sábado, 19 de junho de 2010

Mas você vai ser professor? II

No estágio supervisionado meu colega, que é um enrústido homofóbico, e eu precisavamos lecionar algumas aulas e por em prática um projeto de intervenção planejado por nós mesmos. Tudo daria certo, porém a realidade é mais difícil do que imaginávamos, logo nossas ideias lindas não deram certo.

Os estudantes foram muito indisciplinadas e cada aula era um soco no estômago. Os estudantes têm culpa? Têm sim, mas os estagiários também, porque é função dos aprendizes de professores domarem “aqueles animais”. Além  disso, nos os estagiários, precisávamos contar também com o professor da Escola. Porém o professor efetivo saiu porque aposentou e no lugar entrou um substituto que estava professor, isso quer dizer, ele estava quebrando galho para ganhar um trocado. Resultado, ele ligou o foda-se para a turma e para nós, os estagiáros, que por sua vez, no meu caso pelo menos, também ligou o foda-se e detonou ele no relatório final de estágio, até mesmo porque ele, o professor substituto, é ex aluno do orientador.

Vinganças a parte, lá na Escola, enquanto aplicávamos nossas regências deu para perceber que a Educação está fudida (oh novidade!) não só pelos salários de fome dos professores, mas também porque os estudantes não são nenhum pouco interessados na formação deles e os professores limitados ou não interessados em resolver tal coisa.

As regências estavam um fiasco, a cada aula meu colega e eu íamos sendo massacrados pelos diabos (calma, eu num acredito que as crianças sejam diabos, porque se eu, que acredita na humanidade, acreditar que elas sejam diabos eu deixo de ser ateu). Porém tinhámos que terminar uma quantidade de regência e colocar em prática o nosso projeto de intervenção pedagógica. Todavia, nem tudo são flores (houve alguma flor até aqui?) e o que acontece conosco? Um greve na Rede Municipal de Ensino que se arrasta até hoje!

Tudo bem, danem-se as regências, o que importa é o projeto de invertenção ser colocado em prática. Arrumamos em cima da hora uma escola municipal que à rebelia do movimento de greve, estava funcionando a noite e lá vamos nós! Vem feriado, vem Copa, acervo indisponível, aparelho de DVD que não funciona, PC precisando de formatação, mas nós, eu e meu colega enrústido, nos viramos como pudemos para ajustar o projeto à realidade do Noturno e da Educação de Jovens e Adultos durante o último mês do semestre. É um estresse total, preocupação de tirar noite de sono e render o penúltimo post aqui no blog.

Iria dar tudo certo, se não tivessemos esquecido alguém. Então  quem vem fazer a vez da pedra no meio do caminho dos estagiários? A festa junina! Resultado, no calendário da escola só sobra um diazinho de letivo, no final do mês, ou no popular, fudeu, que aluno, do noturno, estudante do EAJA, vai à escola no último dia do mês fazer um projeto para ser aplicado em quatro dias.

Bem, a história não termina aqui, agora é enfrentar o professor orientador e convencê-lo que nossa prática teve tudo a ver com a realidade escolar, alunos indisciplinados, professores desmotivados sendo um ex orientado dele, um movimento de greve, feriados, Copa, Festa Junina, calendário, noites mal dormidas!

E daí que todo mundo quer passar num concurso público. Tá, todo mundo não, mas muita gente! Se o concurso for na área de formação, perfeito e esse é omeu caso. Todo mundo me parabenizou, minha mãe ganhou a semana e eu como fiquei? Vocês já ouviram Ouro de Tolo? Vejam essa versão, porque eu não gosto das originais com o Raul.

Então, me sinto daquele jeito. A diferença que mais que insatisfeito, passo no concurso e ao invés de me sentir vencido, me sinto derrotado. Porque? Salário de fome, falta de reconhecimento, falta de autonomia da escola, falta de compromisso com a Educação, estudantes indisciplinados, uma secretária de educação puxa saco, e uma infinidade coisas que depois eu falo melhor sobre elas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá meu colega, infelizmente só posso dizer bem vindo a realidade. Sou universitário, até mesmo na faculdade o interesse não melhora muito, a diferença é que lá, eles simplesmente saem da sala. Meu irmão se forma esse ano em matemática, está no primeiro trabalho dele como professor, me conta algumas coisas que (para quem acredita claro) até Deus duvida. Depois do último desabafo dele sobre o desinteresse dos alunos, as péssimas condições da escola, os professoras ja conformados que não movem uma palha, a coordenadora que não larga do pé deles mandando arranjar nota... enfim, é realmente desanimador, ai decidi fazer algo, não sei se faz alguma diferença, mas quem sabe vira mania,. mandei uma carta para o presidente e para o MEC. Não desanime, força, são jovens como você, com essa consciência, que fazem a diferença.
http://blogotecca.blogspot.com/2010/05/dificil-arte-de-estudar-aprender_22.html

Pimenta disse...

Ai, eu também não me conformo.O ensino brasileiro morreu.Mataram a energia dos professores.Porquê para ensinar, é preciso amor,e amor, sem retribuição, morre.
E criança que não respeita o professor, não aprende, e o desrespeito vem de casa.
Sinto muito, muitíssimo.Quando eu estava ai, em todas as escolas, quando eu questionava, pedia, tentava fazer alguma coisa, ganhava a fama de louca, e ninguém, nem uma pessoa dentro das escolas tinha força, ânimo de tentar alguma coisa, ou esperança de melhoria.
A frase que eu mais ouvia era essa:
Fazer o quê?
O ponto culminante foi quando, numa manobra política, a senhora governadora resolveu dar uma escola bacana(construída com material de terceira, no primerio mês, já estava coberta de rachaduras)
Enorme, para 1500 crianças, e não contratou nem uma merendeira, nem um auxiliar de manutenção, usando o mesmo pessoal da escolinha que manejava 500 crianças anteriormente.
Então fiz um abaixo assinado, para pedir por mais funcionários, pois a escola estava um caos.
No segundo dia, a diretora me chamou, dizendo que EU estava ameaçando o emprego dela!Que eu parasse com o abaixo assinado!
Parei mesmo, e tirei meu filho de lá.
Mas a impotência continuou, em todas as escolas que conheci.
Se um dia eu te contasse o que já vivenciei como mãe, acho que você desistiria agora.
E pior, nas escolas privadas,a coisa é igual.Ou pior,não sei.
bjo

Wans disse...

Olha, eu sou formado em Letras, ma snunca tive coragem de ensinar. Se for para ser um desses professores relapsos, prefiro não fazê-lo. Educação no nosso país hoje em dia é absolutamente lamentável!

Lobo disse...

Isso também aconteceu comigo, no meu estágio. Eu, estagiário, assumi um turma como professor por seis meses, sem ganhar um centavo por isso, e sem nenhum professor regente para me acompanhar. O difícil mesmo é dar um sentido para aquilo que você ensina. A coisa desbanca muito para esse lado porque os alunos não fazem a MENOR idéia de o que estão fazendo na escola. Não é fácil (as vezes nem sequer é possível) dar um sentido para porque estudar para aquelas pessoas sem nenhuma perspectiva. Mas quando se consegue, pelo menos para alguns, a coisa funciona.

Mas não é nada fácil... enquanto isso a gente se descabela.

Um beijo Well!