terça-feira, 29 de junho de 2010

Well, o problema social

Odeio quando as coisas fodem.

Desde muito cedo eu quis trabalhar, eu achava um máximo ter o próprio dinheiro para comprar as próprias roupas . Me escrevi num programa do Governo Estadual que emprega menores de idade a partir dos 16 anos em órgãos do Estado para fazer burocracias do tipo atender telefone, atender o público, buscar café, digitar coisas, levar processo para lá, trazer processo para cá, inventar prazo para as pessoas chatas que ligassem, falar mal da vida dos outros enquanto trabalha, pagar de hetero e dar em cima das outras meninas do programa de emprego, buscar café para os aspones e pagar conta na lotérica para a funcionária folgada. Tudo bem, eu fazia coisas que excediam minha responsabilidade, emitir empenho e ordem de pagamento por exemplo, mas eu gostava daquilo.

Passei no vestibular para estudar na Universidade Federal de Goiás saindo do Ensino Médio e caindo no superior com sendo uma promessa de nova geração de professores que garantirão o futuro do país ao educar as crianças. O curso de Geografia foi legal, mudou muita coisa na cabeça do Well, pena que a faculdade ao invés de aumentar os laços sociais do Well acabou diminuindo-os. Bem, ninguém mandou o Well ficar ateu e deixar de ir a Igreja, ao grupo de jovens, aos retiros e deixar de saber das festinhas na casa de alguém lá da paróquia.

Como entrei na Universidade com 17 anos só fui mandado embora do meu emprego lá no dia do meu aniversário, porque maiores de idade não podem participar do projeto. Mesmo assim foi legal, pois além de experimentar a possibilidade ser socioeconomicamente ativo, experimentei a possibilidade de também ser um estudante universitário nesse mesmo tempo. No entanto, o ex governador do Estado, que chamou de tempo novo a política velha a qual deu sequência, quebrou os cofres do estado e lá vai por água abaixo o tão prometido estágio concedido pelo chefe ali naquele órgão.

Agora o Well é um universitário, aprendendo que existe outra forma de entender e explicar o mundo diferentes das utilizadas pelo Datena, pelos missionários bitolados da Renovação Carismática Católica, e das dos tiozinhos do boteco que tem opinião para tudo, até sobre o que não sabem. Pena que o Well é um desempregado, e lá vai ele se candidatando a bolsas de estágio da Universidade, mas essencialmente procurar emprego na iniciativa privada.

A iniciativa privada nunca agradou o Well, que sempre teve um viés materialista histórico-dialético. O Well cansou de entregar curriculos, de falar sobre ele mesmo, de dizer coisas que ele mais odeia nele mesmo, de coisas que ele mais gosta nele mesmo, de fazer dinâmica de grupo, de se mostrar com iniciativa, diplomacia, polidez e por aí vai, porque as empresas sempre prometeram lhe ligar e nunca ligaram.

E lá  vai o Well fazer concurso público, levar pau – e no mal sentido – em todos eles. O Well é um menino sem vida social, sem consumo, interessante de acordo com o olho de quem vê, desempregado que não passa em concursos públicos, não arruma emprego na iniciativa privada e por aí vai. Qualquer um ficaria chateado, desmotivado, mas enfim senhoras e senhores, o Well e sua história de cortar o coração não acaba assim. O Well acredita no tempo como solucionador de tudo, pois tudo é uma fase, até a sensação de relativo vagabundo e fracassado mediocre dele.

Vem o penultimo semestre da faculdade do Well, o Well continua sem vida social e se sentindo o mesmo de sempre, porém surgem novos concursos públicos. Em um o Well é um fiasco, justo no que melhor paga e fica quase na 2000ª colocação. No outro, que paga a metade, mas se trabalha menos e exige menos de escolaridade, o Well, apesar de acertar 72 pontos dos 90, fica lá 338° posição, algo não bom. Mas não é por aí Wellzinho, ainda tem aquele concurso, aquele lá! Qual?

Se o Well faz licenciatura, o Well pretende trabalhar como??? Isso! Professor! E lá vai o Well prestar concurso para ser professor da Secretaria Estadual da Educação de seu lindo estado de duplas sertanejas, tomates, soja, cana e por aí vai. Resultado, o Well passa nas primeiras colocações! Ihaa! Porém, é como diria Murphy, se tem algo que está dando certo, é porque algo vai dar errado. O problema é que o concurso é para contratação imediata e só daqueles que são professores formados, porém o Well precisa de mais seis meses na Universidade para se tornar um deles!

Qualquer um ficaria chateado, desmotivado, mas por Deus senhores e senhores, o Well não é diferente de ninguém, o Well é normal. O Well continua o desempregado de sempre com medo de encarar outra vez aquelas psicólogas maquiadas de RH, sem vida social, se sentindo um inútil. Comovente não?

terça-feira, 22 de junho de 2010

É que fracasso me subiu à cabeça.

Em Goiânia está deflagrado um movimento de greve dos professores municipais. Os professores estão pedindo plano de carreira para os agentes educacionais, isto é, os funcionários responsáveis pela limpeza, pela merende, pelas rotinas administrativa da escola e também estão pedindo para que o a prefeitura pague o piso nacional para professores, que é atualmente é R$1312,85.

Bem, a Prefeitura naturalmente não vai pagar e olha que o prefeito é do PT e professor licenciada da Faculdade de Medicina da UFG. A alegação é a clássica, o Município não tem dinheiro para isso, apesar da ampla propaganda patrocinada pela Prefeitura na Televisão e no Rádio.

Semana passado os professores se aglomeraram em frente a Secretaria Municipal de Educação e a Guarda Municipal expulsaram os professores com cacetes e spray de pimenta. O que me deixa irritado nisso não é tanto a truculência do Estado ou a hipocrisia política e sim a visão da população.

Não sei se a imprensão minha, mas tanto quanto dizer que uma ditadura gay, censura a imprensa está surgindo, parece que chamar qualquer aglomeração agora também é terrorismo e está todo mundo dizendo que os professores são terroristas e principalmente egoístas, estão pensando só no bem deles, que se estão insatisfeitos que vá empacotar compras no supermercado.

Li isso em algumas comunidades do Orkut.com e novamente outro soco na barriga me veio e aquela pergunta de sempre: “Mas você vai ser professor?”

Quem dera se os professores pensassem só neles, esse que é o problema, todo mundo acha e até mesmo alguns professores que o Magistério rima com Sacerdócio e não é. Professores também tem necessidades, também são bombardeados pelo consumismo, também precisam atender com dignadidade as boas condições de vida e material.

O que me estarrece é a opinião alienada das pessoas que atribuem o fracasso da Educação somente aos professores, quando ele é atribuído a todos entes. A superciliadade das ideias são tantas que usam terminologias da moda como terroristas para causarem efeito e sequer vão em cima do Estado exigir, como os professores, que embora existam muitos desmotivos sim, estão em busca de alguma melhoria.

Pior é o Prefeito no Twitter imaginar que o problema da Educação seja resolvido apenas com verba, verba e mais verba. Lisongeado ele diz que a Prefeitura gasta 26% do orçamento com Educação. Enquanto gestor público deveria ele pensar que Educação também é uma questão de planejamento e acompanhamento.

Depois esbulgalham os olhos porque eu passo em um concurso público e me sinto derrotado mesmo assim. Eu que me prepare, porque na rede Estadual de ensino, salários, condições de trabalho, interesses em resolver as questões por parte dos professores e ingerência política, principalmente com a volta eminente de Marconi Perillo, vão ser bem piores.

sábado, 19 de junho de 2010

Mas você vai ser professor? II

No estágio supervisionado meu colega, que é um enrústido homofóbico, e eu precisavamos lecionar algumas aulas e por em prática um projeto de intervenção planejado por nós mesmos. Tudo daria certo, porém a realidade é mais difícil do que imaginávamos, logo nossas ideias lindas não deram certo.

Os estudantes foram muito indisciplinadas e cada aula era um soco no estômago. Os estudantes têm culpa? Têm sim, mas os estagiários também, porque é função dos aprendizes de professores domarem “aqueles animais”. Além  disso, nos os estagiários, precisávamos contar também com o professor da Escola. Porém o professor efetivo saiu porque aposentou e no lugar entrou um substituto que estava professor, isso quer dizer, ele estava quebrando galho para ganhar um trocado. Resultado, ele ligou o foda-se para a turma e para nós, os estagiáros, que por sua vez, no meu caso pelo menos, também ligou o foda-se e detonou ele no relatório final de estágio, até mesmo porque ele, o professor substituto, é ex aluno do orientador.

Vinganças a parte, lá na Escola, enquanto aplicávamos nossas regências deu para perceber que a Educação está fudida (oh novidade!) não só pelos salários de fome dos professores, mas também porque os estudantes não são nenhum pouco interessados na formação deles e os professores limitados ou não interessados em resolver tal coisa.

As regências estavam um fiasco, a cada aula meu colega e eu íamos sendo massacrados pelos diabos (calma, eu num acredito que as crianças sejam diabos, porque se eu, que acredita na humanidade, acreditar que elas sejam diabos eu deixo de ser ateu). Porém tinhámos que terminar uma quantidade de regência e colocar em prática o nosso projeto de intervenção pedagógica. Todavia, nem tudo são flores (houve alguma flor até aqui?) e o que acontece conosco? Um greve na Rede Municipal de Ensino que se arrasta até hoje!

Tudo bem, danem-se as regências, o que importa é o projeto de invertenção ser colocado em prática. Arrumamos em cima da hora uma escola municipal que à rebelia do movimento de greve, estava funcionando a noite e lá vamos nós! Vem feriado, vem Copa, acervo indisponível, aparelho de DVD que não funciona, PC precisando de formatação, mas nós, eu e meu colega enrústido, nos viramos como pudemos para ajustar o projeto à realidade do Noturno e da Educação de Jovens e Adultos durante o último mês do semestre. É um estresse total, preocupação de tirar noite de sono e render o penúltimo post aqui no blog.

Iria dar tudo certo, se não tivessemos esquecido alguém. Então  quem vem fazer a vez da pedra no meio do caminho dos estagiários? A festa junina! Resultado, no calendário da escola só sobra um diazinho de letivo, no final do mês, ou no popular, fudeu, que aluno, do noturno, estudante do EAJA, vai à escola no último dia do mês fazer um projeto para ser aplicado em quatro dias.

Bem, a história não termina aqui, agora é enfrentar o professor orientador e convencê-lo que nossa prática teve tudo a ver com a realidade escolar, alunos indisciplinados, professores desmotivados sendo um ex orientado dele, um movimento de greve, feriados, Copa, Festa Junina, calendário, noites mal dormidas!

E daí que todo mundo quer passar num concurso público. Tá, todo mundo não, mas muita gente! Se o concurso for na área de formação, perfeito e esse é omeu caso. Todo mundo me parabenizou, minha mãe ganhou a semana e eu como fiquei? Vocês já ouviram Ouro de Tolo? Vejam essa versão, porque eu não gosto das originais com o Raul.

Então, me sinto daquele jeito. A diferença que mais que insatisfeito, passo no concurso e ao invés de me sentir vencido, me sinto derrotado. Porque? Salário de fome, falta de reconhecimento, falta de autonomia da escola, falta de compromisso com a Educação, estudantes indisciplinados, uma secretária de educação puxa saco, e uma infinidade coisas que depois eu falo melhor sobre elas.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Presidenciáveis e seus lápis coloridos (ou não)

Ultimamente uma cobrança maior tem ocorrido em cima de Marina Silva, querem dela um posicionamento a respeito de temas polemicos que esbarram nas concepções religiosas dela e de eleitorados muitos significativos, o religioso, o conservador, o que segue sofismos e frases feitas e de efeitos, o que é um pouco de cada dos anteriores. Eleitorados que certamente boa parte irá com Marina. De certa maneira acho injusto exigir apenas de Marina Silva um posicionamento. Vejo que é necessário cobrar de forma aberta um posicionamento de todos presidenciáveis, desde os mais “incipientes” até a Dilma e o Serra, que são os mais citados.

Bem, Dilma Rousseff é pró cidadania LGBT, que há quem diz que seja vitimismo por parte de nós. Históricamente é o partido dela um dos que tem apresentado projetos e feito políticas nas diferentes esferas do poder e da administração favoráveis a esse grupo da população. No Governo Lula houve avanços, talvez não os suficientes, mas eu não deixo de considerá-los avanços cujo Governo mostrou compromentimento para realizar. Como Dilma Rousseff se apresenta como candidata da continuidade, tenho a noção de que os avanços continuem e até caminhem mais rápido.

José Serra também tem se afirmado favorável as políticas que contemplem a população LGBT, mas ele não me convence. O seu partido, o PSDB, e o histórico aliado, o Democratas, abarca muita gente reacionária, tanto é que boa parte dos defensores da “Família” e contrários a Ditadura Gay, que é como os conservadores chamam as evoluções buscadas pelos LGBT’s, estão nesses partidos. Além disso, esses dois partidos ignoram movimentos sociais, inclusive o LGBT', que embora tenha muitos equívocos, sabem melhor do que os heterossexuais, o que precisamos.

Marina Silva como eu disse no primeiro parágrafo, é a mais cobrada. Acho que por estar em um partido com um viés progressista e ao mesmo tempo ser de uma religião cujos fundamentos rejeitam os homossexuais enxergando inclusive como inimigos. Bem, declaradamente eles não dizem isso é claro, mas bem quisto pela  Assembleia de Deus, por Silas Malafaia e que não somos.

Existem outros candidatos, não tão fortes como José Maria Eymael, ex seminarista se não me falha a memória, católico daqueles integralistas, estilo TFP e com ele definitivamente não dá para contar. Existe também Plínio Arruda, José Maria do PSTU, candidatos que até onde sei não são conservadores. Não conheço e talvez até sejam favoráveis aos LGBT’s, mas certeza não tenho. Devem estar mais preocupado em falar do inferno do fogo capitalista, mas nem só de ultramaterialismo histórico dialético vive os LGBT’s.

Existem outros cadidatos, que sequer sei o nome. Tenho preguiça de pesquisar sobre eles, nesses tempos que internet deixa a informação tão acessível. Quando o período eleitoral avançar falo ou não melhor sobre eles.

 

P.S.: Seguro morreu de velho, então caso apareça um desavisado por aqui dizendo que eu não sou imparcial, já deixo o aviso, eu tenho candidato sim, chama Dilma Rousseff, e não gosto nada do José Serra.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Só quem é vivo tem isso

É uma noite de domingo e estou deitado na cama. Aos poucos me dou conta de que a insônia também está ali, respirando o ar frio. Ela vem sem convite, dá medo e raiva. Tudo que quero é dormir. Mas a insônia está aqui, fazendo coro com um monte de coisas que não sei ao certo o que são.

Minha garganta dói, está apertada e não tenho a menor vontade de chorar. Talvez se eu quiser chorar eu chore e a garganta pare de doer. Lá vou eu tentar chorar e quem sabe assim me sentir melhor, os olhos vão se enchendo de lágrimas, as respiração fica mais profunda e então me pergunto, mas afinal de contas, porque quero chorar?

Não tenho resposta, passou-se muito tempo desde a hora que desliguei a TV e decidi que iria dormir. O quarto está escuro e só a luz vermelha do stand by da TV está ligada. Fluorescendo no escuro os botões do interruptor da lâmpada e o controle da TV na cômoda. O silêncio permite ouvir com clareza os cloques do relógio de parede da cozinha, os cães ladrando longe, o ronco do ônibus no outro bairro e portão sendo fechado.

Um sinfonia sutil, mas irritante. Os olhos estão ardendo e oba!, talvez eu durma. Mas eu não durmo, os pensamentos estão claros e penso no tempo que não para para nada e ninguém. Ele passou e eu fiquei ou fui. E no passar do tempo foram tantas coisas que fiz, que perdi, que conheci e que me arrependi.

E o tempo serve para pensar nas pessoas, quantas conheci, quantas me lembro delas e será que elas se lembram de mim? Elas foram e eu devo ter ido para elas, mas sensação é a de que eu fiquei enquanto elas se foram e o tempo passou, eu perdi o controle ou não aproveitei, não fiz o que eu poderia ser feito.

Eu deveria ter feito algo? Fazer algo para quem? Porque razão? Deixar irem de nossas vidas e se acomodar com relação a isso não é normal? Fazer essas perguntas é um jeito de me sentir menos mediocre, mas no fundo, me sinto do mesmo jeito.

Sentir mediocre é algo mediocre e parece, como diz a música, que se sente assim porque o fracasso subiu a cabeça. Mas o tempo, é parece que ele que dá medo, o prazo vai acabando, não realizei o que queria ter feito e procurei justificativas. Assuma alguma vez a incompetência enquanto digita esse parágrafo e olha para o teto pensando, “que máximo, sei digitar sem olhar para a tela do PC”.

Bem, mas lá na cama, do quarto, deitado a insônia continua. Pensamos nos demadas não atendidas e criadas pelo consumismo e de repente não se fica tão deprimido. Mas o tempo continua passando, o tempo passa, e quando se dá conta que ele passou é que se toma noção que não está tudo bem. Estaria tudo bem se estivesse dormindo.

Eu quero dormir, mas os pensamentos borbulham, a garganta continua com aquele nó, os pés estão formingando, suando e gelados. Mas é na barriga que se sente mais frio, mas um frio que vem de dentro, saí do umbigo sobe por debaixo da pele do torax e chega até atrás das orelhas. O que sei é que essa é a mesma sensação de que eu sinto quanto tenho medo.

Medo por que? Eu sei porque, mas nego tanto que nem sei porque razão tenho medo. Mas o medo existe, o motivo existe, está ali, latente, gritando “resolve-me” e eu insistentemente tento resolvê-lo, resolvê-lo e não consigo. Me deito com o problema lá, para ser resolvido, me esperando, o tempo passando e nesse caso acabando e eu estou ali, na cama, parado. Parado enquanto tenho que resolver meus problemas.

Reclamar disso não tem motivo. Justificar, eu faço isso o tempo todo, inclusive agora. Dizer que está cansado facilita? Não, não resolve. Deitar também não, a cabeça está cansada e a insônia está aí, para não me deixar dormir. E nada disso vai resolver meu problema.

Hoje estou cansado para travar uma disputa com a insônia, ficar ali por horas, pensando que é tudo uma insônia provocada por um monte de coisas que tenho que resolver e não quero falar, não quero pensar nisso agora. Me levanto, bebo água e venho para cá um pouco.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Eu quero uma casa da década de 1940

Sexta-feira eu fui ao Centro da cidade procurar alguns serviços que não estavam funcionando. Na minha opinião, ponto facultativo é um contra-senso tanto quanto meio salário mínimo e desligar o Windows através do botão Iniciar, que nesse caso contorno fechando todos programas para em seguida apertar o botão Power.

Caminhava triste, o céu não estava nem azul nem nublado, o Sol estava fraco e entrei por uma rua bem bucólica do Centro. Não sabia que no Centro ainda existia ruas assim, tão simpáticas. O que me chamou a atenção foi uma casa da década de 1940.

Achei tal casa muito simpática. Estava desocupada, precisava de uma reforma, no jardim, no quintal, no telhado e na pintura e sabe se lá o que. Mas nada muito sério, o reboco aparentava estar bom.

Gostei da casa porque acho estilo Art Decó muito simpático, muito bonito, muito elegante. Dizem que o estilo parece a França, aliás, é um estilo que foi importado da França e chegou a Goiás com a modernidade da estrada de ferro. Enfim, acho um máximo casa de alpendre e esquadrias de madeira. Sem contar aquela mangueira ao fundo do quintal, coisa bem goianiense.

Estava pensando, apartamento que nada, quando tiver dinheiro para comprar minha casa própria vou ver se consigo descolar uma casa da década de 1930 a 1950 no máximo lá no Centro de Goiânia.

Tudo bem que o Centro anda abandonado pelo poder público e auto regulação do mercado prova-se ineficiente para torná-lo melhor. O lugar é feio, sujo, desorganizando e barulhento nas principais avenidas. Revitalização só tem ficado nas campanhas políticas. Mas tirando isso o Centro não é de todo ruim.

Primeiro porque está geometricamente no centro da cidade, ou seja, o Setor Central leva esse nome por sua localização literal. Segundo, é uma parte histórica da cidade, foi onde a capital começou. Terceiro, tem toda infraestrutura possível, presença de todos prestadores de serviço praticamente. Quarto, o Centro é o destino de muitas pessoas e nada melhor do que morar onde as pessoas querem ir.

Assim se foge dos engarrafamentos, dos ônibus lotados, aproveita melhor os serviços de entrega, compra tudo que precisa para viver bem, imagina o tempo em que as pessoas ouviam o tio Vargas falando através da Rádio Nacional lá no Rio de Janeiro para os brasileiros marcharem para o Oeste, para Goiânia mais necessariamente.

Tomara os paulistas não ficarem com raiva de mim e nem de Goiânia por ela ser um projeto que entre os entusiastas da construção está o Vargas. Presidente que na opinião de muita foi um populista. Aliás, tanto quanto dizer que vivemos uma ditadura gay, chamar os políticos de populista quando não concordamos com ele também é moda.

Daqui umas duas semanas passo na porta e fotografo a casa da década de 1940. Verá que ela precisa de uma reforma, mas que ainda sim ela conserva a essência de uma casa da época. A vizinhança também era simpática, padarias, supermercados, daqueles que parece que os funcionários conhecem os moradores.

Seria ótimo eu viver ali, criar um par de cães bacets, cuidar dos jardins aos sábados pela manhã, lavar o carro, que vai ser pouco usado. Só vai faltar alguém para fazer essas coisas comigo. Pena eu não saber quem. Mas já imaginei eu e meu amor sem rosto comendo na copa da casa. Sim, porque aquela casa é do tempo das copas e não salas de jantar.

Enfim, estou muito viado essas semanas. Talvez eu compense isso plantando alguns cactus, que para mim são muito machos, ao lado do girassóis.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

E o bullying

Bullying consiste em agressões verbais, físicas, morais, psicológicas. A vítima e o agressor estão inseridos numa relação onde existe desigualdade de poderes sendo a vítima, lógico, o mais fraco. Além disso a vítima se sente desassistida, é coagida a ficar calada, em outra palavras, ela sofre silenciosamente. O bullying está presente em vários ambientes, é uma fenômeno mundial e em muitos países, inclusive nos mais desenvolvidos, acontece no ambiente escolar.

Eu também fui vítima de bullying, não sei se é comigo, mas na minha concepção meus colegas, principalmente os meninos, pegavam pesado comigo. Eu era xingado, agredido, tentava me relacionar com os agressores, mostrar que eu poderia ser um bom amigo, mas eu não conseguia. Bem, a fase que eu acho pior foi entre a sexta série do Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A oitava série foi a mais crítica.

Eu tinha ódio dos meus colegas, hoje não, mas saiam para lá que eu não gosto de vocês. Os motivos que eles pegavam no meu pé, falar sobre eles ainda me dão vergonha e acho melhor deixar isso para uma outra fase. Sim, porque o bullying me causa vergonha, embora eu tenho racionalizado que não seja motivo para tal. Mas razão é uma coisa, emoção é outra.

Embora eu fosse vítima de bullying eu também o praticava. O bullying abaixava a autoestima da gente e uma forma levantá-la era abaixando a autoestima dos outros. Sim, uma grande bárbarie. Bem, não sei, mas meu bullying nunca surtia os mesmos efeitos e eu tinha o superego aflorado, ou seja, respeitava as regras e não porque as pessoas.

Existiam dias que eu não queria ir a escola. E eu já havia contado para a minha mãe, ela dizia para eu xingar meus colegas também. Meu pai dizia para eu ignorar, porém ignorar não era fácil assim, quando eu andando pelo corredor era alvo de bolas de papel ou chutes de quatro moleques. Só faltava ele falar para eu bater em quatro meninos maiores do que eu. Meu pai nunca falou isso, mas a minha mãe já. Louca!

Queria que meus pais fizessem alguma coisa, mas eles não faziam. Diziam que iam a escola, mas não iam ou então diziam que não poderiam ir até lá porque trabalhavam, porque minha mãe chegava cansada da trabalho, enfim. A vez que mais fiquei com raiva também dos meus pais foi quando um menino me xingou de bicha e como ele era do mesmo tamanho que eu taquei um soco na boca dele. 

Bem, na verdade foi assim, o soco foi bem dado, ele ficou chorando e com a boca sangrando, as colegas foram conso-lá. A professora disse que deveríamos resolver as disputas no diálogo e com o perdão e fez com que nós dois nos abraçassemos. De certa eu gostei disso, porque eu estava com medo de ir para a sala da Elmiuce, a coordenadora pedagógica, e arcar com as consequências que os outros alunos nunca arcaram. Eu já sabia que o mundo naquelas ocasiões sempre conspiraria contra mim, afinal, everybody hate the Well.

Mas eu fiquei com raiva dos meus pais porque no dia seguinte quem vai lá na escola não para conversar com os professores, mas sim para “conversar” comigo, a mãe do moleque que eu bati, meus pais nunca fizeram o mesmo por mim. A mulher disse que se eu batesse no filho dela de novo ela iria na Secretaria de Educação, denunciaria a mim, aos meus pais que eu amava mesmo assim, a direção da escola e os professores. Bem, o filho dela podia chamar os outros de bicha e bater neles quando bem entendesse e eu não podia me defender não é?

Dizer aos professores, eu também já pensei, mas eles faziam vistas grossas, não sabiam lidar com o tema, faziam aqueles discursos do tipo que eu tenho que aprender a lidar com meus problemas, que pedir para os outros resolverem meu problema nunca me ensinará resolvê-los.

Enfim, meu problema não era problemas deles e nem da escola? E o que afinal de contas é resolver os próprios problemas para essa gente? Pegar uma arma, levar para a escola e atirar em todo mundo? Virar o primeiro caso brasileiro noticiado de school shoteer? E eu já pensei nisso, existiam dias que eu não queria ir a escola, a segunda feira me dava medo não porque era segunda feira, mas porque eu sabia que dali durante cinco dias eu seria agredido, xingado, perseguido. Então eu pensava  e se eu tivesse uma arma?

Hoje na Universidade estudando sobre school shooters e bullying eu entendo perfeitamente o lado dos atiradores. Tiravam boas notas, eram diplomáticos, tratavam todos bem, mas ninguém via ou se recusava a ver que eles eram oprimidos, que os colegas os agrediam. Resumidamente, por isso que eles entravam na escola e matavam as pessoas.

É muito certo que o bullying influenciou no meu subjetivo e não influenciou boas virtudes. Parte da minha insegurança, do meu ódio ao meu corpo, enfim, vem de lá certamente. Eu sei o que é bullying na pele do oprimido que não é de todo inocente, mas na tentativa de se defender quando sabe que não pode contar com a ajuda de ninguém acabam fazendo o que nem sempre é o melhor como também praticar bullying, agredir os colegas, fugir da escola, odiar os dias da semana ou até mesmo matar as pessoas com armas. A diferença é que Datena não é chique como a CNN.

Mais ridículo nisso tudo era ir a Igreja, as reuniões da juventude missionária e ouvir coisas do tipo ofereça a outra face, perdoe os seus inimigos. A minha questão não era oferecer a outra face, aliás, eu nem precisava oferecer a outra face. Perdão é algo bom realmente, mas não confunda perdão com indugência e nem pense que ele é algo que venha assim, do nada. Para mim perdão é trabalhado e demora, vem quando a pessoa consegue. Ridículo, quando lembro da Igreja, d’eu pedindo a Deus para me ensinar a perdoar, para fazer os outros alunos pararem de me agredir, sei o quanto que fé é algo ridículo, Deus é ridículo.

O próximo que falar que é através dos caminhos das pedras que se chega a redenção vou mandar tomar no cu.

Deus e nem ninguém me ajudou, o primeiro porque existiu só na minha consciência de me achar incapaz e acreditar que preciso de algo maior e mais forte para resolver os problemas que são humanos, materiais, e na consciência dos outros. O segundo, enfim, é o que tem para hoje.