quinta-feira, 29 de abril de 2010
Eu "cantando"
domingo, 25 de abril de 2010
Sobre a velha
Acelerando vem o ônibus descendo a Avenida Araguaia. Os olhos enxergam distorcido, é uma tarde quente e úmida de verão. Estende-se o braço e a condução para a metro meio da calçada. As pessoas vão embarcando com seus cartões e bilhetes magnéticos. Com as arrancadas e trocas de marcha vai-se calambeando, esbarrando nas barras de metal e nas pessoas, até o fundo do veículo, onde tem lugar para sentar.
Mas não se senta, deixa simplesmente as nádegas caírem sobre os bancos de fibra. Uma vez que se senta, o ônibus freia e o cantar agudo dos freios abafam o ronco do barulhento motor a diesel. Ali, naquela parada, entra aquela velha, lá com seus 100Kg, pernas inchadas e duas grandes sacolas daquela loja de enxovais baratos.
Quem escreve não gosta da velha, ela é fofoqueira e fala mal de todo mundo. Na maior parte do tempo, a velha fala sem saber e inventa o que não sabe para continuar falando o resto que sabe. A velha é uma pseudo pessoa conhecida.
O ronco do motor diesel impera outra vez, e todo mundo, sincronizadamente, é jogado pela inércia para trás. A velha ainda está na dianteira do ônibus inutilmente agarrando com o mindinho aquela barra de metal enquanto procura em meio ao bolo de cédulas, cigarro, esqueiro, lembretes e moedas, daquela bolsinha de couro, o bilhete magnético.
Enquanto isso, de novo a inércia, que dessa vez joga todo mundo para o lado direito do ônibus quando o mesmo entra na Paranaíba. Sorte dessa velha ser gorda e ali na catraca ficar meio que espremida, se não teria batido com a testa na janela, com sacolas e tudo.
Ficar sentado no fundo do ônibus é meio que um lazer, enquanto o entreterimento é saber quando a velha vai cair e deslizar por metro, dois metros, no chão rugoso do ônibus. Por enquanto a velha só empatetou-se seis vezes tentando enfiar o maldito bilhete na boca da catraca eletrônica.
Quando a velha finalmente enfiar o bilhete, já tem gente esperando ela passar porque já se está na outra parada. A velha ergue as sacolas, as passa para o outro lado da catraca e começa a mover desengonçadamente o corpo roliço naquele espaço espremido. O ônibus acelera novamente, até mesmo porque sinal laranja em Goiânia significa acelera que dá. Com a aceleração, a catraca é nada mais do que a garganta engolindo aquela velha estúpida para dentro do ônibus com toda força.
Agora sim a velha vai cair! Ou não, as tiazinhas seguraram-na pelo braço e a moça da bunda chulada foi empurrada por aquela bunda cheia de tecido adiposo. A velha envergonhada pede desculpas, viu no fundo do ônibus, perto daqui, lugar para sentar ela e suas sacolas.
Mas agora a velha vai cair, o ônibus desce a 68 e todo mundo, tal qual a massa de manobra que são, é jogado durante a curva para a esquerda da condução. Mas a velha fofoqueira não caí!!! Quando dá para pensar: é agora! alguém ou ela mesma, segura!
Mas essa velha tem que cair para nunca mais falar mal da vida dos outros.
O ônibus freia, ela para de andar ali no meio e se segura. O sinal está fechado e ela começa a se deslocar como uma jamanta. Ainda bem, a luz verde e então o possante motor ronca estridentemente. Todo mundo é jogado novamente para o fundo do ônibus e finalmente a velha não consegue se segurar. O braço passa em falso pela barra de metal, ela dá dois passinhos a frente e vai com aquelas sacolas de encontro ao chão!
Sinceridade é necessária, fiquei com dó, o chão tremeu e o queixo por pouco não bateu no chão áspero e sujo. Mas sua cabeça ficou a meio metro do meu par de All Star.
Os iludidos com a figura acham que mais uma velhinha fofinha, e fofa literalmente porque é gorda, foi violentada pelas leis da gravidade, ação e reação e prontamente se põem a ajudá-la enquanto a mãe do motorista, que muito boa pessoa é em comparação a esse sujeito linguarudo caído no chão, recebe toda sorte de ofensas.
Bem, de qualquer forma dá para se sentir vingado. Mas a velha não aprende, rala os joelhos e continua falando mal da vida dos outros. Um dia ela vai queimar a língua, em algum evento da paróquia e ao redor de muitas pesssoas. Aí sim ela vai aprender.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Sobre a marcha em Brasília e o medo da mãe
Well: Eu vou a marcha LGBT em Brasília.
Amigo: Seus pais vão deixar?
Well: Sei lá, eu falo que será um protesto em prol das Universidades Federais, contra a construção de usinas nucleares, sei lá.
Amigo: Que mentira, seus pais num pesquisam as coisas?
Well: Não, eles são massa de manobra.
Amigo: Gente, que ingênuos.
Well: Nhá, talvez eles me vejam na Bobo News
Amigo: Então acho que tu num devias ir.
Well: Mas eu fico pensando também, pq mentir, minha mãe tá tão receptiva ultimamente, meu pai num tá nem esquentando a perereca.
Amigo: ufahsuahusaha
Well: Tanto é que quando eu fui aí em Sampa ele disse que por ele tudo bem.
Amigo: Mas Sampa vc ia ver seus amigos e não manifestar-se publicamente.
Well: Mas ia ficar cult, eu vou explicar para minha mãe que vai ser um protesto em Brasília, com a diferença que eu vou, quem sabe, só apanhar da polícia e não vão grampear nosso telefone, invadir nossa casa pelo Exército as três da madrugada e nem levar um de nós para o pau de arara.
Amigo: Pobrinha da sua mams, Well, vc é hijo único, ela pode ficar megatripreocupada.
Well: Eu falo que vou trazer uma camiseta, I S2 BSB para ela.
Amigo: Ah Well, que isso, acha que uma camiseta vai resolver a megatripreocupação dela?
Well: Eu estava vendo uma coisa hoje que eu fiquei putaiado, Brasília é um projeto nacionalista, representa, bem ou mal, o bom ou ruim, nacionalismo brasileiro, e lá hoje (21 de abril de 2010) vai ter desfile dos personagens da Disney.
Amigo: Capitalismo.
Well: Ela tem que aprender a controlar as emoções dela, eu não posso deixar de viver o meu mundo por causa dela.
Amigo: Sim, mas tu deve pensar nela tb uai.
Well: Eu já pensei demais nela quando fiquei esse tempo todo no armário.
Amigo: Aim, que ingrato.
Well: O medo é dela, a limitação é dela, quem é gay sou, quem tem menos direitos sou eu, quem tem menos chances sou eu, quem sofre por ter determinada sexualidade sou eu.
Amigo: Sim, mas vc pode ir na manifestação ai de Gyn uai e esta bem mais perto e seguro.
Well: Num tem manifestação em GYN e GYN é uma capital de estado, os protestos feitos aqui resolvem, quem sabe, as coisas em nível de boi, tomate, soja, muié boa, cerveja e camionete a diesel. A questão é nacional, é em nível de República Democrática Teocrática Cristã das Bananas.
Amigo: Humm, boi, tomate, soja, tb é reclamar a nível nacional tb.
Well: Mas o caso não é referente ao abastecimento desses, e o Ronaldo Caiado, a Kátia Abreu e toda bancada ruralista têm mais poder que eu para resolver seus problemas, que são referentes a esses itens.
Amigo: haushauhsua, absurdo.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Sobre Como Treinar Seu Dragão
Sim, eu estou ausente da blogosfera. Nem é porque estou muito ocupado ultimamente, é porque eu tenho certa apatia para com o blog e a blogosfera de vez enquando. Mas eu amo todos vocês, inclusive meus leitores que não me tem no MSN, os que me têm no MSN e me excluiu e os que me têm no MSN e não loga mais, também os que me têm no MSN e eu não puxo assunto e os que me deixa no vácuo. Bem, está ótimo.
Sabe aquele dias que você se lamenta por não ser mais um adolescente, por não ter mais tantos amigos quanto antes, de ficar tantos finais de semana em casa sem ninguém ligar e sem coragem de ligar para ninguém, que se lamenta por ser um adulto desempregado por ser, quiçá, um vagabundo sem persistência? E que você se vê sozinho com pais na sala de jantar, na verdade de de TV, ocupados em nascer e morrer a ver cópias piratas dos fimes de Jet Lee, sabendo que está no último ano na Universidade, pensando em como estendê-los já que dela não carregará grandes amizades e nem uma bolsa de iniciação cientifica, um artigo publicado, muito menos uma chance de mestrado ao mesmo tempo que fica se perguntando porque não tem irmãos, onde está todo mundo e se sentindo um grandissíssimo idiota, sabendo que se é humano, ridículo, limitado, que usa muito menos dos dez por cento da cabeça animal.
Exatamente assim que me sentia, afinal de contas, não tenho vida social e nem tenho a paz moral de saber que eu auto me sustento. Me convidaram para ir ao cinema depois de tantas lamúrias. Fiquei receoso e fui com a camiseta preta do Tristania que era para não ficar tão vela assim. Morri de medo de me tornar uma lanterna dos afogados no escurinho do cinema chupando drops de morango, ao lado de um casal de amigos gays enamorados. Tudo bem.
Foi a primeira sessão 3D da minha vida. Me senti tão periférico, não tanto quanto escrever que foi a primeira sessão 3D da minha vida nesse blog, mas mes senti caipira. Tive crises de riso quando pensava que eu seria acertado pelas coisas projetadas na tela, em 3D. Fiquei com vontade de esticar o braço para pegar o galho da árvore, porque ele estava em 3D. Mas passou. Antes, no banheirón tiramos fotinhas, fiquei meio Chico Xavier com aquele ocrão de ver filme 3D. E muito mais antes disso, enquanto ficava plantado eu vi a velha jovem professora de português do Ensino Médio, agora trintagenária, e conversei com ela, falei de cada coisa que Fulano, Siclano e Beltrano estão a fazer em suas respectivas academias.
Mas quatro parágrafos depois, o importante mesmo é o filme. Como treinar seu Dragão. Adoro animações. Acho elas tão fofinhas, as histórias tão apaixonantes. Me identifiquei bastante com o protagonista da história, o Soluço e sua dificuldade de ser aceito numa sociedade viking, cheia de ursões viris, fortes, másculos, valentes e que matam dragões na base do braço.
E se a Vaca Profana ou a Mari estivessem lá comigo, elas haveriam de se indentificar com Astrid, até o final do filme em que ela beija o Soluço na boca. Afinal de contas, Astrid fez bem a linha amiga heterossexual que não pode saber e que no entanto descobre tudo e vira simpatizante.
Mas mais digno é o nome do dragão, aliás, mais do que digno, fidedigno, apesar da semântica diferente. Fúria da Noite, que nome mais bafônico. Coisa de trava. Então pessoas, é isso, assistam Como Treinar o Seu Dragão. Dragões são feios, mas são fofos.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Sobre Marina Silva
Eu gosto de Marina Silva e apesar de minha preferência por Dilma Rousseff, gostei dela ter saído como pré candidata à Presidência da República. Admiro muitas coisas nela, a biografia, sendo ela uma das poucas pessoas públicas “que subiram na vida” e que não me causa medo. Admiro sua formação universitária, História, e sua atuação, durante alguns anos, profissional, professora do Ensino Básico.
Tenho a noção de que no governo ela fez menos do que quis fazere o que ela quis fazer foi o ponderado. Talvez por isso achei tão importante seu anceio por se tornar presidente, aja vista que penso no meio ambiente como algo importante para o “futuro do país” tanto quanto o crescimento da economia e a distribuição de renda que o Governo Lula tanto diz fazer, mas sem dar a devida proporção as causas ambientais. É como diz o ditado: quem não dá assistência, abre concorrência.
Mas dependendo do que Marina Silva disser, mesmo que ela não se eleja e mesmo que eu goste de Dilma Rousseff, talvez ele diga coisas que eu julgue fazer com ela mereça o voto meu. Contudo, Marina Silva me causava um receio até o dia de hoje porque eu não sabia qual seu posicionamento a respeito dos homossexuais. Ela tweetou e fui ao seu site ler o que a senadora pensa politicamente a respeito dos LGBT’s.
Fiquei feliz e não me surpreendi. O que li no site oficial de Marina foi algo que eu esperava, mas não tinha a confirmação. Marina Silva, apesar de evangélica e da mesma igreja do reacionário Silas Malafaia, Assembléia de Deus, é favorável aos direitos das pessoas LGBT’s. Reconhece que os movimentos sociais, que tem muita gente contra porque não querem as mudanças que eles propõem, são importantes e fazem parte de sua biografia. Reconhece que não existe democracia cerceando às minorias o acesso à liberdade e à igualdade.
Marina Silva é sim uma pessoa diplomática, mas não é diplomática meramento por questão política e por ser orientada por um marqueteiro, mas sim porque acredita no poder da cordialidade para instituir o respeito e a cultura de paz entre as pessoas. Isso é visível a todo momento em suas falas, inclusive quando saiu do PT e teve tudo para ele criticar, mas preferiu elogiá-lo.
Enfim, durmo feliz por finalmente saber o posicionamento de Marina Silva a respeito de minhas demandas e por esse posicionamento ser exatamente o que eu quero de nossos políticos.
sábado, 10 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
Sobre a política SIM
Leio blogs e em alguns vejo seus autores se posicionando contrários à dimensão política que é dada à nossa sexualidade. Respeito as opiniões, só não me convenço delas, porque não acredito que a homossexualidade em meio a nossa conjuntura não envolva questões políticas. Também não acredito que seja viável aos homossexuais viver e manifestarem de forma plena suas sexualidades sem utilizar de política.
Talvez falte em nós, pessoas vivendo em sociedade, empatia e assim entendermos que não é porque algo não nos é útil, ou aparemente inútil, é que elas vão ser desnecessárias. Por causa disso aceitamos justificarem que é mais importante cuidar das crianças morrendo graças ao tráfico de drogas do que dos homossexuais mortos a quase dois dias no Brasil, como se um atrapalhasse a resolução do outro.
Não que eu vá adotar uma criança, até mesmo porque do fundo do meu coração não gosto muito de criança, mas não vejo como errado casais homossexuais requisitarem esse direito. E pode ser que muitos homossexuais não se interessem por isso, mas eu pretendo me casar com alguém no melhor estilo que seja infinito enquanto dure e ter com tal homem os mesmos direitos que um casal heterossexual tem, sem para isso precisar acionar Ministério Público, ir aos sensacionalistas jornalecos regionais do horário do almoço, mover processo na Justiça, aguardar julgamento do STF sobre constitucionalidade da causa, enfim.
Por causa dessa empatia, é que me recuso veementemente as propostas umbicistas dadas por alguns blogueiros homossexuais para se viver a sexualidade. Um dia li um em que o autor se gabava da posição social e ignorava o que a sociedade dizia a respeito dele. Além do mais, num discurso que para mim no fundo era derrotista, apesar do tom de vitória, tal autor falava que preconceito sempre existiu e sempre existirá, subentendo para mim pelo menos, que nada tem para ser feito.
O equívoco de tal autor para mim foi imaginar que os que as pessoas falam pelas costas vão ficar só nas palavras e ainda por cima, pelas costas. As palavras vão repercutir ações, se não para tal autor, para outro homossexual, inclusive para os que não são supostamente perfeitos como ele, até mesmo porque, a perfeição não é uma obrigação a ninguém e as pessoas não são perfeitas. Eu não sou, o autor que lia também não - embora ele aparentemente pensasse o contrário, quem lê esse texto não é e se o inferno existisse, iria todo mundo para lá.
Boa parte dos homossexuais não são providos de capacidades morais, intelectuais, emocionais, financeiras e porque não físicas – pois a violência já foi inventada; para viverem enquanto homossexuais. Pessoas são desprezadas, jogadas para fora de casa, têm emprego recusado, são apontadas e acusadas na rua, no melhor estilo Geysi Arruda, e ainda tem gente colocando fé que a solução é elas se virarem, num discurso meritocrático, colocando a culpa no indivíduo, quando essa culpa pertence ao folclórico SISTEMA (huahuahuahuahuahua eu vou pegar você) social de construção de valores e normatizações.
Articulações políticas não é choramingo. Questiono até se essa visão de articulações políticas – como as que reclamam por RR Malafaias, Silas Macedos, Edir Soares usarem concessões públicas de televisão para disseminar preconceitos, seja contra sexualidade, seja contra outras denominações religiosas – não tem a ver com, não só a falta de cultura política dos brasileiros que muitos afirmam não termos, com o período, que não vivi ainda bem, da Ditadura Militar em que os posicionamentos políticos diferentes do status quo eram calados com violência e ideologia.
Articulações políticas para mim não é só empunhar bandeiras e reconheço muito aqueles que a elas empunham. Articulações políticas são possiveis de diversas maneiras, dos comentários sutis que desconstroem preconceitos numa fila de banco, até mesmo as minhas ações futuras enquanto docente e utópico formador humano, aos votos que todos aqui maiores de 16 anos têm direito, enfim. Não existem sexualidade apolítica e tratá-la como tal para mim é alienção, termo que para mim é uma baita duma ofensa.
Posso estar sendo esse jovem utópico na visão, principalmente dos mais experientes. Mas não me conformo com a situação em que vivo e creio que todos nós, homossexuais, devemos fazer algo, a maneira de cada, para mudar isso e não tapar o Sol com a peneira.