Leio blogs e em alguns vejo seus autores se posicionando contrários à dimensão política que é dada à nossa sexualidade. Respeito as opiniões, só não me convenço delas, porque não acredito que a homossexualidade em meio a nossa conjuntura não envolva questões políticas. Também não acredito que seja viável aos homossexuais viver e manifestarem de forma plena suas sexualidades sem utilizar de política.
Talvez falte em nós, pessoas vivendo em sociedade, empatia e assim entendermos que não é porque algo não nos é útil, ou aparemente inútil, é que elas vão ser desnecessárias. Por causa disso aceitamos justificarem que é mais importante cuidar das crianças morrendo graças ao tráfico de drogas do que dos homossexuais mortos a quase dois dias no Brasil, como se um atrapalhasse a resolução do outro.
Não que eu vá adotar uma criança, até mesmo porque do fundo do meu coração não gosto muito de criança, mas não vejo como errado casais homossexuais requisitarem esse direito. E pode ser que muitos homossexuais não se interessem por isso, mas eu pretendo me casar com alguém no melhor estilo que seja infinito enquanto dure e ter com tal homem os mesmos direitos que um casal heterossexual tem, sem para isso precisar acionar Ministério Público, ir aos sensacionalistas jornalecos regionais do horário do almoço, mover processo na Justiça, aguardar julgamento do STF sobre constitucionalidade da causa, enfim.
Por causa dessa empatia, é que me recuso veementemente as propostas umbicistas dadas por alguns blogueiros homossexuais para se viver a sexualidade. Um dia li um em que o autor se gabava da posição social e ignorava o que a sociedade dizia a respeito dele. Além do mais, num discurso que para mim no fundo era derrotista, apesar do tom de vitória, tal autor falava que preconceito sempre existiu e sempre existirá, subentendo para mim pelo menos, que nada tem para ser feito.
O equívoco de tal autor para mim foi imaginar que os que as pessoas falam pelas costas vão ficar só nas palavras e ainda por cima, pelas costas. As palavras vão repercutir ações, se não para tal autor, para outro homossexual, inclusive para os que não são supostamente perfeitos como ele, até mesmo porque, a perfeição não é uma obrigação a ninguém e as pessoas não são perfeitas. Eu não sou, o autor que lia também não - embora ele aparentemente pensasse o contrário, quem lê esse texto não é e se o inferno existisse, iria todo mundo para lá.
Boa parte dos homossexuais não são providos de capacidades morais, intelectuais, emocionais, financeiras e porque não físicas – pois a violência já foi inventada; para viverem enquanto homossexuais. Pessoas são desprezadas, jogadas para fora de casa, têm emprego recusado, são apontadas e acusadas na rua, no melhor estilo Geysi Arruda, e ainda tem gente colocando fé que a solução é elas se virarem, num discurso meritocrático, colocando a culpa no indivíduo, quando essa culpa pertence ao folclórico SISTEMA (huahuahuahuahuahua eu vou pegar você) social de construção de valores e normatizações.
Articulações políticas não é choramingo. Questiono até se essa visão de articulações políticas – como as que reclamam por RR Malafaias, Silas Macedos, Edir Soares usarem concessões públicas de televisão para disseminar preconceitos, seja contra sexualidade, seja contra outras denominações religiosas – não tem a ver com, não só a falta de cultura política dos brasileiros que muitos afirmam não termos, com o período, que não vivi ainda bem, da Ditadura Militar em que os posicionamentos políticos diferentes do status quo eram calados com violência e ideologia.
Articulações políticas para mim não é só empunhar bandeiras e reconheço muito aqueles que a elas empunham. Articulações políticas são possiveis de diversas maneiras, dos comentários sutis que desconstroem preconceitos numa fila de banco, até mesmo as minhas ações futuras enquanto docente e utópico formador humano, aos votos que todos aqui maiores de 16 anos têm direito, enfim. Não existem sexualidade apolítica e tratá-la como tal para mim é alienção, termo que para mim é uma baita duma ofensa.
Posso estar sendo esse jovem utópico na visão, principalmente dos mais experientes. Mas não me conformo com a situação em que vivo e creio que todos nós, homossexuais, devemos fazer algo, a maneira de cada, para mudar isso e não tapar o Sol com a peneira.
4 comentários:
Ainda há muito por fazer nest mundo a todos os niveis e isso e uma das questoes principais, preconceito ele irá sepre existir, em tempos ja foi pior, ag e so esperar q se unam forças para q cada vz sejam menos os prcnceituosos nest mundo, pouco a pouco vai.se la :)
Mais uma vez parabéns pela articulação de suas idéias, de seu pensar. Muita coisa precisa e deve ser feita no campo da política sim, mas permito-me discordar em alguns pontos. Não tome isto com crítica à sua maneira de ser ... isto faz parte mesmo ... todos ou quase todos temos nossa fase de "utopia" e acreditar que leis, regras ditadas por A ou por B vão mudar uma sociedade ... não mudam meu querido ... as verdadeiras mudanças necessariamente têm que acontecer do micro para o macro ... temos que nos mudar dentro de nós mesmos, cada um em seu processo ... aí sim ... naturalmente as mudanças no plano macro acontecerão ... mas isto não invalida seu discurso ... apenas registro isto por senti-lo ineficaz para por exemplo acabar com o preconceito ... e também porque acredito que qdo se elaboram leis, por melhores que sejam as intenções elas são expressões de verdades pessoais ou de um grupo de pessoas que se arvoram do direito de serem as únicas detentoras da verdade ... claro que precisamos das leis, das normatizações, mas elas só em si mesmas não resolvem todas as questões ...
Querido amigo ... mais uma vez vc fazendo a diferença ... só a coragem, a lucidez, a inteligência e a competência que vc tem consigo já o torna uma pessoa especialíssima ...
bjux
;-)
Eu concordo contigo e discordo ligeiramente do Braccini: acho que a existência de leis ajuda, sim, a derrocar os preconceitos. Porque existe a noção de que se é Lei deve estar correto, por mais inconsciente que seja. E a Lei também ajuda, indiretamente, às pessoas se assumirem e buscarem seus direitos, amparadas que estão, o que aumenta a visibilidade e por consequência diminui a ignorância. Foi assim com as mulheres divorciadas, entre outros exemplos, será assim conosco.
Cara de íngua? Pouco. Cara de cu, mesmo, a do Boris!! E gostaria MUITO que quem chama o Lula de ignorante pela falta de formação acadêmica visse aquela entrevista. O cara sabe tudo!!
Claro que não fez tudo que queria e talvez nem tudo que podia. Claro que teve que se aliar a deus e ao diabo. Mas isso de deus e diabo na política é extremamente relativo: parece que o povo aí de Brasília sabe que o Collor não é o monstro que pintaram, mas que foi devidamente frito e empanado por mexer onde não devia.
De qualquer forma... beijo!
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