sonhos e com o passar do tempo fomos conquistando. Mas voltando a minha mãe eu entendi o que ela quiz dizer com o que vem ser tristeza.

Meu pai chegou do serviço eu fui tomar banho. Está certo que nem eu e nem minha mãe estavamos muito comunicativo, mas parece que minha mãe escolheu meu pai chegar para ficar calada com uma cara de quem não comeu e não gostou sentada no sofá. Enquanto me vestia no meu quarto ouvia ela dizendo que está sofrendo muito, que ela é fraca, que não aguenta, que ela quer uma pessoa instruída para ajudá-la. Saí do meu quarto e fui até a sala e me sentei no sofá e perguntei se era sobre mim que minha mãe chorava e tive um sim como resposta.

Tanto eu, como meu pai, num tom conciliador ficamos a explicar para minha mãe que tudo isso não é o que queremos, mas a vida não pode parar, que não existe outra coisa a não ser se conforma porque isso não muda. Sobre ela ser fraca eu disse que ela para sempre será se ela se convencer disso e que eu enfrentei isso sozinho primeiro que eles com 12, 13 anos de idade e estou aqui, firme, forte e dormindo muito a noite.

Nisso eu fiquei sabendo de outra coisa, que meus avós vieram para Goiânia justamente por causa de mim. Para amparar meu pai, que aceita e tudo mais, mas principalmente a convencer a minha mãe que as coisas não são como ela desejou um dia. Fiquei sabendo que meus avós sabem de mim e me cativou muito saber que eles esconderam o conhecimento deles no armário. Ou seja, eu nem sabia esse tempo todo, só desconfiei.

Então, minha mãe ainda não digeriu ainda a minha condição. Acho que ela se apegou e continua se apegando demais a isso. Não consigo entender porque uma pessoa se alienia tanto a um detalhe da outra por mais que tenha amor. Mas eu sinto que vou vencer, minha mãe mais cedo ou mais tarde também cede, ela só não muda imediatamente porque sei lá, quer mostrar que está sofrendo. Talvez tenha uma carência, quer que o mundo pare para ela quando faz os dramalhões mexicanos dela e eu e meu pai ficamos como dois interrogadores da KGB, frios.

O Brasil não é um Estado Liberal

Um Estado liberal é aquele que não faz distinção de tratamento com suas leis e políticas entre os indivíduos em função da decisão que cada um toma a respeito do que é seu como o corpo, a vida, os pensamentos, as emoções. Isso não acontece no Brasil.  Aqui existem várias distinções que dão a um grupo mais ou menos direitos e condições sobre o outro, o que promove uma sociedade injusta.

Os exemplos são variados, vão desde a diferença na idade e no tempo de aposentar entre homem e mulher, passando pelo alistamento militar obrigatório para homens - o que já está errado por ser obrigatório em um Estado denominado democrático, aos direitos civis que os heterossexuais possuem e os homossexuais não possuem. Também temos como exemplo a omissão do Estado no combate aos preconceitos e restrições que um grupo sofre mesmo que esse grupo também financie o Estado.

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Está equivocado quem pensa que somos livres no Brasil. Os homossexuais são oprimidos de várias formas e de jeitos não escancarados. Aqui os heterossexuais podem firmar uma união civil, deixar herança para os seus companheiros e os homossexuais não. Essa diferença é injusta seja porque faz distinção, seja por nega direito a um indivíduo por uma característica que não é levada em conta por exemplo na hora de pagar impostos. Outro exemplo, os heterossexuais podem afirmar a sua sexualidade, nada acontece com eles, um homossexual se empreender o mesmo será constrangido.

Então numa visão reducionista vão dizer "Ninguém está perguntando nada sobre o que a pessoa é ou se sabe que não vai ser aceito fica calado".  No entanto o calar é uma censura proveniente dos preconceitos, dos padrões sociais assim como o não ser aceito. Por esses motivos muitas pessoas, mesmo que homossexuais, preferem omitir e até afirmar o contrário a respeito de sua sexualidade.

Então vem outra falácia, quem está no Armário não tem que ficar falando sobre militâncias sociais. Porém, estar no armário é um protesto contra, a suposta, obrigação de quem se reconhecer como não heterossexual sair afirmando para todos que é assim sendo que a sociedade é resistente e muito hóstil a essas condições. Também, estar no armário não significa que o indivíduo é alienado e não é capaz de fazer uma crítica reflexiva a respeito de temas como os que envolvem cidadânia, inclusive a LGBT. Por fim, estar no armário não impede a pessoa de promover mudanças em favor de uma sociedade mais igualitária e justa. Existe as manifestações de vontade anônimas e pontuais que por serem assim passam desapercebidas, no entanto essas manifestações tem grande poder de influência e o que faz diferença para que elas sejam predominante é a quantidade de vezes que surgem.

O que se tem no Brasil é um Estado grande, pesado, lento, burocrático, caro, contraditório e intervicionista. Prega a liberdade, mas obriga os homens a servirem alguma Força Armada. Não deixa o indivíduo escolher o que faz com o corpo, como é o caso das mulheres serem criminalizadas por abortarem. Não deixa o indivíduo escolher o que faz com a vida, como é o caso de alguém que é obrigado a viver em estado vegetativo mesmo que quando consciente ela rejeitasse essa possibilidade.

O que o Estado brasileiro precisa são de mudanças em suas leis e política para que se possa dizer que o Brasil é liberal, democrático. Essas revisões estão acontecendo, mas a passos lentos. Um grande desafio é enfrentar a resistência de direitas conservadores, religiosos que se fundamentam na religião para decidir sobre o bem comum. São classe que por serem beneficiadas com as diferenças existentes insistem em dizer que não existe preconceitos, discriminação ou barreiras e que por desconhecerem realmente a natureza ou por má intenção chamam qualquer atitude que contradiz essa tese de comunista. 

Falam assim pois para eles é interessante que continue a existir essas diferenças e se sentem ameçados com a afirmação, que o que se quer, e não a imposição, das minorias, ou nem tanto como é o caso dos grupos etnicos e feministas. No dia em que essas mudanças acontecerem aí sim seremos liberais.

domingo, 11 de janeiro de 2009

3º dia pós saída

O 3º dia foi mais tranqüilo, logo cedo minha mãe perguntou se eu não queria que eles trouxessem o jornal, agora eu tenho que achar emprego. Meus avós foram com meus pais para feira e me trouxeram um pastel de frango com catupiry. Como íamos sair depois do almoço para a casa dos meus tios em uma cidade da região metropolitana, liguei para a Mah e perguntei se além de almoçar conosco ela não podia ir. Ela estava com visitas em casa e não pode ir, mas fez uma visita rápida.

    

Trocamos idéias sobre o mercado de trabalho principalmente e eu agradeci muito a ela e a mãe dela pelo que fizeram por mim. Minha mãe foi muito calorosa com ela, pensei que fosse chorar enquanto abraçava-a e a apresentava aos meus avós que acharam ela uma moça doce e bonita.


 

Depois de almoçarmos fomos para a casa dos meus tios, várias pessoas já estavam lá, primos mais velhos, inclusive a minha prima cunhada do belo rapaz. Só não estava presente o rapaz. Fizemos coisas de família, fofocamos, tiramos sarro, rolou truco e caxeta, fui de última hora ao hipermercado comprar bebidas com minha tia, minha mãe e dois primos menores.


 

Voltou para casa somente eu e meus pais e nada de tocarmos no assunto. Não sei se é por causa da presença dos meus avós, mas a minha mãe foi bem tranqüila. Espero que as coisa continuem assim, não vou tocar no assunto, no entanto agora não vou mais esconder a natureza das pessoas com quem conversa na internet, que eu uso para citar as trivialidades e tudo mais.

Esta postagem é um teste

A cada dia me surpreendo mais com a capacidade do Office 2007. Não sabia, mas um dos programas de seu pacote, o Word, agora oferece uma opção simplificada, que estou testando agora, para edição de postagens em blogs. Além de contarmos com toda aquela conveniência do Word como inserção de imagens, corretor ortográfico, grande variedade de fontes, a função que o programa possuí tem ainda provedores de serviço pré configurados. Entre os provedores está o Windows Live Spaces e o Blogger.com, serviço que hospeda essa página e boa parte da blogosfera.


 

Usar a função é fácil:


 

1 – Clique no ícone do Office 2007 na esquerda superior do Word.

2 – Clique em 'Novo', aparecerá o menu de escolha

3 – Escolha a opção 'Nova postagem de Blog'

4 – Aparecerá uma janela para escolher o seu provedor de serviço, quem usa o Blogger.com fica fácil já que a opção está lá pré configurada

5 – Digite seu login e senha.


 

Pronto, agora é só escrever.


 


 

Bernard Marx Hi Tech

sábado, 10 de janeiro de 2009

2º dia pós saída

Ontem pouco tempo depois em que postei aqui meus avós ligaram, disseram que viriam para Goiânia, ficariam na nossa casa. Senti um pouco de receio pois minha mãe ainda estava muito descontrolada emocionalmente, mas vi nesse evento uma possibilidade de o clima melhorar. Embora os cumulus nimbus existentes na atmosfera de casa eram provocados apenas pela minha mãe.

 

Depois disso quando eu passei na sala minha mãe me pediu um abraço, perguntou se eu não notei que ela estava sofrendo. Disse isso para tentar alguma comoção da minha parte. Eu disse que sim, ela veio me puxando, eu dei um abraço frio e um beijo seco nela. Ela começou a me implorar perdão, um perdão que eu não posso cobrar dela.

 

Disse a ela que eu entendia a situação dela, que o problema foi em como ela foi criada, disse que ela disse o que ninguém nunca me disse e que a mãe do meu anjo da guarda, a Mah, disse o que eu esperava ouvir dela. Não joguei na cara dela, mas ela se comoveu. Fiquei alguns minutos conversando com ela num tom reconciliador, sem afirmar que ela seja arrogante talvez, disse que devemos ser humildes e nada arrogantes,  pois não existe ninguém melhor e nem pior que ninguém.

 

Aquele clima estava chato, irritante, eu para cortar disse que ia escovar os dentes. Assim que eu terminei voltei para o computador.

 

Pela manhã ouvia ela conversando com meu pai, pelo que lembro da voz dela não sei se ela estava novamente chorando. Dormir outra vez e dessa vez meus avós tinham chegado, ouvi ela novamente num tom que me parecia choro e meus avós dizendo em tom de conselho algo que tinha filho no meio. Preferi dormir, minutos depois, minha mãe bate a porte e diz para eu acordar, que meus avós chegaram e precisava ir ao Carrefour comprar coisas. Dormi novamente.

 

O saco foi que na segunda vez minha mãe entrou no meu quarto sem se importar com o barulho, me disse acorda e veio beijando. Não sei se a intenção dela era essa, mas me pareceu que ela queria beijar a minha boca e eu diria a ela, caso não tivesse sentido a presença da minha avó que o beijo dela mais me daria nojo do que vontade de mulher.

 

Por fim o dia foi agradável até o instante, os meus avós me comovem no sentido de me dar alegria. Gosto da presença deles embora, do jeito simples deles e carinhoso. No entanto não penso em dizer nada a eles pois penso que eles dificilmente entenderiam.

 

Um obrigado a todos meus amigos virtuais armariados, vocês não sabem o quanto são importantes para mim.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

1º Dia pós saída

Ontem eu fiquei enquanto dei na internet, quis me distrair com o mundo virtual enquanto desse. O meu desejo foi não ficar sozinho comigo mesmo e em silêncio. Mas chegou o instante que não deu, precisava ir dormir o sono que era tímido. Deitei-me, liguei a TV e passava um filme chato desses noturnos. Desliguei, sentia calor e não parava de transpirar. Para quebrar o clima de velório uma mensagem muito carinhosa do Thor. Uma parede separa o meu quarto do quarto dos meus pais e ouvia os ruídos da minha mãe suspirando. Não me importei com isso, ainda não me arrependi de ter contado e a reação do meu pai é o que mais me faz sentir que valeu a pena.

 

Fiquei assim, também como minha mãe, rolando de um lado para outro, porém não chorava, me sentia aliviado e mais livre, desagradável era o clima psicológico imposto pela minha mãe. Eu ficava apenas usando a razão para enfrentar as emoções e as falas infelizes da minha mãe, que passa pelo seu processo e não cabe a mim mais nada a não ser ter paciência e nenhuma magoa.

 

Pela manhã, bem cedo, ouvia a minha chorar intensamente, ficava resgatando o passado, dizia ao meu pai a criança que eu era na infância, do meu “bilauzinho”. Meu pai dizia a ela que nada disso mudou, eu sempre fui o mesmo e para ser o que sou o corpo não tem nada a ver. E minha mãe falando do que as pessoas vão pensar, do neto que ela não vai ter, ou seja, que exploda a mim e a minha felicidade, o importante é o que a minha mãe quer. Meu pai não falou nada a não ser para ela se apressar e ir para o serviço. Antes de sair ela veio no meu quarto e ascendeu a luz e me olhou por alguns segundos. Fiz questão de demonstrar que eu estava acordado e que ouvi aquilo, ela se sentiu envergonhada e saiu, sei lá.

 

Após meus pais saírem fiquei um bom tempo sem dormir, pensando em tudo novamente, pensando, repensando a mesma coisa. De cansado mentalmente dormir, meu sono foi leve, qualquer coisa era suficiente para me acordar. Resolvi sair da cama, berço de agonia, as 09:30HS. Liguei o computador olhei o blog, a comunidade do Estou no Armário e Daí. Ninguém no MSN, nenhum e-mail interessante, sem notas no sistema, desliguei o PC e fui ver TV, mas me sentia solitário e queria ficar sozinho.

 

Por volta das 12:00HS eu novamente entrei na web, poucas pessoas on line, mas foi para mim uma ótima companhia a do Leo, novato na comunidade, rapaz bonito, da mesma idade que eu, atencioso e inteligente. Fiquei por ali um bom tempo, sair, almocei, limpei a louça, tomei banho e ao sair a mãe da minha amiga chegou querendo falar com minha mãe. Eu já sabia que ela sabia, autorizei a Mah falar. Ela foi receptiva, carinhosa, compreensiva, fez comigo o que a minha mãe não fez. Ela notou que eu já estava de saída e foi caminhando também para o portão, foi dizendo que é para que eu tenha calma com a minha mãe por mais que eu esteja errado. Ao virar a esquina a minha mãe vinha lá, semblante não agradável. Vou usar pseudônimos para os diálogos:

- Está boa Solange?

- Não estou não Tereza (choro e constrangimento).

- Vou voltar para abrir o portão para vocês. Eu disse.

E nisso a minha mãe começa a repetir as mesmas que dizia para o meu pai, só não a esperava dizer que preferia chorar em cima do meu cadáver do que eu seja homossexual. Calma, muita calma eu pensei. E disse que estava indo. Queria sair logo. Na metade do caminho até o ponto de ônibus e dentro dele, eu sentia um frio na barriga, raiva, vergonha, me senti uma pessoa ruim. Sei lá, parece que a minha prefere que eu seja um Lindenberg ao que eu sou, um Daniel Cravinhos, ou um moleque bem vestido que vi outro dia roubando um boné de um senhor. Certamente meu coração batia mais do que 70 vezes por minuto, não sei quanto, mas batia muito mais.

 

Mesmo que em meio a multidão me sentia só. Queria, quero, ter a companhia a todo o momento de alguém em quem eu possa confiar e segurar a minha mão. Mas num pensamento bem judaico-cristão é através das pedras que se chega a redenção, o jeito é enfrentar a situação sozinho e num momento me vejo otimista, começo a acreditar que tudo vai ficar bem. É só dar tempo ao tempo, quero tanto que esse dia seja na verdade um dia qualquer daqui um mês. Quero sair logo dessa situação, por mais que eu pense que as coisas vão ficar bem.

 

Cheguei em casa, ainda bem que a Tereza, mãe da Mah estava aqui, falava de trivialidade de pessoas da idade e do perfil delas e outra hora começavam a falar de mim. Minha mãe começou a citar a história de uma moça lésbica que conheceu quando ainda grávida de mim. Dizia a mãe da minha amiga que a moça foi rejeitada pela família, do envolvimento com drogas e que ela e meu pai apoiaram essa moça, só não sei porque ela repete a coisa para mim.

 

No fundo acho desagradável relembrar e escrever, porque é sofrer duas vezes, mas a minha mãe disse a mãe da minha mãe coisas que ninguém nunca disse para mim, coisas não agradáveis. Ela com medo das pessoas me humilharem e constranger e no entanto, ela quem faz por isso. Não consigo parar de pensar nisso. A mãe da minha amiga foi embora, disse coisas boas para mim, minha mãe chorou, me abraçou, me senti desconfortável e senti de repulsa de abraçá-la quando disse que Deus é maior e para ele nada é impossível. Não precisa explicar não é?

 

Os minutos seguintes foram ruins, minha mãe fazia coisas em casa suspirando e eu freneticamente trocando de canal. O clima só se quebrou quando o meu pai chegou. Tudo bem então... cá estou na web a postar como o meu dia foi até o instante momento.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Saindo do Armário.

Hoje, 08 de janeiro de 2009, é uma data que não vou esquecer, ela é um divisor de águas em minha vida. O dia em que finalmente eu parei de mentir para os meus pais sobre o que eu gosto afinal de contas. A coisa foi assim...

 

No meu quarto eu assistia um DVD no computador, ouvi a minha mãe pegando uma carta na caixa de correio. Depois de minutos ela aparece no meu quarto dizendo que não é para eu receber cartas de homens. Eu peguei a carta, coloquei em cima da cama e continuei a assistir o filme, ela sentou-se na cama como se estivesse esperando eu falar algo. O filme acabou e eu olhei para ela que começou a dizer:

 

- Que filme é este?

- Um que eu peguei na CARA para ver e eu escrevo para quem eu quiser!

- Eu não quero que você troque cartas com homens, isso é feio, você tem que escrever para mulher!

- Já que a senhora faz tanta questão assim de saber, eu sou gay!

- Não, você está mentindo, fala que é mentira! (choro)

- É verdade, eu sou gay e o tanto que você chorar eu já chorei.

- Não pode ser, porque você faz uma coisa dessa comigo?

- O tanto que você tiver sofrido eu sofri, não posso mudar, eu sou assim, está na minha pele, no meu sangue. Já sofri muito, eu me aceitei, já fiquei muitas noites chorando.

- Eu criei um homem perfeito, você tem um penis!

- E não precisa ter vagina para gostar de homens, e eu gosto de homens!

- Você já ficou com homens?

- Já.

- Quantas vezes?

- Uma (menti).

- De onde?

- UFG (menti).

- Você nunca ficou com mulheres?

- Nunca e nem tenho vontade.

- Você precisa ficar com uma mulher para ter certeza como é gostoso.

Vontade de perguntar se ela já ficou com uma para poder falar.

- A única coisa que eu tenho certeza é que eu gosto de homens e tenho nojo de mulher, até de beijar na boca eu tenho nojo.

- E você já beijou na boca de homem?

- É lógico...

- Quem foi?

- Esse rapaz lá da UFG (não só dele, mas de muitos outros).

E aí foi passando, passando, ela falando as típicas coisas de uma pessoa com muito preconceito dela e eu rejeitando, fazendo argumentos. Embora não pareça, eu fui amigável com a minha mãe. Entendo que ela é fruto do que meus avós passaram para ela, é uma vítima de certa forma do patriarcalismo, do machismo, das mentiras vendidas como verdades pela religião, do senso comum. Sei que ela tem o processo dela, o tempo dela e fui respeitando isso.

 

Então finalmente ela saiu do meu quarto, eu peguei minha toalha, tranquei a porta do banheiro, tomei banho, vesti roupa com meu quarto trancado também e sai para devolver o filme. Na volta passei na casa de minha amiga, contei para ela, ela disse que viria comigo. E veio, ela é um anjo. Eu amo ela demais.

 

Chegando aqui, estava minha mãe em um sofá chorosa e meu pai em outro, tranquilamente deitado. A Mah, minha amiga, se sentou ao lado dela. Eu disse:

- Meu pai já sabe? (se não sabe vai ficar sabendo agora)

- Sei!

- Ótimo!

Minha mãe entra em choro profundo e a Mah, como um anjo vai repetindo tudo aquilo que eu disse, mas com uma candura, um afeto, uma proximidade muito maior do que a que eu tenho para com minha mãe. Papo vai, papo vem. Meu pai diz que eu não enganava ele, que já havia comentado sobre minha sexualidade com minha mãe, ela ficou irritada com esse comentários. Minha mãe ficava falando de sujeitos que eram apontados, chacotas, do que será de mim. Eu, meu pai e a Mah dizendo que ninguém precisa ficar sabendo.

 

Mas, resumindo a história dá para saber que é com a minha mãe que vou ter paciência. Ela se preocupa muito com o que os outros pensam, na hora de formular qualquer pensamento ela usa os exemplos sempre mal sucedido dos outros e insiste para que eu tente mudar, o que não vou fazer porque já tentei isso antes e não deu certo.

 

Como eu me sinto, aliviado, o meu pai respondeu a todas minhas expectativas. Me respeitou, me elogiou, disse que tem orgulho de mim, citou o exemplo dos amigos que ele tinha na adolescência, da barra que eles enfrentaram. Eu disse que desde sempre senti mais confiança no meu pai.  Bom, estou aliviado, é isso, não preciso mais mentir e nem omitir. Feliz com a reação do meu pai e muito calmo para levar a minha mãe. Estou tão tranqüilo que eu estou preocupado com outras coisas, um emprego, ainda mais em tempos que dada a crise financeira, o meu pai está com o dele ameaçado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ao sabor do vento...

Foi o último dia do ano, viajei com meus pais durante a tarde. A cidade dos meus avós como sempre estava mais quente do que aqui. Eu já pressentia que os meus próximos dias seriam um tédio, no entanto menos melancólicos do que em casa e com meu esforço para que as coisas não fossem piores do que elas seriam.

 

Ao chegar, cumprimentar, com beijos e abraços a crianças menores, chegando a segura-las no meu colo. Entrei, estava inclusive quem eu não esperava na varanda. Cumprimentei a todos com apertos de mãos, abraços, alguns com beijos e pedidos de benção, um ritual que acho maçante e desnecessário, mas preciso para que não reparassem a minha “grosseria”.

 

Fazia muito calor, eu transpirava sem parar, estava com uma roupa pesada. Uma grande nuvem cobriu o céu que se via dali e choveu em fortes gotas, com trovejos durante minutos. O suficiente para acabar com o calor. Meu ânimo foi melhorando e nisso minha prima chega acompanhada pelo seu marido e pelo pirralho do seu filho. Mas foi o quarto elemento que me chamou a atenção, o seu cunhado.

 

Rapaz branco com aproximadamente 1,80 m, corpo magro, definido, veias saltadas, olhos castanhos. Já tinha visto ele outras vezes, umas duas sendo uma na minha casa, porém nunca dei muita atenção para ele. Ele me cumprimentou assim como todos os desconhecidos ou pouco conhecidos que ali estava. Sua mão era grande, forte, ligeiramente áspera, deve ser o custo por aquele corpo torneado.

 

Conversava com as pessoas, mas olhava para ele instantaneamente, notava que ele brincava inclusive com o pirralho do filho da minha prima. Aquelas brincadeiras nas quais ele mede força com o menino, imobilizando puxando-o pelos pés. Ele olhou para mim umas duas vezes, mas nada demais. A principio ele é heterossexual, mas certeza eu não tenho, vai saber, ele poder ser um armariado também.

 

Mas ele não ficou muito tempo, estava na casa dos meus avós de passagem, não deu para empreender uma relação mais próximas a não ser os diplomáticos apertos de mão da chegada e da saída. Aquela aparição, aquela disponibilidade no meu alcance de vista foi o suficiente para provocar em mim uma série de coisas. Fiquei melancólico, me sentia ridículo e tosco por causa da presença dele, um anseio de impressioná-lo de alguma forma, enfim.

 

Na noite do dia seguinte, estava sozinho. Ninguém para me chamar para balada, cada um cuidando de suas vidas, os mais velhos jogavam compulsivamente Douradinha, Douradão, Truco, entre outras modalidades do baralho. Meu tio roncava de tão profundo o sono que o especial do Renato Aragão na TV provocava. Fui para cama, ouvia música, o tédio ficou ainda pior quando a minha bateria acabou. Tenho uma impressão de que a bateria desse aparelho eletrônico não dura o suficiente.

 

Mas o clima não se resumiu a isso. Estava entediado, solitário em meio a tantas pessoas, a noite estava quente e eu transpirava um pouco. Mas o mais irritante era os meus pensamentos, eles se alternavam entre pensar em homens que eu nunca vi, não conhece, mas que passo o tempo a imaginar, desejar e o cunhado da prima, na idealização de circunstâncias com ele, das mais banais até as mais carnais. Sentia algo na barriga, na garganta, mente transbordada e já estressada em tanto pensar nas mesmas coisas. Não queria ficar ali trancafiado imaginando.

 

Levantei-me, coloquei o mp4 para carregar, peguei carteira, desliguei o celular. Sai passando diante das pessoas para que elas me vissem e perguntasse aonde eu iria para que de forma ríspida eu respondesse que não sei, embora se elas não me perguntassem ainda sairia no lucro. Odeio ser interrogado, sabatinado sobre onde vou.

 

Sexta feira e rua vazia, olho para o céu com poucas nuvens e muito mais estrelado do que o da capital. Caminhando lentamente o corpo vai se refrescando mesmo com a atividade física. Algumas pessoas na rua me deixam menos a vontade com minha introspecção, mas sigo em frente. Os agroboys vão passando em suas picapes equipadas com potentes equipamentos de sons, ouvindo com qualidade prejudicada seus estilos populares tão rejeitados pelos que se denominam cultos.

 

Agroboy, sei de um que está na mesma condição e carência que eu, mas que está muito longe de mim. Tinha vontade de que alguém com seu perfil passasse por ali em uma semovente com diesel intercooler e começasse a conversar comigo e sei lá como, tudo aquilo acabasse em algo bem carnal, luxuriante e claro, bem discreto e seguro. Outrora imagino o cunhado da prima como um desses agroboys ou mesmo o outro distante agroboy.

 

Mas fui andando, bom de cidade pequena é que em poucas quadras chegamos a ala nobre dela, embora meu avós morem no início de uma.  Aprecio o silêncio das ruas e percebo as diferenças de fragrâncias. Um leve cheiro de alho e frango, um repugnante odor desses caminhões que carregam gado quando não se sente o da vinhaça que vem da usina. Mas o melhor sãos os odores dos perfumes, sobretudo masculinos, muito abundantes nesses templos protestantes. E penso no cunhado, em um agroboy com um cheiro cítrico leve, mas também gosto dos emadeirados.

 

Ao passar diante de um banco, do outro lado da rua passa um rapaz, alto, branco, bem vestido, trajando preto e boné, deve ter no máximo 22 anos. Ele olha, eu ao notar o olhar não correspondo. Sei que nessas cidades encarar demais algum cara é em geral sinônimo de elogio para mãe e em casos mais intensos, agressão física, o que não é interessante para ninguém ainda mais para mim que sou um pamonhão. Não encaro também por causa da vergonha e do medo de olhar e ser correspondido, o que me tiraria ação. Arrependo-me por isso e fiquei com vontade de olhar para trás.

 

Lá no centro, onde as coisas acontecem olho os belos exemplares em seus possantes rebaixados ou naquelas que são o meu sonho de consumo, as camionetes. Acho ótimo aquele olhar safado, de terceira intenções que fazem esses moços que bem poderiam ser para mim. Mas por mais que eles estivesse vontade, não daria. Cidades pequenas as línguas são malignas, pior do que é na capital que os exagerados chamam de provinciana, mas sem porquê.

 

Nessa cidade, como em muitas existe uma praça central. No entanto a Igreja e a agência do Banco do Brasil não ficam lá, mas respectivamente na primeira e na segunda rua acima. Mas a cobertura da Vivo é certeza, tanto em GSM/EDGE como em CDMA 1xRTT. Nessa praça, uma voz conhecida me chama por um apelido carinhoso que há muito não ouço. Olho, primos de segundo grau e amigos, alguns da capital também. Me perguntam com a típica hospitalidade interiorana o que eu fazia perdido ali.

 - Andando a toa apenas.

- Chega aí, pede uma coisa pra beber.

 

No fundo eu gostei de ser flagrado na minha introspecção, não era a companhia libidinosa que eu desejava, mas sim fraterna. Quanto ao cunhado, pensava nele constantemente.