sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O primo - eu preciso de falar mais sobre ele

Já contei aqui sobre um primo que tenho e que conviveu comigo nos primeiros anos de nossa infância. Foi com esse primo que aprendi a "brincar de médico" e com quem foi realmente a minha primeira vez.

Desde sempre eu e meus pais vamos a casa dos meus tios, pais desse meu primo, em uma cidade aqui da região metropolitana e eles vêem a nossa.  Nessas indas e vindas muitas coisas mudaram, e entra as coisas que aconteciam e não acontecem mais, eu acho, estão as consultas médicas kkk. Curtiamos ficar esfregando os pintos na bunda um do outro, ele tentava me penetrar de verdade e até deveria sentir um prazer, eu tinha ereção e a curiosidade apenas, mas já sentia, desde sempre atração por homens. 

Uma vez viajei para a cidade dos nossos avós no interior e ele já estava lá. Como sempre fui apegado a ele e ficavamos o dia todo aprontando algo, inclusive pegar uma tralha de pesca bem rústica e ir pescar em um córrego na chácara de nossa tia, que ficava no final da cidade. Iamos a pé ou de bicicleta, apenas nós dois porque até hoje lá não existe esses perigos de cidade grande. As vezes não pescavamos nada, ficavamos conversando, subiamos nos pés de fruta, comiamos algo. Se desce vontade de mijar, mijamos na frente do outro, sem muita malícia. Tenho saudade daquilo principalmente quando lembro do cheiro do pasto e da sensação que provocava o vento quente que antecede a chuva de verão.

Na chácara existia uma chave escondida que abria a sede e que minha tia deixava lá para caso precisassemos de algo. Tinha muita coisa boa para comer lá dentro e as vezes um "eu pego no seu se você pegar no meu" ou outras coisas nessa linha. Uma vez rolou troca troca bem hardcore, hardcore nos níveis de criança porque não conseguiamos acertar nem o buraco do outro e eu nem sequer sabia o que era porra. Um comia o outro e o outro comia um. Nesse troca troca eu comi ele e tava na vez dele me comer, mas ouvi barulho qualquer e como já estava entediado disse que era alguém chegando na casa e era melhor arrumar a bagunça para nossa tia não brigar. 

Meu primo ficou me cobrando uma "revanche" por muito tempo, a viagem acabou, voltamos para capital, eu né, fomos a casa um do outros, viajamos outras vezes para a casa dos avós. Nunca dava certo, porque eu me empenhava, que ele conseguisse me comer outra vez. Até que chegou de novo o natal e o fim de ano e na volta da casa de nossos avós fiquei mais uma semana na casa dos meus tios com ele. Eu tinha 10 anos e ele 11 recém completados. 

Uma tarde eu e ele estavamos no quarto dele jogando cartas sozinho, ele falou que tava com o pau duro. Eu não dei a mínima, ele disse que o pau dele era muito maior do que o meu e eu não acreditei. Ele foi até a porta do quarto, minha tia e minha prima estavam na rua conversando com vizinhos eu acho, trancou a porta e fechou a persiana, ficou em pé na minha frente e esticou a bermuda mostrando aquele volume. Eu fiquei doidinho e ele puxou a minha mão e pois em cima da bermuda dele, o cacete dele tava quente e latejando.

Hum... continua...

Pensando sobre os fatos

Os hemocentros são instituições presentes em muitas cidades do Brasil e não é raro vermos seus coordenadores indo aos meios comunicação, grupos como igrejas, sindicatos, associações, universidades pedindo doadores de sangue devida a demanda superior a oferta. No discurso dos hemocentros está a solidariedade, o amor e o respeito ao próximo, independente de quem seja ele. Eles dizem isso tanto na hora de pedir sangue quanto na hora de repassar o sangue a quem realmente necessita e permitir que salve a vida dessas pessoas.

Porém esse discurso é questionável. Sei através dos meios de comunicação e de quem já doou, porque eu tenho medo de agulha, que no questionário que fazem para o doador a pergunta se ele é homossexual. Caso o doador responda que sim ele é considerado pertencente a um grupo de risco e é dispensado, deduzo que educamente.

Enfim, ser educado não é ser políticamente correto e políticamente correto não é o caso dos hemocentros quando desprezam o doador por considerar a sua sexualidade de risco. Existem muitas pessoas que acreditam que homossexualidade, ou homossexualismo no pensamento deles, seja além uma imoralidade, uma aberração, uma opção, um comportamento promíscuo e infeccioso. E o pior de tudo é que tem homossexuais que são assim também. 

No entanto nem todos homossexuais são assim, e tenho a sensação de que a maioria não é, pois acredito que a maioria vive no armário, se relaciona sexualmente com um número restrito - pensei no número 1 - de pessoas do mesmo sexo, quando se relacionam além de se protegerem com preservativo e afins. Além disso os hemocentros não perguntam para quem se denomina heterossexual se ele é um baladeiro daqueles que transam toda noite com alguma rebaixada para contar vantagem depois, tipos muito comuns em Universidades, micaretas, festas eletrônicas e afins. Os hemocentros também não devem saber que os casos de AIDS por exemplo cresce entre grupos considerados seguros, como o de mulheres casadas.

É revoltante ver o  quão atrasado  e falso pode ser o discurso de instituições como os hemocentros. Mesmo assim não deve-se desprezar esses lugares, sem sombra de dúvidas eles prestam um serviço inestimável a qualquer pessoa, inclusive nós homossexuais, afinal, nunca se sabe o dia de amanhã e se vamos precisar de sangue. O que é necessário é que os hemocentros, a Anvisa, entre outros utilize como critérios para saber se um sangue é contaminado ou não outros caminhos e não os conceitos pré concebidos, como o de taxar todos homossexuais como grupo de risco. Esses caminhos podem ser exames no próprio sangue doado, afinal de contas a nossa medicina é avançada a tal ponto, pois até mesmo em sangue de grupos considerados seguros pode haver contaminação.

A situação não se resume simplesmente aos homossexuais poder doar sangue ou não, a situação é mais que isso. Essa restrição aos homossexuais é um preconceito disfarçado, que mesmo que não exista no imaginário das pessoas, fica sendo um resquício que repercute na mente de pessoas não esclarecidas. E por fim, e o mais importante, existem inúmeras pessoas precisando de sangue, pessoas como nós e que a qualquer momento podemos estar na mesma condição que elas. Logo toda ajuda, responsável, é bem vinda.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Da Matriarca II

Eu não tenho paciência com a minha mãe. Por isso quando ela se aproxima de mim eu já fico irritadiço. 

Eu não gosto do jeito como ela fala. Não gosto das expressões cunhadas por ela que são excessivamente genéricas, figurativas e mal formuladas. 

Não gosto da forma como expõe seus desejos, lida com as suas frustações e lida com os nossos pontos de vista e desejos.

Não gosto da incapacidade proveniente do interesse dela de aprender a lidar com as coisas novas. Muito menos de quando ela me chama para colocar o DVD para funcionar sendo que é tão fácil, sendo que eu ensinei tantas vezes,  sendo que ela não esforça.

Não gosto de quando ela faz planos a meu respeito. Principalmente porque meus planos não combinam com os delas.

Não gosto da forma como ela fala de mim, seja bem ou mal, ela sempre exagero e não gosto da forma como ela me compara com as pessoas, aliás, eu não gosto de ser comparado com ninguém.

Não gosto do assuntos assuntos que toca para falar comigo e nem de como pergunta sobre eles.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Consciência Ambiental

Um dia desses fui a drogaria para comprar um aparelho de barbear que mesmo sabendo que é uma marca costumo chamar todos de Prestobarba. Está certo, eu sei que aparelhos de barbear são descartáveis e feito com um material fóssil e nada biodegradável, plástico, mas a essência do que quero falar não é essa.

Fui até onde tinha o produto, peguei uma embalagem com dois, fui até o caixa e paguei. Quando eu guardava a nota fiscal e o troco, a simpática vendedora sem perceber colocava a mercadoria dentro de uma sacola. Eu falei meio extasiado "Não não não! Não precisa eu levo na mão". Ela rindo e sem entender disse "tudo bem" e me entregou o produto.

Eu tenho consciências ambiental, global, social, econômica que podem ser mínimas, mas tenho, além de pensar na funcionalidade das coisas. Eu não sou exemplo de uma pessoa sustentável, digna do selo verde, mas sei que uma sacola naquele caso e em muitas outras ocasiões é inútil. 

Uma sacola, que possui um custo minimo, mas possui, para um produto pequeno que coube no meu largo bolso direito dianteiro da calça e que fariam as minhas mãos, que gostam de ficar livres, suar e acumular a sudorese são uma verdadeira agressão ambiental. Um consumo desnecessário e prefudicial que fazemos diariamente sem perceber e sem pensar em razão da busca insustentável pela praticidade e modernidade que a vida consumista nos impõe. Praticidade e modernidade que se formos olhar a fundo talvez nem exista.

Seguir ações sustentáveis em pró do ambiente são dificeis porque somos mal acostumados e comodistas. Também acreditamos ser bobeira, ser chato, complicado. Gostaos de ficar parado na realidade. Para facilitar um pouco as coisas, já que virar uma pessoa amiga de Gaia pode parecer tão complicado, que tal pensar sobre o quanto e como utilizamos a sacolinhas plásticas e reduzir o seu consumo? Não resolve os problemas mas é uma ação pontual que multiplicada pela grande massa se torna grande.

sábado, 15 de novembro de 2008

O fim do dia



Estava bem tarde. Naquele horário já estaria em casa se fosse um dia qualquer e aquela a linha que estava acostumado a pegar. Toca a campainha e na quadra seguinte desse um dos dois passageiros daquele ônibus. Apressadamente sem nem olhar para trás se afasta do veículo que também se afasta seguindo sua rota.

A calçada irregular estava suja pelas folhas e galhos que caíram por causa da chuva que durou a tarde toda e o começo da noite. Desviava das poças d’água que formavam espelhos que refletia as marquises cafonas das lojas, o tom cinza e o desbotado dos prédios, a iluminação pública laranja onde gotículas formavam ondulações ovais.

Estava frustrado porque tinha demorado mais do que o comum para sair daquele campus e não ganhara carona por causa de um sujeito entrão e sem noção. Estava irritado também, não só pelo episódio da carona, mas também por ter que pegar um ônibus para outro lugar já que os da sua linha deixam de passar, embora não devessem, no campus depois daquele horário.

De certa forma sentia-se humilhado – por ficar para trás e por ficar esperando o ônibus que não viria, abandonado, não reconhecido tanto pelos amigos, que foram embora primeiro e juntos, como no geral. Sentia frio, embora estivesse apenas fresco. Na barriga uma sensação de vazio potencializadas pelo significado que tinha para ele as luzes de natal da cidade.

A sua frente o resultado da exclusão econômica e da falência social, um grupelho de mendigos debaixo de uma marquise dividindo solidariamente seus papelões e jornais. Ficou com medo, atravessou para a outra calçada com antecedência. Normal para quem também constrói de certa forma as barreiras da segregação social.

Andava lentamente e se pôs a pensar em quem não conhecia, não sabia o rosto, a voz, as idéias, o que fazia da vida, apenas deseja ter a companhia para um abraço, um beijo, para um sexo que nunca fez, ter a sensação de segurança, de desejado e pudesse retribuir o mesmo. Pensava que talvez pudesse ser o candidato alguém que conhecesse pela internet.

Na internet existem muitos caras legais, mas moram sempre longe e que talvez não vão gostar dele quando encontrá-lo pessoalmente, caso isso realmente aconteça algum dia. Ficou triste. Na sua frente aparece uma figura que não gosta, tem medo, quer distância, mas respeita. Travestis, pessoas que são para ele tanto pseudo-homens como pseudo-mulheres.

Ele não gosta de mulher e esse é um segredo que poucos sabem e não lhe é interessante muitos saberem, tampouco todos. Mulheres são para ele brochantes, chatas, irritantes. Travestis se parecem com mulheres por isso não gosta deles.

Homem é tão bom, porém tão proibido para ele. Não que vá ser assim tão proibido e sim porque ele pensa que seja. E por ser algo proibitivo, também pensa neles como distantes e difíceis de serem conquistados.

Mas é isso, ele gosta de homens. Adora a voz, a virilidade, a força física, a segurança a que isso sugere, o jeito pragmático, sem a embromação que as mulheres possuem. Gosta da anatomia, dos músculos, do corpo, tudo o que um travesti na sua individualidade nega, inverte e por isso não são homens do jeito que ele gosta.

O medo dos travestis se dá também por pensar que todos eles sabem do seu segredo de liquidificador, do o que realmente lhe faz feliz, o que ocupa sua mente, o que tanto deseja e o que lhe é também uma vergonha. E tem medo que eles de alguma forma manifestem isso numa, quem sabe, cantada ou comentário. Uma cantada seria a situação que lhe deixaria assustado, constrangido, mais irritado e mais frustrado. 

Travestis, de acordo com seus conhecimentos, andam armados com lâminas afiadas e a sua integridade física e mental conservada também é um desejo que possui.

Passa indiferente pela figura assim como os mendigos, que tem menos em comum com ele. Segue seu caminho, anda na beirada da calçada pensando numa eventual fuga de algum energúmeno realmente perigoso, como quem sabe um assaltante. Chega a estação, passa o cartão, olha as garis farreando. Repensa sobre tudo e pensa em escrever aquilo em algum lugar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Abrindo o armário para mais uma

A quinta-feira foi aniversário de minha amiga. Uma amizade que conquistei no grupo de jovens que participei no passado. Após a universidade passei pessoalmente na casa dela para dar um abraço de feliz aniversário e ali no portão mesmo ficamos falando daquilo que a muito não falavamos. Foi bom matar a saudade. Combinamos de no dia seguinte, a sexta-feira, irmos ao famoso chorinho do Grande Hotel e fomos.

Ela não conhecia o evento e gostou. Ali ao som do cavaquinho, do clarinete, do violão de sete cordas ficamos falando de trivialidades. Ela confia em mim, conta os segredos delas. As desilusões sobre o amor, a morte e as paixões. Na hora de falar de mim, eu não estava com saco para contar a ela sobre a menina sobre a qual para muitas pessoas eu menti uma paixão que nunca existiu. Há muito tempo desejava falar para ela a minha condição sexual e falei.

A coisa foi mais ou menos assim, ela falou do pouco caso dela amoroso pelo qual passa. Perguntou como é que as coisas vão para mim. Eu falei para ela que as coisas para mim são muito piores do que é para ela. Quando comecei a notar que ia me justificar demais soltei o "blá blá blá porque eu sou gay".

Minhas mãos estavam frias, eu não tinha me dado conta delas, apenas do meu coração disparado. Ela ficou com uma cara séria, na verdade ela não sabia como reagir, eu a peguei de supetão. Ela falou que nada ia mudar, continuaremos os mesmos com nossas amizades. É o que eu mais quero. Ela gosta de mim e ao longo do tempo me deu muita segurança.

Expliquei para ela um monte de coisas, porque eu me afastei da Igreja, porque eu não me assumo para todos. Falei da comunidade do Armário. Falei dos tipos da universidade, dos tipos presentes ali naquele chorinho. Eu me senti no ínicio envergonhado e até cogitei voltar atrás. Mas a minha vontade de levar aquilo a em frente era maior. Falamos muito, me justifiquei muito para ela sobre isso que eu não tenho culpa.

As coisas com ela até o instante se dando muito bem. 

No sábado fui a universidade e a tarde saí com o meu melhor amigo. Mas as condições não permitiam uma revelação sobre a minha sexualidade que ele no mínimo suspeita. Deixa estar. As coisas ainda vão dar certo.

***

Revelar a condição sexual não é uma obrigação. Eu não vejo como obrigação. Porém existem pessoas para as quais eu não preciso mentir e nem omitir. Revelando eu ganho mais pessoas para contar, consigo saber quem continua comigo e tenho que me oprimir menos, ou nem mesmo me oprimir. 

Oprimido, é assim que me sinto quando tenho que ficar omitindo ou mentindo a minha sexualidade. Me sinto numa prisão, violentado, acuado, silênciado, desperdiçado.

Achar que todas as pessoas são homofóbicas, que não tolera uma pessoa homossexual, que elas não merecem confiança para revelarmos a nossa condição sexual, também é preconceito. Infelizmente existem pessoas que pensam assim. Azar delas não ter pessoas, como as que eu tenho, para as quais eu posso revelar a minha condição. Algumas pessoas já sabem de mim e não me arrependo disso.

Falar que as coisas são ao contrário do que eu penso é fácil. Pode dizer que se pensa assim por causa da experiência também é fácil. Porém experiência mal sucedida não serve para dizer que todas as outras também serão, nem ao menos serve para dizer que será sempre assim. Afinal estamos lidando com pessoas, indivíduos complexos e singulares. .

Só resta saber se quem disse ter aprendido com a vida realmente teve por onde aprendeu e questionar se o que aprendeu também é o certo.

***

Apesar dos que me chama de equivocado, para não dizer errado, por não ter o estar no armário como uma religião, por eu ter a coragem de sair fora dele e não me arrepender - embora pelas falas parece querer que eu me dê mal; eu estou muito bem.

O final de semana teve uma chuva, não como eu queria, mas choveu. Antes dela um pouco teve a Fórmula 1. Lewis Hamilton é um gatinho, mereceu a vitória, mas se olharmos o saldo de vitórias do Felipe Massa, saberemos que o brasileiro teve um desempenho melhor. Não somos campeões por culpa daquela Ferrari inconpetente. Eita Cingapura que vai ficar na história.

Bom, sei que dei um grito quando o Vettel ultrapassou o inglês. Minhas mãos tremiam, meu corpo estava gelado, meu coração estava disparado, muito mais do que quando me revelei a minha amiga. A emoção foi boa para testar o coração.  Chato foi o Timo Glock ficar sem tração por causa dos pneus para pista seca. 


A música é Fechar os Olhos da Valéria Coista, cantora goiania cujo site (www.valeriacosta.com) dispõe de downloads gratuitos das músicas de todos os albuns. Recomendo que vocês baixem a versão do Acústico, o último albúm.

Acho essa música super a ver por causa da letra que entre muitas coisas serve para falar desses conselhos infelizes que ouvimos e dessa vida de se esconder, renúncia para sermos algo que não queremos e que não somos.

sábado, 25 de outubro de 2008

Situação do Armário em casa

Bom, na minha casa são três pessoas. Eu e meus pais. Se serve para ajudar, eu sou filho único. Isto quer dizer que os planos dos meus pais envolve a mim. Os planos deles são os mesmo que os meus? Não! Eles me perguntaram isso? Jamais! Mas de qualquer forma eu sinto uma certa segurança, pelo menos no meu pai.

Meu pai não é do tipo que fica perguntando aonde vou, com que eu vou, o que vou fazer. É assim porque ele confia em mim. Quanto aos outros ele também não se preocupa com a vida deles, porque isso não é da alçada dele. Ele é reservado, porém sempre que precisamos conversar ele nos ouve e fala o que tem que ser dito muito bem, desde que no intervalo do futebol. Quando está junto com a família ele é muito enérgico e feliz. Talvez por isso ele seja considerado O TIO pelos meus primos. Tem uma paciência que eu queria ter herdado. 

Já me falou de amigos dele que morava com ele no interior que eram gays e foram expulsos de casa por causa da intolerância dos pais, aliás do pai. E vieram para Goiânia sofrer, se virar como pode. E alguns ele encontrou muito bem "sucedido" como cabeleiros e afins da socialight da província que era isso na década de 1970. Ele não faz piadas homofóbicas e não costuma rir delas. Não reduz o caráter de ninguém a isso e tampouco vê a sexualidade como denominador de bondade ou maldade. Diz para mim que devo respeitar. 

Não sei porque ainda não assumi para o meu pai. 

Minha mãe tem tudo aquilo que eu acho desnecessário. Pergunta demais o que não é da conta dela. Gosta de detalhes que em trinta minutos ela vai esquecer e nunca mais se lembrará deles. Fala muito da vida dos outros. Quando fazemos uma coisa que não é da conformidade dela, logo ela cita alguém, principalmente meu melhor amigo e diz que eu devo ser como ele e não como o filho de alguém sei lá.

Minha mãe faz muitos julgamentos e se preocupa muito com os julgamentos feitos pelos outros a respeito de nós. É muito melodramática. Qualquer coisa que se diz ela faz uma tempestade no copa de água.

Deixo de conversar com ela por causa disso. O sentimentalismo dela é uma chantagem que ela faz para que aceitemos sempre o ponto de vista dela. Pobre mãe! Ainda não se deu conta que o mundo não pode parar para ela e nem para ninguém. Acha que a única que tem sofrimentos, é a única que tem vergonha, é a única que se senti lesada, injustiçada, é a única que está certa e só a opinião dela que vale.

Aqui em casa de uma coisa eu tenho certeza. Meus pais já desconfiam de mim. Um dia de cão, que não tem muito tempo. Chego em casa ela reclamando. Tava de saco cheio de ouvir só os problemas dela e o infeliz que fui falei que um dia vamos ter que ter uma conversa, eu, ela e meu pai; muito séria e que mais cedo ou mais tarde teremos que tê-la. É íncrivel como quando o ser humano não quer aceitar uma coisa ele inventa outras coisas para atribuir o problema, e parece que até se convence disso. 

Ela me disse que se eu quisesse largar o curso e fazer outro tudo bem. Eu disse para ela que a Universidade é uma das únicas coisas atualmente na minha vida que vejo que realmente vale a pena e só faço outro curso depois que terminar o atual. Aí ela me pergunta o que é, eu falo que não é o momento de contar. Ela insiste, eu falo não. Então ela pergunta "Você é homossexual?", e começa a fazer aquele tramalhão mexicano de como se só ela tivesse sofrimentos. 

Eu neguei, e me arrependi ao mesmo tempo que dei graças por não ter dito NÃO. Ela continuou a falar que tinha que ser, porque eu não levava nenhuma moça em casa. Eu disse que não era isso e respeitei a vontade dela, de chorar e a fiz chorar por outros motivos. Como diz a humorista, "Contornei". Ela fez mais uma pergunta e perguntou se a terapeuta sabia, eu disse que sim. No outro dia ela disse que ia ligar para a terapeuta e saber o que era. Eu disse que ela ia gastar franquia de minutos em vão pois ela não diria. Mão de vaca ela!

Semana passada enquanto eu arrumava os armários (da cozinha) para a nova geladeira que não é assim uma Brastemp, mas é muito boa, kkk; ela começou com uma história irritante. Falou que está pensando em construir um sobrado no fundo do nosso latifúndio urbano de 300m² para quando eu casar e que está louca para ter netos, que as minhas tias são felizes com os netos delas, e zaz.

Ainda bem que eu não tenho visão com raio laser se não eu arrebentava alguns parafusos e deixava um armário cair em cima da minha mãe e faria a Flora de A Favorita. Eu disse para ela que eu não estou preocupado com isso agora e nem vou me preocupar e meus objetivos por agora são outros. Mas até hoje estou irritado com isso. 

Ela sabe, ela só está esperando eu falar e fica fazendo esses comentários infelizes. 

Estou pensando em dizer também aos meus pais, pelos menos para limpar a barra em casa. Acho que complicamos demais. Ainda bem que não sou sistemático e vou mudando meus planos de acordo com as minhas novas perspectivas.

Desculpe a longa postagem.

Publicado na Comunidade "Estou no Armário, e daí?" em 21/10/2008.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre a Promiscuidade

Desejo sexual pelo mesmo sexo desde quando me dou por gente eu tenho.  Mais ou menos com 12 anos aceitei que de fato eu tinha essa atração sexual, porém tentei esquecer e enganar a mim mesmo. Participou desse delírio a religião onde eu pedia para Deus “curar” a minha homossexualidade, me sentia culpado por me masturbar entre outras coisas. Regras morais nas quais eu acreditava e que sempre me aprisionaram.

Quando eu me aproximava do meu aniversário de 18 anos simplesmente decidi que não iria mais me enganar. Não iria mais beijar meninas na balada – as até hoje poucas que eu vou, tanto para parecer heterossexual, como para tentar ser heterossexual. Não iria mais imaginar sendo o que eu não conseguiria, e se conseguisse seria a duras penas, casar e inventar uma grande mentira envolvendo várias pessoas. Aceitei que eu sou homossexual.

Pronto, rompi com o plano de heterossexualidade para minha vida estabelecido por mim, por pressão coletiva e me vi perdido de certa forma. Não sabia como tratar a minha homossexualidade. Lembrei que às vezes entrava nas salas do Terra e do Uol só por curiosidade e vi que por lá as pessoas marcavam encontros sexuais. Fazia então muito tempo que eu não brincava de médico com ninguém e eu estava louco por sexo.

Comecei a entrar freqüentemente nessas salas em buscas de punhetas na cam, desisti porque é muito sem graça e demasiado cansativo - má relação de custo benefício, e o principal, encontros sexuais.  Parece que eu ia me tornar uma pessoa promíscua.

 Na verdade consegui apenas duas transas. Na hora de marcar o encontro eu sempre voltava atrás, ficava com medo de não tudo, mas de muitas coisas. Ainda bem, acho que me conservei bastante e ainda por cima logo percebi que um comportamento promiscuo é uma escolha que tenho, mas que não é a melhor para mim.

 

***

A promiscuidade é o comportamento no qual alguém possuí vários parceiros sexuais onde reina a busca de prazer e nada, ou muito pouco, além disso. A pessoa promíscua não tem muitos parceiros fixos e sim uma grande rotatividade deles. Muitas vezes nem se quer sabe o nome da pessoa com quem transa.

Vejo em comunidades, inteligentes e voltadas para o público LGBT, que muitas pessoas não gostam de promiscuidade. Eu também não, embora tenha apenas dois encontros arrumados com esse imaginário na mente. A grande questão é a argumentação empregada para dizer porque não gosta da promiscuidade. A argumentação se baseia nos padrões morais e/ou religiosos.

Promiscuidade é um comportamento que expõe as pessoas a um prazer passageiro, sem perspectivas de algo mais profundo e prolongado – a não ser o pênis ou o ânus, e as pessoas se expõe a integridade física, psicológica, o anonimato, podem se contaminar com alguma doença e mais uma série de outros fatores. No entanto é necessário analisar a situação com mais cautela antes de dizer que promiscuidade não é algo bom por causa do que é moral, do que faz parte dos planos de Deus.

Na questão moral, vale lembrar que moral são regras convencionadas pela sociedade que visam uniformizar as pessoas no que o imaginário coletivo acredita ser o certo. O grande “X” da questão que envolve a moral é que essa moral, e bons costumes, é a mesma que crer que dois homossexuais se beijando é algo errado, é algo nojento. Que a união civil entre pessoas do mesmo sexo é um ataque a família, por hora a tradição e a propriedade.

Nessa classificação do que é moralmente certo, acaba se esquecendo de analisar se a situação de um indivíduo “imoral” realmente nos prejudica. Em geral, no que tange a sexualidade principalmente a condição sexual, não! O que acontece por parte de quem acha imoral é um estranhamento, uma fobia e uma resistência ao que não conhece. Também um apego ao que já está posto e um comodismo que impede se quer questionar esse padrão moral.

Ao se criticar um promiscuo em função da fé que se nutre, deve se lembrar que fé é algo individual. Que alguns por fé, e essa fé pode vir de N formas e motivos, praticam algo, outros não. Alguns acreditam em uma norma religiosa, outros não. Na visão religiosa de muitos a promiscuidade é algo desrespeitoso, na de outros não, até mesmo daqueles que não tem religião ou nem se quer se preocupa com ela.

Aí também é necessário tomar outro cuidado. Uma pessoa que não tem uma religião, ou não manifesta algum pensamento teológico, não significa um sujeito sem propriedade para dizer que não serve aquilo que não é religioso.

Além desses fatores, as religiões que condenam a promiscuidade são em geral as que condenam a homossexualidade. Mas o que faz pensar que a intolerância a homossexualidade seja um equívoco dogmático e a promiscuidade não? O que faz pensarmos que as coisas são sempre assim?

O livro que fundamenta as religiões denominadas cristãs, a Bíblia, na interpretação dos mais reacionários e conservadores, em tal ponto, se mostra contrária a homossexualidade. Na mesma Bíblia está escrito que ela, logo a vontade de Deus, aceita a escravidão, aceita as guerras, aceita o sacrifício de crianças, aceita a submissão da mulher, inventam uma série de normas para se cultivar um campo, normas que agricultura moderna não cabem mais e são impensáveis.

Isso que está na Bíblia sobre escravidão, criança, mulher, guerra e afins é certo? E sobre a homossexualidade é certo? E agora, e sobre a promiscuidade? E quais os critérios que se faz pensar assim?

Bem, essas são perguntas que sempre faço ao pensar na visão religiosa, principalmente cristã, a respeito do mundo. Não estou defendendo aqui a promiscuidade. Aliás, não sou contra e nem a favor dela. Apenas não acho um comportamento adequado no que envolve fatores de segurança e saúde. Estou indagando os argumentos que se utiliza por muitos para se colocar contra a alguma coisa. 

domingo, 5 de outubro de 2008

Pensamentos: encadeiamento ou a tentativa.

A humanidade tem seus anseios. A necessidade de se transportar para distâncias cada vez maiores em tempo em cada vez menor com quantidades cada vez maiores é um exemplo disso. O mundo sempre foi do mesmo tamanho, porém o significado desse tamanho para a locomoção e a dinâmica humana perdeu força ao longo do tempo.

Logo as pernas não foram capazes de suprir a necessidade da humanidade de interação, de troca e de mudança. Vieram os lombos dos animais, com a invenção da roda as carroças, na Idade Média as naus e caravelas, com a Revolução Industrial as locomotivas e no século XX os automóveis e suas rodovias. Principalmente após a II Guerra Mundial (1939-1945) veio à informática com os computadores conectados entre si por meio da internet.

O que notamos na dinâmica do mundo é a valorização do que é informacional, abstrato. Talvez o que seja material não tenha tanto valor quanto antes e ou vai perdendo esse valor ao longo do tempo. Os Km/h foram substituídos pelos Kbps que já não são mais suficientes, já estamos ou queremos os Mbps – unidade 1024 vezes maior a anterior.

A informação por segundo percorre uma distância que não existe. Vizinhos de cerca, muro, de andar são tão distantes quanto estão próximos de quem mora em outro extremo distante do globo na teia da internet. No fundo, não existe distância, pois a distância é algo do mundo físico.

O mundo físico, as pessoas são tomadas por uma série de padrões que elas mesmas criam, reproduz e aos quais se tornam presas. Gente estúpida! Estamos hostis e fechados em nos mesmos. Reclamamos da solidão e do caráter das pessoas, mas ainda assim não deixamos de ser como elas e não paramos de construir e reforçar as paredes de nossas barreiras. Nós nos apressamos para quando chegarmos ficar esperando. Nessa pressa não damos a mínima, sequer notamos, pequenos detalhes que por motivos N vão ficando raros.

O que custa notarmos que as pessoas valem mais do que o quê elas podem ter.

Well Bernard! diz:
eu toh escrevendo um texto pro blog, ficou bom, mas agora não sei terminar
Vinícius Sebek! diz:
ué, naum termina
o q tem o texto ficar inacabado?
o blog naum é uma redação
Well Bernard! diz:
fica estranho
Vinícius Sebek! diz:
ah, besteira


Well Bernard! diz:
toh escrevendo um texto pro blog, mas agora eu não sei terminar
Funny guy diz:
escreve fim e ponto...
eu vou escrever tbm....
daqui a pouquinho...



Realmente. Rausto!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Como Funciona a Lei da Atração.

Matéria atraí matéria. Uma partícula, ou seja matéria, atraí outra partícula. Essa atração é a gravidade. Quando duas partículas se somam, a força de atração, a gravidade, delas aumenta também, o que atraí mais matéria. Com isso o centro de gravidade delas aumenta.

Chega um ponto em que a matéria atraí tanta matéria que a gravidade fica muito intensa. Quanto mais intensa é a força maior é a pressão, quanto maior é a pressão maior é a temperatura. Chega um momento que a temperatura é tão alta que tudo explode. É assim que nasce uma estrela.

Quando guardamos um sentimento ele vai atraindo mais do mesmo. E vamos inchando e atraindo mais. Então a gravidade fica muito intensa, chegamos a um ponto crítico e explodimos. Só que quando explodimos em geral não viramos estrela, muito antes pelo contrário, ninguém acha bonito e só sai porcaria. Ainda bem que eu aliviei meus sentimentos. Quando? Sei lá. Só estou escrevendo algo porra.

Bem, eu não me sinto nada bem agora. Dá vontade de desistir. E quer saber, esqueça a aula de física travestida de psicologia. Isso aqui nem pó de estrela é.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Abrindo o jogo

Mentiras e omissões são coisas que eu coleciono muito bem. Porém das mentiras e omissões que eu saio a proferir posso dizer que elas são formas que encontro para fugir de questões que eu não tenho resolvidas comigo mesmo. Isso quer dizer que eu coleciono uma porção de gestalts abertas. Gestalt é um termo que vem do alemão e eu aprendi estudando psicologia e eu simplesmente acho um loosho essa palavra. Significa mais ou menos forma, configuração, mas essas traduções não são utilizadas na psicologia. Uma pessoa que tem uma gestalt aberta é uma pessoa que tem um conflito interno, algo mal resolvido. Quando a gestalt está fechada é quando a pessoa encontrou a boa-forma.

Pensando nessas gestalts abertas e na minha busca pela boa-forma das coisas, tomei a decisão de não mais omitir ou mentir coisas para a terapeuta. Decidi também publicar coisas sobre mim, sem abrir mão do meu efetivo anonimato, que eu escondo e tenho dificuldades para lidar com elas aqui no blog. Vejo importante contar a verdade para a terapeuta, pois ela é uma profissional que vai me ajudar a entender esses processos e lidar melhor com eles. Já publicar aqui a verdade sobre os fatos que me acometeram ou me acomete ainda é uma demonstração que eu dou a mim mesmo de que eu estou conseguindo no mínimo não guardar apenas para mim coisas que eu não quero mais. Os meus leitores são parte do processo que muito me massageia o ego quando me leêm.

Entendido então o porquê que eu contei sobre como começou as minhas consulta ao médico (kkk) e como eu aprendi um pouco de medicina, principalmente anatomia humana e masculina está na hora de dar seqüência.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Daquele amigo


 

Vou contar como era a relação de convivência com esse amigo. Na casa dele não existia televisão em função da religião dos pais dele, pentecostais, e muito menos antena parabólica, equipamento essencial onde moramos para ver TV aberta. Mesmo assim ele gostava de ver desenhos animados e a mãe dele deixava-o vir para minha casa com certa regularidade com esse intuito, ver desenhos animados sem chuviscos e chiados.  Porém, quando ele chegava aqui as intenções dele mudavam. Minha mãe estava em outras partes da casa cuidando de seus afazeres peculiares a uma boa dona-de-casa, coisa que até hoje ela é embora trabalhe fora também. Ficávamos sozinhos, eu e ele, na sala vendo Eliana ou TV Colosso, saudades daqueles programas. Na primeira hora ele se distraía com aquilo, depois ia para outra parte da casa onde ele acreditava que nós não seriamos pêgos, e caso fossemos pêgos poderíamos disfarçar já que ouviríamos quem estivesse chegando a tempo. 

Então ele me chamava como quem não queria nada. Eu, é lógico, sabia das intenções dele desde o princípio, mas preferia fazer o ingênuo, e ia ver o que ele queria. Ele me abraçava, eu não via muita graça naquilo e sentia medo de algum flagrante, que ate então nunca aconteceu. Às vezes ele tentava me beijar na boca e eu sentia nojo, coisa que hoje eu não sinto mais dos homens pelo menos, e não deixava. Roçávamos os nossos corpos. Ele abaixava a minha bermuda e a dele também. Sempre pedia que eu o boqueteasse, coisa que eu fazia às vezes, eu tinha nojo também. A higiene íntima dele não era boa, tinha mal cheiro e esmegma. Eu, aprendi muito cedo a afazer a minha, pois anos antes fiz operação de fimose. Chegava as vezes ele conseguir o que tanto queria, me comer. Está certo, na época era por o pinto na entrada do cu do outro e ficar parado, nem se quer bombava. Eu também comia ele, mas porque sempre via o passivo, talvez pelo machismo que os diversos signos me imprimia, como algo inferior. 


Hoje eu fico pensando onde ele aprendia isso e tão bem. Ele assim como eu só tinha quatro ou cinco anos. A nossa diferença de idade era de alguns meses. Até hoje eu acredito que ele não tinha outro amigo além de mim na época. A família, o melhor, os pais dele na época era humilde, ele dormia no mesmo quarto que os pais dele. Será que foi assim que ele aprendeu? Ou será que foi por instinto? Ignoro. Qualquer especulação que eu faço aqui não tem outra base se não meu errante achismo e não é importante.

Após o acontecido, o desgaste psicológico e físico que minha mãe me fez passar ele voltou a minha casa muitas vezes. Em muitas ele queria ver desenho, outras ele estavam acompanhando os pais dele que eram amigos dos meus. Nas oportunidades, principalmente quando ele via para ver desenho, que ele tinha de ficar sozinho comigo ele continuou a me chamar em algum canto silencioso da casa longe da vista e da desconfiança de algum adulto. Lembro de uma dessas oportunidades, apenas dela, e é a única que me vêm na memória agora. Estávamos na sala, ele começou a andar sozinho pela casa, foi ao quarto de hóspede, me chamou, eu o segui, chegando lá ele abaixou a bermuda dele e já estava com as piroca branca e sacuda dura e mando que eu chupasse. 

Eu não tinha esquecido o que minha mãe fizera comigo dias antes e entrei num pânico. Uma sensação que raramente eu tenho hoje, a última vez que eu tive aqueles sentimentos foi semana passada quando uma louca me deu uma fechada no trânsito. Então eu deixei ele sozinho, voltei para a sala e tentei assistir o que passava. Instantes depois ele veio de volta, sentou no sofá com uma expressão que tinha um misto de raiva, esperanças de que eu voltasse atrás e falta de entendimento dos motivos que me levou a refugar aquilo.

Por mais alguns anos continuamos muito amigos, mas com a escola, o trabalho de nossos pais, a acomodação e N motivos começamos a nos ver com menos frequência. Há muitos anos não frequentamos a casa um do outro, sequer nos comprimentos. Não somos mais amigos. A amizade morreu não por algum sentimento que gera aversão um ao outro, mas sim por falta de estímulo. Se deu pra perceber eu não tomo muita iniciativas, principalmente por timidez, e ele sei lá. Hoje ele é um pouco mais alto do que eu. Anda bem vestido, cheio de apetrechos, eu não gosto mais das minhas camisetas de banda e da funcionalidade. Tem uma cara de bobalhão safado enquanto eu tenho uma cara de "você pra mim é problema seu", não que eu seja antipático, basta apenas um sorriso da pessoa para que eu quebre esse gelo que minha face pode impor.


***


Essa música da Pitty está descrevendo um pouco a minha comum e anônima vida.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

As brincadeiras de criança

Tenho um primo mais velho pouco mais de um ano. Até alguns anos atrás, não faz tanto anos assim, eu possuía uma relação muito próxima com ele. Essa relação nasceu no período em que meus tios moraram com ele em nossa casa enquanto a casa deles aqui, na Região Metropolitana, não ficava pronta. Assim sendo desenvolvemos uma relação muito próxima. Brincávamos o dia todo um com o outro. Eu era o mais comportado e o mais manhoso, ele o mais atentado e agressivo.

Brigávamos muito também. Eu sempre apanhava, aliás, acho que apanhei de praticamente todo mundo. Embora meus tios tenham se mudado para a casa própria deles assim que foi a eles possível, a minha relação de proximidade com esse primo não se abalou. Claro, não era mais como antes que por morarmos debaixo do mesmo teto éramos quase irmãos, mas continuamos próximos dando seqüência a um processo.

Na minha casa ficou um vazio mesmo assim, era normal que ficasse. Com a ausência desse meu primo, quando eu tinha por volta de dois ou três anos, mudou-se para a rua transversal a minha casa uma pessoa que supriu a falta do meu primo e é hoje o meu melhor amigo e quem será uma das próximas pessoas para qual eu planejo contar da minha condição.

Mas voltando ao primo, principalmente depois que passamos a morar em casas diferentes começamos a "brincar de médico". Não lembro a primeira vez em que eu joguei. Mas sei que a iniciativa e quem "me iniciou" no jogo foi ele. Nas vezes eu era bobo, ingênuo, ou melhor, inocente mesmo. Não tinha malícia, pois nunca tive contado com sexo, não sabia o que era transar, o que era sexo.

Nas brincadeiras lembro-me do pênis ereto, das chupadas, da saliva que ficava com uma consistência diferente e nojenta, das cutucadas. Eu não sentia prazer, eu não sabia estimular o meu pênis e acredito que meu primo também não, o dele tampouco o meu. Lembro também da proibição, tudo o que fizéssemos era nosso segredo. Os adultos não poderiam saber jamais, aquilo era errado, não era coisa de homem, era coisa de mulherzinha, Deus castigava e principalmente, apanharíamos. Acredito ser isso o começo do imaginário do sexo como algo sujo e o homossexual ser inferior por se "assemelhar" a mulher no imaginário dos adultos, até mesmo das próprias mulheres.

Brincando de médico, posso dizer com segurança, que eu aprendi muitas coisas. Está certo que o fundamental mesmo fui aprender na adolescência de N modos, todos eles normais penso eu. Aprendi muito sobre anatomia masculina, a minha anatomia, ao ser examinado e examinar o meu primo. Era aquele jeito que eu encontrei para conhecer meu próprio corpo, sem notar é lógico, pois não podia tocar o meu corpo, era feio, sujo, errado, papai do céu não gostava.

Dessa proibição, outra coisa que aumentou muito o meu medo de brincar de médico, seja com quem for, foi um evento ocorrido na minha casa, na Copa de 1994. Tínhamos um casal de vizinhos que possuíam um filho da minha idade com quem fiz amizade. Com esse amiguinho brinquei de médico também, ele me dava umas "dicas" que eu passava para o meu primo que me dava outras que eu passava para o meu amiguinho. kkk.

Um dia veio esse meu amiguinho junto com o pai dele a minha casa para assistir o jogo do Brasil contra não me importa quem. Eu já brincava com ele, ficaram os adultos na sala e nos dois pela casa brincando de N coisas. Quando criança tanto eu como meus amigos quando estava com vontade de mijar falava na lata que ia fazer xixi e alguém ia para mijar também. Eu disse ao meu amigo que ia fazer isso então e fomos os dois para o banheiro. Fizemos o que tínhamos para fazer.

Então ele fechou a porta, isto é, encostá-la sem nem ao menos encostar no batente e travar a maçaneta, coisa que não alcançávamos. Então ele começou a passar a mão na minha bermuda e tirou o pênis dele que já tava duro, era maior do que meu e branquinho também. Eu já tinha sacado e os feromônios já estavam me deixando ereto. Então começou o chupa-chupa, daí foi passar para o troca-troca. Na hora de começar eu fiquei como passivo e ele como ativo (aeh?).

Passado algum tempo, não tinha naquela época noção de tempo e a porta abre de uma vez e minha mãe olha para nos dois que subíamos os calções envergonhados, assustados. A cara da minha mãe não gosto de lembrar nenhum pouco, muito menos descrever. Lembro que passado alguns instantes tava o meu amigo brincando com minhas coisas até o momento em que o jogo acabou e nisso o pai dele chamou ele para ir embora. Nesse tempo minha mãe ficava me fazendo perguntas para mim num canto da cozinha, me dava tapas na boca, eu chorava, e quando eu chorava ela me batia, eu respondia ela me batia, eu me calava ela me batia.

Quando o meu amigo foi embora com o pai dele lembro que minha mãe me deu muitas cintadas, ela dizia para o meu pai o que tinha acontecido. Não lembro de como meu pai se posicionou sobre. Ele não falou nada eu acho, deveria pensar ele que aquilo era normal. Acho que se fosse ele que tivesse me visto lá ele teria dado uma bronca e feito que nada tinha acontecido. Mas eu indago tudo isso pois se ele fosse tolerante, sei lá, achasse normal ele teria me defendido das agressões da minha mãe e dado uma lição de moral de descascar aroeira como as vezes dá na minha mãe.

No acho fim, acho mesmo que meu pai foi um cúmplice do que minha mãe fazia comigo. Não tinha ninguém ali para me defender de quem eu acreditava, e acredito ser ainda, os meus heróis. Não havia psicólogo, pedagogo, conselheiro tutelar para me defender, para impedir o assédio moral que minha mãe estava provocando em mim. Será que se Deus estivesse lá ele também me bateria ou sendo ele alguém infinito em amor e misericórdia me defenderia no colo dele.

Fiquei muito constrangido, humilhado com o episódio. É a primeira vez que eu penso já com a ciência de uma pessoa adulta que eu devo ser sobre o que aconteceu, tentando justificar algo. Será que minha mãe me bateria se fosse eu que tivesse comendo o meu amiguinho? Será que dá pra eu revelar para minha mãe, para o meu pai a minha condição tendo em vista aquilo lá? Minha mãe nunca demonstrou ter mudado de opinião.

Me sinto ofendido e irritado, também invadido e cobrado, quando eu entro no meu quarto e vejo 12 camisinhas sobre a minha cama, colocadas por minha mãe, como as que eu encontrei essa noite.

Neste instante me sinto nu por expor algo que por tanta vergonha, tantos tabus eu escondi desde os meus cinco anos de idade. Acho até bom, me sinto aliviado compartilhando o que eu guardo a sete chaves. Me pego até ligeiramente emocionado.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Do Funny Guy

Felicidade


Feliz? Por quê?
Há a fome,
a Guerra,
a Violência,
o Preconceito,
o Rancor...
Onde anda esta tal Felicidade?

Tristeza? Para quê?
Existe o Alimento, e a Solidariedade.
Existe a Paz e a Reconciliação.
Existe a Tolerância e o Perdão.
Existe o Respeito...
e o Amor.
E acima de tudo isso, existe a AMIZADE.

(Funny Guy)

Que te diz o vento que passa?
http://quetedizoventoquepassa.blogspot.com/

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Da Matriarca

Minha mãe, não sei porque mas tem hora que a senhora me irrita com umas perguntas e suas explicações. "Pega a panela no armário". Será que é só eu que percebi que aqui em casa tem tantas panelas em tantos armários? "Sabe aquela minha amiga daquele dia?" Eu posso tratar como "aquele dia" qualquer dia antes de hoje. E amiga, a senhora tem tantas.

Mas suas descrições genéricas a respeito das pessoas, das coisas e dos eventos não é o que me irrita. E nem o videocassete, agora (alguns aninhos) o leitor de DVD, a parabólica que está aqui em casa a tanto tempo e ainda sou requisitado para trocar de canal, por legenda, por para gravar a novela.

Também não me irrito tanto com a lentidão com que anda. O mal gosto para comprar roupas para mim. O tanto de bugigangas que põe no meu rack. As vindas da missa nas quais fala mal da vida de alguém por mais que eu não queira ouvir.

Me irrita para caramba quando a senhora fala "Aquele menino viado", "Quando você casar", "Os meus netos, que ainda vou ter." Eu não sou mal por gostar do que gosto e não deixo de ser quem você pensa que eu sou na essência por causa disso.

O que custa perceber que as coisas não é como eu quero? É tão dificil ver que eu não quero o mesmo que a senhora? Por que eu não me sinto seguro? Por que você reclama tanto? Se apega ao que é dos outros e não faz diferença alguma para nós? Por que você não me dá segurança? Tem que me fazer sentir tanto medo assim?

Somos dois errantes, mas estamos tentando acertar. Alguém de nos encontrou ou está encontrando o melhor caminho para aproximar-se da inatingível perfeição. Mas o que é a perfeição a não ser uma idealização que nossos desejos elaboram, algo que vai da intenção de cada?

O dia em que você saberá da minha boca o que eu gosto vai chegar. Sair frustada e caída só dependerá de você. Sair frustado e caído não dependerá de mim. Não sei quando será, mas vou me preparar para que tudo dê certo para mim.

Mas sem esquecer que eu amo muito a senhora. O jeito como mexe com o mão é único e já me dá suspiros de respeito, amor e tudo mais. É linda a doação que faz por mim e por meu pai, e é as vezes exagera. Doe-se para mim quando eu precisar de contar algo e a senhora ser para a mim um porto seguro.

A senhora é uma boa pessoa apesar dos erros. Eu por mais ranzinza, por mais arrogante, por mais impaciente, por mais que não seja aquele filho munido de condura também sou. Tentemos fazer o nosso amor incondicional não ser dominado pela vaidade que eu tanto quanto a senhora temos descontraladamente.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O medo...

Hoje fiquei o dia todo na internet, não fiz nada de produtivo. Sou uma ameba. A noite fui a universidade fazer prova. Enquanto eu falava da compartimentação do relevo meu melhor amigo veio até minha casa e usou meu computador. Se ele tiver notado, existe vestígios no Mozilla Firefox de que alguém naquele computador visita sites comprometedores.

Ele é muito educado, mantém descrição a respeito das coisas. Mas suas colocações me confunde, não sei se ele é tolerante ou homofóbico. A dúvida não é confortável e jamais será. Ele não deixou recado para mim em lugar algum e ainda não conversamos. Vou deixar as coisas rolarem. Acho que ele não vai jogar fora uma amizade com mais década e meia fora.

terça-feira, 17 de junho de 2008

"Penso Logo Existo"



Um amigo do MSN, homossexual naturalmente, me presenteou com um livro. Depois d’eu falar os motivos que me impediam de comprar o livro, ele citando a proximidade em que ainda estávamos, ou estamos, do meu aniversário, a amizade e a possibilidade que ele possui, fui por ele presenteado o O Terceiro Travesseiro. Fico eternamente agradecido com o presente.


Posso dizer que o livro, a mim, não é impactante, digo, não vai dar uma reviravolta na minha vida. Talvez vá, mas será por minha literatura ainda limitada e este livro ser o primeiro a tratar com um foco mais forte, aliás, com o foco principal, o tema da homossexualidade, bissexualidade, enfim.


Na história, embora o autor afirme ser real, às vezes foi irreal e forçada por alguns detalhes que acho muito incomuns numa "incomunidade", assim também como o livro se saiu previsível. Mas de modo geral posso falar que o livro é bom, de leitura agradável e prende a atenção.


Ao concluir a leitura pensei o seguinte, existem coisas que sabemos que existem, que quando não são fato, como a morte, são muito prováveis de acontecer, como a homossexualidade, e nós, na nossa ingenuidade voluntária, preferimos ignorar.


A morte me assusta, mas não deveria. Assusta-me porque estou pensando mais profundamente nela como algo adiável, mas a todos inevitável. Por mais que fujamos dela, e devemos afinal queremos viver, por mais que a ignoremos, por mais que afastemos, um dia ela vai chegar.


Nesse dia nos daremos conta de o quanto nos somos humanos, não pela sensibilidade e solidariedade que deveríamos ter, mas sim pela nossa incapacidade de controlar a natureza. Da natureza, a morte é a coisa pontual mais poderosa, mais forte que faz de nós pequenos e frágeis. E como se não bastasse tanto poder, ela é irreversível, não volta atrás, o que faz de nós ainda menores e frágeis. A natureza é poderosa, só a humanidade que não se conscientizou disso e acha que o mundo foi feito para o seu deleite.


O que vem depois da morte é algo que assusta também. Não sabemos o que acontecerá depois dela. Eu, que não tenho crença em algo espiritual, acredito que com a minha consciência nada acontecerá, ela simplesmente deixará de existir. A consciência é o que nos faz diferentes de todos os outros seres vivos no que tange a mente, sabemos que nós existimos. Daí, Descartes formulou sua frase, "Penso Logo Existo".


Mas voltando ao que nos espera depois da morte, ser aquela minha expectativa sobre a morte, não me resta outra coisa a não ser aproveitar os meus insignificantes anos de vida diante dos bilhões de anos que tem esse Universo.


A música é do Anderson Richards, vocalista da banda goiana Mr. Gyn, chama Sonhando e essa versão é a do DVD Acústico da cantora, também goiana, Valéria Costa. Ele fez a música para o pai dele que morreu. Acho a letra bonita e profunda e a melodia melancólica.

domingo, 15 de junho de 2008

Do Esquecer

Fato é que eu não esqueci é está díficil para esquecer. Acho que não esqueci. Os sentimentos quando não estão bem vivos estão latentes. Que saber? Eu gosto de você. Alimento minhas esperanças de que você volte e que eu possa falar com você. Que eu possa dizer o que eu penso, que eu estou puto, irritado com o que você fez comigo.


Tudo bem, eu entendo você e seus medos, mas você poderia ter feito de modo diferente. Você só pensou em você quando me deixou esperando até que eu desistisse e fosse lhe procurar. Procurando-te você me ignorou, eu supliquei para você dizer a mim o que não me convenceu. Tudo bem, você não quiz mais, mas poderia ter falado. Não custa nada falar, não me julgue pelos outros, eu não sou assim.


Mas se você voltar, eu vou lhe dizer o que eu sinto e o que eu desejo. Que eu tento mas não consigo e insisto em não te esquecer. Eu quero você para mim. Só me arrependo de não ter feito você saber o quanto quero você e já desde o início. Maldita timidez.


Mas digo que eu ainda gosto de você. Quero você, só vai depender de você. Enquanto isso, errante vou deixar meu coração ser manobrado por outros. Aliás, por causa de você eu tenho medo de apostar nos outros, ou de apostar para te esquecer, não esquecer e magoar outros. Não posso deixar eu acima dos outros, eu sou tão igual quanto os outros. Não quero para ninguém o que eu não quero para mim.


Talvez o grande idiota seja eu. Sim, poderia te esquecer, endurecer o semblante para o que me lembrar de você, quando lembrar de você. No entanto não consigo, é complicado, é dificil, a dificuldade me faz acomodar e prefirir nutrir esperanças, desejos, imaginar situações e acreditar que pode ser apenas um delírio da minha dor de cotovelo. Eu posso procurar e possivelmente te esquerer, mas será que eu quero? Não sei.


Mas não faço errado em pensar e refletir sobre o que eu penso. Estou confuso, a agústia toma conta de mim, existem horas que eu nem lúcido sou.

sábado, 7 de junho de 2008

Destrancando o armário...


Num primeiro de abril minha melhor amiga veio passar à tarde comigo, período do dia que sempre passo sozinho em casa. Essa rotina é quebrada pelo menos uma vez na semana, mas isso não vem ao caso. Quando minha amiga sentou na cadeira do computador e começou a ler as informações que rede mundial dos computadores mandava naquele dia, com caráter mentiroso eu soltei meio que sem pensar, "eu sou gay amiga". Fiz aquilo tendo em vista não só sair do armário para mais alguém além da terapeuta e dos meus amigos do MSN, que são na grande maioria de outros estados, mas também para vê como seria sentir uma experiência, que tinha metade de chance de dar certo, metade de chance de dar errado, com uma pessoa importante para mim.

Quando terminei de falar, ela se virou pra mim, e disse "é?", não não, ela disse "éééé???" com aquela cara de 'eu suspeitei desde o principio mas não sabia que ia ser assim'. rs. Nisso senti um medo da reação dela que estava só começando, me veio um pessimismo, um pânico e um arrependimento. Pensei rapidamente numa resposta, "amiga, primeiro de abril". Ela caiu na risada juntamente comigo se virou para o pc novamente e disse "ah tá!". Foi como se eu tirasse o mundo das minhas costas, mas outros sentimentos, ingratidão e covardia me vieram. Eu deveria ter coragem de contar para ela, manter a informação se é que eu confio tanto nela. Mas tudo bem. Que salada de sentimentos né?

Contei isso na sessão, que aconteceu naquela semana ainda, a terapeuta e continuei me sentindo, apesar de tudo, um covarde e ingrato. Mas no domingo, quando me vi num tédio infernal de domingo, não havia ninguém interessante logado no meu contato gay do MSN, entrei no meu contato hetero. Minha amiga estava lá, e comecei a puxar assunto, papo vai, papo vem, confesso que não muito fluído e interessante, mas quando nos encontrávamos num momento de partilhamento de depressões comecei a jogar uns verdes dissimulando. Comecei aquela história que um dia faria uma revelação a quem eu acho importante, que merece saber e que vai entender. Mas essa história era não só importante para mim como difícil de ser contada, eu precisava do meu tempo. A amiga me fez crer que ela correspondia a todas as exigências que eu faria para contar uma história que eu já pensei tão bem, no sentido de muito avaliar, e finalmente eu contei. Aliás, deixei que ela deduzisse o que eu iria contar e confirmasse depois caso fosse aquilo, "é sobre a sua sexualidade, amigo?", "sim, é sobre ela, eu sou homossexual?".

Sim, eram emoticons, mas pessoalmente seriam beijos, abraços e apertos de mão acompanhados daquelas palavras escritas a mim, só que com uma diferença, olhos no olhos. Disse a verdadeira versão de uns casos que eu contei nesses tempos de vivência a ela, expliquei que login era aquele no MSN, apresentei os mais queridos dos meus contatos gays, o orkut fake, quem naquela vez era o meu afeto. Boas e ruins lembranças eu tenho dele, mas valeu a pena pelas boas lembranças. Uma coisa notei naquela longa conversa de msn, nas visitas seguintes a minha casa, nos passeios lado a lado pela rua; os músculos do meu rosto doíam, mas é porque eu tinha um sorriso freqüente que certamente ajudou-me a ter sonos mais profundos. Ter aberto o meu armário para ela foi uma das melhores coisas que me aconteceu.

Nas semanas seguintes, quando os dias frios de outono foram chegando, algumas pessoas que não me conheciam começaram saber da minha condição sexual em função dela. Não que ela tenha saído espalhando, simplesmente eu delimitei a quem ela poderia a contar, pessoas que não conheço, o namorado dela, os amigos de MSN que certamente nunca me verão na rua ou em qualquer lugar a não ser na própria internet. Pessoas que eu sei que não se preocupam com a minha condição sexual e das quais eu não faço muitas expectativas, não que seja eu um antipático, anti-social ou elas más.

Porém, pessoas mais próximas de mim começam saber da minha condição sexual, a prima da amiga, um amigo dos tempos de ensino médio e depois outro. Confesso que com exceção da prima da amiga, para quem contei foi numa mesa de pizzaria onde tudo para nos saía debochativo e engraçado conseqüentemente, revelar minha condição a esses amigos foi algo que de tão tranqüilo, não sei se foi natural, pois acho que até esse dia chegar irá demorar muitos dias, foi sem graça. Não houve muito medo, não houve muita expectativa, não houve emoções de modo geral.

Disso tudo o que eu tiro é que às vezes somos preconceituosos, sem termos consciência, com as pessoas. Subestimamo-las e os preceitos delas. De modo geral contínuo pensando que a nossa sexualidade deve ser revelada a quem acharmos necessário, que saberá entender, que merecerá saber. As vantagens de contar algumas pessoas é que embora elas não sejam como agente, elas certamente irá nos apoiar eventualmente, diminuir a nossa solidão e nosso medo e acabam sendo menos pessoas para mentirmos quando não der para omitir.

É isso! Rausto! kkkkkk

PS.: Eu sei que a música não tem nada haver com a postagem, mas eu gosto da música, da cantora e o blog é meu e eu faço dele o que eu quiser. kkk

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Enfim...

Enquanto não penso em nada para colocar no blog vamos ajudar a raposa. O Mozilla Firefox, o melhor navegador do mundo, está lançando no mês de junho a sua versão 3.0.

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sábado, 10 de maio de 2008

Coração em Stand by

E então aqueles 17° que dizia a previsão da internet ficaram então mais glaciais. A noite além de fria tornou-se insuportável. A escuridão lhe tocava o corpo e o envolvia em uma nuvem de agonia. O sono não chegava, a inquietude era fato. Estava inconformado. Não acreditava no que estava se passando. Pensava e pensava sobre as possibilidades, as palavras ditas, as situações vividas. Se apegando aos sentimentos aquilo se tornava irreal, mas a razão lhe convencia do contrário. Aquilo era tão real e estava ele lá, deitado de bruços, soluçando ao mesmo tempo em que estava abraçado ao travesseiro, assim como um mendigo caído na sarjeta abraçado a sua trouxa de imundices, que ninguém quer, na esperança de não se separar delas.

Os pensamentos eram borbulhantes e lhe provocava o tédio, a angústia, a frustração, a dúvida, a esperança. Pensava no que vira na internet minutos antes. De fato foi ignorado. Tentava não mais pensar naquilo, ecoava em sua cabeça estridente os “esquece” escritos por vários naquela janela de Messenger certos da veracidade do que também viram. Esquecer que jeito? Não é fácil. Ele ainda alimenta esperanças.

Pensou no primeiro dia que viu o perfil do menino na comunidade de relacionamento. A foto o fazia crer numa beleza atraente. Sentiu se mais cativado quando leu naquele perfil o nome da cidade do menino, a mesma do agoniado. Aquilo lhe potencializava esperanças por algo mais efetivo, por mais remoto que fosse. Um dia a coragem, adicionou o perfil do menino novo na comunidade. No dia seguinte a felicidade, fora aceito. No embalo daquela confirmação envia ao perfil seu contato para o Messenger. É adicionado e em um dia os dois conversam muito. A conversa é inocente, pura. Eles compartilham os mesmos medos, receios, opiniões e esperanças. Eles vão se encontrar pessoalmente, está combinado.

Um dia quente e úmido de verão que inusitadamente não chovia. Na biblioteca, olha por entre as prateleiras, encontra o livro, procura o outro nas prateleiras próximas de onde aquele menino da comunidade disse que estaria. Identifica quem seria ele enquanto não encontra o outro livro. É real o receio por uma possibilidade de engano, mas ele chega e se apresenta. É correspondido com um sorriso e um aperto de mão amistoso e convidativo. Puxa a cadeira, encara a beleza do menino da comunidade que é sem sombra de dúvidas mais bonito do que nas fotos, coloca o livro sobre a mesa e começa os dois a falar.

Estavam em horário de verão e já era 18h00min daquela tarde onde Hélio ainda irradiava seu calor e sua luz branca sobre Gaia, mesmo assim pegou seu livro e disse que precisava ir embora, um desempregado não tem muito que fazer fora de casa em um horário que seria em tese noite. Foram juntos a loja de conveniência do campus, o rapaz do livro comprou seu bilhete eletrônico e junto com o novo amigo andou até o ponto mais distante possível para poderem conversar mais. Chegou o ônibus e se despediram apressados para quem fosse embarcar não perdesse a condução.

Em casa estava melancólico. Ouvia no mp4, que não era seu, Inverno, da Adriana Calcanhotto e projetava na memória o rosto do menino da comunidade, os trejeitos, a voz, o sorriso. Não estava com o computador em casa, sofria de angústia para falar com o menino. Os dias se passaram e outras vezes se encontraram na biblioteca da Universidade e muito descobriram um do outro. O menino da comunidade era do interior e estava na capital enquanto aguardava o resultado de aprovação da universidade. A amizade se consolidava, um recado de última hora avisa que o novo amigo estava voltando para a sua cidade, não daria para ficar na capital, não fora aprovado pela universidade. Vão lá e tem os dois a última conversa pessoal e com a mesma intensidade de sempre. Embora não aparecesse, Inverno ecoava na mente do menino da capital e lhe dava uma melancolia, uma leve dor de despedida. As idas a biblioteca daquele dia em diante lhe dava uma nostalgia e um talvez saudosismo.

Então começam os dois a se falar com mais freqüência de tudo o que é possível no Messenger. Logo aquele menino lá do interior, tão admirando pelo da capital por sua beleza, pelo jeito simples, humilde, otimista e humorado, começa a dar sinais de uma afetuosidade, embora desejada pelo outro, desacreditada. Sim, desacreditada estava no começo, mas então, o menino da capital começa a corresponder e apresenta seus signos, o frio na barriga, o Flerte Fatal do Ira!, o jeito mais melancólico e afetuoso de se dirigir, tudo mais. As trocas de elogios, as declarações de sentimentos, certamente verdadeiros por parte de um deles, os planos, os assuntos, as conversas são mais intensas e freqüentes. Tudo caminha tão bem.

Um dia o menino do interior tem uma queda de conexão e não retorna mais na mesma noite. Na outra retorna, explica o que aconteceu, mas novamente cai e não volta na mesma noite. A terceira e ultima noite não foi diferente, exceto pelo critério de que o menino do interior não voltou mais na quarta. A semana estava só começando. O menino da capital religiosamente estava logando até altas horas esperando por quem uma série de reações provocava em seu corpo. O medo começou a ficar mais constante, a ansiedade também, mas as possibilidades, as mais agonizantes estavam descartadas... ainda. Então o sumido aparece, conta uma história que justifica o sumiço. O jeito de contar a história, de referir ao outro e tudo mais continuam iguais. Nada de diferente exceto o cansaço que fizera o menino do interior ir dormir mais cedo mas com a promessa feita de voltar a sempre estar disponível ao seu amante.

A promessa não foi cumprida. O menino da capital toma sua ação, deixa seus recados no perfil do seu afeto. Logo pistas começam a se escancarar. Os seus recados deixados a ele estavam sendo ignorados, como se não tivesse sido deixados, e seu amante sempre, até mesmo nos mesmos horários estava logando e respondendo a todos. O sentimento ainda rege a alma do garoto da capital, mostra o detalhe a quem espera sinceridade, a mais dura se possível, e todo mundo sai proferindo “esquece”, esquece aquele que não é corajoso suficiente pra não assumir nem a ele mesmo o que sente e brinca com seus sentimentos. A letargia domina o corpo a mente, leves soluços. Despede-se e vai tentar dormir. Mas não dorme, apenas lamenta e enrijece o coração e a desconfiança.

Obrigado meus amigos por me apoiarem na minha angústia.

sábado, 19 de abril de 2008

A Saudade



Sei que nada acabou, pois sei que nada começou. O mundo apenas se transforma e nessas transformações as coisas podem não ser mais como queremos. Sei que para sempre assim será, que novos horizontes sempre existirão assim como caminhos que a eles levam.

Agora acredito que todos nos trilhamos, cada um, um caminho diferente. Mas o caminhos não são retos, uma hora eles se encontram nas mesmas estradas. E numa dessas estradas encontrei você, choramos e rimos muito enquanto iamos juntos. Com você aprendi muitas coisas e como disse o escritor fiquei eternamente responsável por ter cativado você.

Acontece que um dia chega e nossos caminhos tomam rumo diferentes. É tão rápido a mudança de trajetos que somos pegos desprevinidos e ficamos perplexos. Agora sei que que você vai em outra estrada paralela a minha, me manda sinais que a minha insensibilidade raramente perceberá. Mas por mais dificil que seja, seguirei meu caminho, pois não está tudo acabado e nada é para sempre. Uma vez essas estradas serão perpendiculares e lá no trevo a esperar por mim você estará.

O que me provoca dor é forma repetina de dizer até logo e como algo tão previsivel é por nós tão ignorado. Mas as lágrimas tem coisas boas para nós, limpar a alma e liberar a pressão. Agora cuidarei para aproveitar e viver intensamente minha passagem nessa estrada até o dia que nos encontraremos novamente e possamos seguir juntos.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Arrepia

Bem, minha intenção não é fazer propaganda para ninguém e nem ser nostalgico. Até mesmo porque 2004, o ano em que esse vídeo foi publicado, foi um ano que não acho marcante. Não que tenha sido ruim, mas não foi marcante. Bem está uma propaganda da Visa mas que é muito impactante e que certamente deixa alguma coisa marcada.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Aberto Para Balanço

Fazendo um balanço, concluo que o ano de 2007 foi um ano bom. Primeiro, eu cheguei a Universidade, e pública. Segundo, completei minha maior idade, iniciei o processo para emissão da minha carteira de motorista. Vivi durante um bom tempo na esperança de ter um estágio em um lugar que me trouxe coisas boas. E quarto, mas o primordial, foi um ano em que eu lentamente comecei a olhar para mim mesmo e vi que definitivamente eu não sou heterossexual.

Nesse processo a terapia ajudou, as palavras daquelas pessoas ativistas do movimento LGTB ajudou, alguém daquele lugar onde passava as minhas tardes - sem saber, sem querer, por mais distante que fosse de mim - também ajudou. O processo não é o mesmo para todas as pessoas, não corre na mesma velocidade para todos, não começa na mesma hora para todos.

Primeiro me via como bissexual, uma mentira que eu insistia em dizer, eu não estava me aceitando totalmente. Ainda existia culpa por ser o que eu não escolhi ser e estava cansado de lutar contra, no que tange a Deus, algo pecaminoso, desprezível, errado, mal. Mas depois pensei sobre Deus e em outra postagem vocês podem ver o que eu penso dEle. Finalmente, lá no final do ano conto para a terapeuta, "Sou Gay!".

Aquele momento foi intenso. Sentia-me nu, constrangido dum tanto. Era como se eu tirasse minha máscara e mostrasse o meu verdadeiro rosto. Porém era bom, era como se eu me livrasse também de correntes, algumas grades e tivesse então um espaço maior e mais bonito para correr. Digo isso, pois afinal de contas, eu quero um latifúndio para eu viver e nao viver dentro de um armário para sempre.

Lógico, a terapeuta já sabia que eu sou homossexual, nem ela e nem eu gosta muito da palavra gay. Eu fico impressionado com a psicanálise por causa do fato da gente falar muito coisa que não pensa não estar dizendo. Ela, a terapeuta, só estava esperando chegar O MEU TEMPO, para contar a ela, para confirmar a ela. Mas o principal mesmo, a hora primordial, foi eu ter me aceitado. Quando me aceitei não foi como se eu tivesse tirando o mundo das minhas costas, mas pelo menos a Austrália. Aquilo tudo ali me aliviou dum tanto. E falar para ela foi como se eu tirasse quem sabe a Antártida.

Aceitação da condição sexual. Aceitar a condição sexual começa por aceitar a si mesmo e entender que ninguém é culpado por algo que não é que não é sua culpa, até mesmo porque a própria condição sexual não foi escolhida por nós mesmo. Não se sentir culpado por algo que não é controlável. Esses desejos, sexuais principalmente, que vem a nós não são controláveis. Isso é o principal, não podemos aprisionar massacrar a nos mesmo se temos amor próprio.

Bem, o êxtase da confissão na terapia já passou. Hoje fico me indagando se não dá para eu contar para mais alguém sobre a minha condição sexual. Isso vem de uma necessidade que eu tenho de contar para as pessoas que eu acho importante para e que merecem saber. Não acho que devemos gritar ao mundo quem somos o que somos só porque as pessoas em seus casulos predestinados acha isso anormal quando é tão natural. Que heterossexual se apresenta como heterossexual para um desconhecido? "Oi, meu nome é fulano eu sou heterossexual". Eu não sou diferente dos heterossexuais.

Bem fica ai minhas óticas e minhas expectativas. A música é Primeiro de Julho, foi composta pelo saudoso Renato Russo, quem canta é a saudosa Cássia Eller em seu Acústico Mtv. Nossa, como esse Brasil já teve gente boa na música né? Ainda tem é claro, mas convenhamos, Renato, Cássia, Elis que quando morreu eu nem era nascido, Cazuza, enfim, fazem uma falta tremenda.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Eu Sou Egoísta

Baú do Raúl no MultiShow... Uma das deusas da música, a Pitty, consagra uma versão de Eu Sou Egoísta, música do inesquicivel para quem se lembra dele, no caso eu não porque ele já havia morrido, Rau Seixas. De lá que vem o "Sempre avante no nada infinito" que dá nome ao blog. Abaixo o video no Youtube.com e a letra oriunda do Terra.com.br

Se você acha que tem pouca sorte.
Se lhe preocupa a doença ou a morte.
Se você sente receio do inferno.
Do fogo eterno, de Deus, do mal.

Eu sou estrela no abismo do espaço.
O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço.
Onde eu tô não há bicho-papão

Eu vou sempre avante no nada infinito.
Flamejando meu rock, o meu grito.
Minha espada é a guitarra na mão.

Se o que você quer em sua vida é só paz;
Muitas doçuras, seu nome em cartaz.
E fica arretado se o açúcar demora.
E você chora, cê reza, cê pede... implora...

Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho;
Eu quero é ter tentação no caminho.
Pois o homem é o exercício que faz.
Eu sei;
Sei que o mais puro gosto do mel.
É apenas defeito do fel.
E que a guerra é produto da paz.

O que eu como a prato pleno.
Bem pode ser o seu veneno.
Mas como vai você saber... sem tentar?

Se você acha o que eu digo fascista.
Mista, simplista ou anti-socialista.
Eu admito, você tá na pista.
Eu sou ísta, eu sou ego.
Eu sou ísta, eu sou ego.
Eu sou egoísta
Eu sou, sou egoísta... 3 x
Eu sou
Eu sou
Por que não... 5 x
por que por que...

domingo, 23 de março de 2008

Deus, Universo, Religião e Eu.



Qualquer deboche a fé de outras pessoas é leviano e pode ser comparado ao deboche que os homossexuais sofrem constantemente. Fé é algo muito pessoal, é uma opinião que a pessoa nutri a respeito de algo. E tudo a esse respeito é questão de fé. Até um ateu tem fé, tem fé que Deus não existe.

Num passado recente, não mais que dois anos, eu tinha religião. Eu era católico romano praticante e fervoroso. Mas foi dentro da própria instituição, como “leigo”, fiel, ovelha a ser conduzida, e nas duas maiores comunidades que congrega participantes dela no Orkut.com que eu comecei a questionar a religião e o Deus que ela se apoderou e disputa com outras a posse. Esse Deus é todo sistemático, cheio de detalhes, exigências, critérios, regrinhas, conceitos.

Desde criança sempre questionei se Deus existia, mas quando me lembrava do pecado que era pensar isso eu desistia, ainda mais por ter medo de ir para o inferno. Mas um dia chutei o pau da barraca e pensei que pelo menos para mim religião é algo totalmente inútil. Elas formatam Deus de um modo e depois modifica, perde perdão a humanidade pelas atrocidades que fazem e andam fazendo e aceitam a ciência que não tem outra base argumentativa a não ser a questionável, para elas, realidade.

Eu nunca tive uma experiência com Deus. Senti-lo, ouvi-lo, vê-lo, enfim nunca aconteceu comigo. E das pessoas que eu conheço e diz nele acreditar nenhuma também teve uma experiência nesses modos, sendo que para elas o simples acaso, uma série de acontecimentos programados individualmente pelas pessoas conhecidentemente, já são uma prova factual da existência de Deus e sua bondade. Quem eu já ouvi falar que teve as experiências mais marcantes com Ele, na maioria das vezes viveu em tempos de ciência limitado, superstições elevadas, em alta e truculência e foram essas pessoas que formataram Deus do jeito que esta colocado a mim.

Um dia fui ao planetário da Universidade onde pegava aulas de astronomia, matéria obrigatória no meu curso. O professor explicava que na ciência quando uma tese não pode ser provada, na ausência de outra que foi provada, ela é utilizada como referência por ser a mais aceitável. Mas a qualquer instante, quando houver outra mais aceitável ou provada ela é substituída. Impressiona-me a humildade que, nas palavras da religião a arrogante ciência tem. A humilde religião quando possui uma tese pouco importa se ela é plausível ou não, a tese fica determinando tudo e tudo a ela deve seguir, e o crime é questioná-la. Pode ser que a Igreja além de Santa seja humana e, portanto errante. Mas não precisa d’eu me empenhar por uma instituição a mim inútil, que ignora até mesmo o factualismo da ciência que não merece crédito por isolar-se do Deus que ninguém nunca viu e basear apenas na realidade, que ignora a ética, preocupada com o bem-estar de alguém resguardando o do outro, ao impor obstáculos as células-troncos e a eutanásia.

Eu não acredito mais em religiões e nem o Deus delas. Na verdade não sei se Deus existe e se ele vai se irritar comigo por eu ser promiscuo, coisa que eu não sou.


Deus? Nessas aulas o professor dizia, embora ainda não fosse provado, existem fortes bases que levam a aceitar a idéia de que o universo possui 15 Bilhões de anos luzes de diâmetro. Que a luz percorre 300.000 km/s. A Terra tem 40.000 quilômetros de diâmetro. Que ela equivale à milésima parte de Júpiter e que o Sol, uma estrela de quinta grandeza, tem 99% da massa do sistema solar. Também o Sol tem 5 bilhões de anos dos 10 bilhões que viverá além de ficar numas beiradas da Via Láctea. Em seu núcleo e em seus espirais estão bilhões de outras estrelas, 100 a 1000 vezes maiores do que o Sol em muitos casos. A Via Láctea deve ter seus 150 milhões de anos de diâmetro, quase dois trilhões de vezes a massa do Sol. Tem como vizinha Andrômeda, que fica há alguns milhões de anos luzes de distância. Ambas estão em um aglomerado de galáxias juntamente com outros milhares de galáxias. Os aglomerados com centenas de outros aglomerados formam os grandes aglomerados. E nos 15 bilhões de diâmetro desse universo achatado existem outros milhões de grandes aglomerados.

Tudo o que é visível no universo equivale 15% da matéria total sendo que o restante é desconhecido ao homem. Como se não bastasse, a humanidade, constituída por 6.5 Bilhões de pessoas, olha só! Finalmente a humanidade consegue grandes números além dos de impacto ambiental, desigualdade, mortes e ganância; sabe muito pouco, infinitamente muito pouco de todo o conhecimento que é possível extrair do universo. Mais impressionante é que toda essa matéria foi no passado apenas uma ponta infinitamente menor do que a cabeça de um alfinete, infinitamente quente e infinitamente densa constituída da mesma coisa, energia. Simplesmente energia. Um dia tudo isso explodiu, o tempo e o espaço foram surgiram, eles não existiam. E nos primeiros milésimos de segundos a maior parte da matéria que existe hoje foi formada a partir daquela energia toda.

Todos os elementos químicos que me formam, sobretudo o carbono são oriundos das reações químicas das estrelas. Sobretudo das gigantes vermelhas. Tudo o que vejo e somos é pó de estrela. Os crentes me disseram que sou a imagem e a semelhança de Deus e que Deus é a energia que criou o universo, que fez a mulher para o homem, que não gosta de promiscuidade e lá no antigo testamento condenou a homossexualidade, aprovou a escravidão, entre outras coisas que a inquestionável ciência de Deus permitiu. Se no começo tudo era energia, a energia formou a matéria da qual me formo. Logo eu sou Deus, todos os homens são Deus, e todos os problemas da humanidade não tem outra origem se não no próprio coração do homem.

Então pouco importa se eu tenho 1,67m de altura, 65 kg, espero com muito custo chegar aos 80 anos de idade lúcido e sadio e vivo em meio a 6,5 Bilhões de outras pessoas em meio a essa quantidade de números astronômico inimagináveis. Eu sou Deus! O senhor da minha vida, a minha maior prisão e o meu maior herói. A quem tudo depende. Sou dono e caçador de mim. O meu corpo é templo de Deus, o meu corpo é totalmente meu. Nunca estarei errado quando amar uma pessoa independente de como ela seja e eu sou, ela também é Deus. Quando eu respeita-la estarei respeitando a e amando a mim também. Nunca mais me sentirei culpado, sujo, imundo, pecador por amar homens.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

O Domínio


Nas luzes azuis do relógio eram 03h55min. Ele estava acordado naquela hora porque não conseguiu dormir. Sua sina era essa há várias noites, ele não possuía rotina e tomado por medo, angústia, depressão, solidão, ficava ali acordado feito um zumbi. Não conseguia parar o pensamento, ao mesmo tempo em que em nada conseguia pensar. Por mais fresca e tranqüila fosse a noite, a sudorese encharcava a sua cama. O silêncio era estridente e dilacerava a sua mente. Cansado daquele inferno levantou-se, acendeu a luz do quarto e caminhou até a janela. Abriu um buraco por entre as abas da persiana e começou a mirar o mundo lá fora. A noite estava fresca, ouvia se apenas cães ladrando, uma motocicleta ao longe, uma ambulância ou viatura e no bairro vizinho uma festa domiciliar na qual desejou estar. Observava as luzes de mercúrio que deixavam à cidade parecendo um tapete em brasas.

Ele, ao olhar para rua, viu um vulto afastando de sua casa. O vulto era elegante, trajava um sobretudo com capuz negro como a noite de qualquer lugar sem tantas luzes como as daquela cidade. O vulto ia embora, mas segundos depois, quando ele estava lá parado contemplando aquele individuo misterioso que se afastava com discrição, o vulto parou e com a mesma discrição e com o mesmo mistério começou a ir em direção a casa onde ele estava. Pânico! Ele foi percebido. Saiu da janela, apagou a luz, tropeçou o mindinho do pé na perna da cama e deitou-se naqueles lençóis mais frescos e menos úmidos. Antes que a dor não intensa, mas muito irritante do dedo lhe dominasse, ele foi tomado pelo medo e pelo arrependimento do que fizera, ou não fez. Ficou pensando no que pode ter acontecido para ser notado, se é que foi notado, e o que poderá acontecer pelos próximos minutos, nas piores das hipóteses.

Antes que terminasse sua linha de raciocínio, foi projetada nas persianas não muito opacas uma sombra que lembrava a feição do vulto. Cobriu-se com a manta como se ela fosse a mais poderosa das fortalezas. O vulto entrou pelo quarto e com facilidade destampou o rosto e o pescoço dele que já suava frio e era letárgico por tanto medo. Os caninos cravados no pescoço e ele sentido o mais intenso e puro dos orgasmos. Aquilo era muito bom. Após um desmaio e um pouco tonto os pensamentos não se fixavam. Estava ele deitado na cama e o vulto sentado na poltrona. Começa então o diálogo...

- Desculpa por...

-...estar me olhando pelo janela.

- Eu sofro...

- ...de insônia.

- Eu fiquei...

- ...com medo.

- Mas eu quis no fundo...

- ... da alma esse instante.

- Droga, pare de adivinhar o que eu falo!

- Desculpa, não posso controlar! É intrínseco a nos lermos os pensamentos alheios, portanto, nenhum segredo, certo?

- Certo, mas fique comigo! Eu te amo!

Eram 04h41min nas luzes azuis do relógio.

- Não dá, tenho poucas horas. Em breve tenho que descansar, em breve será aurora.

- Não, mas fique. Eu amo você!

- Outro dia eu volto!

- Outro dia quando? Eu quero ir com você!

O último beijo entre um corpo quente e um corpo frio, entre um corpo duplicado no espelho e outro nada visível. Já era 11h31min nas luzes azuis do relógio, o telefone toca, ele corre para atender.

- Alô?

- Atrasado outra vez!!! Onde você anda com a cabeça...