As pessoas acreditam que existe uma classe
dominante porque um grupo de pessoas de maneira presunçosa e arrogante se impõe
no poder, algo que é fácil perceber e supostamente fácil de reagir contra. Porém
não é assim. A classe dominante existe com seus poderes e consequentes
privilégios porque a classe subalterna, da qual eu faço parte, justifica os
privilégios da elite.
Todo mundo acha absurdo fome, gente sem terra, sem
teto, sem sub-escolarizada, etc. Muita gente acredita que isso existe porque tem
gente que tá comendo demais, tem terra demais, tem casa demais, porque falta
escolarização, etc. Muita gente pensa que os ricos deveriam ceder em seus
privilégios e pensar mais no próximo, para que essas coisas tidas como injustas
desapareçam. Às vezes a elite, até por um pequeno senso de humanidade também
pense e concorde com isso, porém tudo muda, entre pobres e ricos quando alguma
ação prática é tomada para mudar isso.
Por isso quando se fala em impostos sobre grandes
fortunas, reforma agrária, aluguel social compulsório dos imóveis ociosos,
cotas nas universidades federais todos são contra. Os ricos a gente entende,
vão perder privilégios e pensam que alguém, que não deve ser eles tem que pagar
a conta. Agora os pobres se põem contra por quê?
Existe alguns mitos em nossa sociedade pós
iluminismo, o de que todos nós somos iguais e temos direitos iguais. Por isso,
por exemplo, justificamos com tanto afinco a propriedade privada, pois foi dito
que todos nós, mesmos os quem não têm a possibilidade de ter um palmo próprio de
terra ou quem tem muito mais do que precisa para viver, tem esse direito. A
propriedade privada muita gente não terá condição de ter, mas o direito de
tê-la um dia sim. Por isso muito pobre acha o MST um bando de vagabundos.
Quem disse isso aos pobres foram os ricos e assim
os ricos não se desgastam, pois os pobres tratam de conservar os próprios privilégios
da elite, sem parecer que são da elite. Graças a isso, pude notar que no colégio público em que dou aula, uma
significativa parcela dos meus alunos da Educação de Jovens e Adultos é
contrária à existência das cotas, pois, na minha opinião, eles aceitaram o
discurso de que existe igualdade entre um estudante do Colégio Estadual Joaquim
Edson de Camargo e um discente do Colégio Visão, do Setor Bueno em Goiânia.
Além do mais, eles acham que exista uma democracia - na verdade não acham
democrático o vestibular, acham justo, pois alguns ainda não foram esclarecidos
que democracia não é apenas o direito a voto - no vestibular.
Porém, as utopias sociais, como a da igualdade de
condições existente no capitalismo, vão caindo por terra hora ou outra, sendo
que nesta semana a revista IstoÉ trouxe uma reportagem estampada em sua capa
para atestar que a Cotas deram certo e que todos reacionários argumentos da
elite que a massa repete de maneira acrítica foram derrubados. Não, os cotistas
não abaixaram o ponto de corte de em nenhum sentido relevante, não reduziram o
rendimento dos cursos, tem desempenho semelhante ou superior, tem baixíssimo abandono
ou mudança de curso e a grande maioria está empregada após concluir os cursos.
Minha função como professor nesta história, além
de não ter publicado este texto sem antes revisá-lo, desculpe a minha falta,
penso ser levar aos meus estudantes a informação, acirrar as críticas que eles
tem sobre o assunto e permitir que eles cheguem a própria a autônoma conclusão
sobre as cotas raciais. Portanto, a revista IstoÉ será o meu material de apoio
dos meus próximos planos de aula.
Um comentário:
faz muito bem de usar a IstoÉ, tb use a Veja sobre as empregadas domésticas, é o extremo oposto.
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